Cristovam critica o que considera interferência do Executivo no Congresso



O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) afirmou em Plenário, nesta quinta-feira (2), que a crise institucional do Senado está desmoralizando a idéia de "fundo do poço". A cada denúncia que surge, assinalou, se pensa que a instituição chegou ao fundo do poço, mas logo se descobre que há, ainda, um outro andar, embaixo. Cristovam disse ter percebido que o fundo está ainda mais abaixo ao ler na imprensa que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria telefonado, do exterior, ao presidente do Senado, José Sarney, pedindo a este que não se afastasse do cargo.

Cristovam ressaltou que o presidente do Lula não tem o direito de manter ou destituir o presidente do Senado. Ele considerou essa atitude do chefe do Executivo como uma intervenção no Congresso, acrescentando que José Sarney deveria ter tomado uma posição firme contra esse tipo de interferência.

- Pior ainda: o que os jornais de hoje dizem é que o presidente Sarney disse a diversos senadores que não se afastará do cargo porque tem um compromisso com o presidente Lula. Desculpem-me, mas presidente de Congresso não tem compromisso com o presidente da República; o presidente do Congresso tem compromisso com o Congresso e com o povo inteiro - declarou o senador.

Para Cristovam, a interferência do Executivo na crise do Senado representa "a desmoralização mais completa do poder fundamental da República, que é o Congresso". Ele disse acreditar que essa questão é ainda mais grave que os problemas relativos a atos secretos e passagens aéreas e vai além do beneficiamento de parentes.

- Essas coisas são visíveis, indignas, têm que ser paradas, mas eu queria alertar, pedagogicamente até, que o mais grave de tudo é a desmoralização do Congresso - disse Cristovam. - É a perda de um Poder pelo qual temos todos a obrigação de zelar.

Cristovam voltou a defender o afastamento do senador José Sarney da Presidência do Senado. Em sua avaliação, seria do interesse de Sarney deixar claro para a população que as denúncias que pesam sobre a Casa serão apuradas sem nenhuma interferência.

- Para limpar o seu nome, para que a apuração seja feita, é do interesse do presidente Sarney que ele esteja fora da Presidência - disse Cristovam. - Eu acredito que ele não vai se imiscuir nas apurações, mas na opinião pública vai pesar como se ele tivesse influído.

Falando em seguida, o 1º secretário, Heráclito Fortes (DEM-PI), disse que Cristovam estava dando a impressão de ter perdido o apreço pelo Senado e por seus companheiros senadores. Heráclito lembrou que Cristovam já havia dito que em um plebiscito o povo votaria pelo fechamento do Congresso e até havia manifestado o desejo de abandonar seu mandato para ocupar um cargo na Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

- Eu queria pedir a vossa excelência que medisse um pouco as palavras toda vez que se dirigisse ao Senado e aos atos dos companheiros - disse Heráclito.

Cristovam contestou a argumentação de Heráclito explicando, mais uma vez, que nunca pediu o fechamento do Congresso. Disse que apenas expressou uma questão que estava sendo debatida pelas ruas e reafirmou sua defesa da importância do Parlamento para a democracia.



02/07/2009

Agência Senado


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