Criminalização de imigrantes deve marcar relação entre Brasil e União Europeia, diz especialista



No segundo dia de debates do 16° Fórum Brasil Europa - A Futura Agenda Política Europeia e as Relações com o Brasil, Antônio Carlos Lessa, professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), frisou que a agenda entre Brasil e União Europeia (UE) para os próximos três anos terá, entre os principais temas, a criminalização dos imigrantes na Europa e a concessão de vistos consulares. Ele também destacou a relevância da questão energética.

- Biocombustíveis é um grande ativo diplomático brasileiro, extremamente relevante agora, num contexto de crise econômica, na cooperação científico-tecnológica - complementou.

A afirmação foi feita durante o painel Europa entre eleições e reformas: o futuro da política externa europeia e o Brasil. O fórum, uma realização conjunta do Grupo Parlamentar Brasil-União Europeia, Fundação Konrad Adenauer e Universidade de Brasília, acontece no auditório Petrônio Portela do Senado.

Lessa explicou que o Brasil conquistou a condição de parceiro estratégico da União Europeia, mas disse ser essa uma relação "densa e tensa" porque, apesar de abrir uma nova perspectiva nas relações internacionais, esbarra na diversidade de interesses e pontos de vista.

- O Brasil é um país recém-chegado no processo de integração europeu. Sua participação está crescendo, mas está longe de ser a mesma de outros países emergentes, como Rússia e China - ressaltou.

Agendas apontadas como importantes pela Uniao Europeia, disse, como combate ao narcotráfico, ao crime organizado e à corrupção, não seriam prioridades brasileiras, que joga foco sobre a liberalização comercial, "o grande tema na perspectiva brasileira". Lessa avalia que, do ponto de vista da EU, não haveria espaço para maior aumento de subsídios aos produtos agrícolas.

Crise econômica

Para Christian de Fillipi, conselheiro da Embaixada da Suécia e também palestrante no fórum, a agenda prioritária da Suécia na presidência da União Europeia, que será assumida em julho, é lidar com os efeitos da crise econômica mundial. Nesse sentido, ele ressaltou que há boas perspectivas de cooperação entre Brasil e União Europeia, na busca de ferramentas apropriadas para o controle da crise.

Sobre os entraves ao comércio de produtos agrícolas, Christian de Fillipi salientou que o Brasil tem sido bastante construtivo nas discussões das rodadas de liberalização. Afirmou ser possível haver retrocessos no curto prazo em direção a um maior protecionismo, mas que, no longo prazo, há perspectivas de maior comércio e redução do protecionismo.

- Na Suécia, acreditamos no livre comércio - assegurou.

O especialista frisou ainda o interesse no aumento do intercâmbio de estudantes entre os países da UE e o Brasil e na construção de uma economia eco-eficiente.

Mercosul

Questionado por Hildegard Stausberg, chefe de Política Internacional do jornal Die Welt, de Berlim, José Flávio Saraiva, professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, analisou características do Mercosul e do bloco europeu.

- São dois processos de integração distintos [Mercosul e União Europeia]. Enquanto um recua quando não pode avançar e é essencialmente parlamentarista, o outro é pouco parcimonioso e pouco persistente - explicou o professor

Em sua comparação, Saraiva explicou que a União Europeia, por ter surgido de processos resultantes do pós-guerra, teria se formado a partir de um entendimento entre lideranças em torno de um caminho a seguir, com persistência e parcimônia.

Sobre dificuldades em torno da aprovação do ingresso da Venezuela no Mercosul, ele disse que o país andino possui um regime político extremamente diferenciado do brasileiro.



17/06/2009

Agência Senado


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