Desempregado ameaça jogar-se das galerias no Plenário do Senado
Desempregado há dois anos e meio, quatro filhos, baiano de Salvador e morador da Cidade Ocidental, município goiano localizado no entorno do Distrito Federal. Este é o perfil de Edivaldo de Lima Araújo, que ameaçou se jogar, nesta terça-feira (16) da galeria destinada ao público no Plenário do Senado Federal. "Estou aqui porque estou desesperado", disse ele, em pé na mureta da galeria.
Dizendo estar há quatro dias sem comer, Edivaldo gritou para os senadores que no governo do então presidente José Sarney tinha emprego e não passava fome, mas agora não tinha um grão de arroz para dar aos filhos. Ele ainda disse que procurou o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), mas que o parlamentar não resolveu seu problema. Antonio Carlos disse nunca ter se encontrado com Edivaldo. O presidente José Sarney pediu que a segurança mantivesse distância de Edivaldo e o convidou para conversar pessoalmente.
Após ser dominado pela segurança do Senado, Edivaldo foi conduzido ao salão de chá pelos senadores Romeu Tuma (PFL-SP), Arthur Virgílio (PSDB-AM), Mão Santa (PMDB-PI), Jefferson Péres (PDT-AM) e Aloizio Mercadante (PT-SP), e pelas senadoras Heloísa Helena (PT-AL), Ana Júlia Carepa (PT-PA) e Fátima Cleide (PT-RO). Do salão, foi levado a Sarney, que lhe prometeu apoio na busca por um emprego.
Edivaldo explicou que já trabalhou em serviço de limpeza pública e como auxiliar de veterinária. Ele também disse que não tinha todos os documentos necessários para assumir um emprego. Sarney deu-lhe R$ 50 para que providenciasse os documentos e os outros senadores fizeram uma "vaquinha" e entregaram a quantia arrecadada a Edivaldo, que pediu para ser levado até a Rodoviária de Brasília.
O senador Arthur Virgílio disse que Edivaldo estava nervoso, tremia muito e recusou um lanche que lhe foi oferecido.
- É um desconsolo saber que não é possível ajudar outros milhões que também estão na mesma situação. Foi lamentável. Às vezes, nos isolamos numa torre de marfim e é preciso um choque de realidade para nos darmos conta de que existe vida lá fora - desabafou.
O senador Jefferson Péres também lamentou o ocorrido:
- O desemprego para nós é apenas números, mas na realidade degrada o caráter, destrói vidas, é uma tragédia humana - disse o senador.
Mas, para o senador Antonio Carlos Magalhães, Sarney abriu um "mau precedente" ao permitir que Edvaldo descesse ao Plenário e pediu que a Mesa tome todas as providências para que episódios como esse não se repitam.
- Isso vai-se tornar uma rotina, sr. presidente. Desculpo a emoção de todos, mas o precedente é péssimo! Eu, como um dos maiores amigos de José Sarney, ou o maior, penso que foi um erro o que aconteceu. Se qualquer pessoa é proibida de entrar aqui, não faz sentido um indivíduo qualquer - não sei se por desequilíbrio ou se o fato é verdadeiro - subir aí e depois vir ao Plenário com todos os acatamentos. Isso não pode acontecer - disse.
Após a conversa com Sarney, Edivaldo foi levado ao Serviço Médico dos senadores, onde constatou-se que estava consciente, orientado e sua pressão arterial estava normal (11 por 7). A segurança do Senado entrou em contato com a Polícia Civil do DF e descobriu que Edivaldo já responde a um inquérito policial. Como a Polícia Federal está em greve, a segurança não conseguiu descobrir se existe alguma passagem policial de Edivaldo em outros estados.
16/03/2004
Agência Senado
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