Controle da ferrugem asiática na soja exige combinação de medidas, dizem especialistas



Além da aplicação de agrotóxicos, especialistas afirmam que o controle da doença ferrugem asiática na soja exige a combinação de outras medidas, como rotação de culturas, barreias florestais para conter a disseminação pelo vento e a adoção do chamado vazio sanitário – período de 90 dias sem o plantio da cultura.

Representantes dos agricultores e de órgãos governamentais discutiram o assunto nesta quinta-feira (9) na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA), em audiência pública motivada por preocupação dos senadores com o avanço da doença nas plantações de soja brasileiras, com redução da produção e prejuízos financeiros.

Doença causada por fungo, a ferrugem asiática  afeta principalmente a cultura da soja, provocando a queda de folhas e a redução da produção de grãos, com consequente impacto sobre a produtividade das lavouras. Segundo os especialistas, entre 2001, quando o problema foi detectado no Brasil, e 2012, já foi contabilizado um prejuízo de U$ 25 bilhões pela redução na produtividade.

De acordo com Silvestre de Oliveira, da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), tem sido verificada redução da eficiência dos agrotóxicos utilizados no combate da doença, levando o setor a cobrar maior agilidade do governo no registro de produtos com novos princípios ativos.

Oliveira, no entanto, observa que a aplicação de fungicidas deve ser combinada a medidas como o vazio sanitário, incorporado no calendário da produção de soja desde 2006, mas que tem sido negligenciado pelos produtores nos últimos anos.

No mesmo sentido, Tadashi Yorinori, da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja), alerta para o avanço de focos da doença no país, em especial em Mato Grosso, mesmo com as aplicações de fungicida. Essa disseminação, disse, resulta não apenas da perda de eficiência dos princípios ativos dos agrotóxicos, mas também de outros fatores “em efeito dominó”, como regime de ventos, fatores climáticos, época inadequada de plantio e demora na adoção de medidas preventivas.

Resistência

O representante do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Márcio Rosa Rodrigues de Freitas, informou que em 2004 foram concedidos registros para produtos de controle da ferrugem asiática, sendo que, em 2007, novos agrotóxicos foram autorizados, por demanda do setor, uma vez que os produtos então comercializados já haviam perdido a eficácia.

A atual solicitação de novos registros de agrotóxicos revela que novamente está havendo resistência aos princípios ativos dos mesmos. Assim, ele enfatizou a necessidade de combinação de medidas, como manejo do solo e barreiras florestais.

De opinião semelhante, Álvaro Ávila do Nascimento, do Ministério da Agricultura, ressaltou que o uso isolado de agrotóxicos pode até resolver o problema no curto prazo, mas não resolve no longo prazo, por conta da resistência aos produtos. Ele apontou a necessidade de mais pesquisas sobre cultivares resistentes ao fungo, melhor orientação aos produtores e respeito aos períodos de interrupção de plantios.

Prazo para registro

Mesmo reconhecendo a importância do manejo adequado das lavouras, os senadores Blairo Maggi (PR-MT), Waldemir Moka (PMDB-MS) e Sérgio Souza (PMDB-PR) cobraram maior agilidade do governo na autorização de novos agrotóxicos. Eles apoiaram solicitação feita por Silvestre de Oliveira, para que o Ibama e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) concluam os pedidos de registro feitos pelas empresas de agroquímicos.

Em resposta, o representante do Ibama disse serem necessários todos os procedimentos adotados para concessão de registros, para assegurar proteção da saúde da população e preservação do meio ambiente, sem “atropelar” protocolos seguidos pela maioria dos países. Conforme Márcio Freitas, o prazo para conclusão de processos se assemelha aos praticados em outros países, apesar de a demanda no Brasil ser superior à capacidade operacional dos órgãos responsáveis pelas autorizações.

– Países com equipes muito maiores para estudos e registros de novos produtos estão levando o mesmo tempo que o Brasil – corroborou Ana Maria Vekic, gerente-geral de Toxicologia da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Para otimizar os processos de trabalho, os senadores Sérgio Souza e Benedito de Lira (PP-AL) sugeriram a integração das ações do Ibama, Anvisa e Ministério da Agricultura, além do aumento de servidores nesses órgãos.

No debate, Ana Vekic lembrou que a legislação brasileira proíbe o registro de produtos carcinogênicos, mutagênicos e que causem desregulação endócrina, motivo pelo qual as análises para registro de novo produto são criteriosas, ocorrendo, em alguns casos, a necessidade de avaliação de substâncias já usadas em outros países.

– Produtos para combater fungos e para combater insetos nunca vão ter uma toxidade inócua. Então, temos que nos assegurar o máximo possível em termos de saúde, de meio ambiente e de agricultura, para que o país possa ser sustentável – disse, ao ressaltar que os estudos feitos geram conhecimentos que permitem aperfeiçoar as regulamentações adotadas no país.

Ao concordar, o senador Blairo Maggi relatou recente viagem à China, na qual constatou que o governo daquele país estuda rever autorização para importação de soja transgênica.

– Fiquei muito surpreso de ouvir isso, já que a China tem uma dependência de importar quase 70 milhões de tonelada de soja, o que para eles é uma questão de segurança nacional – contou.



09/05/2013

Agência Senado


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