Presos da PI de Serra Azul aprendem técnicas de restauro de móveis



Curso ministrado em parceria com museu enfatizou a preservação da memória material

Vinte internos da penitenciária I de Serra Azul participaram de um treinamento denominado “Curso de Restauração de Móveis”, elaborado em parceria com o  Museu Leopoldo Lima, de Ribeirão Preto. Técnicas de lixamento, pintura, restauração de móveis, além de conceitos de história da arte, foram abordados em aulas teóricas e práticas com os reeducandos.

Todas as peças e ferramentas utilizadas durante o curso – como matéria-prima e material didático – foram recolhidas de caçambas de lixo na cidade e levadas pelo professor, que aproveitou para demonstrar como simples materiais e objetos facilmente encontrados nas ruas das cidades podem produzir arte, além de prover sustento próprio e dos familiares.

O curso priorizou a idéia de que a recuperação dos móveis pode ser feita sem o uso de equipamentos sofisticados e que o resultado depende muito mais do conhecimento de cada um; dessa forma transmite-se o conceito de que, quando em liberdade, o aluno poderá desempenhar a profissão utilizando os conhecimentos adquiridos na prisão. “Mais importante do que os alunos aprenderem o trabalho é entender os conceitos de restauro e de história, além de ser um ponto de consciência ecológica, pois todos os materiais utilizados foram retirados do lixo, ou seja, seriam descartados”, afirma o professor e atual curador Leopoldo Lima.

A cerimônia de formatura aconteceu em meados de agosto e os  20  alunos que obtiveram 75% de presença receberam certificados de conclusão oferecidos pelo museu. Dentre os formandos, cinco deles foram selecionados para atuar como monitores nos próximos módulos e repassar o aprendizado aos demais  internos.  “O curso de restauro na Penitenciária I de Serra Azul foi um sucesso e uma grata surpresa; os alunos superaram minhas expectativas” elogia Lima. “Posso afirmar que confiaria a qualquer um dos meus alunos que se formaram no curso, o restauro de móveis do próprio museu”, assegura. Durante a formatura, reeducandos e convidados se divertiram com as histórias de Jesiel Corrêa, contador de “causos”, que fez uma apresentação especial para os presentes. O público também pôde apreciar uma exposição de peças restauradas pelos alunos durante o curso.

O segundo módulo teve início dia 4 de setembro e participam 19 reeducandos, coordenados pelos cinco monitores selecionados na primeira turma, além da presença e acompanhamento permanente do professor Lima. “Sem dúvida é um curso que, além de resgatar a história da arte e do trabalho, propicia o conhecimento e aprendizagem de uma nova profissão que poderá ser desempenhada sem qualquer obstáculo quando o sentenciado estiver em liberdade, pois utiliza ferramentas e objetos facilmente encontrados”, observa a Diretora de Reintegração Social Carolina Zanirato Bozoni. “Cursos desta natureza oferecem potencial para que os internos reflitam sobre o processo de transformar algo rejeitado, inservível e desprezado em instrumento que possa ser útil a determinada comunidade e trabalho, ou mesmo enfeitar e embelezar ambientes” reconhece o Diretor Técnico de Departamento, Reginaldo Neves de Araújo. “Agrega-se ainda a postura metódica do professor que, além de oferecer conhecimentos relativos ao restauro, compartilha cultura e desenvolvimento intelectual”.

Histórico

O Museu Leopoldo Lima (o nome vem do seu fundador Leopoldo da Silva Lima e é um registro da tradição de dar o nome Leopoldo ao primogênito da família Lima) foi inaugurado em 19 de junho de 2006, na cidade de Ribeirão Preto e atualmente possui mais de 5 mil peças que contam a “história da arte e do trabalho”, através de ferramentas, mobiliários e outros objetos, como obras de arte, documentos e  fotografias, etc. O acervo busca estudar a história das profissões e da arte através de dioramas (quadro ou conjunto de telas pintadas que, por efeito da direção e intensidade dada nos raios de luz, permite que se obtenham efeitos ópticos muito diferentes) de ambientes de trabalho, tendo em seu arquivo mais de 20 mil fotografias e documentos antigos.

Ainda faz parte do programa permanente do museu ministrar cursos com o objetivo de  preservar e recuperar a memória material: imóveis, móveis, ferramentas etc., e indiretamente preservar a memória imaterial ao resgatar técnicas antigas e a história das profissões.

O curso de restauro é ministrado em módulos e ensina conceitos e técnicas de preservação e conservação da memória; explica como a preservação da história e da natureza beneficia a todos; utiliza materiais descartados demonstrando que no lixo existem riquezas que podem ser aproveitadas, restauradas e utilizadas de maneira ecologicamente correta; resgata antigas técnicas, como a de raspar móveis com caco de vidro, em substituição a lixas convencionais, etc.

Da Secretaria Estadual da Administração Penitenciária

(I.P.)

 



10/01/2007


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