Damasceno diz que foi ameaçado de morte por diretores da Mendes Júnior



O ex-coordenador administrativo-financeiro da empreiteira Mendes Júnior Simeão Damasceno disse nesta quarta-feira em depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Banestado que, depois de 16 anos na companhia, começou a se sentir vítima de perseguições da empresa que começaram com seu afastamento de atividades antes por ele desempenhadas e culminaram com quatro assaltos ao seu escritório dentro da empresa. Ele também teria sido vítima de um seqüestro relâmpago, no qual foram roubados documentos, e ameaças de morte, feitas inclusive por diretores da empreiteira.

Damasceno disse que não conseguiu apoio da diretoria ou da presidência da Mendes Júnior para investigar os assaltos, em que sumiram documentos comprometedores sobre o caixa 2 e as relações da empreiteira com a Prefeitura de São Paulo. Ele acusou a empresa de querer -abafar- os inquéritos policiais e até tentar incriminá-lo. Segundo o ex-funcionário, com medo, pediu para deixar a empresa, mas não conseguiu um acordo para receber o que lhe era devido.

- Não queria deixar a empresa de cabeça baixa, como outros colegas fizeram - afirmou Damasceno que depôs na CPI sob juramento.

Como não conseguiu o acordo, Damasceno disse à CPI que entrou com seis ações contra a empreiteira, inclusive por danos morais. O assunto tornou-se público, segundo o ex-coordenador, depois da publicação de matéria de autoria do repórter Fausto Macedo pelo Jornal da Tarde. Porém, ele criticou a matéria por afirmar que ele teria dossiês contra os ex-governadores de São Paulo Paulo Maluf, Mário Covas e Franco Montoro.

- Não gostei da maneira como foi noticiado. Pedi inclusive direito de resposta. As informações saíram do controle. Minha briga era com a Mendes Júnior, mas todos davam atenção apenas sobre o que eu dizia sobre o Paulo Maluf - disse Damasceno que, a partir de então, foi processado por extorsão pela Mendes Júnior e convocado a depor pelo Ministério Público (MP) de São Paulo.

Somente depois de muitas iniciativas do MP, Damasceno disse aos parlamentares que resolveu falar sobre a documentação com anotações do caixa 2 da Mendes Júnior que tinha chegado ao MP anonimamente.

- Àquela época eu estava revoltado com aquela situação. Nunca havia tido um processo contra mim. Estava constrangido e revoltado. No depoimento você acaba indo a favor do promotor e dizendo coisas que não expressam a realidade das coisas. Andei falando coisas que eu não podia provar - disse Damasceno, que se disse iludido pelos promotores do MP paulista, que haviam prometido que o inquérito que envolvia seu nome seria arquivado.

Depois dos depoimentos, Damasceno disse que foi pedida a quebra do seu sigilo bancário e -choveram inquéritos- contra ele. Então, ele viu a necessidade de registrar em cartório novo depoimento, no qual ele não mantinha as acusações contra pessoas citadas em seus primeiros depoimentos. Como não tinha provas, o ex-coordenador disse que se viu obrigado a retirar o que disse e que, se for processado novamente, vai retirar as suas afirmações -quantas vezes for necessário-.

- Me coloquei à disposição do Ministério Público, mas não encontrei respaldo. Foi aí que resolvi constituir meus advogados. De testemunha passei a acusado. Agora estou pressionado com relação a tudo isso - lamentou.

O presidente da CPI, senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), disse que o MP de São Paulo -errou profundamente- no tratamento dado a Simeão, acrescentando que, se o comportamento dos promotores fosse acertado, o depoimento do ex-coordenador financeiro da Mendes Júnior à CPI poderia ter sido mais incisivo e valioso.

Durante o depoimento, Damasceno se absteve de envolver nomes para não -cair no achômetro- e revelar nomes sobre os quais não poderia oferecer provas. Porém, Damasceno disse que mantém as informações prestadas nos depoimentos dados inicialmente ao MP no que diz respeito à documentação apresentada. Assim como fez aos promotores, o ex-coordenador reconheceu planilhas e nomes de empresas e pessoas que estariam envolvidas no esquema a pedido do relator da CPI, deputado José Mentor.



20/08/2003

Agência Senado


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