Ciro cai nos braços do PFL









Ciro cai nos braços do PFL
O neo-socialista Ciro Gomes aderiu de vez ao PFL. Depois de neutralizar a oposição do presidente do PPS, senador Roberto Freire (PE), o candidato da Frente Trabalhista (PPS-PDT-PTB) caiu ontem nos braços do partido de Antonio Carlos Magalhães, Jorge Bornhausen e Roseana Sarney. Na manhã de ontem, em Uberaba, Ciro não só recebeu o apoio formal do presidente do partido e de outras estrelas pefelistas, como rasgou elogios ao partido.

Disse que não vai sossegar enquanto não tiver o apoio dos 27 diretórios, hoje divididos entre sua candidatura e a de José Serra, do PSDB. Ele afirmou que o PFL tem uma tradição no "manejo do Estado", importante para ajudá-lo a colocar em prática o seu programa de governo. Para isso, disse, precisará fazer um "pacto de cooperação" para garantir o apoio de 3/5 do Congresso. Já prevendo o patrulhamento, Ciro rebateu antecipadamente:

— Quem vai morder a língua é o Lula que está lá com o PL e se abraçando com o Quércia. Ele sim, vai ter que explicar isso, porque passou 16 anos como a majestade solitária da ética e dos bons costumes. Dizia: eu sou o puro e os outros são impuros. Eu não! Com minha calva entendo que o próximo presidente do Brasil não vai fundar um novo país.

Para Ciro, a decisão do PFL de romper com o governo foi histórica, porque o partido "tem uma tradição de política que é respeitável".

Candidato critica carta de Lula
Já tentando polarizar com o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, Ciro voltou a alfinetá-lo, dizendo que se sentiu profundamente decepcionado com a "Carta ao Povo Brasileiro", na qual o petista se compromete a manter o superávit primário e as metas de inflação. Ele chamou o documento de "carta aos banqueiros".

— Com isso ele falseia o debate, fragiliza a discussão do modelo econômico. O camarada (Lula) tenta enganar os banqueiros, trai a confiança de quem pensa em votar nele. Para mim, foi uma decepção profunda!

Ciro conversou com populares e não parou de responder a perguntas sobre sua mulher, a atriz Patrícia Pillar.

A uma senhora que lhe perguntou sobre a atriz ele lembrou:

— Minha mulher fez o papel de uma sem-terra na novela "O Rei do Gado". A senhora lembra da Luana?

Depois, Ciro seguiu para Belo Horizonte, onde fez palestra na Câmara dos Dirigentes Lojistas de Minas.

Cúpula do PFL festeja adesão
Depois de passar meses amargando o fracasso da candidatura da ex-governadora Roseana Sarney, a cúpula do PFL está eufórica por embarcar em um novo projeto de poder, com possibilidade de vitória.

— Estamos tendo uma adesão na proporção de um diretório a cada seis horas sô! — anunciou o deputado Roberto Brant (PFL-MG), referindo-se às adesões dos diretórios do Espírito Santo, anteontem à noite, e de Goiás, ontem.

Bornhausen declarou que vai trabalhar para ampliar os apoios ao candidato da Frente Trabalhista e nomeou informalmente Brant e o senador Geraldo Althoff (SC) para ajudá-lo nessa tarefa.

— Acho que a gente vai dar uma boa mexida. Cada um vai manifestar suas posições agora para, no segundo turno, buscarmos a unidade do partido. Os momentos mais difíceis já passaram. Agora é tocar o barco para a vitória — disse Bornhausen.


O vale-tudo das alianças
Fotos, inconfidências e ingratidões, são estes os três principais ingredientes que separaram e agora unem alguns dos principais personagens destas eleições. Cristalizou-se ontem a máxima de que a política é a arte da incoerência. Daí o fato de umas das mais importantes raposas da política brasileiras, Ulysses Guimarães, ter celebrizado em sua “receita de estadista”: nunca leve a política para dentro de casa, pois os seus desabafos e elogios de hoje fatalmente serão invertidos amanhã e sua mulher e seus filhos reconhecerão um chefe de família sem caráter.

O hoje governador de Minas, Itamar Franco, rompeu com o presidente Fernando Henrique Cardoso por causa de uma foto, a que mostrava os peemedebistas governistas comemorando em 1998 com o presidente a vitória na convenção contra os dissidentes contrários à reeleição e adeptos de uma candidatura própria, que era postulada por Itamar.

Uma outra foto, ao contrário dessa, sacramentou o início da carreira promissora de um quase garoto no PDS, antecessor do PFL: Ciro Gomes, então candidato a deputado estadual, tentando, com outros companheiros, erguer o então robusto líder da ditadura militar no Ceará, César Cals, governador nomeado e ministro das Minas e Energia.

E uma terceira foto de Ciro, em poder do senador José Sarney (PMDB-AP), sempre foi a ameaça do PFL às críticas que, já como tucano, o governador e mais tarde ministro da Fazenda fazia aos seus antigos comandantes. Essa foto, até hoje não exibida, segundo dizia, e hoje não mais o faz, Sarney, tem um valor histórico da pujança da juventude brasileira. Como presidente do PDS, Sarney acompanhou certa vez o então presidente João Figueiredo ao primeiro encontro da juventude governista, em Garanhuns, no interior de Pernambuco. Três jovens na época, Ciro Gomes, Carlos Wilson, hoje senador pelo PTB pernambucano, e Heráclito Fortes, agora deputado pelo PFL do Piauí, carregaram o general da porta do avião ao saguão do aeroporto.

Por tudo isso, os encontros de ontem entre o ex-presidente Itamar Franco e seu sucessor, no Rio, e o do candidato Ciro Gomes com o presidente do PFL, Jorge Bornhausen, em Uberaba, por mais incoerentes que pareçam, paradoxalmente significam uma volta às origens.

Em fevereiro, o Tribunal Superior Eleitoral determinou que as coligações feitas para a eleição presidencial fossem repetidas nos estados. Se o objetivo era exigir mais coesão dos partidos e coerência nas alianças, o tiro saiu pela culatra. Na verdade, a campanha está se caracterizando por um acordo de contrários e de desafetos e pelas brigas de ex-aliados.

O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, para quebrar a imagem de radical, tentou e conseguiu uma aliança com um partido de centro, o PL, que lhe deu um empresário como vice, o senador José Alencar, e lhe abriu as portas do segundo eleitorado do país. Mas com um alto custo.

É que incrustada no PL está a bancada da Igreja Universal do Reino de Deus, o que causou ao PT a oposição de um tradicional aliado, os setores ditos progressistas da Igreja Católica. O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, dom Jaime Chemello, disse que um acordo entre dois partidos tão diferentes poderia fazer com que surgissem dúvidas éticas.

Os grupos puristas do partido também reagiram. “Para chegar ao céu, o PT precisa do diabo?”, perguntou o vice-prefeito de São Paulo, Hélio Bicudo, fundador do PT. Bicudo afirmou que o PL é de direita e criticou os “exploradores da fé” que integrariam a igreja de Edir Macedo.

O outro lado também reagiu à coligação. O deputado Bispo Rodrigues (PL-RJ), líder da bancada evangélica, declarou que até poderia apoiar Lula, mas que já havia se comprometido com a candidatura de Rosinha Garotinho ao governo do Estado do Rio e que, portanto, não poderia se aliar à governadora Benedita da Silva (PT), candidata à reeleição. Um dos candidatos da coligação PT-PL ao Senado pelo Estado do Rio, o bispo Marcelo Crivella, da Igreja Universal, fez pior: aderiu publicamente à candidatura presidencial de Anthony Garotinho (PSB).

O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, está sendo obrigado a engolir antigos adversários. Por causa da coligação com o PMDB, está sendo apoiado pelo governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz. Em 1998, Serra fez campanha para o então governador Cristovam Buarque (PT), que tentava a reeleição e foi derrotado por Roriz. Serra é amigo não só do ex-governador com o do antigo vice, Sigmaringa Seixas.

Serra esteve na festa de 50 anos de outro petista, o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh, em 15 de abril de 98, no restaurante Feitiço Mineiro, em Brasília. Comeu do bolo com uma estrela de glacê vermelho e fumou um charuto. Esteve também num jantar em homenagem a Cristovam organizado por Sigmaringa.

Correndo sozinho pelo PSB, Garotinho não tem que engolir ex-adversários no plano nacional. Mas na campanha para o governo do Estado do Rio, como a candidata do partido é sua mulher, Rosinha, Garotinho já escolheu o adversário, ou melhor, a adversária: a governadora Benedita da Silva, do PT, que era sua vice.

Para garantir a aliança com Benedita na eleição de 1998, quando Garotinho era do PDT, o diretório nacional do PT chegou a intervir no regional, que tinha lançado a candidatura ao governo do ex-deputado Vladimir Palmeira. O candidato a vice de Lula na eleição presidencial era o presidente do PDT, Leonel Brizola, que hoje apóia a candidatura de Ciro Gomes.

As divergências de Garotinho com Benedita começaram antes mesmo de o governador deixar o cargo para disputar a Presidência, em 6 de abril. Em fevereiro, Garotinho enviou um projeto à Assembléia Legislativa destinando US$ 50 milhões anuais dos royalties do petróleo para um fundo especial, com o objetivo de “evitar desperdícios”.

Em março, Benedita anunciou que reveria todos os programas sociais de Garotinho, como os restaurantes populares, o Cheque-Cidadão e o piscinão de Ramos.

Durante a transição, acompanhada por uma equipe do PT, Garotinho não autorizou o acesso dos petistas às contas do governo. Ele garantiu que deixaria R$ 500 milhões em caixa, mas o PT estimou que encontraria um rombo de R$ 1 bilhão, que Garotinho chamou de virtual.

Já no governo, o PT acusou o ex-governador de ter manipulado as estatísticas sobre segurança. Garotinho respondeu que era ressentimento do chefe da Polícia Civil, Zaqueu Teixeira, “transferido por ineficiência”.


De mal há anos, FH e Itamar ficam de bem
As voltas que a política dá: na frente de cerca de 200 empresários, um abraço selou ontem as pazes entre o presidente Fernando Henrique Cardoso e o governador de Minas, Itamar Franco, rompidos desde 1998. Nesse período, falaram cobras e lagartos um do outro, mas ontem a reconciliação teve direito a pelo menos seis citações elogiosas do presidente ao antigo aliado, depois desafeto, agora aliado novamente.

Embora Itamar apóie a candidatura do petista Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência, Fernando Henrique iniciou seu discurso na cerimônia de comemoração dos 182 anos da Associação Comercial do Rio e dos oito anos do Real, no auditório do BNDES, com uma saudação especial ao governador de Minas. Logo depois disse que Itamar, quando presidente, nunca deixou de apoiá-lo no comando do Ministério da Fazenda e na implantação do Real.

— Quero dizer agora, de público, e não digo pela presença, porque já disse em ausência, nunca me faltou apoio do presidente Itamar. Vez por outra, há quem diga que eu não reconheço, mas a história não se borra com uma borracha. Nem os stalinistas conseguiram, quanto mais nós que somos democratas. Nunca me faltou apoio — discursou o presidente.

Antes da troca de gentilezas em público, os dois já haviam conversado na sala vip do BNDES. E, depois, foi Itamar quem se levantou para abraçar Fernando Henrique após o discurso com os elogios.

Ao chegar, o presidente cumprimentou o governador e o elogiou, dizendo que o governo de Minas estava lhe fazendo muito bem. Bem-humorado, Itamar respondeu que Brasília também faz muito bem a Fernando Henrique e disse que estava com a aparência boa porque não iria disputar as eleições deste ano. O presidente passou parte do discurso contando como foi a sua nomeação para o Ministério da Fazenda.

— Contei muitas vezes uma história, mas nunca contei diante do seu autor, mas hoje ele está aqui e vou contar — iniciou Fernando Henrique.

Ele lembrou que estava nos Estados Unidos, jantando na casa de Ronaldo Sardenberg, então embaixador do Brasil na ONU, quando recebeu um telefonema de Itamar com o convite.

— Disse que estava feliz como ministro das Relações Exteriores e, ao final do jantar, recebi a informação de que o presidente não precisava mais falar comigo. Fui para o hotel e acordei com vários telefonemas nervosos, um do ministro Lampreia, que me disse que a nomeação já estava no Diário Oficial. Liguei para o presidente Itamar, que atendeu rindo, dizendo que tinha me nomeado e que o resultado tinha sido bem recebido — contou o presidente.

Numa referência aos petistas, Fernando Henrique criticou ainda os opositores do plano econômico, que o classificavam como eleitoreiro:

— Na época, diziam: “É um plano eleitoreiro, terminada a eleição volta a inflação.” Não vou nem citar os autores dessas frases, porque são muito famosos e estão aí até hoje.

FH: solução para segurança parece quase inatingível
Fernando Henrique destacou avanços de seu governo, mas reconheceu que ainda há muito a ser feito no país:

— Falta muito e aquilo que parece quase inatingível, uma situação de maior segurança. A violência urbana chegou a um ponto que isso passa a ser o problema central do país.

Fernando Henrique lamentou ainda a falta das reformas tributária e política:

— Reforma política. Alguns de nós somos autores de propostas. Estão lá. Não são aprovadas porque há interesses enraizados. Reforma tributária, eu tentei tanto. E era a reforma sonhada pelos empresários. Não conseguimos, porque há interesses, legítimos, que se opõem.


PT usa força para fazer valer aliança em Minas
BELO HORIZONTE. A direção nacional do PT desistiu de negociar e decretou ontem a intervenção no partido em Minas para evitar o fracasso da coligação com o PL. O ato de força, que surpreendeu os filiados, foi considerado a única maneira de evitar que a aliança se desfaça justamente na terra do senador José Alencar (PL), candidato a vice na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva. Somente hoje, após analisar a decisão, os petistas mineiros vão se pronunciar a respeito.

Legislativo de MG paga um dos melhores salários do país
A queda-de-braço entre o PL e o PT em Minas começou com a aprovação da coligação nacional entre os dois partidos. Os petistas mineiros não aceitavam dar algumas de suas vagas para a disputa da Assembléia de Minas, um dos poderes legislativos estaduais que pagam os melhores salários do país.

No ano passado, um deputado chegava a receber R$ 80 mil. O PL exigiu direitos iguais e ameaçava entrar na Justiça para assegurar suas reivindicações. Apesar disso, o PT registrou sua chapa na sexta-feira passada sem os candidatos do PL.

A intervenção aconteceu no início da noite de ontem, por meio de um fax enviado ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) pela delegada executiva do PT nacional Stella Bruna Santo, comunicando a anulação parcial da convenção estadual do PT. No documento, a executiva nacional assina a coligação na chapa de deputados estaduais entre PT, PL, PCdoB, PCB e PMN.

Com esta decisão, fica assegurada a coligação com o PL. O partido ameaçava não apoiar nem mesmo a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República, se o PT não abrisse mão de lançar uma chapa só com nomes de petistas.

A executiva nacional petista decidiu atender aos apelos do PL, mesmo com a coligação sendo considerada prejudicial para o PT mineiro, como alegam os membros do partido em Minas.

A decisão não deixou de surpreender os petistas mineiros, que interromperam as negociações com o PL antes mesmo da reunião com o representante da executiva nacional do PT enviado para intermediar um acordo. O enviado, Sílvio Pereira, chegou e saiu de Belo Horizonte sem conseguir sensibilizar nenhum dos representantes dos dois partidos, já desgastados com os ataques mútuos dos últimos dias.

PL mineiro não deve apoiar Nilmário Miranda
Apesar da intervenção da executiva nacional, no PT em Minas Gerais não é esperada a participação do PL na campanha de Nilmário Miranda ao governo do estado. Os petistas entendem que estão sozinhos e que só o PL está se beneficiando desta situação.

O Tribunal Regional Eleitoral vai mandar um comunicado oficial à executiva estadual do PT de Minas Gerais sobre a decisão da executiva nacional petista.


Ibope: Ciro tirou votos de todos os adversários
BRASÍLIA. Pesquisa Ibope divulgada ontem pelo “Jornal Nacional”, da TV Globo, confirmou a tendência de crescimento do candidato da Frente Trabalhista (PPS-PDT-PTB), Ciro Gomes, que tirou votos de todos os adversários. Ciro subiu sete pontos em 20 dias, passando de 11% para 18% das intenções de votos. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) perdeu quatro pontos, caindo de 38% para 34%; José Serra (PSDB) perdeu dois, de 19% para 17%; e Anthony Garotinho (PSB) um, passando de 13% para 12%.

As simulações de segundo turno também registraram mudanças significativas: Ciro, com a menor rejeição, é o único com chances de bater o petista. Lula manteve vantagem em relação a Serra e Garotinho. Na primeira simulação, Lula venceria por 46% contra 37% de Serra. Na segunda, por 48% contra 33% de Garotinho. Já com Ciro, enfrentaria um empate técnico obtendo 43%, enquanto o candidato da Frente Trabalhista ficaria com 41%.

Número de indecisos aumenta cinco pontos
Outro dado que chamou a atenção foi o crescimento do número de indecisos na pesquisa espontânea: 49% admitem que ainda não pensaram em quem deverão votar. O universo de indecisos aumentou cinco pontos desde junho, sugerindo um momento de reflexão do eleitorado.

Lula lidera com folga, apesar da queda. Como na pesquisa do Vox Populi divulgada semana passada, Ciro aparece na frente de Serra, mas os dois estão tecnicamente empatados no segundo lugar. Já a pesquisa Datafolha, divulgada domingo, mostrou empate técnico mas com Serra à frente de Ciro.

A pesquisa Ibope não incluiu os candidatos do PSTU, José Maria de Almeida, e do PCO, Rui Costa Pimenta, porque a coleta de dados foi iniciada antes de eles registrarem suas candidaturas.

Feita entre 4 e 7 de julho, a pesquisa já reflete o impacto da participação de Ciro nas inserções e nos programas nacionais dos partidos da Frente Trabalhista, assim como a repercussão das denúncias de corrupção na prefeitura de Santo André (PT).

As maiores perdas de Lula para Ciro são entre os eleitores de 35-49 anos, com ensino médio e renda familiar acima de dez salários-mínimos. No Sudeste, o ganho de Ciro é praticamente igual em cima de Lula e de Garotinho. Já no Sul, Serra perde para Ciro mais do que Lula e Garotinho. A pesquisa registra ainda que Ciro é hoje o candidato com o menor índice de rejeição: 15%. Já Lula tem do que o dobro: 32%, seguido por Garotinho com 27% e Serra com 25%.

De acordo com a pesquisa, a opinião do eleitorado se manteve estável em relação à administração do presidente Fernando Henrique, com 28% de avaliação positiva (ótima e boa), 43% de regular e 27% de negativa (ruim e péssima). O cruzamento de dados revela que Ciro cresce igualmente entre esses três grupos de opinião. Entre os favoráveis ao governo, Ciro tira votos de Serra (menos quatro) e Garotinho (menos três), enquanto os que não aprovam o governo só Lula perde (menos sete). Já os que consideram a administração regular, Ciro tira três pontos de Serra e quatro de Lula.

Euforia na Frente Trabalhista e preocupação entre os demais, especialmente os tucanos. Essas foram as primeiras reações provocadas pelo resultado da pesquisa. O líder do PSDB na Câmara, Jutahy Júnior (BA), disse continuar apostando na polarização da eleição entre Serra e Lula:

— Estamos absolutamente convencidos de que a disputa presidencial se dará entre Serra e Lula. O resultado reflete a superexposição de Ciro nos programas partidários do mês passado, mas essa é uma situação temporária, ainda mais com os apoios que anda recebendo, como de Antonio Carlos Magalhães e colloridos.

Ele é um novo modelo do Collor — disse.

No PT, a aposta também continua sendo que o segundo turno será decidido entre Lula e Serra. A queda do petista também foi minimizada.

— O crescimento de Ciro confirma apenas o que já aconteceu com Roseana Sarney, Serra, Garotinho e até mesmo Lula depois das participações no horário partidário. Já a queda de Lula é o reflexo do bombardeio que ele e o PT sofreram nas últimas semanas — disse o líder do PT na Câmara, João Paulo.

Na Frente Trabalhista, a expectativa é que, com esse crescimento, Ciro ganhe aliados e chegue ao segundo turno.

— Fizeram uma polarização artificial entre a Avenida Paulista e São Bernardo do Campo. Só que esqueceram de combinar com o povo, que foi para outro estádio acompanhar outro candidato — ironizou o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ).

Entre os aliados de Garotinho, o crescimento de Ciro também preocupa.

— O quadro só deverá se consolidar depois que começar o horário eleitoral gratuito — disse o deputado Eduardo Campos (PSB-PE).


‘Governo Lula pode ser eficaz como o de Serra’
O vice-presidente do Banco Mundial (Bird) para a América Latina, David de Ferranti, disse ontem ao jornal italiano de economia “Il Sole 24 Ore”, que o candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, se eleito, vai preferir manter uma posição centrista, devido ao nervosismo dos investidores. Segundo a reportagem, Ferranti disse que um governo Lula poderia ser tão eficaz quanto uma administração José Serra (PSDB). O tucano é citado pelo jornal como o candidato favorito do mercado financeiro.

“Lula tem todos os motivos para adotar una posição centrista, até pelo fato de o Brasil estar caminhando bem ultimamente”, disse o executivo do Bird ao jornal italiano.

A reportagem cita o fato de o mercado brasileiro estar enfrentando uma turbulência provocada, segundo o jornal, porque os investidores temem que Lula renegocie a dívida do país, caso seja eleito. Ferranti, porém, afirmou na entrevista que não considera que as propostas de Serra e Lula são as mesmas:

“Acredito que quem quer que esteja no governo poderá implementar políticas eficazes. Que Serra faça isso é óbvio, mas Lula também fez declarações interessantes. Ele prometeu, por exemplo, conseguir um superávit primário entre 3,5% e 3,75% do Produto Interno Bruto do país”.

Na opinião do vice-presidente do Bird transcrita pelo jornal, a inquietude do mercado vai se dissipar assim que começarem os comícios da campanha presidencial:

“Depois da eleição, a incerteza que está dominando o mercado vai diminuir e o governo, encabeçado por Lula ou por Serra, poderá atrair novos investimentos”, disse Ferranti na reportagem do “Il Sole 24 Ore”.


Artigos

O intolerável custo da violência
Orlando Diniz

Nós, comerciantes do Rio de Janeiro, não estamos imunes à escalada da violência que assusta todo o Estado do Rio e, em particular, a capital. Além de estarmos expostos aos mesmos riscos que todos os outros cidadãos (assaltos, seqüestros e balas perdidas, por exemplo), enfrentamos um desafio particular: abrir e fechar nossos estabelecimentos diariamente sem sofrer a ação de bandidos.

De acordo com as estatísticas disponibilizadas pelo governo do estado na internet, foram registrados 638 roubos a estabelecimentos comerciais no Rio de Janeiro em maio deste ano, sendo que 472 se concentraram na Região Metropolitana.

Os motivos d o crescimento acelerado dos roubos a estabelecimentos comerciais não são diferentes das causas das outras manifestações de violência registradas em nosso estado. E tudo já foi dito sobre eles.

As novidades estão no que cada um pode fazer para se proteger. A alternativa tem sido investir cada vez mais em serviços e equipamentos. Pesquisa coordenada pelo Instituto Fecomércio-RJ em junho deste ano e publicada domingo pelo GLOBO mostrou que as empresas do comércio de bens e serviços instaladas no Estado do Rio gastam R$ 315 milhões por mês — ou R$ 3,8 bilhões por ano — em segurança. É uma despesa que equivale a 3,70% do faturamento, em média.

Segurança particular, câmeras, modernos sistemas de trancas e alarmes. A particularidade de cada tipo de comércio e o porte da empresa determinam a estratégia mais adequada de prevenção. As mais prejudicadas são as micro e pequenas empresas, que têm dificuldades para comprar equipamentos e contratar serviços, em função dos altos investimentos necessários, que podem até inviabilizar a manutenção do negócio.

O custo da violência, entretanto, vai muito além dos gastos para se proteger. A insegurança inibe investimentos no país, reduzindo a geração de empregos, a arrecadação de impostos e o crescimento de nossa economia. Turistas também deixam de visitar o Brasil, assustados com a possibilidade de serem vítimas de uma violência que já é veiculada regularmente nos jornais estrangeiros. Isso tudo sem levar em conta o custo social de ver ameaçado o futuro das famílias e dos jovens fluminenses e, conseqüentemente, o desenvolvimento de nosso estado. E o custo emocional de viver com medo, sobressaltado, evitando passar por túneis ou visitar aquele amigo que mora em uma rua menos movimentada. Será o investimento em equipamentos e estratégias de segurança capaz de garantir que nossos negócios fiquem a salvo dos criminosos? Até onde essa proteção vai realmente assegurar nossa integridade física e a de nossos clientes, e a manutenção de nosso patrimônio? Todos esses mecanismos não impediram que, nos últimos 12 meses, 8,86% das empresas entrevistadas pelo Instituto Fecomércio-RJ tivessem sofrido assaltos. Mesmo quem não passou por isso pode perceber a violência por perto cada vez que abre o jornal ou liga a TV e se depara com o noticiário. Ou cada vez que conversa com o vizinho e descobre que a loja ao lado ou a que fica na outra calçada já foi assaltada.

A sensação de que o crime vem triunfando, entretanto, não pode tomar conta da sociedade, sob pena de vermos irremediavelmente comprometido o Estado democrático pelo qual tanto temos lutado. Investir em proteção é legítimo e necessário, mas precisamos ir além.

Todos nós, cidadãos e empresários, precisamos usar nosso poder de organização e reunir esforços para apoiar ações que visem à melhoria das condições de vida nas comunidades dominadas pelo crime organizado. Precisamos usar nosso poder institucional para cobrar das autoridades uma atuação firme e eficiente. Uma atuação que some esforços nas esferas federal, estadual e municipal, que transponha os limites da retórica, que transforme em realidade tantos planos, projetos e programas apresentados sucessivamente, mas que nunca saíram efetivamente do papel.

E precisamos usar nossa cidadania para contribuir com as ações postas em prática por essas mesmas autoridades, garantindo seu sucesso.

Além de ficar indignados, nós, cidadãos comuns, podemos nos mobilizar e mobilizar quem estiver a nossa volta. Seja qual for o elo — profissional, empresarial, religioso, comunitário etc. — existem características comuns aos grupos da sociedade civil que a habilitam a contribuir para a reversão da insegurança que nos afeta.

Não podemos agir como se fôssemos os prisioneiros, os que devem ser privados do convívio social, os que estão infringindo a ordem vigente. Também não podemos nos fechar no casulo de pobres vítimas acuadas.

Nem permitir que este momento particularmente difícil para toda a nossa sociedade seja utilizado como joguete político.

Nessa hora, não deve haver partidos nem ideologias. Deve haver vontade, para que possamos tomar as rédeas do processo e contribuir da melhor forma para transformar o discurso em ação.

Potencial para reverter esse estado de insegurança e violência a nossa sociedade com toda a certeza tem.


Colunistas

PANORAMA POLÍTICO – Tereza Cruvinel

O sururu capixaba
O presidente Fernando Henrique deve uma explicação para sua brusca mudança de posição a respeito da intervenção no Espírito Santo. A razão eleitoral apontada, busca de apoio do PFL para a candidatura Serra, seria pequena demais para tão grande custo político. Uma razão maior pode estar ligada à crise econômica e seus desdobramentos na transição de governo.

Se um estado da federação está sob intervenção, fica proibida a aprovação de emendas constitucionais. E possivelmente o galope da crise na troca de governo pode exigir um acordo que envolva mudanças constitucionais.

Outra explicação vem dos transtornos para o processo eleitoral, visto que o Congresso teria que ser convocado para aprovar a intervenção, caso o STF tivesse acolhido a proposição do procurador-geral da República. Geraldo Brindeiro deixou de apresentá-la porque foi convencido pelo presidente. Seu ministro da Justiça, Miguel Reale Júnior, que, juntamente com Brindeiro, votara a favor do pedido de intervenção na reunião do Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Humana, sentiu-se desautorizado.

Consultara antes o presidente, que teria exultado com a iniciativa. Tinha mesmo Reale que pedir demissão, declarando que o crime organizado no Espírito Santo deveria estar festejando. E estava mesmo. “Meus inimigos são poucos, fracos e burros”, disse o presidente da Assembléia Legislativa, José Gratz, acusado de sustentar politicamente o esquema criminoso no estado.

Mas não foi para contemporizar com o crime ou alegrar Gratz que o presidente mudou de idéia. Daí a cobrança, vinda principalmente dos capixabas, por uma explicação de seu gesto. Além da saída do ministro, juntamente com cinco auxiliares, entre eles o diretor da Polícia Federal, Fernando Henrique ouviu protestos da vice de José Serra, Rita Camata, e do prefeito tucano de Vitória, Luiz Paulo Vellozo Lucas:

— O presidente nos jogou um balde de água fria, deve uma explicação ao povo capixaba, que desejava a intervenção.

O deputado Haroldo Lima (PCdoB-BA) propõe a explicação econômica, compartilhada por setores do PT. O artigo 60 da Constituição impede as mudanças constitucionais, que podem ser exigidas no transcorrer da crise e do processo eleitoral. Mas Haroldo enxerga uma conspiração para impor a continuidade da política econômica, ao passo que alguns petistas admitem que pode ser necessário um pacto de transição.

— Há sinais crescentes de uma manobra para aprovar, ainda no atual governo, alguma forma de independência do Banco Central, pela regulamentação do artigo 192 da Constituição. Uma forma de atender ao mercado garantindo a perpetuação da política econômica num governo de oposição. A intervenção prejudicaria esse plano — diz Haroldo Lima.

Teoria conspiratória, mas sintonizada com a grave situação política e econômica que o país atravessa. Há sentido também no argumento de que o Congresso teria que aprovar a intervenção, num rito que tumultuaria a campanha eleitoral. Mas o STF, ao analisar o pedido, levaria isso em conta. O presidente, como disse Rita, não esperou pela palavra do tribunal.O PT não vai patrulhar a reconciliação entre Itamar Franco e Fernando Henrique. Mantido o apoio do governador a Lula em Minas, nada lhe será cobrado.Ciro: PSDB irritado e PT perplexo

Alarmes disparam nos comitês tucanos e petistas co m o crescimento de Ciro Gomes, confirmado ontem também pelo Ibope. Os tucanos temem que ele tire Serra do segundo turno. Os petistas tremem diante da simulação de segundo turno que o aponta em empate técnico com Lula. Com o feriado de ontem em São Paulo, hoje é que o comando da campanha de Lula vai discutir a nova situação eleitoral. Os tucanos saíram batendo ontem mesmo.

O líder Jutahy Júnior diz que a semelhança entre Ciro e Collor agora será escancarada e isso chamará o eleitorado à razão, favorecendo Serra como adversário de Lula:

— A entrevista dele ao “Jornal Nacional”, seguiu o figurino Collor. Sofisticada na forma, para enganar o povo, e mistificadora no conteúdo. Mas não estamos em 1989, o povo não se deixará enganar. Verá ao lado dele todas as bases colloridas, a tropa de choque que resistiu ao impeachment e os caciques da direita do PFL.

Jutahy acusa Ciro de ter mentido ao dizer que foi “o único caso de administrador público brasileiro que pagou 100% da dívida mobiliária do estado com 15 anos de antecedência”, quando governador do Ceará.

— Entre 1991 e 1994, quando ele governou o estado, a dívida mobiliária não foi resgatada. Pelo contrário, cresceu 68%, descontada a inflação. A dívida fundada cresceu 11%.

Luiz Paulo Vellozo Lucas, do comando da campanha de Serra, completa:

— Ele maquiou com palavras a proposta de reestruturação da dívida. Não existe alongamento de prazos sem ruptura de contrato. Isso é renegociação, palavra que serve à turbulência.

Ciro quer ganhar a eleição e está atraindo a direita sem cerimônia. A comparação com Collor é golpe dos adversários, mas seu crescimento de fato lembra aquela promessa do ex-presidente: deixar a direita irritada e a esquerda perplexa.


Editorial

CÉU AZUL

Em nenhum outro estado americano seria mais difícil aprovar uma lei que desagradasse à indústria automobilística do que na Califórnia, o maior mercado do setor nos Estados Unidos. No ano passado foram vendidos ali mais de dois milhões de carros, cerca de 50% mais do que em todo o Brasil. Por isso mesmo, é também na Califórnia que é mais intensa a ação do lobby das montadoras.

No entanto, precisamente naquele estado o Legislativo local acaba de aprovar uma lei estabelecendo limites à emissão pelos carros de dióxido de carbono, o gás que é o principal responsável pelo aquecimento global.

Como esses novos automóveis só precisarão estar trafegando em 2009, a legislação pode parecer à primeira vista pouco efetiva; mas esse horizonte obriga a indústria, desde já, a pesquisar e desenvolver a tecnologia necessária, e naturalmente carros com consumo mais eficiente de combustível não deixarão de ser lançados imediatamente no mercado.

A lei, que espera a prometida sanção do governador Gray Davis, é a primeira grande medida concreta nos Estados Unidos para enfrentar o problema do efeito estufa, desde que o presidente George W. Bush rejeitou o Protocolo de Kioto e optou por uma política pouco convincente de redução voluntária da emissão de gases pela indústria em geral.

É cada vez menor o número de cientistas que põem em dúvida o aquecimento global. O último e impressionante dado é a descoberta de que a temperatura no Alasca elevou-se sete graus em 30 anos e está se derretendo o permafrost, a camada do solo que fica — ou deveria ficar — permanentemente abaixo de zero.

É preciso agir antes que venham os efeitos devastadores da elevação do nível dos mares e da destruição de terras férteis por um processo incontrolável de desertificação. Mas a ação tem de partir primordialmente dos EUA, que emitem mais de 25% dos gases responsáveis pelo efeito estufa. A decisão da Califórnia tem o grande mérito de demonstrar que é viável legislar em defesa do meio ambiente, por mais poderosas que sejam as pressões contrárias. Uma atitude exemplar, que precisa ser seguida pelo governo americano.


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07/10/2002


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