Discurso de posse do senador Ramez Tebet
Devo dizer aos senhores e às senhoras que Deus me deu muito mais do que pedi na vida. Uma vez, pedi ao povo de minha cidade, Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul, que queria ser o prefeito. E Deus permitiu, com o beneplácito daquele povo bom e generoso, que eu pudesse administrar o município que me serviu de berço. Depois, pedi ao povo que me fizesse deputado estadual e obtive a maior votação do estado. Quis passar pela Câmara Federal, porque sonhei em ser constituinte, mas os meus companheiros me indicaram para ser vice-governador, e então eu fui às praças públicas nessa qualidade. Fui governador por dez meses e, depois disso, pedi ao povo que me fizesse senador, e mais uma vez esse povo, com a ajuda de Deus, me atendeu.
Recentemente, fui ministro da Integração Nacional, por pouco tempo, é verdade, mas tempo suficiente para robustecer a reflexão sobre a imensidão do nosso país, sobre as suas diferenças e desigualdades, sobre sua multiplicidade e diversidade e sobre o imenso desafio que nós, políticos, temos: o de diminuir as distâncias entre os brasileiros. Distâncias que não se medem apenas em quilômetros, mas que só se podem mensurar olhando fundo as feridas que se abriram em séculos de injustiças sociais e econômicas, e que nós, a muito custo, estamos enfrentando.
Recebo agora a missão de ser presidente do Senado, que eu considero uma benção, porque me coloca certamente diante do maior desafio da minha vida.
Posso afirmar com certeza: os homens passam, seu trabalho permanece. Permanecem, senhoras e senhores, todas as marcas que nós deixamos, através do nosso trabalho, sobre a terra. Quando nós trabalhamos em conjunto, nos ligando ou nos unindo a outras pessoas, nós criamos instituições. Quando mais forte for a ligação entre as pessoas, mais fortes serão as instituições. Os homens passam, as instituições ficam.
Depois de cumprir diversas missões, como a de relatar a CPI do Sivam, de presidir a CPI do Judiciário, de ser o relator do Orçamento da União, de presidir o Conselho de Ética, recebo a honra e a benção de poder dirigir esta Casa, certamente a maior instituição do povo brasileiro. Porque é aqui, nesta Casa, que se defende a liberdade, a democracia, o direito e o cumprimento das leis. Como dizia Joaquim Maria Machado de Assis, o cumprimento às leis é a primeira expressão da liberdade.
Sras. e Srs. Senadores, é com profunda satisfação, muita emoção mesmo, que assumo hoje a Presidência do Senado Federal. A história, os grandes debates que se travaram aqui e a contribuição desta Casa à formulação do processo político brasileiro fazem do Senado uma instituição singular. A satisfação de presidir o Senado vem em parte pela importância da instituição. Mas também é motivo de imensa honra merecer o voto da maioria das Sras. e dos Srs. senadores para presidir esta Casa no momento em que ela passa por um questionamento de seus valores.
É inegável que muitos outros colegas reúnem qualificações extraordinárias e poderiam estar aqui ocupando esta Presidência. Também por isso ocupar esta posição é uma imensa honra. Ser lembrado num momento difícil como este pelo qual passa o Senado aumenta minha responsabilidade e ao mesmo tempo multiplica minha disposição para trabalhar de forma incansável e dar a minha contribuição para que o Senado volte a merecer a aprovação da sociedade brasileira.
Estamos vivendo um dos momentos mais ricos da história da política brasileira. É sempre difícil avaliar os fatos sem o distanciamento do povo, mas o que se assistiu na política brasileira, no curto período de 15 anos, representa um impressionante processo de amadurecimento político. Algumas vezes seria incorreto deixar de reconhecer que a sociedade andou à frente de seus representantes, evoluiu mais rápido do que nós, os homens públicos.
A sociedade não tolera mais certos comportamentos que, no passado, eram deixados de lado. Essa mudança de comportamento vai além da política e pode ser percebida em diversos segmentos sociais. Nas empresas, por exemplo, passou-se a exigir uma maior participação na solução de problemas sociais, antes debitados apenas ao Estado. As empresas adquiriram, portanto, uma responsabilidade social antes desconhecida. O crescimento do voluntariado é sensível e emocionante. As pessoas têm assumido compromissos sociais, têm demonstrado o desejo de participar, de forma atuante, da solução de problemas sociais, têm demonstrado o desejo de ajudar ao próximo.
Individual ou coletivamente, os brasileiros mostram amadurecimento e tomam consciência da importância de estar participando ativamente de cada movimento da vida nacional.
O mundo político acompanha essa evolução e essa exigência de uma nova conduta ética. No processo de depuração política, cujo marco foi a cassação de um presidente da República, seguiram-se diversas ações nos Municípios brasileiros, e outro marco desse processo foi a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal.
O Congresso Nacional e os Legislativos estaduais e municipais se mostram sintonizados com esse novo momento político. Atendendo à vontade da sociedade, tornaram-se mais rígidos e menos tolerantes com práticas políticas indesejáveis.
Sras. e Srs. senadores, Srs. deputados e demais autoridades, se podemos nos orgulhar da imparcialidade com que temos tratado os nossos pares, não podemos dizer o mesmo quanto à forma como temos nos comportado nos debates políticos. E mais do que por qualquer outro motivo, foi essa intolerância política que está resultando em algum desgaste nesta Casa. O Senado é e haverá de ser a Casa dos grandes debates políticos, dos grandes oradores, da discussão das grandes idéias com respeito ao contraditório e sempre pensando em minimizar as desigualdades sociais no imenso e rico território brasileiro. É isso, Sras. e Srs. senadores, que me parece essencial retomarmos no Senado. A capacidade de discutir os grandes temas nacionais, livres das diferenças políticas e preocupados, primordialmente, com os interesses nacionais e os de nossos estados.
Há questões fundamentais no país. A reforma política, por exemplo, essencial para que estejamos em sintonia com as exigências da sociedade, anda lentamente. A reforma tributária é essencial para desafogar as empresas dessa penosa burocracia, sem falar na sufocante carga dos tributos. E essa reforma tributária não tem saído do papel.
É mais do que hora de trocarmos a intolerância pela harmonia. É mais do que hora de trocarmos as inócuas disputas pessoais pelo entendimento, pela solidariedade e pela fraternidade. Isso não é essencial apenas para o Senado da República; é essencial para o Brasil.
Em que pese o amadurecimento político da sociedade brasileira, o Brasil vive praticamente uma guerra social. O número de homicídios nas grandes cidades e dos casos de seqüestro, o crescimento do tráfico de drogas, as explosões de violência nos presídios são prova inconteste do quadro que permeia o nosso país.
O modelo econômico adotado, que tem o mérito da estabilidade da moeda e da maior eficiência na prestação de serviços à população, ainda não se mostrou eficaz no combate às desigualdades sociais que todos desejamos. Por isso, na minha rápida passagem pelo Ministério da Integração Nacional, adotamos o conceito "Igualdade para o desenvolvimento". Tenho a convicção de que o Brasil só será um país desenvolvido, quando os brasileiros de toda s as regiões tiverem iguais oportunidades de crescimento social e econômico. Esse é o nosso desafio e é o desafio das próximas gerações.
O Senado da República não tem o direito de manter disputas de ego, enquanto o país vive numa situação dessas, enquanto a igualdade de oportunidades ainda é apenas um objetivo e uma meta a ser alcançada.
É isso, mais do que qualquer outra coisa, que se pede, pelo entendimento entre os partidos, entre os homens públicos e entre
20/09/2001
Agência Senado
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