Crise deve ser resolvida em clima de respeito, diz Sérgio Guerra



Em tom conciliador, o senador Sérgio Guerra (PSDB-PE) voltou a defender nesta terça-feira (18) a elucidação de todas as denúncias feitas contra o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), mas disse que a crise na instituição deve ser resolvida em um clima de respeito, tanto entre os senadores, como para com a população. Ele elogiou o passado político de Sarney e salientou que "não mistura relação pessoal com política". Mas disse não concordar que, a pretexto da discordância, parlamentares "promovam a revanche, promovam a ameaça, promovam a distribuição fortuita de notas e informações fraudulentas para ameaçar quem quer que seja". 

- Nunca, na minha vida, cassei o mandato de ninguém por uma questão íntima, acho que o Senado não é para isso, que o Parlamento não é para isso. Se para ser senador tenho de cassar mandatos não serei senador nunca, nem parlamentar. Acho que esse é o campo da Justiça e não o campo do Parlamento. Porém, todo enfrentamento deve se dar, toda discussão deve ser feita - declarou Sérgio Guerra, admitindo não ter sido "fácil", para ele, pedir o afastamento do presidente do Senado por 60 dias.

Sérgio Guerra discursou em resposta ao pronunciamento de Sarney nesta segunda-feira (17), quando o presidente do Senado contestou denúncia do jornal O Estado de S. Paulo, segundo a qual a empreiteira Aracati/Holnenn teria pago dois imóveis na capital paulista para família Sarney. Em seu discurso, Sarney também manifestara indignação com a reação de Sérgio Guerra e dos senadores Demóstenes Torres (DEM-GO) e Valter Pereira (PMDB-MS), considerando que eles foram "apressados" ao cobrar esclarecimentos sobre o caso.

- Um democrata como José Sarney vem aqui para reclamar de um jornal! Pode até reclamar, mas as questões que o jornal publica devem ser esclarecidas. Pode até ter razão, mas as questões que forem publicadas naquele jornal ou em qualquer jornal sobre as quais a opinião pública tem ponto de vista devem ser esclarecidas no Congresso, por todos nós, especialmente pelo Presidente do Senado - disse o senador do PSDB. Para ele, justamente por ser um senador com "condições reais, potenciais e históricas para presidir o Senado do Brasil, como já o fez, de forma qualificada", é que Sarney precisa responder às denúncias.

Honra

Sérgio Guerra relembrou sua própria trajetória, observando que exerceu três mandatos de deputado federal, que foi diversas vezes líder de bancada e três vezes secretário de estado nos governos de Miguel Arraes e de Jarbas Vasconcelos, em Pernambuco, sem que tenha havido qualquer denúncia ou reclamação nos Tribunais de Contas. O senador, no entanto, lembrou que também foi alvo de um processo de investigação na CPI do Orçamento, em 1993. Então deputado, Sérgio Guerra chegou a depor na CPI, mas foi inocentado. Esclarecidas as denúncias, disse, ele se reelegeu deputado federal com votação superior à primeira eleição.

- Eu me apresentei para a investigação, tenho honra. Pensei em deixar a vida pública, mas encarei isso tudo. Nunca fui governista, apoiar governo por apoiar. Tive mais momentos de oposição que de governo na minha vida - afirmou.

O presidente nacional do PSDB disse que "o que vale a pena é assumir posições, defendê-las, sustentá-las, enfrentando o combate travado com coragem e com determinação, até que o resultado se confirme".

- Não tenho coragem física para enfrentar o [senador] Wellington Salgado [PMDB-MG], mas discuto com ele o que ele quiser, em qualquer lugar, e não vou ficar inimigo dele por causa disso. Nunca fiz ataque pessoal a quem quer que seja no Senado. Isso não é coisa de gente séria. Grupos que trabalham assim não merecem estar sentados aqui, deveriam se submeter ao julgamento da opinião publica - afirmou.

Estima

Sérgio Guerra fez questão de dizer que tem estima e consideração por Sarney e que é amigo de sua família, mas ressaltou que nunca fez qualquer pedido de ordem pessoal ao presidente do Senado. Também afirmou que não foi fácil defender o afastamento de Sarney e que talvez ele tenha sido o último senador a apoiar uma proposta nesse sentido, tendo em vista que não mistura relação pessoal com política. Sérgio Guerra ressaltou que sua estima por Sarney é "sincera" e que o conhece "desde menino".

- Ele tem biografia. É um homem democrático. Dirigiu a transição democrática, fez tentativa de mudança econômica, tentou ajudar o Nordeste de forma cordial e civilizada. Tem espírito público, respeito pela cultura brasileira e merecia uma boa imagem para ele próprio. Mas não estamos fazendo isso aqui. Estamos destruindo a imagem de Sarney e nos destruindo também - afirmou.

Sérgio Guerra avaliou ainda que Sarney tem condições reais e históricas de presidir o Senado de forma qualificada, mas que os senadores não podem dar continuidade a um jogo de precariedade que ameaça as pessoas e que não contribui para solucionar a crise atual.

- O que constrói as coisas é o respeito pelo ponto de vista dos outros, entender que pode haver discordância e caminhar com elas. Não dá para continuar nesse ambiente de denúncias e ameaças, nessa ação primitiva de gente que não pratica a democracia. Isso é coisa de vagabundo, e não de homem público - afirmou.

Apartes

Em aparte, o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) também condenou o clima de ameaças e disse que esse método não é utilizado por homens públicos, mas "por pessoas que estão vendo a página da História virar por cima delas e não terão longevidade".

- Esse método não contribui para a harmonização da Casa. Denúncia séria e fundamentada deve ser examinada na hora, e não negociada. Esse método sepulta no Senado qualquer expectativa de relacionamento decente entre os senadores. O jornal tem o direito de criticar o presidente Sarney, que tem o direito e o dever de se defender - afirmou.

Já o senador José Agripino (DEM-RN) disse que o clima de "denúncia atrás de denúncia" acaba provocando "atitudes deploráveis". Ele disse ainda que os homens públicos devem estar preparados para esclarecer qualquer denúncia, condição que considera essencial para quem exerce a vida pública.

Agripino disse ainda que as denúncias contra parlamentares não podem continuar sendo apreciadas pelos próprios parlamentares, mas pela Justiça, como forma de pôr um fim ao processo de "destruição intestina" do próprio Parlamento.

O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) disse que a base do governo tem se comportado de maneira imprópria, "intimidando, gritando, ameaçando e pressionando" na tentativa de fazer valer suas posições. Ele observou que tais atitudes estão aumentando na população o sentimento de repulsa contra o Senado. Na mesma linha, Tasso Jereissati (PSDB-CE) afirmou que a situação política no Senado se deteriorou porque, em vez de se explicar sobre as denúncias, o senador José Sarney (PMDB-AP) teria se valido de uma "tropa de choque".

Já o senador Flávio Arns (PT-PR) aplaudiu a postura adotada por Sérgio Guerra, a seu ver, pautada pela tranquilidade, segurança, transparência e com o objetivo de preservar a instituição. A senadora Lúcia Vânia (PSDB-GO) também elogiou o senador por Pernambuco. O senador Garibaldi Alves (PMDB-RN) testemunhou que Sérgio Guerra prestou um depoimento claro, objetivo e que não deixou dúvidas quando rebateu acusações a respeito do Instituto Pio Guerra, que leva o nome do seu pai.

Por sua vez, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) comentou que se o Conselho de Ética decidir arquivar todas as denúncias apresentadas contra Sarney este dia poderá ser o mais triste da história do Parlamento. Ele também afirmou que se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva conseguir enquadrar os senadores do PT e obrigá-los a votar pelo arquivamento, tal fato poderá se transformar no ate stado de óbito do partido. O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) sugeriu que o Conselho de Ética abra espaço para Sarney e o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) se defenderem das denúncias que pesam contra eles antes de os membros daquele colegiado votarem pelo arquivamento dos processos ou não.

Após o discurso de Sérgio Guerra, o presidente Sarney garantiu que em nenhum momento teve a intenção de levantar qualquer questionamento sobre a postura de Sérgio Guerra. Ao contrário, ele esclareceu que ao citar o nome do senador pernambucano pretendeu apenas invocar grandes parlamentares do Senado que tinham sido vítimas de injustiça.



18/08/2009

Agência Senado


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