Dívida, inflação, fome e desemprego desafiam novo governo



O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, começa a administrar a partir de 1º de janeiro um cenário econômico de grandes dificuldades para o país. Com perspectivas de baixo crescimento da economia, tanto internamente quanto no plano internacional, a equipe do novo presidente terá de enfrentar em 2003 a tendência de aumento da inflação e do desemprego, retração no fluxo de investimentos estrangeiros e dívidas interna e externa crescentes.

As estimativas de evolução do Produto Interno Bruto (PIB), o principal indicador de geração de riqueza do país, foram refeitas este ano, depois da expansão acelerada da taxa de câmbio no segundo semestre. A nova previsão do PIB, de 1,5% para 2002, está longe dos 4,5% projetados na Lei de Diretrizes Orçamentárias(LDO), elaborada no primeiro semestre.O mesmo ocorreu com a projeção para o próximo exercício. O crescimento de 4% foi substituído por um PIB de 3% para 2003. E o mercado trabalha com uma hipótese ainda menor, de apenas 2%, segundo o boletim Focus do Banco Central (BC).

Os índices de preços também foram abalados pelo comportamento desfavorável do câmbio e pelas ameaças de guerra contra o Iraque. A elevação do Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI), de 26,78% para 27,40% em 2002, conforme as expectativas do mercado levantadas pelo BC, trouxe a impressão incômoda de que a inflação voltou a assombrar os brasileiros.

Porém, a aposta é de que ela possa ser refreada em 2003 para a casa dos 14,35%, de acordo com as 120 instituições financeiras consultadas pelo BC. Ou possa recuar para 6%, na hipótese mais otimista, incluída na proposta orçamentária para 2003. No caso do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a diretoria do BC divulgou, nesta segunda-feira ( 30), uma nova estimativa de 9,5% para o próximo exercício, enquanto o mercado insiste na previsão de 11%.

Vista de outro lado, foi exatamente a alta da inflação que acabou ajudando no recálculo das receitas orçamentárias de 2003. Com o auxílio dessa reestimativa, o relator-geral do Orçamento, senador Sérgio Machado (PMDB-CE), conseguiu redesenhar o que considerou a proposta orçamentária mais enxuta dos últimos oito anos. Acomodou tanto os pleitos do Legislativo quanto as prioridades do novo governo, como o reajuste do salário mínimo para pelo menos R$ 240,00 e o Programa Fome Zero, que recebeu R$ 2,165 bilhões.

O controle da inflação permanece na pauta diária da nova equipe. E um dos seus maiores desafios será administrar o impacto dos juros sobre os preços, estimular os investimentos privados e, ao mesmo tempo, atender a necessidade de refinanciamento da dívida interna do país, que deve crescer 19,76% no próximo ano, chegando a um saldo de R$ 884,1 bilhões em dezembro de 2003. A dívida pública externa exercerá pressão menor, com uma expansão prevista de 3,76%.

Com um torniquete sobre os gastos públicos, para cumprir o acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) de um superávit primário (receitas menos despesas, excluído o pagamento de juros da dívida pública) de 3,75% do PIB, o governo Lula deverá trilhar um caminho estreito para realizar as promessas de campanha sem correr o risco de descumprir os compromissos internacionais.

Pelos dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), há mais de 53 milhões de brasileiros vivendo com menos de meio salário mínimo, que precisam ser amparados pelos programas de combate à fome. A taxa de desemprego precisa cair, depois de ter apresentado tendência de alta durante 2002 ( subiu de 6,4%, verificada em novembro de 2001, para 7,1% no mesmo mês deste ano, segundo dados da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE). Nesse cenário de dificuldades, os dados positivos vêm principalmente do campo, que continua a ajudar a baixar a inflação e formar o superávit comercial, que deve fechar 2002 com US$13,1 bilhões. A expectativa é de que o saldo comercial supere a casa dos US$ 17 bilhões em 2003.



30/12/2002

Agência Senado


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