Dirigente do Flamengo diz que clube tinha R$ 908 mil em 1998 em paraíso fiscal



O presidente do Conselho Fiscal do Flamengo, Delair Dumbrosck, ao depor na CPI do Futebol nesta quarta-feira (dia 10), disse que só tomou conhecimento de uma conta bancária do Flamengo nas Ilhas Cayman, "em função dos trabalhos da comissão". Ele não soube informar, portanto, quanto o clube tem depositado atualmente no paraíso fiscal, mas observou que recebeu informações de que no ano de 1998 o Flamengo tinha depósitos em torno de R$ 908 mil.

O presidente da CPI, senador Álvaro Dias (PDT-PR), informou que a conta nas Ilhas Cayman existe desde 1982, ou seja, há 17 anos, e que até outubro de 1999, quando ela foi encerrada pelo atual presidente do Flamengo, Edmundo Santos Silva, chegou a movimentar cerca US$ 10,3 milhões.

- A CPI não pode afirmar que esse dinheiro era desviado e não atendia aos interesses do Flamengo. Mas com toda a certeza demonstra que não atende aos interesses do país, pois trata-se de evasão de divisas e sonegação fiscal - explicou Álvaro Dias ao deixar claro que o país vem perdendo muito em arrecadação graças a certas administrações existentes no submundo do futebol.

Para o presidente da CPI, depósitos em paraísos fiscais, como os comprovados envolvendo o Clube de Regatas do Flamengo, demonstram que o futebol brasileiro, como atividade econômica, "está na absoluta marginalidade". Compete à CPI, observou o senador, retirar o futebol dessa marginalidade, além de propor uma nova legislação destinada a dar maior transparência ao futebol e ao desporto nacional como um todo.

O relator da CPI, senador Geraldo Althoff (PFL-SC), afirmou que a existência de contas bancárias em paraísos fiscais não estão restritas apenas ao Flamengo, sendo uma prática normal em outros clubes. Por isso defendeu a criação de mecanismos legais para inibir a evasão de divisas e a sonegação fiscal.

QUEIXAS

O presidente do Conselho Fiscal do Flamengo, Delair Dumbrosck, iniciou o seu depoimento denunciando que as contas do clube referentes a 2000, apesar de terem sido aprovadas pela diretoria-executiva, tiveram parecer contrário do órgão que preside. Ele reclamou que a presidência do Flamengo dificulta os trabalhos do Conselho Fiscal, não fornecendo informações necessárias para que o colegiado exerça as suas funções. Exemplo: neste ano, informou, a diretoria-executiva deixou de enviar documentos ao Conselho Fiscal durante oito meses.

Delair Dumbrosck, que é oposição ao atual presidente do Flamengo, Edmundo Santos Silva, estranhou também o contrato de prestação de serviços firmado entre o clube e a Brazilian Soccer. Ele informou que o clube paga mensalmente à empresa R$ 12 mil pela prestação de serviços, mas que pouca gente sabe detalhar quais os tipos de serviços que a Brazilian Soccer presta ao Flamengo.

Delair também criticou a decisão do presidente do Flamengo de ter pago 70% de obras em andamento na Gávea, apesar de apenas 30% delas estarem concluídas. Ele informou que chegou a convocar o vice-presidente, que responde pelo patrimônio do clube, para dar maiores explicações, "mas até agora o Conselho Fiscal não foi atendido".

O presidente do Conselho Fiscal do Flamengo disse também que sempre lutou pela abertura de uma ampla auditoria no clube, incluindo a área trabalhista, mas que nunca obteve sucesso. Ele acrescentou que Edmundo Santos Silva aprova apenas auditorias nos balanços, consideradas por Delair como meramente paliativas.

"O Conselho Fiscal opera dentro das normas estatutárias mas, infelizmente, vem sendo impedido de trabalhar devido a questões políticas", avaliou Delair Dumbrosck, ao lembrar que a contratação do atacante Sérvio Petkovic foi nebulosa e que os documentos apresentados ao Conselho Fiscal "não merecem crédito porque não contêm nem a data da transação".

10/10/2001

Agência Senado


Artigos Relacionados


Jader tinha conta em paraíso fiscal

Ex-dirigente do Flamengo diz que dinheiro para compra de jogadores não passava pelo caixa do clube

Antonio Dunshee de Abranches nega que Flamengo tenha conta em paraíso fiscal

CPI do Futebol ouve dirigente do Flamengo

Flamengo diz que acusado de pedofilia não é dirigente

Ex-presidente do Flamengo fala sobre contas do clube à CPI do Futebol