CONCENTRAÇÃO DE RIQUEZAS IMPEDE FIM DA POBREZA, DIZ VALADARES
O senador Antônio Carlos Valadares (PSB-SE) ponderou que "o crescimento econômico não está necessariamente ligado à melhoria da qualidade de vida da população". Para sustentar sua avaliação, Valadares apresentou aos senadores, nesta quinta-feira (dia 19), dados da Organização das Nações Unidas (ONU) que sustentam essa tese.- O país enriqueceu, mas não conseguiu transformar essa riqueza em maior expectativa de vida e alfabetização. O Brasil continua um campeão de concentração de renda, em que 15,8% da população não tem acesso às condições mínimas de higiene, saúde e educação - afirmou Valadares, respaldado por diversos indicadores que compõem o cálculo do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), da agência internacional.Para o senador, a disparidade entre as regiões, particularmente entre o Nordeste e o resto do país é um dos aspectos que mais influem na pobreza brasileira. Além disso, continuou, o processo de integração dos mercados, a globalização, "produz riquezas, mas também aumenta as desigualdades e exacerba as dificuldades econômicas internas".- O desafio está em encontrar regras e instituições para uma governança nacional, regional e mundial que preserve as vantagens dos mercados e da concorrência, mas também assegure espaço suficiente para os recursos humanos, comunitários e ambientais necessários para garantir que a globalização funcione para as pessoas, não apenas para os lucros - propôs Valadares.O senador acrescentou o mau direcionamento como fator que contribui para a pobreza no país. Para ele, o país não gasta pouco na área social, mas gasta mal. Na sua avaliação, apenas 30% dos recursos chegam efetivamente à sua finalidade.- É fundamental, portanto, corrigir as distorções nos gastos sociais de forma a reduzir a enorme desigualdade social brasileira. Investir em saúde, em ensino básico, em programas de apoio a micro e pequenas empresas e acabar com subsídios a grandes grupos - analisou.O senador Carlos Bezerra (PMDB-MT) reforçou a crença de Valadares de que o Brasil é "campeão" das desigualdades, devido à excessiva centralização. Bezerra criticou o projeto de reforma tributária apresentado na Câmara que, na sua visão, "não vai levar a lugar nenhum", pois a União continuará com a maior parte da arrecadação, em vez de deixar "as coisas a cargo dos estados e municípios".Para ilustrar a sua intervenção, o senador por Mato Grosso informou que 85% das bolsas de pesquisa e pós-graduação concedidas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) são destinadas a estados do Centro-Sul, enquanto os 15% restantes são divididos entre os demais estados.
19/08/1999
Agência Senado
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