Descontinuidade da ação pública leva saúde em Marajó a 'situação desesperadora'
Em audiência para debater o surto de malária no município de Anajás, no Arquipélago do Marajó (PA), o prefeito da cidade, Edson da Silva Barros, admitiu que o problema está na falta de continuidade das ações de combate à doença. O prefeito informou que, embora na última ação estadual tenha sido investido R$ 500 mil em três meses, o trabalho dos técnicos, segundo ele, foi falho, impedindo o sucesso no controle da doença.
- De janeiro a setembro, tivemos mais de 19 mil casos, quando a população é de 25 mil habitantes. A situação é desesperadora - afirmou. O prefeito de Anajás participou nesta quarta-feira (7) de debate sobre o tema na Comissão de Assuntos Sociais (CAS).
Para Edson da Silva Barros, é necessário investir no combate da larva do mosquito transmissor, na redução da população de mosquitos e no tratamento adequado aos pacientes. O prefeito criticou, porém, a dificuldade de coordenação das ações a serem adotadas.
- Para onde se vira, a situação é de calamidade. Tem casos em que a pessoa já teve malária teve 40 vezes - assinalou.
A secretária de Saúde do município, Dilma da Silva Soares, apontou a dificuldade de contratação dos agentes comunitários de saúde, pelo excesso de exigências do Ministério da Saúde. Ela também pediu melhor capacitação dos profissionais e o envio de mosqueteiros para as 14 localidades atingidas, como medidas para reduzir as ocorrências de transmissão da doença. Dilma Soares solicitou ainda a liberação de recursos de emenda parlamentar apresentada pelo senador Tião Viana (PT-AC), para financiar ações de mobilização social no combate à endemia.
Fracasso na coordenação das esferas governamentais
Dom Luiz Azcona Hermoso, bispo prelado do Marajó, deu depoimento enfático sobre o que considera incompetência na gestão dos recursos financeiros e humanos na condução das políticas de combate à doença. O resultado, avalia, é a "forte politização da saúde" e o prejuízo à população de Anajás.
Segundo ele, fracassou o Plano de Desenvolvimento Integral e Sustentado do Marajó, implantado por ocasião de um surto violento de malária em 2006 e que contou com a participação de 18 ministérios e secretarias estaduais de saúde.
- O fracasso do plano e a inoperância do governo do estado e da União são realidades conexas - criticou.
Para o bispo, o distanciamento da realidade torna a aplicação das políticas públicas equivocada, com responsabilidades sendo distribuídas "de forma confusa" entre os níveis federal, estadual e municipal. O bispo afirmou que representantes do governo federal estiveram no local em julho e reconheceram a falta de efetividade das ações, comprometendo-se a dar solução ao problema, o que não ocorreu até o momento.
- O que ocorre é a aplicação indiscriminada de ações, de fármacos e de tratamentos. Esse é mais um exemplo de colonialismo na Amazônia, como sempre aconteceu - protestou.
Dom Luiz Azcona avalia que a situação em Anajás é uma questão humanitária, tal a gravidade da doença que, informou, atinge especialmente crianças e mulheres grávidas, com reincidência que provoca outras doenças igualmente graves, como a febre purpúrica. Afirmou ainda que a população está descrente da possibilidade de solução definitiva para o problema.
Capacitação
Já o prefeito do município de Portel, Pedro Rodrigues Barbosa, que também preside a Associação dos Municípios do Arquipélago do Marajó (Amam), enfatizou a necessidade de recursos financeiros, técnicos e humanos, com a capacitação dos agentes de saúde antes do início da época de chuvas na região, em dezembro.
- Pior que não tomar o remédio, é tomar uma dose pela metade - avaliou.
Pedro Barbosa ressaltou também que a malária prejudica o turismo na região.07/10/2009
Agência Senado
Artigos Relacionados
SENADORES QUESTIONAM MINISTRO SOBRE DESCONTINUIDADE DE PROGRAMAS DE SAÚDE
Mário Couto quer atenção para situação dos caranguejeiros da Ilha de Marajó
José Nery diz que população da Ilha de Marajó sofre com surto de malária e situação é alarmante
Jorge Yanai diz que situação da saúde pública no Brasil 'é vergonhosa'
Crivella denuncia situação caótica da saúde pública no Rio de Janeiro
Paulo Davim: ‘Situação da saúde pública do Brasil é uma verdadeira chaga’