Dirigente de ONG admite entrada irregular de dinheiro



Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga a atuação no país das organizações não-governamentais (ONGs), o vice-presidente da Associação Amazônia, Luís Antonio Nascimento de Souza, admitiu nesta quarta-feira (19) que os recursos utilizados para a compra de 172 mil hectares de terras em Roraima ingressaram irregularmente no Brasil.

De acordo com Souza, os US$ 70 mil usados pela associação para adquirir a posse das terras da comunidade local foram trazidos ao país em espécie e trocados por reais em casas de câmbio da região Norte. Entre os maiores doadores de recursos à associação, segundo o vice-presidente, estão o cidadão italiano Roberto Imperiale, encarregado de trazer os dólares, e entidades como sindicatos italianos e a ONG inglesa Guardiães da Floresta.

Souza informou que a associação pretende implantar na região uma área de proteção ambiental ou uma reserva extrativista e que solicitou a oficialização da posse ao Instituto de Terras de Roraima. Ele disse ainda ser contrário à biopirataria e anunciou que a entidade advertiu, após tomar conhecimento do fato, o único turista estrangeiro que teria levado para seu país um besouro que vivia no local.

Durante o depoimento, o senador Moreira Mendes (PFL-RO) quis saber de Souza como ele via o fato de uma associação que ocupa 172 mil hectares na Amazônia ser presidida por um estrangeiro - o escocês Cristopher Clark - que possui apenas visto de turista no Brasil. Souza disse não ver problemas na nacionalidade de Clark, uma vez que a entidade é nacional.

- Pois nos Estados Unidos esse senhor Clark estaria preso, por presidir uma associação com visto de turista. Só no Brasil para acontecer isto - queixou-se Mendes.

A relatora da comissão, senadora Marluce Pinto (PMDB-RR), disse que em recente viagem à região conversou com políticos locais e nenhum deles tinha conhecimento de nenhum trabalho em favor da comunidade exercido pela Associação Amazônia. Souza relatou, então, que a entidade paga o salário de um professor na comunidade de Samaúna e acaba de adquirir dois barcos para a população local por R$ 20 mil - desta vez com recursos que entraram no Brasil de forma oficial.

O vice-presidente da associação disse ainda que sua maior preocupação era com o atendimento das populações carentes que moram às margens dos rios da região. De acordo com Souza, existe ali uma -quase absoluta ausência do Estado-.

Em resposta, o presidente da CPI, senador Mozarildo Cavalcanti (PFL-RR) afirmou que a ausência do Estado -não justifica ações que firam a lei-. Ele observou ainda que, ao final dos trabalhos, a comissão pretende sugerir uma nova legislação que regulamente a atuação no Brasil das organizações não-governamentais.



19/06/2002

Agência Senado


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