Debate na Rádio Senado expõe polêmica sobre cotas em universidades
A adoção da reserva de vagas em universidades públicas para estudantes afro-descendentes foi o tema de debate promovido pela Rádio Senado nesta segunda-feira (28). As intervenções dos debatedores, os senadores Paulo Paim (PT-RS) e Jefferson Péres (PDT-AM), mostraram o quanto o tema é polêmico, mas convergiram para a necessidade de que o país tenha mecanismos de compensação das desigualdades raciais.
Autor do chamado Estatuto da Igualdade Racial, já aprovado na Comissão de Assuntos Econômicos (ver box), Paulo Paim rebateu as acusações de que os chamados alunos cotistas, que tiverem o acesso à universidade facilitado pelo sistema de reserva de vagas, sofrerão discriminação por isso.
- Nós todos achamos que temos que investir no ensino público, mas acontece que o Estado não faz isso e o negro acaba sendo prejudicado e não tendo acesso ao ensino superior. É melhor ser discriminado lá dentro do que aqui fora - disse o senador, apresentando dados da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, primeira instituição a adotar o sistema, segundo os quais os alunos cotistas apresentam rendimento compatível com o dos melhores alunos dos cursos.
Jefferson Péres insistiu na necessidade de que as políticas públicas de acesso à universidade sejam baseadas em fatores socioeconômicos, prioritariamente. Ele ainda chamou a atenção para as dificuldades de se definir a ascendência dos brasileiros.
- Estou preocupado com as enormes injustiças que podem ser geradas. Um filho de classe média alta afro-descendente entraria na universidade, enquanto um branco favelado poderia ser prejudicado, mesmo obtendo nota maior, o que seria uma tremenda injustiça. Devemos investir fortemente na pré-escola pública, e os afro-descendentes seriam os principais beneficiados. Seriam favorecidos sem serem humilhados - disse o líder do PDT.
Jefferson disse, no entanto, ser importante a discussão do assunto, e a instituição de mecanismos de reparação da dívida histórica que o Brasil tem para com a população negra.
- Seja com cotas ou sem cotas, temos que acelerar a reparação - disse.
Paim afirmou que a adoção das cotas para afro-descendentes não impede que sejam implantados mecanismos que facilitem o acesso ao ensino superior a outros segmentos da sociedade.
- Devem haver políticas de compensação para índios e pobres também - frisou.
28/06/2004
Agência Senado
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