Empresário diz que Roberto Teixeira usava nome de Lula "para abrir portas" em processo de venda da Varig



O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra da Casa Civil Dilma Rousseff "jamais interferiram" no processo de venda da companhia aérea Varig para o fundo de investimento norte-americano Matlin Patterson. O advogado Roberto Teixeira, compadre do presidente, e sua filha Waleska, no entanto, usavam o nome de Lula da Silva "até em grau de intimidação, para abrir portas". Essas declarações foram feitas pelo empresário Marco Antonio Audi, um dos três sócios brasileiros da Volo do Brasil, consórcio responsável pela compra da empresa em 2006 em parceria com o fundo norte-americano.

Audi participou de reunião na Comissão de Serviços de Infra-Estrutura (CI) nesta quinta-feira (3). Em sua exposição, ele disse que, se houve alguma interferência governamental, "foi apenas através da boca do advogado Roberto Teixeira, que usou o nome do presidente". Segundo o empresário, "isso não dá para negar".

Marco Antonio Audi admitiu que, a convite de Roberto Teixeira, esteve com o presidente Lula no Palácio do Planalto. Durante o encontro, observou o empresário, chegou à conclusão de que Teixeira não possui "a liberdade tão grande que apregoa ter junto ao presidente quanto a que vende e anuncia". Mas reconheceu que Teixeira "faz chover, inclusive no Judiciário do estado de São Paulo". A referência é no sentido de abrir portas para a realização de encontros e negócios.

Sobre a interferência do governo no processo de venda da Varig, Audi foi enfático:

- A ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil [Anac], Denise Abreu, culpou o governo por ter pressionado a agência para favorecer a venda da Varig ao grupo norte-americano. Mas garanto que o governo, e em especial o presidente Lula e a ministra Dilma, não têm nada a ver com todo o processo.

O empresário informou que soube que Teixeira seria compadre do presidente Luiz Inácio Lula da Silva três dias depois de concluída a compra da Varig, em junho de 2006. Audi também deixou claro que ele e os dois sócios da Volo do Brasil - Luiz Eduardo Gallo e Marcos Haftel - "não pediram ao governo dinheiro e nem apoio para a compra da empresa".

Marco Antonio Audi também negou que tenha entrado no negócio de compra e venda da Varig e da VarigLog como laranja do grupo norte-americano.

Testa-de-ferro

O deputado estadual Paulo Ramos (PDT-RJ), que foi presidente da comissão parlamentar de inquérito (CPI) que investigou o chamado "Caso Varig" na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, também prestou depoimento à CI. Disse que o caso reúne uma série de "crimes praticados por todos os envolvidos no processo de compra e venda da Varig e da VarigLog, a partir de uma decisão governamental de liquidar a Varig". Para ele, a Varig, na época, "se transformou em uma grande carniça em torno da qual os urubus se organizaramcom o objetivo de obter lucro fácil".

O deputado admitiu que o empresário Marco Antonio Audi não era laranja do fundo de investimento norte-americano Matlin Patterson, "mas um testa-de-ferro". Ramos recomendou a criação de uma comissão parlamentar de inquérito para aprofundar as investigações, durante a qual seria solicitada a quebra dos sigilos bancário e fiscal dos três sócios da Volo do Brasil, da ex-diretora da Anac Denise Abreu e do ex-presidente da Agência, Milton Zuanazzi.



03/07/2008

Agência Senado


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