Docentes divergem sobre cotas em universidades
Dois professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) apresentaram posições opostas sobre a adoção de sistema de cotas raciais no processo de seleção de candidatos a cursos de graduação em instituições federais. Renato Ferreira, pesquisador do Laboratório de Políticas Públicas da Uerj, apresentou pesquisa demonstrando que alunos cotistas têm sido bem avaliados. Já José Roberto Góes, historiador e professor da mesma universidade, criticou o que ele chama de "racialização" da educação brasileira.
Os docentes participaram, nesta quarta-feira (1º), de audiência pública na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), presidida pelo senador Demóstenes Torres (DEM-GO). O debate visou auxiliar os senadores na votação do projeto (PLC 180/08) que trata do tema, em tramitação na CCJ.
Na defesa das cotas, Ferreira apresentou pesquisa feita entre professores de universidades que adotam o sistema de cotas raciais. Conforme o pesquisador, 75% dos entrevistados disseram que os alunos cotistas apresentam bom rendimento. No mesmo estudo, 77% dos docentes consultados afirmaram que a adoção das cotas não gerou o acirramento das relações raciais nas universidades.
- As cotas não acirram o conflito racial, não geram clivagem. Nas universidades pesquisadas, o que se vê é uma celebração da diversidade - afirmou Ferreira.
Contrário às cotas, Góes classificou como equivocada a argumentação em favor da política como forma de reparação histórica. Para ele, a colonização no Brasil, diferentemente dos Estados Unidos, foi marcada por um intenso processo de miscigenação racial e por um significativo padrão de mobilidade social, "que ignorava cor ou origem dos indivíduos".
De acordo com o historiador, os materiais didáticos adotados hoje nas escolas brasileiras refletem a existência de um processo de "racialização" que estaria em curso na educação do país.
- Temos uma pedagogia 'racialista', que pode mudar as relações entre os jovens brasileiros - disse, ao defender a tese de que todos os brasileiros são afro-descendentes, "de um modo ou de outro".
01/04/2009
Agência Senado
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