Castilho aponta operação para abafar a investigação das contas CC-5



Em diversos momentos de seu depoimento à CPI do Banestado, nesta terça-feira (29), o delegado da Polícia Federal José Castilho Neto se disse indignado com o que chamou de -operação abafa- para evitar a investigação da má utilização das contas CC-5 e a lavagem de dinheiro. Enquanto esteve no caso, segundo seu próprio relato, Castilho disse que enfrentou todo tipo de dificuldades na tentativa de produzir provas contra os responsáveis pela evasão de divisas.

- Foi uma atitude covarde e oculta - declarou o delegado, que foi afastado das investigações pela direção da Polícia Federal em duas oportunidades.

O delegado criticou ainda a forma como o Ministério Público e a Polícia Federal conduzem as investigações sobre lavagem de dinheiro. Para ele, os inquéritos se arrastam por muito tempo sob justificativas menores, como a impossibilidade de um agente público receber diárias de manutenção por mais de três meses. Assim, Castilho acredita que perde-se o princípio de oportunidade para a produção de provas, o que faz com que crimes financeiros cometidos em 1996 e 1997 já tenham prescrevido do ponto de vista fiscal.

- Jogamos no lixo o princípio da oportunidade. O princípio da oportunidade significa que, ocorrido um crime, é preciso agir rapidamente para estancá-lo, caso contrário as provas se diluirão. O tempo corre contra as investigações. A PF não pode comer mosca em uma situação dessas. Quem é polícia sabe bem disso - reclamou.

Com a imposição do rodízio entre delegados e procuradores nas investigações de Foz do Iguaçu (PR), disse Castilho, foram necessários seis anos para se chegar a conclusões. O delegado considera que em apenas três meses não é possível encontrar o foco da investigação. -Não dá nem pra começar a trabalhar-, registrou.

- Graças a Deus ocorreu essa CPI. Sem isso, tenho certeza que esse trabalho não teria andado. Gastamos tempo demais nas investigações. Isso é uma vergonha. Não há motivo para a investigação levar tanto tempo - lamentou, condenando também a demora do Banco Central para identificar irregularidades nas contas CC-5 e oferecer uma denúncia ao MP, o que ocorreu somente em 1997.

Castilho reconheceu o papel desempenhado pelo procurador da República Luiz Francisco de Souza, pela secretária Nacional de Justiça, Cláudia Chagas, e pela senadora Ideli Salvatti (PT-SC) no apoio às investigações nos Estados Unidos. Sem eles, afirmou, não conseguiria ter permanecido este ano por 74 dias naquele país e -talvez o trabalho não tivesse prosperado tanto-.



29/07/2003

Agência Senado


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