DOM MAURO MORELLI DEFENDE AVALIAÇÃO DAS MEDIDAS ECONÔMICAS DO GOVERNO
Ao presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães, que fez questão de acompanhar a exposição, D. Mauro agradeceu "pela bravura com que colocou uma conquista que era nossa na agenda política", referindo-se ao Movimento de Ação da Cidadania Contra a Fome e a Miséria e Pela Vida, e atribuindo a Betinho (o sociólogo Herbert de Souza) o mérito de ter galvanizado a opinião pública com a questão da pobreza e da solidariedade. "Sou grato ao presidente do Senado por esse serviço prestado ao país", reiterou.
Em sua exposição, o bispo partiu da constatação de que apenas 30% da população pode ser considerada cidadã e atribuiu a existência da maioria não-cidadã "ao Estado brasileiro, que foi e continua sendo um projeto de natureza econômica que pertenceu e pertence a poucos". O aviltamento da cidadania chegou a tal nível que os sentimentos dominantes seriam "a grande aflição, que chega ao desespero", decorrente do "desastre na condução da política econômica"; "o crescente ceticismo", que já está conduzindo ao "cinismo, ou a capacidade de rir da desgraça do indigente"; e o sentimento de "urgência urgentíssima" gerado pela fome e a desnutrição infantil.
Integrante do Conselho de Segurança Alimentar do governo de Minas Gerais, o bispo entregou ao presidente da Comissão da Pobreza, senador Maguito Vilela (PMDB-GO), os resultados de pesquisa realizada junto a mais de 500 dos 853 municípios mineiros. "Em pouco mais de meio milhão de crianças, 100 mil estão abaixo do peso e com desnutrição", informou, salientando que a pesquisa não abarcou a área rural. Dom Mauro também informou que, há 30 dias, o governador Itamar Franco e vários prefeitos decretaram calamidade pública diante da seca, mas até agora o governo federal não reconheceu a medida.
Dom Mauro registrou seu desapontamento com o governo Fernando Henrique Cardoso pela extinção do Conselho Nacional de Segurança Alimentar, salientando que, na última Conferência Mundial de Segurança Alimentar, a representação brasileira teve uma atuação "medíocre e cínica", firmando compromisso de eliminar a fome nacional até o ano 2015. "Nosso presidente não entendeu que o Brasil é fundamental para resolver o problema da fome no mundo", disse. O bispo se disse disposto a fazer "qualquer parceria" no combate à fome e à pobreza, mas registrou sua descrença em soluções que contem apenas com o governo, sem participação da sociedade.
30/09/1999
Agência Senado
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