Chanceler diz que governo não compactua com as Farc



Para o governo Luiz Inácio Lula da Silva, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) são um grupo que começou atuando politicamente, mas, "depois, seguiu por outra senda". Foi o que afirmou nesta quarta-feira (12), no Senado, o ministro das Relações Exteriores, embaixador Celso Amorim.

- Não há, da parte do governo, tolerância com relação a seqüestros, terrorismo e narcotráfico. Já dissemos isso várias vezes. O presidente Lula, inclusive, fez condenação recente neste sentido. Além disso, temos assinado inúmeras resoluções propostas pela Colômbia tratando desse tema. Portanto, não há nada de ambíguo na posição do governo - disse Celso Amorim, em resposta a questionamento de vários senadores reunidos na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE).

Os senadores Fernando Collor (PTB-AL) e Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), por exemplo, cobraram explicações do ministro acerca de suposta neutralidade do Brasil em relação às Farc, conforme afirmou ao jornal francês Le Fígaro o assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia. Já o senador Mão Santa (PMDB-PI) chegou a dizer que recebeu denúncias de que há envolvimento das Farc com o PT.

- Não posso comentar declarações de outros membros do governo, até porque não sei que termos foram usados - respondeu o chanceler.

Celso Amorim considera "questionáveis" até os métodos de ação utilizados pela organização colombiana ao tempo em que ainda combatia com fins nitidamente políticos. No entender do presidente da CRE, senador Heráclito Fortes (DEM-PI), as posições de Garcia não espelham a linha diplomática do governo.

Indagado pelos senadores Flexa Ribeiro (PSDB-PA) e Marcelo Crivella (PRB-RJ) sobre a classificação formal dada pelo governo às Farc (se como um grupo terrorista, beligerante ou criminoso), o ministro explicou que essa classificação não é feita formalmente para não atrapalhar estratégias diplomáticas ou humanitárias. De um lado, o governo não quer dar status político às Farc, classificando-as como um grupo terrorista. Por outro lado, classificá-las de organização criminosa poderia criar obstáculos a negociações com fins humanitários, como a libertação de reféns.

- O Brasil não tem por hábito classificar organizações. A única é a Al Qaeda, por força de resolução da ONU - informou o diplomata, acrescentando que, enquanto as Farc não liberarem os reféns, o governo brasileiro não pretende abrir negociações políticas com a organização.

O senador Romeu Tuma (PTB-SP) mostrou preocupação em relação ao fato de as Farc terem agido dentro do território brasileiro. Lembrou que o traficante Fernando Beira-Mar recebeu abrigo da organização e que comerciantes brasileiros vendem produtos aos narcoguerrilheiros. Celso Amorim respondeu que há cooperação entre a Colômbia e o Brasil no plano militar justamente para evitar a presença das Farc no Brasil.



12/03/2008

Agência Senado


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