Comunidades terapêuticas que tratam viciados em drogas reagem a restrições governamentais



As restrições governamentais estabelecidas à atuação das comunidades terapêuticas, especialmente ao viés religioso inserido em suas ações, foram criticadas, nesta quarta-feira (20), em audiência pública da Subcomissão Temporária de Políticas Sociais sobre Dependentes Químicos de Álcool, "Crack" e Outras Drogas. Os protestos foram puxados pelo frei Hans Heinrich Stapel, fundador da Fazenda da Esperança, sediada em Guaratinguetá (SP), que contestou a suposta tentativa do governo de transformar essas unidades de tratamento em "hospitais".

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- É um absurdo a exigência de termos a assistência de um médico a cada dez dias. Eu acho que só devemos chamá-lo quando houver alguém doente. Mais de 20 mil pessoas já passaram pela Fazenda da Esperança. Eu quero ser respeitado com tudo o que nós fazemos. É preciso trabalhar juntos [governo e comunidades], e não estar um contra o outro - declarou.

Frei Hans argumentou ser preciso não só cuidar da parte física e psíquica, mas também espiritual do dependente de drogas. Segundo informou, há judeus, muçulmanos, evangélicos, ateus entre os três mil jovens em tratamento nas 77 unidades da Fazenda da Esperança espalhadas pelo mundo. Embora os internos tenham sua orientação religiosa respeitada, precisam cumprir algumas regras, como não beber ou fumar, trabalhar e participar de atividades de cunho católico.

Fundador da Instituição Padre Haroldo, localizada em Campinas (SP), o jesuíta Haroldo Rahm condenou uma suposta tentativa de se dissociar a questão espiritual da prática terapêutica. Em sua opinião, ciência e espiritualidade precisam ser trabalhadas juntas. O padre Haroldo também considerou "ridícula" a exigência dos assistidos por essas comunidades - a sua tem 200 jovens em recuperação - passarem por exame médico a cada dez dias.

- O que eles [dependentes] precisam é de bom exemplo e do apoio de pessoas que têm interesse neles. É isso que cura - afirmou.

Sentido à vida

O presidente da subcomissão, senador Wellington Dias (PT-PI), concordou que é preciso ir além dos cuidados com o corpo e a mente para resgatar o sentido da vida para os jovens em tratamento. Ele cobrou apoio do governo federal para essas entidades e adiantou que a Organização Mundial de Saúde (OMS) já reconheceu a necessidade de seu trabalho para a recuperação de usuários de drogas.

Observatório

A exemplo do frei Hans, a vice-presidente da subcomissão, senadora Ana Amélia (PP-RS), acredita que o recurso ao trabalho como terapia ocupacional é uma boa saída para o problema. A parlamentar também comentou o lançamento do portal Observatório do Crack, na próxima terça-feira (26), pela Confederação Nacional de Municípios (CNM). A ideia é levantar dados sobre o uso do "crack" e auxiliar os municípios nas ações de prevenção, reinserção social e recuperação de dependentes.

Sem contradição

A senadora Vanessa Grazziotin (PC do B-AM) disse não ver contradição entre associar aspectos científicos e espirituais no tratamento a dependentes de drogas. Também avaliou negativamente as restrições do governo ao trabalho religioso nas comunidades terapêuticas, posição apoiada pelo senador Waldemir Moka (PMDB-MS). Por fim, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) citou artigo publicado pelo deputado Paulo Teixeira no jornal Folha de S.Paulo em que vincula "uma regulamentação frouxa" sobre a publicidade de bebidas alcoólicas ao aumento no consumo.



20/04/2011

Agência Senado


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