Denise Abreu relata pressões no processo de venda da Varig e da Variglog
Em depoimento à Comissão de Serviços de Infra-Estrutura (CI) sobre denúncias relativas ao processo de venda da Varig e da Variglog, a ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) Denise Abreu afirmou que o órgão manteve a preparação de um plano de contingência para a saída da companhia aérea do mercado, em 2006, que previa a distribuição das linhas entre a TAM e a GOL. Porém, afirmou Denise Abreu, nesse momento, a Casa Civil já dava indicações de que pretendia encaminhar outra solução para o caso, que envolvia a transferência da empresa para uma sociedade que contava com participação estrangeira.
Por isso, a ex-diretora da Anac, conforme declarou, tomou providências para examinar a viabilidade dessa segunda solução, com a expedição de ofícios para obter informações da Receita Federal e do Banco Central a fim de avaliar a capacidade financeira dos sócios brasileiros do consórcio que iria comprar a Varig. Nesse momento, confirmou que houve uma representação no Ministério da Defesa contra as exigências que estava propondo, feita pelo advogado Roberto Teixeira, amigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que defendia o fundo norte-americano associado aos brasileiros. Também teria recebido pressões da filha do advogado, Valeska Teixeira, contra as medidas que estava propondo quanto ao exame da capacidade econômico-financeira dos compradores. Valeska teria se apresentado a Denise Abreu como "afilhada" do presidente Lula.
- Disse que isso era muito bom para a vida pessoal dela, mas que isso não iria mudar em nada a decisão que havia sido encaminhada pelo ofício - afirmou.
Crise
A ex-diretora da Anac disse também aos senadores que foi transformada em bode expiatório da crise ocorrida no setor aéreo brasileiro, embora tenha ficado no órgão apenas um ano e cinco meses, tempo reduzido para o equacionamento dos problemas enfrentados na área.
Denise Abreu contou que "gestou por nove meses" a decisão de falar. Um dos motivos, como disse, foi a necessidade de prestar satisfação a membros de sua família. Segundo ela, foi enviada à casa de sua mãe, na época do seu primeiro depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Caos Aéreo, documentação falsa sobre supostas contas que ela mantinha no exterior.
A ex-diretora disse que a decisão também se prendia a fatos relacionados aos desdobramentos do caso Variglog, empresa controlada por um fundo norte-americano,neste momento em conflito com os três sócios brasileiros. Lembrou que um dos sócios já registrou boletim de ocorrência policial em que se diz ameaçado por Valeska Teixeira, filha do advogado Roberto Teixeira, que defende o fundo Matlin Patterson. Roberto Teixeira é compadre do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mantendo com o presidente amizade desde os tempos em que ele exercia atividade sindical.
Plano de contingência
Denise Abreu disse ainda que foi orientada pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, em abril de 2006, para preparar um plano de contingência destinado a salvaguardar o interesse dos passageiros que ficariam desassistidos com a iminente falência da Varig. Por conta disso, a Anac decidiu ratear as linhas nacionais dessa companhia com a TAM e a GOL, na proporção da participação que cada uma delas tinha no mercado. Em seguida, a ex-diretora da agência disse que foi surpreendida com denúncias na imprensa de que estaria fazendo lobby para as duas companhias, tendo inclusive sendo chamada por Dilma Rousseff para prestar esclarecimentos sobre o fato.
- Eu não ficaria calada e, portanto, respondi que havíamos recebido uma ordem dela própria para elaborar o plano de contingência - assinalou.
11/06/2008
Agência Senado
Artigos Relacionados
Denise Abreu admite ter sofrido pressões de Dilma Rousseff na venda da Varig e da VarigLog
Denise Abreu diz ter votado a favor de parecer da Anac, e não à venda da Varig
Denise Abreu justifica sua decisão de falar sobre caso Variglog
Denise Abreu lança dúvidas sobre compra da Varig pela GOL
Denise Abreu confirma que Varig foi arrematada contra parecer de procurador da Fazenda
Anac não tinha interesse em beneficiar outras empresas aéreas com falência da Varig, diz Denise Abreu