Crise da base é "tempestade em copo d'água", afirma FHC









Crise da base é "tempestade em copo d'água", afirma FHC
Presidente diz que "não concordaria com ação política" da PF

O presidente Fernando Henrique Cardoso chamou ontem de "tempestade em copo d'água" a crise que se instalou na base governista, após a ação da Polícia Federal no escritório da empresa Lunus, que pertence a Jorge Murad e a sua mulher, Roseana Sarney (PFL), governadora do Maranhão e pré-candidata do partido à Presidência da República.

FHC, em entrevista ao site Globonews, negou que a ação tenha sido motivada por razões políticas, como afirmaram integrantes do PFL. "Pessoalmente eu acho um erro essa avaliação". Porque não é político, não tem nada de político. Eu não concordaria com ação política", disse ele.

Para o presidente, é necessário manter equilíbrio e bom senso para tratar do assunto. "Vou fazer o que sempre fiz: ter equilíbrio." Em seguida, FHC acrescentou: "Acho que a virtude principal para quem quer governar o Brasil é ter equilíbrio, razão, bom senso, evitar que as emoções entorpeçam a capacidade das pessoas de analisar as situações e ver o que é melhor para si e para o país".

A entrevista foi concedida pela manhã, antes de FHC receber o pedido de demissão do ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho, irmão da governadora, e de se reunir com o ministro de Minas e Energia, José Jorge (PFL).

Oficialmente, o ministro José Jorge se reuniu com FHC para tratar da pauta do CNPE (Conselho Nacional de Política Energética), no Palácio do Planalto.

Entretanto, à noite, FHC fez uma reunião extra, dessa vez com os demais ministros do PFL -Roberto Brant, da Previdência, e Carlos Melles, ministro do Esporte e Turismo-, inclusive o de Minas e Energia, para conversar sobre a crise causada pela ação da Polícia Federal.

Reforma ministerial
Por meio de seu porta-voz, Alexandre Parola, o presidente negou ontem, antes da reunião noturna, que a crise entre o PFL e o governo antecipará a sua reforma ministerial.

Na opinião de FHC, segundo Parola, razão e bom senso vão predominar nas análises dos acontecimentos, permitindo uma avaliação menos emocional dos fatos. "O presidente espera que não haja efeitos dessa natureza [antecipação da reforma ministerial"", declarou o porta-voz.

"O presidente ressalta a importância [do bom senso" para o equilíbrio e, nessa perspectiva, está certo de que a razão e o bom senso evitarão que razões emocionais de primeira hora impeçam entendimento mais sereno dos fatos", afirmou.

Indagado se a crise afetará a campanha do tucano José Serra à Presidência, Parola disse que o FHC não comentaria o assunto.

Segundo o porta-voz, o presidente elogiou as últimas declarações de integrantes da base governista. Segundo ele, elas "já emerge compreensão mais desapaixonada do ocorrido".

Para FHC, os aliados vão manter o compromisso em defesa dos temas nacionais. De acordo com Parola, o presidente seguirá "conduzindo a base de sustentação com o projeto que, ao longo dos últimos anos, se traduziu concretamente em um Brasil melhor".


Oposição no Maranhão quer quebra de sigilo
Com fôlego extra depois que as novas suspeitas sobre irregularidades envolvendo projetos da Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia) atingiram a governadora e presidenciável Roseana Sarney (PFL), a oposição maranhense vai pedir à própria Roseana que coloque o seu sigilo bancário e fiscal à disposição da Assembléia do Estado.

O requerimento vai ser elaborado pelo deputado estadual Aderson Lago (PSDB), espécie de porta-voz dos oposicionistas, e será encaminhado à Mesa da Casa para aprovação. Ele se baseia, no pedido, em declarações em que Roseana sustenta não ter nada a esconder sobre sua vida.

"Vamos tentar transformar uma mera atitude retórica em alguma coisa prática", disse o deputado, que reconhece, mesmo assim, ser difícil ver seu pedido aprovado pela Casa, que conta com maioria governista (36 contra 6). "Não acredito mesmo que aprovem. Daí vou encaminhar o requerimento diretamente a ela."
Roseana e seu marido, Jorge Murad, gerente de Planejamento e Desenvolvimento Econômico do Estado, foram surpreendidos na última sexta com o cumprimento de um mandado de busca e apreensão feito pela Polícia Federal no escritório da empresa Lunus, de propriedade do casal.

A medida atendia a pedido do Ministério Público Federal do Tocantins, Estado que concentra as principais investigações sobre as suspeitas de desvios de recursos da Sudam. A Lunus estaria sob suspeita de integrar sem registro oficial (com contratos de gaveta) o projeto Nova Holanda, investigado sob suspeita de irregularidades em financiamento da Sudam.

Roseana e Murad negaram o vínculo e classificaram a atitude como sendo de cunho político.
Os seis deputados de oposição devem se reunir para avaliar a possibilidade de pedir a instalação de uma CPI para investigar os negócios particulares do casal. Entre outras coisas, querem detalhes sobre como o capital social da Lunus cresceu de R$ 115 mil para quase R$ 3 milhões de 1996 até o ano passado. Mas os próprios deputados reconhecem que não terão força para instalar uma CPI.


Ministro pede apuração de suposto vazamento
O ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira, determinou à PF (Polícia Federal) que instaure inquérito para apurar o suposto vazamento de informações da busca e apreensão de documentos na empresa Lunus, de propriedade de Jorge Murad e da governadora do Maranhão, Roseana Sarney.

Ainda ontem, o diretor-geral da PF, Agílio Monteiro Filho, designou o delegado Ricardo Garcia, da Corregedoria da PF, para apurar se houve responsabilidade de algum integrante do órgão no vazamento de dados sobre a operação. A sindicância tem prazo de 30 dias para ser concluída.

Monteiro Filho disse que não acredita na participação de agentes da PF no vazamento. Segundo ele, pode ter ocorrido por outras pessoas. O diretor disse que a operação foi discreta e que não houve invasão, mas uma busca respaldada pela lei. Para ele, a PF apenas cumpriu uma decisão judicial.

Ontem, o juiz do Tribunal Regional Federal Mario Cesar Ribeiro foi nomeado relator do recurso sobre a apreensão dos documentos e deverá encaminhar o processo para que 2ª Seção do TRF faça o julgamento.


Presidente fez apelo para o PFL ficar, afirma ministro
Segundo Brant, FHC declarou que saída abriria uma crise

O presidente Fernando Henrique Cardoso se reuniu ontem à noite com os três ministros do PFL e fez um apelo enfático para que continuem no governo, argumentando, inclusive, que o rompimento poderia se refletir na economia.

Conforme relatou o ministro Roberto Brant (Previdência Social) depois do encontro, FHC disse textualmente que a saída do PFL do governo "abriria uma crise de consequências difíceis de prever, inclusive na economia".

Os ministros responderam que dependiam da decisão da Executiva Nacional do PFL, que se reunirá depois de amanhã, e da governadora e pré-candidata ao Planalto, Roseana Sarney (MA).

A governadora deverá dizer hoje em Brasília que abrirá seu sigilo fiscal, bancário e telefônico, seguindo orientação do advogado Saulo Ramos. Objetivo: criar um fato político para mostrar que não teme nenhuma investigação.

Os ministros do PFL assumiram um compromisso: o partido vai apoiar a prorrogação da CPMF no Congresso, independentemente de manter ou não os cargos no governo federal.

Na sua tentativa de manter os ministros, FHC disse que não teve nenhuma participação na invasão da Polícia Federal no escritório de Jorge Murad, marido e principal assessor de Roseana. Disse, ainda, que discordava da forma como foi feita a operação policial.

E que, quand o requisitada pela Judiciário, a PF foge ao controle do Executivo. Lembrou o bloqueio do gabinete do secretário da Receita Federal, Everardo Maciel, como exemplo disso.

Brant reclamou especialmente do ministro da Justiça, o tucano Aloysio Nunes Ferreira. A PF é subordinada à sua pasta, e ele deu declarações à imprensa acusando o PFL de reivindicar "tratamento privilegiado" em questões policiais e judiciais.

Brant reclamou ainda de "grupos ao redor" do pré-candidato tucano à Presidência, José Serra, que estariam por trás da decisão de invadir o escritório de Murad e principalmente do vazamento à imprensa. Mas tentou preservar Serra, dizendo: "Ele Serra" é um dos maiores interessados em manter a paz entre os partidos".
Também presente, o ministro José Jorge (Minas e Energia) disse que "o PFL está desconfortável".

Acrescentou que, além de ouvir a Executiva, o partido não faria nada à revelia de Roseana: "Ela é nossa candidata e tem enorme influência na nossa decisão".

Carlos Melles (Esporte e Turismo) falou pouco, mas fez questão de dizer que o momento é grave: "Desde que tomei posse, vivem falando em rompimento. Mas, desta vez, o sentimento é mesmo nessa direção".

Além do presidente e dos três pefelistas, também participaram da reunião os ministros Pedro Parente (Casa Civil) e Arthur Virgílio Neto (Secretaria Geral).


Sarney Filho deixa ministério em "solidariedade" a Roseana
Decisão dos outros ministros do PFL deve sair na quinta-feira

O deputado José Sarney Filho (PFL-MA) deixou ontem o Ministério do Meio Ambiente em "solidariedade" à irmã, a governadora Roseana Sarney (PFL-MA), e será substituído pelo secretário-executivo José Carlos Carvalho. "Meu ato é auto-explicativo", disse Sarney Filho.

Até o início da noite, quando os demais ministros pefelistas se reuniriam com o presidente Fernando Henrique Cardoso, o ato de Sarney Filho era isolado. José Jorge (Minas e Energia), Roberto Brant (Previdência) e Carlos Melles (Esporte e Turismo) continuavam no cargo.

Segundo o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia, o encontro indicaria o futuro das relações entre o partido e o governo. Para ele, os pefelistas se encontrariam com FHC com "espírito desarmado" e sem predisposição para ficar ou sair do governo.

Sarney Filho pediu demissão no início da tarde em reunião com FHC, no Palácio do Planalto. No encontro, que durou cerca de meia hora, ele não chegou a entregar carta de demissão porque já o havia feito na última reunião ministerial, em fevereiro.

Segundo a assessoria do Ministério do Meio Ambiente, FHC havia pedido que ele ficasse até o início de abril, prazo final para a saída dos ministros que vão disputar as eleições de outubro.

O novo ministro foi indicado por Sarney Filho para o cargo de secretário-executivo, mas vem dos quadros técnicos do Meio Ambiente. Ele também é vinculado ao PSDB e foi secretário do Meio Ambiente em Minas no governo Eduardo Azeredo (94-98).

A saída de Sarney Filho do governo foi antecipada pela operação de busca e apreensão de documentos na Lunus, empresa de Roseana Sarney e de seu marido, Jorge Murad, na última sexta.

O Palácio do Planalto divulgou nota em que "lamenta não poder continuar a dispor dos préstimos valiosos do ministro e reitera o apreço pessoal e o reconhecimento pelo trabalho realizado".

Em carta de três páginas, Sarney Filho faz um relato de seus três anos no comando do ministério. Não há menção ao presidente e aos colegas de governo. Igualmente, Sarney Filho não diz por que deixou o governo.
A decisão do PFL em relação ao governo será tomada na quinta em reunião da Executiva Nacional. Vice-presidente do partido, o ministro José Jorge não demonstrava disposição de seguir Sarney Filho. "Como não vou ser candidato, minha idéia é ficar até o final do governo. Pelo menos era até a aparição desse fato novo."
José Jorge afirmou que gostaria de levar até o final um trabalho que vem desenvolvendo no ministério. "Na reunião será decidido se o PFL continua ou não apoiando o governo. No caso de não continuar apoiando, os ministros terão de se retirar do governo", disse.


Tasso diz que telefonou para "se solidarizar"
O governador Tasso Jereissati (PSDB-CE) afirmou ontem ter ""estranhado" a veiculação de notícias segundo as quais ele seria o ""bombeiro" a apaziguar as relações entre o tucanato e a governadora Roseana Sarney (PFL-MA).

Por meio de sua assessoria, Tasso negou que vá atuar no caso, mas confirmou ter telefonado à pefelista após a ação da Polícia Federal na empresa Lunus, da governadora e do marido dela, Jorge Murad. Disse que telefonou para ""se solidarizar".

E afirmou desconhecer qualquer plano do Planalto que o envolva para tentar acalmar Roseana e o PFL.
Políticos próximos a Tasso dizem que ele ficou bastante irritado com o comportamento de tucanos acusados por Roseana de terem orquestrado a operação da PF para prejudicá-la.

O principal alvo da irritação de Tasso é o ministro Aloysio Nunes Ferreira (Justiça), com quem ele se desentendeu no final do ano passado devido à disputa pela candidatura tucana a presidente. Tasso, que era presidenciável, acusou Aloysio de articular em favor do então ministro José Serra (Saúde).


PFL ameaça abandonar Roseana, caso haja indício de culpa de Murad
Parte da cúpula do PFL admite que a governadora Roseana Sarney (MA) possa até ser forçada a renunciar à pré-candidatura presidencial caso cresçam indícios e evidências contra Jorge Murad, seu marido e gerente de Planejamento do governo do Maranhão.

A direção do PFL manifesta solidariedade a Roseana e apoio "ao que ela disse e escreveu", mas avisa nos bastidores que não vai se afogar juntamente com Murad. Se ficar comprovado que ele tem culpa no cartório, parte do PFL quer distância.

Alertada do clima de tensão no seu próprio partido, Roseana deve entregar hoje ao Ministério Público, em Brasília, um dossiê completo respondendo a acusações contra ela e contra Murad. Os documentos serão entregues à direção da Polícia Federal, ao procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, e à presidente do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), Adrienne Senna. Roseana vai insistir com todos na tese de que se trata de "perseguição política" do governo e do PSDB.

A PF encontrou indícios de participação do escritório Lunus em projetos fraudados da extinta Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia), quando investigava o projeto Usimar, responsável pelo desvio de R$ 44 milhões da autarquia. Verbas que seriam para a Usimar, indústria de autopeças, podem ter ido parar na Lunus, da qual Murad e Roseana são sócios. As duas empresas funcionam no mesmo prédio em São Luís.

O PFL acusa o ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB), de ter autorizado a operação policial contra Murad sem "um gesto de elegância" com os parceiros. Mas o partido tenta evitar o rompimento com o presidente Fernando Henrique Cardoso e a perda dos cargos que tem no governo. O presidente do PFL, Jorge Bornhausen (SC), pede calma aos pefelistas e avisa que a posição partidária está em aberto. A um amigo que lhe perguntou o que aconteceria se houvesse mais provas contra o marido de Roseana, ele respondeu: "Aí, vamos reexaminar".

Em coro, os líderes pefelistas denunciaram "a violência" e atribuíram a ação policial -que foi determinada por ordem da Justiça- ao PSDB e aos partidários da pré-candidatura do tucano José Serra (SP). Mas a unidade pefelista pára por aí. Até sexta-feira, dia da invasão do escritório de Murad, a crise política era entre o PFL e o PSDB. Agora, é também dentro do próprio PFL.

O pai de Roseana, ex-senador José Sarney (que é do PMDB, mas mantém influência no PFL), se aliou ao ex-senado r Antonio Carlos Magalhães para atuar em sentido contrário à cúpula partidária. Sarney fará discurso amanhã no Senado acusando o governo FHC de "tirar o país do rumo da institucionalidade".

Ontem, o filho do senador, deputado José Sarney Filho (MA), entregou o cargo de ministro do Meio Ambiente para FHC, mas os demais ministros pefelistas estavam reticentes.

ACM ironizou: "Acho até engraçado falarem que o José Jorge ministro de Minas e Energia" vai ficar. Ele não pode ficar nem sair, porque nunca entrou no governo. O ministro de fato é o Pedro Parente [chefe da Casa Civil"", disse o ex-senador à Folha.

A guerra está instalada dentro do próprio PFL, mas sem poupar o PSDB. Ontem, os pefelistas mais ligados a Roseana já falavam em retaliar divulgando acusações contra políticos e empresários ligados a Serra.
O ministro tucano Arthur Virgílio (Secretaria Geral da Presidência) ligou para líderes pefelistas pedindo uma trégua, mas o que eles pedem é tido como um pouco demais: que FHC desautorize o ministro da Justiça e se solidarize publicamente com Roseana. Dificilmente Fernando Henrique Cardoso irá fazê-lo.


Artigos

A ira seletiva de Roseana
Clóvis Rossi

SÃO PAULO - É curiosa a extrema seletividade com que a governadora Roseana Sarney reage ao que chama de arbítrio (a invasão do escritório de seu marido, Jorge Murad).

Não consta, por exemplo, que Roseana tenha pedido ao PFL que rompesse com o governo Collor quando este ordenou, em 1990, a invasão da Folha. Com um detalhe agravante: naquele caso, nem havia ordem judicial. Foi uma ação da Polícia Federal, aliás chefiada à época pelo hoje senador Romeu Tuma (do PFL, o indignado partido de Roseana).

Tampouco consta que Roseana tenha pedido ao pai, José Sarney, que deixasse a Arena, o partido de sustentação do regime militar, apesar de milhares de brasileiros terem sido mortos, torturados, banidos, exilados, cassados.

Ou será que só há arbítrio quando bate às portas dos Sarney?

Também não consta que o PFL se tenha rebelado contra a Justiça do Tocantins quando esta mandou prender o senador Jader Barbalho (PMDB). O caso era parente próximo do que agora levou à invasão da empresa do casal Roseana/Murad (os escândalos da Sudam).

Não menos curiosa é a teoria de alguns setores de que, embora a investigação seja necessária, o "timing" foi errado. Quer dizer que suspeitas de corrupção não devem ser investigadas em período eleitoral porque podem prejudicar algum candidato? Não deveria ser exatamente o contrário? Não é justamente a campanha eleitoral o melhor momento para devassar idéias, obras e atos de todos os candidatos?

Para o eleitor, a única coisa que de fato importa é a seguinte: Murad é culpado ou inocente? Se inocente, Roseana afasta o que, nos bastidores do mundo político, se considera a maior sombra sobre sua candidatura. Se culpado, ganha o eleitor, que terá uma informação adicional para decidir seu voto.


Colunistas

PAINEL

Pé atrás
A descoberta de R$ 1,5 mi no escritório do marido de Roseana Sarney provocou sérias desconfianças no PFL sobre a viabilidade eleitoral da governadora. Líderes do partido acham que a exploração do caso no horário eleitoral pode arruinar com a pretensão presidencial da sigla.

Terceiro nome
Pefelistas dizem, no entanto, que não vão rifar simplesmente a candidatura Roseana Sarney, mesmo que a situação fique insustentável. Responsabilizam Serra pela crise e não aceitam apoiá-lo. A solução, dizem, seria achar uma outra alternativa de consenso para PSDB e PFL.

Pensar no futuro
Serra disse a líderes tucanos que é importante manter o diálogo com Roseana e Bornhausen e conservar uma porta aberta para o caso de o PFL desistir da candidatura própria.

Tamanho do prejuízo
O PFL encomendou ontem uma pesquisa para avaliar o impacto da operação da Polícia Federal no Maranhão sobre a popularidade de Roseana.

Ônus da prova
Em sua defesa, Roseana dirá que o PSDB costuma promover "golpes" para impedir a vitória de seus adversários. Lembrará da emenda da reeleição, da proibição do uso de imagens externas em programas eleitorais e da verticalização das coligações.

Telefone mudo
Arthur Virgílio (Secretaria Geral) telefonou ontem à tarde para Roseana tentando marcar um encontro hoje em Brasília. A pefelista não aceitou.

Prova de amizade
Caciques do PFL estão pedindo a cabeça de Aloysio Nunes (Justiça), a quem acusam de ser o mentor da operação da PF.

Uso alheio
Do procurador da República Mário Lúcio Avelar, que pediu as apreensões da PF na empresa da família de Roseana Sarney: "Não sou político, não disputo mandato eleitoral e nem fui eleito. Se ocorre exploração política, é contra a nossa vontade".

Logo ali
Acompanhada de 30 empresários, Marta Suplicy (PT-SP) irá ao Japão no fim do mês. Passará por Osaka, Nagoya e Tóquio.

Recuo estratégico
A pedido do PT, o PL de José Alencar não vai entrar, ao menos por enquanto, com uma ação no STF contra a decisão do TSE de uniformizar as coligações. Os petistas disseram aos liberais que a medida, no final das contas, poderá beneficiar Lula.

Aposta alta
O PT quer ganhar tempo para avaliar o impacto da decisão do TSE. Acredita que Garotinho (PSB) e Ciro (PPS), apesar de suas negativas, podem ser levados a desistir e a apoiar Lula.

Doze a menos
O PL estimava eleger 35 deputados federais na eleição. Com a restrição às coligações, o partido acha que, a não ser que Lula consiga montar uma ampla aliança em torno de seu nome (PT-PL-PSB-PPS-PDT), fará apenas 23 parlamentares.

Coisa de cinema
Raul Cortez participará de um dos comerciais de TV de José Serra (PSDB), a serem exibidos hoje. O ator dirá que para o tucano "nada é impossível".

Bem a tempo
Cortez diz que a gravação foi feita antes de a Globo proibir seus funcionários de participar de programas políticos. Os comerciais do PSDB foram preparados pelos marqueteiros Nelson Biondi e PC Bernardes.

Visita à Folha
O deputado federal Michel Temer, presidente do PMDB, visitou ontem a Folha, onde foi recebido em almoço. Estava acompanhado de Gaudêncio Torquato, assessor político.

TIROTEIO

De Aloizio Mercadante (PT), sobre a investigação da PF na empresa da família de Roseana:
- Os indícios são muito graves. Acho que nem a rede bancária do Maranhão tem em caixa o valor achado na empresa. Mas a forma e o momento em que isso veio à tona também são muito graves para a democracia, indicam uso político. Lembram o episódio ACM-Jader.

CONTRAPONTO

Politicamente incorreto
Paulo Maluf (PPB), ex-prefeito de São Paulo, foi o entrevistado de um programa da Rede Vida, ligada à Igreja Católica, que foi ao ar no final da noite do último domingo.
À vontade com os entrevistadores, que não polemizaram com o pré-candidato do PPB ao governo de SP, Paulo Maluf falou de suas obras, de sua família e até da sua infância.
Um dos entrevistadores pediu que Maluf contasse alguma piada. O ex-prefeito, de descendência árabe, respondeu com uma outra pergunta:
- Um árabe faz um negócio com um judeu. Qual dos dois sai perdendo?
O entrevistador disse que não saberia responder.
Maluf, que está sob investigação por ter contas bancárias no paraíso fiscal da ilha de Jersey, completou a piada:
- Certamente o fisco não sai ganhando...


Editorial

POLÍTICA DA JUSTIÇA

Quando os desígnios do Judiciário se cruzam com os da política, forma-se terreno afeito à desconfiança e à rusga. Assim foi com a busca e apreensão executada pela Polícia Federal, cumprindo ordem da Justiça, numa empresa da pré-candidata à Presidência Roseana Sarney e de seu marido, Jorge Murad. A governadora do Maranhão e alguns de seus correligionários do PFL atribuíram a responsabilidade da operação ao governo federal, motivado por supostos interesses eleitorais do PSDB.

O fato ensejou pressão sobre a coalizão governista e já provocou a primeira defecção. O ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, irmão da governadora, demitiu-se do cargo. No PFL há quem cogite entregar os postos ministeriais e romper com o governo. Mas os princípios de terremoto por ora não encontram respaldo nas informações disponíveis sobre a operação realizada em São Luís.

O pedido de busca e apreensão se originou no Ministério Público Federal do Tocantins, onde corre um inquérito sobre desvio de dinheiro público da extinta Sudam. Uma juíza acatou o pedido, emitiu carta precatória a seu colega no Maranhão, o qual ordenou o cumprimento. A PF, acompanhada de advogado designado pelos réus, apreendeu as provas. Formalmente, portanto, a ação seguiu o caminho devido.

Por tratar-se de caso delicado, ocorrido em momento importante da corrida presidencial e que envolve o nome que disputa o primeiro lugar nas pesquisas, é preciso que as autoridades se esmerem nos esclarecimentos. Qual a especificação da ordem judicial? Qual o seu fundamento legal? Houve abuso na ação da polícia? Outros atores no Executivo tomaram parte nesse caso? Como "vazaram" informações de inquérito que corre sob regime sigiloso?

Esses pontos precisam ser esmiuçados para que se avalie com precisão a hipótese de conspiração política. Outra tarefa que não pode deixar de ser cumprida, sob pretexto nenhum, é a de identificar e punir os responsáveis pelas fraudes milionárias na Sudam com dinheiro do contribuinte, sejam eles quem forem ou que cargos ocuparem.


Topo da página



03/05/2002


Artigos Relacionados


PFL faz “tempestade em copo d'água”, diz FHC

Anvisa vai registrar medicamentos a base de água do mar

Medicamentos a base de água do mar devem ter registro

Deputados não vêem crise duradoura na base de FHC

Dilma pode construir base sólida de apoio, afirma Cristovam

Senadores da base garantem que crise será leve para o Brasil