CI deve ouvir compadre de Lula sobre venda da Varig



A Comissão de Serviços de Infra-Estrutura (CI) realiza nesta quarta-feira (18), a partir das 10h, mais uma reunião para colher depoimento sobre a venda da Varig à VarigLog, em julho de 2006, por US$ 277 milhões. Será ouvido apenas o advogado Roberto Teixeira, compadre do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foram convidados também para a reunião os três sócios brasileiros do fundo norte-americano Matlin Patterson, que comprou a VarigLog em negociação privada e, em seguida, com intermediação da Justiça, arrematou a Varig, mas eles informaram nesta terça-feira (17) que não comparecerão.

Marco Antonio Audi, Marcos Haftel e Luiz Eduardo Gallo vão participar do julgamento, em São Paulo, nesta quarta-feira, de um processo relacionado ao caso da venda da Varig.

Na quarta-feira passada (11), a CI ouviu a ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil Denise Abreu. Ela confirmou a denúncia que levou a oposição e o governo a aprovarem a coleta de depoimentos: foi pressionada pela ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, a votar pela liberação da compra da Varig.

O advogado Roberto Teixeira atuou em nome do consórcio para convencer a Anac a dispensar os sócios brasileiros (Marco Antonio Audi, Marcos Haftel e Luiz Eduardo Gallo) de apresentarem documentação comprovando capacidade econômico-financeira. Segundo Denise Abreu, Teixeira, auxiliado por sua filha Valeska, valeu-se do prestígio de que desfruta como compadre do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para pressionar o governo em favor do consórcio.

A suspeita lançada pela ex-diretora da Anac é que os sócios brasileiros estariam apenas legitimando a ação do fundo norte-americano numa ação meramente especulativa e não teriam dinheiro para bancar 80% do capital, uma exigência da legislação brasileira. Nove meses depois do negócio, a Varig foi revendida à Gol por US$ 320 milhões.

No entender dos parlamentares da base do governo, as transações relativas à transferência do controle da Varig foram feitas de maneira legítima, legal e transparente. E como não estavam fundamentadas em provas, as denúncias de Denise Abreu mostraram-se inconsistentes.

Para o ex-presidente da Anac Milton Zuanazzi, não houve pressão do governo, embora a ministra Dilma Rousseff tenha dito numa reunião com a Anac que se a posição da agência era a de exigir a documentação, a posição do governo era a de "salvar a Varig". O ex-dirigente disse ainda ter recebido do juiz da 8ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, Luiz Roberto Ayoub, a informação de que o consórcio estava interessado na Varig, mas, para fechar o negócio, precisava que a negociação para a compra da VarigLog fosse concluída.

Zuanazzi explicou a acusação de Denise Abreu a Dilma Rousseff como uma reação exagerada ao fato de que Dilma enviou ao Ministério da Defesa denúncia de que a diretora da Anac tentava favorecer a TAM. Para Zuanazzi, Roberto Teixeira não teve influência espúria no fechamento do negócio. E como concordou em retirar a ação que o consórcio movia contra a Anac, a venda pôde ser realizada depois da apresentação da documentação exigida aos sócios brasileiros.

As suspeitas em torno da ação de Roberto Teixeira, por conta da amizade com o presidente, foram acrescidas de acusações da parte de Marco Antonio Audi. Ele diz que Teixeira recebeu US$ 5 milhões pelo trabalho, mas recentemente, diante de uma disputa interna que afastou os brasileiros da direção da VarigLog, ficou ao lado de Lap Chan, sócio do Matlin Patterson.

Para senadores da oposição, como Demóstenes Torres (DEM-GO), as negociações em torno da Varig são muito nebulosas. Ele questiona o ponto de vista de que não entrou dinheiro público no negócio. A Varig teria deixado dívidas tributárias no valor de R$ 7,5 bilhões. Os novos donos também não teriam herdado as dívidas trabalhistas.



16/06/2008

Agência Senado


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