Centro de Preservação Cultural cuida de bens tombados da USP



CPC também dissemina a cultura da preservação do patrimônio

Preservar a memória é fundamental na história de um povo. Por isso é importante manter construções, monumentos, estátuas e outras obras que deixam vestígios para se imaginar o passado e moldar o futuro. É com essa consciência que nasceu o Centro de Preservação Cultural (CPC), responsável pela manutenção de bens móveis e imóveis tombados da Universidade de São Paulo (USP). Qualquer intervenção neste patrimônio deve ter a anuência do CPC, que também cumpre o papel de difundir a cultura da preservação, com palestras, cursos e formação de mão-de-obra especializada.

Subordinado à Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da USP, o CPC é a continuação de uma comissão que já existia na universidade há dezenas de anos. Em 2002, ganhou sede própria, na Casa de Dona Yayá, no bairro da Bela Vista, capital, tombada pelo patrimônio histórico e pertencente à unidade de ensino. A sede passou por vários processos de restauração, os quais se estendem até hoje. Serve como laboratório para pessoas interessadas em compreender processos de restauração e sua importância para o patrimônio cultural.

A arquiteta e diretora do centro, Maria Lúcia Bressan Pinheiro, informa que a USP tem 16 prédios tombados no Estado de São Paulo e, ainda, todo o câmpus de Ribeirão Preto. Há também incontáveis estátuas, monumentos e os chamados bens móveis (coleções de obras como pinturas ou livros).

Na Cidade Universitária, na capital, os principais prédios tombados são o edifício da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) e o do Instituto Geofísico. Maria Lúcia explica que o tombamento leva em consideração o valor arquitetônico e histórico da construção e se é representativo de uma época.

Ela ressalta que a Casa de Dona Yayá encontra-se aberta à visitação de alunos da rede pública de ensino. “É necessário que os estudantes saibam a importância de preservar obras do passado, pedaços de nossa história”. O Centro de Preservação Cultural recebe visitas de alunos duas vezes por semana. Uma monitora mostra a casa para os jovens.

Extensa programação – Quem cuida da programação cultural e de eventos no CPC é José Hermes Martins Pereira, que também coordena cursos, seminários, visitas, exposições, apresentações musicais e teatro. No primeiro semestre, o curso mais importante promovido pelo Centro foi Restauração de Bens Culturais. Para este segundo está programado Patrimônio Cultural – Ação dos Órgãos Públicos de Preservação em São Paulo, sob a batuta de Marly Rodrigues, do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado (Condephat). Começa em setembro e tem duração de 20 dias. A principal palestra do ano, até agora, ficou com o arquiteto italiano Alessandro Campanelli, sobre a teoria da restauração.

José Hermes ressalta o programa Domingo na Yayá, sempre às 11 horas. São apresentações de grupos musicais instrumentais que atuam fora do circuito comercial, como Dallmann e Trio Baquara, que se apresentam neste mês. O show acontece debaixo das árvores do quintal da Casa de Dona Yayá. O CPC também oferece uma sala para teatro e exposição. Atualmente, a atração é Tramas da História – fotografias do bairro do Bixiga.

O banco de dados do Centro de Preservação Cultural reúne informações sobre bens tombados da USP, estátuas, monumentos e coleções de obras de museus. Além disso, quem acessar o serviço, no site do CPC (ver abaixo), encontra dados sobre dezenas de museus brasileiros, entidades culturais nacionais e estrangeiras e nome de profissionais da preservação. Quem cuida de toda essa base de dados é Liana Catunda Guedes.

Como uma cebola – Regina Andrade Tirello, coordenadora do Programa de Conservação e Restauro, organiza o curso especializado para formação de mão-de-obra na restauração, com duração de dois anos. O último deles foi no ano passado, com a formação de sete profissionais. Este ano, porém, a direção do CPC resolveu mudar a programação e o restauro poderá voltar no ano que vem.

Regina conta que a parte prática do curso é realizada em campo. Geralmente, em prédios tombados da USP que requerem restauro. “É um trabalho de formiguinha”, compara. O técnico é obrigado a descascar a parede, como se fosse uma cebola, até chegar às camadas mais antigas, cobertas por outras pinturas ao longo dos anos. O curso, informa Regina, é para estudantes formados em História, Artes, Geologia, Arquitetura ou interessados na preservação de edifícios antigos.

As construções da USP que já serviram para o curso foram o prédio da pós-graduação da FAU, em Higienópolis, o da Faculdade de Educação, da Cidade Universitária, a capela do Hospital das Clínicas e o Museu Paulista (mais conhecido como Museu do Ipiranga) e a própria sede do CPC. O trabalho de Regina e de seus alunos é realizado em parceria com técnicos do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), do Instituto de Geociências e Escola Politécnica, que analisam amostras de materiais colhidos na restauração.

Passado e futuro

O professor de História Edson Ribeiro Cupertino aproveitou uma quarta-feira para levar seus alunos a um programa diferente: conhecer a importância de preservar construções antigas. Para ensinar isto à meninada, nada melhor que a Casa de Dona Yayá, que ainda guarda paredes trabalhadas pelas mãos de restauradores. É possível ver as diversas camadas de tinta pelas quais a casa passou ao longo de um século ou mais. “Esta casa é um documento histórico vivo, perfeito para que os alunos entendam o quanto é importante a gente preservar o passado”, diz o mestre. A animada turma de 33 estudantes da oitava série do ensino fundamental veio da Escola Municipal Vargem Grande da zona sul da capital.

Loucura e reclusão

Sebastiana de Mello Freire, a Dona Yayá, morreu em 1961, aos 74 anos. Não deixou herdeiros e sua casa passou a pertencer ao patrimônio da Universidade de São Paulo (USP). Dona Sebastiana foi uma das mulheres mais ricas de seu tempo, porém não conseguiu usufruir de suas posses, vítima de doença mental aos 32 anos. Depois disso, viveu o resto de sua vida reclusa na enorme mansão que hoje leva o seu nome.

SERVIÇO

Centro de Preservação Cultural da USP

Casa de Dona Yayá

Rua Major Diogo, 353 – Bela Vista – SP

Telefone (11) 3106-3562

Site www.usp.br/cpc

Otávio Nunes, da Agência Imprensa Oficial

(M.C.)



08/19/2008


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