CAS debate negociação que pode interferir em toda a indústria petroquímica brasileira
Uma intricada negociação entre a Petrobras e indústrias petroquímicas brasileiras foi tema de debate na Comissão de Assuntos Sociais nesta sexta-feira (24). Em audiência presidida pelo senador Paulo Paim (PT-RS), representantes de vários setores envolvidos debateram os possíveis efeitos da operação de troca de ações que pode ocorrer entre a Petroquisa, empresa subsidiária da Petrobras, e a Braskem, que é controlada pelo grupo Odebrecht.
A Petroquisa analisa a possibilidade de adquirir 30% das ações da Braskem, dando em troca a sua participação societária nas petroquímicas Copesul (15%) e Triunfo (85%), ambas no Rio Grande do Sul. A operação, no entanto, interessa não apenas à Petrobras e à Odebrecht, mas também à Ipiranga e aos trabalhadores do setor em todo país. No caso da Ipiranga, que também é sócia da Copesul, um acordo de acionistas lhe garante o direito de possuir o mesmo número de ações que a Braskem possuir nessa empresa. Atualmente, cada uma detém 29%. Se a operação com a Petroquisa se efetivar, a participação da Braskem aumentará, dando à Ipiranga o direito de aumentar também as suas ações.
Durante a audiência, o senador Paim manifestou sua preocupação com relação à segurança dos empregos dos trabalhadores da Copesul e da Petroquímica Triunfo e também com relação á economia gaúcha, que, sendo exportadora, passa por um momento de estagnação em razão da concorrência com os produtos chineses e do real valorizado frente ao dólar.
Os representantes do Sindipolo, que congrega trabalhadores das indústrias petroquímicas sediadas no Rio Grande do Sul, e da Confederação Nacional dos Químicos, que representa trabalhadores de todo o país, se opõem à negociação. Carlos Eitor Rodrigues, representante do Sindipolo, participante da audiência, afirmou que a troca de ações permitirá à Braskem praticamente deter o monopólio da indústria petroquímica no país. Ele também manifestou o receio de que haja muitas demissões, principalmente no Rio Grande do Sul, onde a Braskem passará a controlar duas grandes indústrias (a Copesul e a Petroquímica Triunfo). Para ele, a Petroquisa deveria, na verdade, procurar adquirir o controle da Copesul e não retirar-se da empresa.
Cairo Garcia Corrêa, da Confederação Nacional dos Químicos, destacou que a geração de empregos dificilmente é uma das variáveis levadas em conta nessas negociações. Para ele, a Petrobras, por meio de sua subsidiária Petroquisa, deveria priorizar o investimento direto e não a simples troca de ações. Assim, em sua opinião, ela poderia alavancar o setor petroquímico, que, segundo ele, estaria estagnado.
Alexandrino Alencar, representante da Braskem na audiência, disse que sua empresa está crescendo, já sendo uma das maiores do mundo no setor. Segundo ele, com a operação, a Braskem poderá se tornar ainda mais forte. Alencar ainda avaliou que o próprio crescimento da empresa poderia assegurar os postos de trabalho.
De acordo com Patrick Fairon, da Petroquisa, as negociações ainda estão sendo analisadas e só serão concretizadas depois que houver a avaliação das ações que deverão ser trocadas e se a Petroquisa puder ter participação no controle da Braskem. Ainda, segundo ele, serão avaliadas as políticas sócio-ambientais dessa empresa.
O representante da Ipiranga, Valter Luiz Guimarães, disse que essa negociação não é interessante para a sua empresa, pois sua política de investimentos atualmente estaria direcionada à consolidação de sua posição na Petroquímica Triunfo. Mas avisou que a Ipiranga exercerá seu direito na Copesul, de adquirir tantas ações quanto a Braskem, caso a operação se concretize.
O prazo para a realização da troca de ações se encerra em 31 de março.
24/03/2006
Agência Senado
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