Candidato, apesar da prévia
Candidato, apesar da prévia
Lula disputará com Suplicy a indicação do PT já com mais de 80% do apoio dos petistas. Será uma mera formalidade para quem, desde já, fala e traça estratégias para disputar o jogo sucessório. Ele ainda busca a união dos partidos de esquerda e teme Roseana Sarney
Olinda — O presidente de honra do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, ainda terá de se submeter a uma prévia no dia 3 de março para ser oficializado candidato do partido à Presidência da República. Ele não esconde a má vontade com esse cmpromisso. Ontem, porém, com a autoridade de quem foi inscrito na prévia com o apoio de 80,2% dos delegados, Lula encerrou o 12º Encontro Nacional do PT, no Centro de Convenções de Olinda, falando e agindo como alguém que oficialmente disputa a sucessão do presidente Fernando Henrique Cardoso. Ontem, durante o discurso de encerramento do encontro, Lula anunciou os próximos passos da sua campanha, mandou um recado para os demais partidos de esquerda e alertou para o perigo da consolidação da candidatura da governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL). ‘‘Este é um dado novo que nós não tínhamos previsto. A partir da escolha do candidato do PT, a Roseana poderá ser um problema e precisamos com muita inteligência saber tratar esta questão’’, reiterou.
O senador Eduardo Suplicy será o único adversário de Lula nas prévias. O prefeito de Belém desistiu da disputa (leia ao lado). Lula resistiu o quanto pôde em disputar a prévia, até porque o resultado, a sua vitória, é mais do que evidente. ‘‘As prévias serão tranqüilas. Até o Suplicy vai votar no Lula’’, brincou o ex-governador Cristovam Buarque.
Resolvido o problema interno das prévias, Lula agora está mais preocupado em consolidar sua candidatura com o apoio dos demais partidos de esquerda. Em seu discurso, defendeu a manutenção das conversas com os partidos de oposição, apesar de o PSB já ter lançado a candidatura do governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, e de Lula estar sofrendo duras críticas do candidado do PPS, ex-ministro Ciro Gomes, e do presidente nacional do PDT, Leonel Brizola. ‘‘É preciso que o Brizola saiba que nós seremos a possibilidade de concretizar o sonho que ele carrega há mais de 50 anos. O Arraes está com 85 anos de idade, dos quais 60 brigando para a esquerda chegar ao poder. Não é hora de fazer experiência política, é o momento de a esquerda colher o que plantou nos últimos 20 anos’’, afirmou, referindo-se ao lançamento da candidatura de Garotinho. Lula também defendeu conversas com o governador de Minas Gerais, Itamar Franco, pré-candidato do PMDB e com setores dissidentes do partido. ‘‘A gente não pode fazer política com o estômago e sim com a cabeça. É preciso fazer engenharia’’, disse.
Jogo rasteiro
O líder petista se mostrou preocupado com a campanha dos adversários contra o PT nas eleições de 2002. Disse que as denúncias que envolveram o governador do Rio Grande do Sul, Olívio Dutra (PT), com o jogo do bicho são um exemplo do ‘‘jogo rasteiro’’ que vem por aí. ‘‘Eles (os adversários) estão tão desesperados como no segundo turno das eleições de 1989’’. Lula cobrou solidariedade dos petistas para os eventuais ataques. ‘‘Quero dar um conselho: na dúvida, sejamos solidários’’.
Lula demonstrou que não pretende perder mais esta eleição. ‘‘A nós não será dada outra oportunidade. É a primeira vez que está colocado a possibilidade real e concreta de ganharmos a presidência da República. Isso vai depender de nossa habilidade e competência’’. Para isso, Lula pretende buscar apoio até fora do Brasil. Na semana passada ele esteve com os presidentes de Cuba, Fidel Castro, do Peru, Alejandro Toledo e da Venezuela, Hugo Chaves. Em janeiro, o pré-candidato do PT já tem viagem agendada para Argentina, Chile, Bolívia, Equador, Uruguai para discutir a questão da formação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas). No encontro, o PT aprovou moção contrária à Alca. ‘‘Precisamos fazer um enfrentamento nesta questão. Se deixarmos a Argentina sozinha na situação de falência, ela poderá sucumbir à pressão dos Estados Unidos’’, ponderou.
Tasso sopra velinhas, em busca de votos
O governador do Ceará, Tasso Jereissati, não tem mais dúvidas que o presidente Fernando Henrique Cardoso já escolheu o ministro da Saúde, José Serra, como seu sucessor. Isso, porém, não diminuiu a sua disposição de fazer campanha ontem, dia do seu aniversário. Tasso comemorou seus 53 anos de idade visitando três municípios cearenses. Encerrou o dia com uma festa para mil pessoas em um dos pontos mais tradicionais de Fortaleza. Em aniversários de anos anteriores, o pré-candidato à Presidência da República sempre preferiu fazer uma comemoração íntima, apenas com a família e os amigos mais próximos.
A super-festa de aniversário começou com a reunião do máximo de símbolos cearenses que Tasso poderia reunir. Tasso foi para uma missa em Juazeiro do Norte (a 557 quilômetros de Fortaleza), terra de Padre Cícero, candidato cearense a santo, venerado por centenas de devotos. Ali, ele se reuniu ao também presidenciável, do PPS, Ciro Gomes, para mostrar ao eleitorado que os dois continuam amigos e que o Ceará não perderá com a disputa. A simbologia cearense foi completada com a presença do cantor Fagner, um dos mais famosos artistas do estado e antigo cabo eleitoral tucano. Durante as orações, Tasso chorou.
À tarde, foi a vez de mostrar o governador empreendedor. Do alto de um palanque em Morada Nova (a 270 quilômetros de Fortaleza), o governador inaugurou o ‘‘Eixão’’, uma obra que irá interligar bacias hidrográficas e açudes em todo o interior do Estado.
Eleitores e políticos
O grande final foi em Fortaleza, no Centro Cultural Dragão do Mar. Os secretários do governo de Tasso organizaram carreatas de ônibus de diversos pontos da cidade para lotar o vão livre do ambiente. Políticos cearenses também compareceram, entre eles o ministro Martus Tavares (Planejamento), pré-candidato ao governo do Ceará. Durante a festa, o presidente da Câmara Federal, Aécio Neves (PSDB-MG), ligou para o celular de Tasso para dar os parabéns. O presidente Fernando Henrique Cardoso, segundo o governador, já havia telefonado. Apresentaram-se corais, orquestra, cantores mirins líricos e grupos de dança. Se Fagner foi à missa de manhã, à noite foi a vez de outro músico cearense famoso: Belchior cantou para o aniversariante duas músicas. Segundo o secretário de Cultura do Estado, Nilton Almeida, nenhum dos artistas cobrou cachê. Os ônibus usados para o transporte da população tiveram o frete pago por amigos do governador.
Todos os artistas fizeram rasgados elogios ao governador, destacando sua ‘‘dedicação em ajudar a cultura’’ e sua ‘‘competência’’. Ao final da apresentação, mais uma homenagem: fotos de Tasso quando criança e adolescente apareceram nos dois telões montados ao lado do palco. ‘‘Esse foi um belo teste para o meu coração’’, afirmou o governador, ao agradecer. ‘‘Afinal, a gente passa o ano inteiro apanhando tanto’’. A única coisa que faltou foi um bolo. O que enfeitava o palco era de isopor.
Laboratório acusa concorrente
Para se defender da denúncia de falsificação de documentos para registrar medicamento, EMS Sigma Pharma acusa o laboratório Novartis de forjar provas para prejudicá-lo
Envolvido numa denúncia de falsificação de documentos, revelada ontem pelo Correio, o laboratório brasileiro EMS Sigma Pharma transfere a culpa para o suíço Novartis, seu concorrente. Em entrevista por telefone, o médico italiano Carlo Oliani, sócio do EMS Sigma Pharma, afirmou que os documentos adulterados fazem parte de uma campanha para impedir a concorrência n o mercado nacional de ciclosporina, droga aplicada a doentes renais crônicos para diminuir a possibilidade de rejeição a rins transplantados, cujas vendas movimentam R$ 100 milhões por ano.
O mercado era monopolizado pela Novartis até 1997. Desde então, a EMS Sigma Pharma o disputa com o remédio Sigmasporin. Nos dois primeiros anos, o medicamento era considerado similar ao Sandimmun Neoral, de referência, produzido pela concorrente suíça. Em 1999, foi pedido à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) o registro de genérico para o Sigmasporin. O medicamento similar não é testado para garantir que seja exatamente idêntico ao remédio concorrente. Foi na busca do registro de genérico que surgiram as denúncias de falsificação.
O teste original, publicado numa revista médica européia, seria um ensaio preliminar sobre a bioequivalência do Sigmasporin. Já o estudo falsificado, mostrava adulterações no nome dos autores, numeração das páginas e, mais importante, no caráter do estudo. No original, é apresentado como ‘‘discussão’’. Na falsificação, como ‘‘conclusão’’. Em termos científicos, há uma diferença entre um texto para discussão e uma prova conclusiva.
Sobre a EMS Sigma Pharma pesa a informação de ter adulterado um dos testes para acelerar o registro de seu remédio como genérico, mesmo antes de a bioequivalência ser comprovada clinicamente. Carlo Oliani, no entanto, apresenta outra história. A falsificação está sendo investigada pela Polícia Federal. E, segundo ele, a versão da falsificação foi divulgada pela Novartis e faria parte de uma campanha para impedir o avanço do Sigmasporin e garantir o monopólio do Sandimmun Neoral, o remédio da Novartis.
Exigência curiosa
Segundo a versão do médico da EMS Sigma Pharma, o teste de bioequivalência que o laboratório apresentou ao Ministério da Saúde não é falso. Ele agora garante que não é a versão adulterada a que foi entregue à Anvisa. Não é verdade. Foi justamente a denúncia de que a versão publicada na revista não condizia com o documento apresentado que levou a Anvisa a obrigar o EMS Sigma Pharma a fazer novo teste no Brasil.
‘‘A Anvisa quis um outro estudo nacional’’, defende-se Oliani. ‘‘A agência quis apenas garantir segurança à população brasileira’’, avalia. Curioso é que, mais recente, ao aprovar o registro da ciclosporina genérica do laboratório Abbott, a Anvisa não julgou necessário um novo teste com especialista brasileiro. ‘‘Se para os outros genéricos de ciclosporina, eles solicitaram ou não solicitaram, isso diz respeito à conduta da Vigilância. Não diz respeito à Sigma Pharma’’, responde o médico do laboratório, irritado.
Incômoda para o EMS Sigma Pharma também é uma declaração por escrito do urologista romeno Ioanel Sinescu (principal autor do estudo), em que ele não reconhece o valor científico do trabalho. A declaração chegou à Anvisa pela mão de associações de doentes renais crônicos. ‘‘É tudo falso. Inclusive a própria assinatura do professor Sinescu. Quem falsificou o documento, eu não sei. Mas Sinescu fez o estudo.’’, garante Oliani.
Oliani faz mais acusações a Novartis: ‘‘Eles tentaram fazer com que nossos autores dissessem que não fizeram o estudo’’. A direção da Novartis não quis comentar as acusações do executivo da EMS Sigma Pharma.
Beira-Mar depõe sobre josé Carlos Gratz
O traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, deporá hoje em Brasília, em processo que envolve o presidente da Assembléia Legislativa do Espírito Santo, José Carlos Gratz (PFL). Beira-mar prestará depoimento em dois processos, como testemunha e como acusado. Gratz foi indiciado pela CPI do Narcotráfico por envolvimento com o crime organizado no Espírito Santo. Beira-Mar é investigado por crime de lavagem de dinheiro envolvendo pessoas ligadas ao deputado capixaba.
Padilha suspeito
O ex-ministro dos Transportes Eliseu Padilha pode ter sido conivente com as falcatruas que ocorreram no Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER) no pagamento de precatórios judiciais. De acordo com reportagem publicada ontem no Jornal do Brasil, um relatório da Advocacia Geral da União concluiu que Padilha e alguns de seus assessores participaram das decisões. Em resposta às acusações, Padilha afirma que o relatório contém apenas ‘‘informações preliminares’’.
Novo ponto de compras
O Boulevard Shopping foi inaugurado no subsolo do Conic com 30 das 140 lojas funcionando. O piso de granito e a cascata da praça de alimentação mostram que empresários pretendem acabar com a fama de ‘‘sujo’’ do local
O público chega aos poucos. Percorre o centro de compras com olhar curioso, senta na praça de alimentação e aprova a decoração. Percebe que trata-se de um shopping diferente. As lojas têm área de 6m² a 11m² e foram criadas para atrair pequenos comerciantes, camelôs de rua, feirantes da Feira dos Importados e empresários novatos.
Após seis meses de obras, o Boulevard Shopping Center foi inaugurado na semana passada. Piso em granito, cascata na praça da alimentação e acesso para a Rodoviária são alguns dos atrativos do único shopping inaugurado este ano no Distrito Federal. Mas neste início de atividades, apenas 30 das 140 lojas estão abertas ao público, no subsolo do antigo Conic. Até o final do mês, 55 lojas devem estar funcionando.
Os comerciantes já instalados dizem que o Boulevard também a vantagem de estar espremido entre a Rodoviária e o Setor Comercial Sul, o que deve garantir muitos clientes. O shopping foi idealizado para atender consumidores das classe C e D (renda média e baixa), mas nos corredores das lojas nota-se diversidade de clientes. A aposentada Ida Bianchi, 61 anos, moradora do Lago Sul, sai sempre acompanhada da amiga Alice Salgueiro, 50 anos, para conhecer novos shoppings. No Boulevard, apesar de tê-lo considerado vazio, Ida rendeu-se a uma loja de produtos de mágicas para presentear o neto de oito anos. ‘‘É difícil encontrar esses produtos em Brasília’’, explica. Para Ida o principal problema dos shoppings do Distrito Federal é a falta de diversidade das lojas.
Área transformada
O síndico do condomínio Boulevard e um dos sócios do shopping, Luis Carlos Attiê, explica que o empreendimento busca a destinação original do local, que seria a transformação do Setor de Diversões Sul num centro de compras. ‘‘Não fizemos nada além de transformar uma área esquecida e suja no empreendimento concebido pelo arquiteto {Lúcio Costa} após a construção de Brasília’’, orgulha-se.
Attiê está ciente de que um shopping leva algum tempo para conquistar a preferência do consumidor e ter os corredores e a praça de alimentação cheios. Mesmo assim, está animado com os progressos. Depois de uma semana de funcionamento, sempre das 9h às 20h, as 30 lojas abertas criaram 120 dos 700 empregos previstos pela administração para quando todos os pontos de venda estiverem ocupados. ‘‘Nos preocupamos em trazer pessoas e empresas dispostas a investir e se manter aqui, sem o constrangimento das desistências.’’
O shopping está pronto, mas incompleto. Pouco mais de 60 lojas ainda estão à venda, com preços que variam de R$ 15 mil a R$ 25 mil. Uma vantagem para o novo empresário é o custo baixo para manter o negócio. Enquanto um lojista dos grandes shoppings gasta, em média, R$ 4 mil mensais só para manter a loja (aluguel, condomínio, fundo promocional e taxa de ocupação), o lojista do Boulevard pagará aluguel de R$ 330 a R$ 1,3 mil. Depois de totalmente vendido, o empreendimento movimentará R$ 10 milhões por mês, segundo Attiê.
Artigos
A república da Estrutural
É isso que Juscelino, Lúcio Costa, Israel Pinheiro, Oscar Niemeyer , Bernardo Sayão, os nossos pais de Brasília, desejariam para a nossa cidade?
Carlos Pontes
Quando o governador Joaquim Roriz era rapaz, costumava vir de Luziânia para as fazendas de sua família na região onde hoje se situa Brasília. Seu sogro era o dono dessas terras. E como era um mudancista convicto, torcendo para que a capital da República saísse do Rio de Janeiro e se transferisse para o Planalto Central, diz o historiador Jarbas Marques que ele forçou a barra, praticamente cedendo suas terras para o estado de Goiás a fim de que fossem cedidas para a União instalar a nova capital. E recebeu de Goiás, como pagamento, um cheque sem fundos. Isso para evitar que fosse vitoriosa a tese dos parlamentares mineiros que desejavam instalar a capital na região do Triângulo Mineiro.
Pois bem, aquele jovem filho de fazendeiro vinha trazer comida para os vaqueiros, o farnel, como se dizia antigamente, enrolado em um pano, como se fosse a ‘‘quentinha’’ de hoje. E aproveitava para tomar banho nas águas cristalinas do córrego Vicente Pires. Hoje, habitando a residência oficial da chácara de Águas Claras, a poucos metros do córrego Vicente Pires, o governador sabe que não pode tomar banho, nem pescar uns piaus ou bagres, talvez nem sequer se aproximar do córrego, poluído que foi em suas nascentes pela invasão da Estrutural.
Enquanto os ingleses e outros povos procuram corrigir os erros cometidos ao longo da civilização despoluindo o Tâmisa e outros rios, tornando-os potáveis ou com um grau de potabilidade que permita a criação de peixes, nós, por meio da Câmara Legislativa, caminhamos na contramão da história. Teimamos em regularizar a invasão da Estrutural, mesmo sabendo que ela se situa junto a um poliduto da Petrobrás e às margens do Parque Nacional, reserva que deve ser preservada a qualquer custo se quisermos ter um saneamento digno para nossos filhos.
A Estrutural começou em l990 com apenas cerca de 20 barracos do lixão. No primeiro governo Roriz, ela se ampliou sem fiscalização. Ali tudo começou errado e os poderes públicos se omitiram ao longo de todos esses anos. O lixão não poderia ser ali e dali deveria ser deslocado para uma área menos comprometedora. No governo Cristovam, a Estrutural se ampliou e não houve firmeza suficiente para a sua remoção. Ali se instalou o império da desordem, a ponto de uma líder comunitária, que montou uma loja de materiais de construção para vender aos invasores, anunciar que ali o governador Cristovam não entraria. O desafio foi um sinalizador do mito que se criou de que a Estrutural é inexpugnável. É claro que não cabia a Cristovam duelar e se defrontar com a tal líder, mas cabia executar uma política séria de convencimento da população ali residente, promovendo sua remoção.
E o desafio foi crescendo. Hoje, basta conversar com os delegados do Cruzeiro, da Asa Sul e do Guará para constatar que a maioria dos crimes verificados em suas áreas, principalmente SIA, STRC, SAAN, Octogonal, Sudoeste, Cruzeiro e Guará, é cometida por moradores da Estrutural. São cerca de 20 mil moradores, o que pode garantir reeleição tranqüila para o deputado José Edmar, o paladino das confusões fundiárias e pretenso defensor dos pobres. Mas o governador Roriz, se fizer uma pesquisa de opinião pública, não embarcará nessa canoa furada do deputado José Edmar e verá que a maioria esmagadora da população de Brasília, os cidadãos esclarecidos, que realmente amam esta cidade, apóiam a transferência daquela invasão para um assentamento, como foi feito com dezenas de outros núcleos habitacionais.
A própria deputada federal Maria Abadia, agora pré-candidata a vice-governadora, poderia ser incumbida por Roriz dessa missão, já que ela se projetou na vida pública graças a seu trabalho como assistente social na remoção das invasões do Morro do Urubu, favela dez vezes maior do que a Estrutural, para a Ceilândia. Ela sabe que tem que haver um trabalho de convencimento, de conscientização prévia da população e que a mudança tem que ser assistida, fornecendo refeição para o dia da mudança, assistência médica, carpinteiros, pedreiros, folhas de madeirite e até complementos de madeiras, pois há barracos que, ao ser demolidos, não agüentam mais ser reconstruídos. O povo dali merece respeito e ajuda.
Mas não se justifica ocupar uma área ambiental que deve ser preservada para o restante da população de Brasília. A receita é essa. A lei aprovada na Câmara Legislativa regularizando a Estrutural é boa para José Edmar, mas ruim para o governador e para Brasília. Ela lhe tira mais votos do que acrescenta. E, já que o político Roriz sabe ser um campeão de votos, é hora de vetar essa aberração que a Câmara Legislativa tenta nos enfiar goela abaixo para descaracterizar o Plano Piloto de Brasília. Já não basta a Vila Planalto, que vai se tornar fonte de especulação imobiliária no quintal do Palácio do Planalto? E a Vila Telebrasília, outra intervenção perversa que fere o projeto original de Brasília?
Pergunte-se, governador Roriz: é isso que Juscelino, Lúcio Costa, Israel Pinheiro, Oscar Niemeyer, Bernardo Sayão, os pais de Brasília, desejariam para a nossa cidade? Aos brasilienses cabe apelar para o bom senso e a lucidez do nosso governador, que entrará para a história como o político que deixou Brasília sem favelas. Para completar a obra, falta remover a Estrutural e a Telebrasília. E os brasilienses devem tratar também de mudar a nossa Câmara Legislativa, não renovando o mandato de quem não ama verdadeiramente Brasília e quer transformar uma invasão num curral eleitoral, uma espécie de República da Estrutural.
Editorial
Direito à transparência
A maior parte da história da Guerrilha do Araguaia permanece escondida dos brasileiros. Vinte e sete anos depois dos últimos combates entre as Forças Armadas e militantes do PC do B, ainda não existe uma versão oficial sobre o que aconteceu no sul do Pará e no norte do Tocantins na primeira metade da década de 70. Essa é uma dívida com a sociedade que o governo tem o dever de pagar.
As informações disponíveis sobre a guerrilha foram tornadas públicas por alguns ex-guerrilheiros sobreviventes, uns poucos militares que participaram do conflito e, mais recentemente, por moradores do lugar. Nas Forças Armadas, a honrosa exceção foi a Marinha, que enviou à Comissão de Direitos Humanos da Câmara um relatório sobre comunistas presos durante o confronto.
Os governos de Emilio Garrastazu Medici e Ernesto Geisel conseguiram manter silêncio sobre a guerrilha porque os tempos eram outros. O Brasil vivia um regime de exceção, os combates ocorriam numa área ainda isolada do país e a imprensa era censurada. A democracia e o poder da mídia não permitiriam hoje o anonimato da maior operação militar brasileira desde a Segunda Guerra Mundial.
O Exército mantém a posição de que uma volta ao passado nada constrói. Mas o Brasil não pode passar uma borracha sobre os acontecimentos do Araguaia porque, melhor do que esconder os erros, é aprender com eles. As novas gerações precisam conhecer os danos causados pelo radicalismo da época. A intolerância da ditadura com as liberdades individuais e o extremismo esquerdista da opção pela luta armada são distorções de comportamento que não devem se repetir num país cujo povo é conhecido pela cordialidade.
A estabilidade política vivida hoje pelo Brasil assegura que um mergulho profundo na história da guerrilha seja bem assimilado pelas partes diretamente interessadas. O temor de que o país passe a viver um clima de revanchismo não deve inibir as iniciativas em favor da transparência da História. A sociedade tem o direito de conhecer os arquivos sobre a guerrilha produzidos pelos militares.
A decisão política em favor da abertura dos arquivos poderia ajudar na d escoberta de outros excessos cometidos na época por militares e guerrilheiros. Também permitiria entender se os métodos sanguinários foram iniciativas individuais ou orientações de governo. Em qualquer circunstância, a melhor saída é a transparência.
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12/17/2001
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