Documentário sobre Josué de Castro abre as homenagens ao médico e político que traçou a geografia da fome no país



No dia 5 de setembro de 2008 Josué de Castro completaria 100 anos. Esse brasileiro, homem público notável como demonstra sua biografia, merece nesta semana a homenagem de seus pares. Entre outras profissões, Josué de Castro foi deputado federal por dois mandatos consecutivos pelo PTB, cassado durante o período militar. Mas foi também um médico e geógrafo que bebeu na fonte de Sigmund Freud e compreendeu o fenômeno brasileiro da fome como poucos, notabilizando-se pela obra Geografia da Fome, datada de 1938. Nela, Josué de Castro já observava que a fome estava diretamente associada a causas socioeconômicas, mas que precisava ser tratada como questão política.

Abrindo a semana em sua homenagem, o Senado Federal exibiu, nesta quarta-feira (6), às 19h30, o documentário Josué de Castro - Por um mundo sem dome, da diretora Tânia Quaresma, no auditório Antonio Carlos Magalhães, no prédio do Interlegis.

Autor de 29 livros, em sua maioria as obras tratam da fome, sempre associando o fenômeno ao meio no qual estão inseridas as pessoas. Josué de castro sabia que a fome da Zona da Mata era diferente da Fome do Sertão.Ele aborda questões sociais como o salário mínimo e fatores socioculturais da fome, como a raça.

Josué de Castro transitou por inúmeras profissões: médico, geógrafo, professor, escritor, sociólogo e político. Presidiu a FAO, organismo da Organização das Nações Unidas (ONU) para Agricultura e Alimentação e seus conceitos sobre desenvolvimento sustentável e as causas da miséria fizeram com que fosse indicado duas vezes ao Prêmio Nobel, da Medicina, em 1954, e da Paz, em 1963.

O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) que, juntamente com o colega Cristovam Buarque (PDT-DF), propôs a homenagem a Josué de Castro salientou que "há 50 anos, ele [Josué] pensou e falou sobre tudo isso", referindo-se à fome, miséria, desnutrição e meio ambiente, temas que assumiram importância no século 21. O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) enfatizou que Josué "pensou sobre algo de extrema relevância e agregando seus conhecimentos como médico e geógrafo, realizou a grande obra da maior importância que foi a geopolítica e a geografia da fome". No documentário, Cristóvam diz que "Josué sabia que não adiantava aumentar a riqueza, sem reduzir a pobreza; fabricar mais ferro e mais máquina e não ter mais pão e mais comida".

Logo após a exibição do documentário, houve debate com a diretora da película, Tânia Quaresma, e a socióloga, filha e "herdeira cultural" do médico, Anna Maria de Castro. Anna Maria disse que o pai tinha propostas concretas para acabar com a fome - conceito que conheceu primeiro em caráter local, depois regional, nacional e finalmente mundial - como reforma agrária, melhoria de sementes e aumento da produtividade. Suas idéias, no entanto, foram vistas como "comunistas", por ver o Brasil como um país elitista. Porém, segundo ela, Josué acreditava na capacidade de superar a fome aliando a Ciência, a técnica e a participação das pessoas.

- Esse véu que encobria o fenômeno da fome ainda não foi levantado - disse Ana Maria.

A socióloga afirmou, no entanto, que os programas de segurança alimentar do Ministério do Desenvolvimento Social têm em sua gênese muitas das idéias de Josué de Castro.

Tânia Quaresma, cujo trabalho cinematográfico é desenvolvido com comunidades carentes, afirmou que a comunidade da Ilha de Deus, onde o filme foi realizado, está hoje mais consciente do que há quatro anos sobre sua condição de pobreza e de necessidade de articulação para encontrar uma saída para a fome.

- O problema aumentou, mas a consciência sobre a realidade e a capacidade de se reorganizar está maior - disse Tânia.

A cineasta informou que o manguezal na periferia de Recife foi invadido pelo lixo e não é mais possível à comunidade local viver de catar caranguejo, tendo encontrado como alternativa o artesanato local.

O lançamento oficial do filme será no dia 5 de setembro, em Recife, cidade em que nasceu o homenageado. O evento, que está sendo organizado pelo Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), terá a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da filha de Josué, Anna Maria.

Fome e pobreza

O documentário, que faz parte do Projeto Memória, da Fundação Banco do Brasil, utiliza uma linguagem dirigida aos jovens, com diversos depoimentos sobre Josué de Castro. Aborda ainda a fome, mostrando o dia-a-dia de comunidades pobres, numa co-produção com seus moradores.

Ambientado em Recife, tem como cenário principal a comunidade carente a Ilha de Deus, onde vivem cerca de 1,5 mil pessoas. Crianças e adultos contam a história de Josué de Castro, resultado de oficinas com a equipe de produção, num processo que durou um mês na região.Também prestam depoimentos sobre Josué o presidente Lula, o cantor e compositor Chico Science, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), o teólogo e escritor Frei Betto e a filha de Josué de Castro.



06/08/2008

Agência Senado


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