Depois de dois anos e nove meses de trabalho, CPI do roubo de cargas apresenta relatório final



Foram necessários quase três anos para que a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) criada para investigar o roubo de cargas no Brasil concluísse os seus trabalhos. Durante o período, foram tomados mais de 200 depoimentos e promovidas audiências públicas em 12 cidades, além de diligências nos estados de Pernambuco, Maranhão, São Paulo e Goiás, na tentativa de ajudar a coibir o roubo de cargas que, segundo estimativas, causou prejuízos da ordem de R$ 900 milhões somente nos sete primeiros meses de 2002.

O relatório do deputado Oscar Andrade (PL-RO), aprovado por unanimidade no dia 11 de dezembro passado, sugeriu ao Ministério Público o indiciamento de 156 pessoas, entre elas o deputado federal eleito pelo Distrito Federal José Fuscaldi Cesilio, conhecido por José Tatico, por receptação qualificada de cargas roubadas. A CPI recomendou ainda ao Ministério Público a abertura de processos contra 12 empresas, denunciadas por lavagem de dinheiro e desmanche de caminhões, e vai propor, por meio de projetos de lei, penas mais duras para crimes relacionados ao roubo de cargas.

A comissão, que foi presidida pelo senador Romeu Tuma (PFL-SP), iniciou os trabalhos em março de 2000 e contou com a colaboração de assessores do Tribunal de Contas da União, do Banco Central, da Receita Federal e da Polícia Federal. Ficou constatado, por exemplo, que as organizações que atuam no roubo de cargas são melhor aparelhadas e chegam a contar com mais recursos do que a própria polícia. Por isso, conforme ficou claro durante os debates, a Polícia Rodoviária Federal deveria ter um efetivo quatro vezes maior do que possui para controlar de modo satisfatório as estradas do país e atuar com eficácia no combate ao crime.

Um dos depoimentos de destaque na CPI foi o do ex-caminhoneiro Jorge Méres. Encapuzado, por temer represálias, ele contou aos parlamentares da CPI que o empresário William Sozza era o chefe da principal quadrilha que opera no país. Segundo ele, Sozza detém o controle de várias empresas e opera em 14 estados, estendendo a sua influência, inclusive, a países vizinhos.

A CPI também ouviu, entre outros, o diretor da Coordenação Nacional para o Combate ao Roubo de Cargas, Roberto Mira. Ele informou que, desde o final dos anos 80, o número de roubos de cargas no país disparou, fazendo com que as seguradoras aumentassem as exigências para fechar seus contratos. De acordo com Roberto Mira, apenas 50% das cargas são cobertas por seguros, em virtude do aumento do roubos.

O presidente da CPI defendeu ações concretas destinadas a colocar um freio na onda de roubo de cargas e receptação de mercadorias que assola o país. A CPI, para ele, foi um bom início, e teve o objetivo de desvendar e combater quadrilhas que possuem , na prática, uma organização empresarial, -com tanta força ou mais do que qualquer indústria, chegando a praticar crimes por encomenda-, observou.



08/01/2003

Agência Senado


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