Duda Mendonça diz que PFL não se recupera mais
Duda Mendonça diz que PFL não se recupera mais
SÃO PAULO. O publicitário Duda Mendonça, responsável pela campanha do PT à Presidência, disse ontem que as imagens do R$ 1,34 milhão apreendido pela Polícia Federal no escritório da empresa Lunus, em São Luís, sepultaram a candidatura da governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL).
— Roseana era o novo. Aí veio a imagem daquele montão de dinheiro. Aí, o partido saiu em seu socorro e carimbou em sua testa: PFL. Tiraram de uma só vez tudo o que ela tinha de novo, toda a poesia — disse o publicitário.
Duda elogiou o trabalho do publicitário Nizan Guanaes, responsável pela campanha de Roseana, mas salientou que uma boa estratégia de marketing, para alcançar seu objetivo, também depende de um bom produto. Para Duda, Roseana não é um bom produto e as imagens das pilhas de dinheiro encontradas em sua empresa jogam por terra o trabalho eficiente de Nizan:
— Não é por nada (que Roseana caiu). É por causa daquele montão de dinheiro em cima da mesa. O povo diz que onde há fumaça, há fogo. Aquilo é o próprio fogo.
Duda disse acreditar que a derrocada da candidatura de Roseana é irreversível. E acrescentou que o PT não deverá usar ataques aos adversários como tática de campanha.
Publicitário diz que Lula voltará ao patamar de 30%
Quanto ao desempenho do pré-candidato petista, Luiz Inácio Lula da Silva, nas pesquisas (que nos últimos meses caiu de 35% para a faixa dos 25%), o publicitário afirmou que ele voltará a crescer quando forem veiculados os comerciais do PT no horário eleitoral gratuito.
— Às favas a modéstia, mas de abril a junho terei 40 minutos de programa e uma hora e 20 de comerciais. Aí o Lula voltará ao patamar dos 30%. Isso se ele não subir mais ainda — disse Duda Mendonça.
Nunca cometi nenhum ato ilícito’, diz Roseana
SÃO LUÍS. A governadora do Maranhão, Roseana Sarney, pré-candidata do PFL à Presidência, acusou ontem setores do governo federal de estarem envolvidos em “manobras sórdidas” contra ela. Em propaganda paga em todas as emissoras de televisão do estado, Roseana disse que não cometeu nenhum crime e que as acusações contra ela são movidas por interesses eleitorais.
— O que não vou permitir é a calúnia e a difamação contra mim e contra o Maranhão. Por isso comandei o meu partido no afastamento do governo federal, como forma de expressar a nossa repulsa pelo envolvimento de setores desse governo em manobras tão sórdidas — disse a governadora.
Roseana não menciona dinheiro achado na empresa
Sem mencionar o dinheiro encontrado em sua empresa e a versão dada anteontem por seu marido, Jorge Murad, Roseana agradeceu o apoio que tem recebido da população, mas pediu que todos fiquem em alerta em relação a novas investidas contra ela.
— Nunca cometi nenhum ato ilícito, nunca desonrei a confiança que recebi de cada um de vocês. Minha vida tem sido trabalhar pelo meu estado — disse.
Roseana acrescentou:
— Vamos ficar atentos, pois vão continuar tentando de tudo para impedir nossa trajetória. Mas terei forças para enfrentar os mesquinhos e os mentirosos.
Governadora diz que é discriminada por ser mulher
A governadora ainda vinculou as críticas à sua administração “à discriminação por ser mulher e do Nordeste”. Ela disse ainda que existe uma “estratégia maquiavélica” para atrapalhar sua campanha presidencial:
— Por trás dessa violência estão os interesses eleitorais daqueles que não conseguem, pelo voto, disputar de forma limpa e transparente o apoio do povo. E mais: na motivação dessas ações vergonhosas que têm merecido a condenação das pessoas de bem, se confundem, além do interesse eleitoreiro, o preconceito contra o Nordeste e a discriminação contra as mulheres — disse.
Roseana reafirmou que quer a apuração das denúncias. Para ela, até agora trata-se de “denúncias vazias”.
PFL decide manter Roseana e atacar Serra
BRASÍLIA. Para manter a candidatura à Presidência da governadora do Maranhão, Roseana Sarney, por mais algumas semanas, o PFL aposta na versão de que houve uma manobra política com o intuito de desestabilizá-la. Ainda sem uma opção para substituir Roseana, o partido quer ganhar tempo, jogando contra a candidatura do tucano José Serra e tentando criar um clima mais favorável à governadora para evitar que ela saia humilhada do processo. Em entrevista ontem, com a presença da cúpula partidária, o presidente do PFL, Jorge Bornhausen, garantiu que Roseana continua candidata, divulgou sua agenda de viagens e disse que já considera explicado o caso do dinheiro (R$ 1,34 milhão) apreendido na empresa Lunus, da governadora e de seu marido, Jorge Murad.
— A candidatura de Roseana está mantida. Ela foi ratificada pelo PFL em 7 de março, quando ainda tínhamos dúvida sobre o dinheiro. Hoje que está explicado, o partido reafirma essa candidatura — disse Bornhausen, acrescentando que as dúvidas agora estão do outro lado, nas suspeitas de que houve “espionagem e arapongagem” para prejudicar Roseana.
— Estamos convictos de que houve uma manobra política para desestabilizar a candidatura do PFL e essa manobra deixou rastros — disse.
Pesquisas podem decidir o rumo
Rastros que o PFL quer encontrar para tentar contaminar a candidatura tucana com a mesma desconfiança que hoje fragiliza Roseana. Ainda que considerem nos bastidores que a candidatura presidencial da governadora perdeu viabilidade eleitoral, os estrategistas do PFL sustentam que o partido deve mantê-la como opção enquanto ela tiver mais de 10% das intenções de votos nas pesquisas.
— A única certeza que podemos dar é que não vamos nos suicidar. Temos unidade e temos prazo e usaremos isso para encontrar uma solução viável para o partido. Solução que pode ser a candidatura Roseana ou outra — disse o vice-presidente do PFL, senador José Jorge (PE).
— Temos que deixar a poeira baixar e daqui a uma ou duas semanas ver o rescaldo. Nesse momento o mais sensato é isso que está aí, manter a candidatura — disse o vice-líder na Câmara, Pauderney Avelino (AM).
A estratégia está combinada com a governadora, que, numa frase curta, já deu ao partido o sinal de que nada fará para prejudicar a legenda:
— Tive toda a solidariedade do meu partido e só farei o que for bom para o PFL.
Para mostrar que o partido sustenta a candidatura, Bornhausen confirmou a agenda política de Roseana anteriormente prevista: ela participará dia 25 em Salvador de ato de lançamento do Prêmio Luís Eduardo Magalhães e, dia 26, da inauguração da empresa Alcoa no Maranhão.
Bornhausen aproveitou para mandar recados aos pefelistas que já buscam saídas políticas para a legenda. Primeiro, cobrou do ex-ministro Roberto Brant uma explicação sobre sua entrevista do dia anterior, quando disse que não estava satisfeito com a explicação de que o dinheiro encontrado na Lunus havia sido arrecadado para a campanha eleitoral. Diante da pressão do partido, Brant afirmou ontem que falara antes de conhecer o teor da nota de Murad.
Obra no TRF custou R$ 26 milhões a mais
BRASÍLIA. O prédio anexo do Tribunal Regional Federal da 2 Região (TRF-2), no Rio, custou R$ 26 milhões a mais do que deveria. O superfaturamento foi constatado por uma auditoria feita no ano passado pelo Tribunal de Contas da União (TCU), como informou ontem o “Jornal Nacional”, da Rede Globo.
Dos 20 contratos feitos pelo tribunal com diversas empresas, pelo menos seis têm indícios de superfaturamento. A obra custou cerca de R$ 63 milhões. Segundo o TCU, deveria ter ficado em torno de R$ 36,8 milhões.
— Há, pelo menos, indícios sérios de negligênc ia. O Ministério Público Federal terá que investigar a ocorrência de improbidade — disse Lucas Furtado, procurador da República junto ao TCU e responsável pelo relatório.
Indício foi a falta de medições de áreas
A obra no TRF da 2 Região estava no cadastro de obras irregulares do TCU. Os técnicos do tribunal haviam detectado, por exemplo, que não havia medições das áreas a serem construídas para que fosse feito o pagamento da obra. Ao verificar os indícios de irregularidades, o tribunal pediu à Caixa Econômica Federal ajuda para fazer a avaliação do custo da obra a preços de mercado. Chegou à diferença de R$ 26 milhões.
Dez pessoas foram apontadas no relatório de Furtado como responsáveis pelas irregularidades. Entre elas, dois ex-presidentes do TRF-2 — Tânia Heine e Alberto Nogueira — o ex-diretor-geral e o atual diretor-geral do tribunal e outros funcionários que faziam parte do conselho de acompanhamento da obra.
Nogueira disse, em entrevista ao “Jornal Nacional”, que a comissão da CEF fez uma projeção do que seria uma obra ideal e calculou os custos em cima disso e que por isso houve diferença.
— Se houve superfaturamento ou não, é uma questão conceitual — afirmou.
Elevadores comprados não foram entregues
Uma das irregularidades mais gritantes no processo foi a compra de 12 elevadores. O TRF da 2 Região pagou 95% do valor do contrato — que era de pouco mais de R$ 1 milhão — antes da entrega dos elevadores. A empresa fornecedora faliu, os elevadores não foram entregues e nada foi feito.
— O pagamento antecipado não pode ser feito justamente para evitar esse tipo de situação — explicou o procurador da República.
Furtado terminou o relatório em dezembro. O processo aguarda agora a defesa dos acusados, que poderá ou não ser aceita pelo Tribunal de Contas da União, mas será anexada ao processo. O relatório será, então, enviado ao Ministério Público Federal, que poderá apresentar denúncia contra os responsáveis.
Advogado afirma que Murad sabia da versão dos chalés para o R$ 1,3 milhão
SÃO LUÍS. A versão de Jorge Murad de que o R$ 1,34 milhão apreendido pela Polícia Federal no escritório da empresa Lunus era dinheiro para a campanha de sua mulher, Roseana Sarney, à Presidência, já começou a desmoronar.
— Fiquei surpreso como qualquer outra pessoa — disse o advogado Vinicius Berredo, que defende Roseana e Murad e no dia 4 tinha dito que o dinheiro era para a compra de madeira para um empreendimento turístico.
O advogado desmentiu pelo menos um trecho da nota lida pelo marido da governadora no Palácio dos Leões. Murad disse que as explicações dadas até então eram “versões não-autorizadas”. Mas, segundo Berredo, Murad sabia da alegação de que o dinheiro sesria resultado da venda de chalés, apresentada por Luiz Carlos Cantanhede, presidente da Associação Comercial do Maranhão e sócio de Murad na Pousada dos Lençóis, em Barreirinhas, próximo ao Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses.
Advogado diz que Murad o mandou ouvir Cantanhede
Berredo disse que recebeu de Murad a orientação para procurar Cantanhede e ouvir dele a explicação a ser divulgada sobre o dinheiro.
— Nunca mudei de versão. Como advogado, sei o que meu cliente me conta. Disseram que era dinheiro dos chalés, então era dinheiro dos chalés. O Jorge (Murad) pediu que falasse com o Luiz Carlos e o Luiz Carlos me contou da venda — disse.
Cantanhede não foi localizado ontem. Na terça-feira, disse ao GLOBO que não é político e que, por isso, nada tinha a declarar sobre a versão de Jorge Murad.
Berredo afirmou que não sabia dessa explicação.
— Hoje, se me perguntarem do dinheiro, direi que é doação de campanha. Se amanhã me disserem que foi o George Bush quem mandou, vou dizer que foi — disse.
Berredo disse que a estratégia de defesa de Murad ainda não está traçada porque não há uma acusação formal contra seu cliente.
As declarações de Berredo deixam transparecer, no entanto, uma divergência na defesa de Roseana e Murad. Amigos do casal estão preocupados com os possíveis desdobramentos criminais, principalmente para Murad.
Um deles poderia ser uma investigação da Receita Federal. Se for notificado, Murad terá que dizer de quem recebeu o dinheiro, que não pode estar registrado na contabilidade das empresas porque não está legalmente aberto o prazo para doações eleitorais. Esses amigos argumentam que, se Murad não tiver problemas com a Receita, os doadores que ele apontar terão.
O primeiro doador prejudicado poderá ser a Construtora Sucesso, que pavimentou a estrada que vai de São Luís a Barreirinhas. Parte do dinheiro apreendido (R$ 150 mil) pela PF estava num envelope da empresa.
Mas o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, que orientou a família Sarney na elaboração da nota lida por Murad, garante que a arrecadação fora do prazo previsto em lei não é crime. Ele argumenta que não há na legislação punição prevista para tal comportamento.
— Murad não assumiu antes que era dinheiro de campanha por temer confessar um crime. Depois que esclarecemos a ele que não era crime, ele concordou em tornar públicos os fatos — disse Castro.
Segundo ele, Murad só não indicou os nomes dos doadores porque não poderia tornar pública a identidade de quem o ajudou anonimamente. Mas disse que, quando for interpelado judicialmente, Murad apresentará os nomes.
Outro detalhe da nota de Murad também seguiu orientação jurídica. O marido de Roseana afirmou que não chegou a gastar o dinheiro arrecadado, o que o livraria de uma acusação de abuso do poder, uma vez que o R$ 1,34 milhão não chegou a custear despesas de campanha. O dinheiro foi apreendido antes pela Polícia Federal.
Reforma do Judiciário é aprovada por comissão do Senado e vai a plenário
BRASÍLIA. A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou ontem o texto consolidado da reforma do Judiciário, feito pelo relator Bernardo Cabral (PFL-AM). Não houve alterações em relação às emendas que já tinham sido aprovadas há duas semanas na comissão. O texto vai agora a plenário, onde começará a ser analisado na próxima semana.
Como foram aprovadas dezenas de emendas ao projeto na CCJ, após a aprovação pelo Senado, o texto terá que voltar à Câmara, onde precisará ser votado novamente. A aprovação do projeto de emenda constitucional só se dá com o aval de 49 dos 81 senadores.
Oposição defendia controle externo do Judiciário
A oposição, que ainda lutava pela proposta de manutenção do controle externo do Judiciário, principal inovação do texto da relatora Zulaiê Cobra (PSDB-SP) aprovado pela Câmara, pode apresentar emendas no plenário, embora sejam pequenas as chances de aprovação. A oposição acredita que, do jeito que o texto foi aprovado, não está garantido o controle externo, já que foi vetada a inclusão de um representante da sociedade no conselho que seria criado para essa função.
Todas as emendas nesse sentido apresentadas na CCJ foram derrubadas. A maior pressão para evitar a aprovação de propostas de controle externo do Judiciário partiu de desembargadores e ministros de instâncias superiores.
A manutenção do sigilo para inquéritos administrativos no Judiciário também está garantida pelo texto. Apesar da pressão contrária, muitos juízes ainda defendem um controle (nem que seja uma fiscalização interna mais rigorosa), bem como a transparência nas investigações.
O juiz Sebastião Coelho, que até há quatro meses era o titular da Vara de Execuções Criminais (VEC) do Distrito Federal (DF), lembra que a maioria absoluta dos juízes é contra o controle externo com a participação da sociedade, mas acredita que deveria haver um órgão de fiscalização mais eficaz, principalmente para apurar as irregularidades nas instâncias superiores.
— As corregedorias funcionam, e muito bem, quando juízes de primeira instância são investigados. Já quando existem dúvidas relativas a sentenças de desembargadores, como nestes casos que O GLOBO levantou no Rio, a corregedoria simplesmente não funciona — disse Coelho.
O juiz, que está afastado desde que a corregedoria do Tribunal de Justiça (TJ) do DF iniciou uma investigação para apurar denúncias contra seus métodos de trabalho, acha que está sendo perseguido politicamente, e denunciou o tribunal por agir em comum acordo com o governo estadual.
Juiz diz que sigilo protege quem pratica irregularidade
Coelho lembra que a manutenção do sigilo para processos administrativos, além de proteger os magistrados que praticam irregularidades, esconde os que perseguem os juízes honestos.
— É preciso acabar com esse sigilo. Ele vai assegurar a impunidade aos que praticam abuso de poder — completou Coelho.
PSDB tem pressa para fechar aliança com PMDB
BRASÍLIA. O candidato tucano à Presidência, José Serra (SP), e o PMDB estão prestes a oficializar uma coligação. Com isso, os peemedebistas poderão indicar o vice na chapa tucana. Na noite de terça-feira, Serra recebeu em sua casa, em Brasília, o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), e disse-lhe que tinha pressa em fechar a aliança. Temer assegurou que a maioria do partido é favorável à aliança e pediu que Serra ou o PSDB formalizassem a proposta de coligação.
— Faremos uma proposta oficial ao PMDB e esperamos fechar um acordo no máximo até o início de abril — disse o líder tucano na Câmara, deputado Jutahy Magalhães (BA).
Após fechar com o PMDB, os tucanos farão a mesma ofensiva sobre o PPB e o PTB. A cúpula do PMDB só está aguardando a proposta formal para consultar os governadores e reunir a executiva para oficializar os entendimentos.
Logo após a reunião com Serra, Temer foi à casa do presidente do Senado, Ramez Tebet (PMDB-MS), onde os líderes no Senado, Renan Calheiros (AL), e na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA), o aguardavam com outros integrantes do comando partidário. O encontro tratou das alternativas para concorrer a vice. Foram citados os governadores Jarbas Vasconcelos (PE), Garibaldi Alves (RN), os senadores Renan Calheiros (AL) e Pedro Simon (RS), e a deputada Rita Camata (ES).
Artigos
Dever do Estado
Pe. Jesus Hortal, S.J.
AConstituição federal é bem clara: “O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental” (art. 210, § 1 ). Trata-se, portanto, de aulas normais. Conseqüentemente, as condições em que sejam oferecidas essas aulas devem ser também normais. Os professores têm que ter formação específica para exercer o seu cargo e precisam manter-se atualizados. Daí que tenham também direito a uma retribuição semelhante à de seus colegas que lecionam outras matérias. Atente-se para o fato de que o preceito constitucional refere-se às escolas públicas, ou seja, as mantidas pelos poderes federal, estadual e municipal. Por isso, é a estes poderes que corresponde assegurar essa retribuição condigna.
Tanto o estado quanto o município do Rio de Janeiro aprovaram leis para regulamentar a aplicação da norma constitucional. Nada mais lógico que se preocupem também com o recrutamento dos professores, a fim de não transformar essas leis em pura letra morta. Infelizmente, esta parece ser a intenção de alguns políticos que não se conformaram com a derrota sofrida, quando da discussão e da aprovação dos projetos legislativos correspondentes. Tentam, com manobras encobertas, sob pretexto de “ecumenismo”, esvaziar o ensino religioso, tornando-o neutro e sem conteúdo, ou de impedir a sua oferta normal, liberando o estado e o município de qualquer obrigação econômica para sustentá-lo. Sistemas tão amplos, com tantos estabelecimentos como o estadual e o municipal, seriam incapazes de recrutar número suficiente de professores de ensino religioso puramente voluntários, sem nenhuma retribuição. E, mesmo que o conseguissem, não haveria garantia nenhuma de dedicação suficiente, nem perspectiva de atualização contínua. Desse modo, o ensino religioso se tornaria a gata-borralheira das escolas, provocando uma forte rejeição da parte dos estudantes e das suas famílias. Como ele é “de matrícula facultativa”, acabaria perdendo, quase por inteiro, os seus destinatários.
É isso o que alguns deputados estaduais pretendem? Seria então melhor que o dissessem abertamente, e que ficasse bem claro o seu posicionamento anticonstitucional.
O que advogamos é um ensino religioso de matrícula facultativa, sim, mas de qualidade suficiente para não ser olhado com desprezo por quem quer que seja.
Colunistas
PANORAMA POLÍTICO – Tereza Cruvinel
Serra e o fermento da crise
A primeira onda do caso Roseana Sarney produziu a queda da pré-candidata do PFL nas pesquisas e a ascensão de José Serra. A segunda começa agora, com o PFL prometendo revanche contra o que teria sido uma ação desestabilizadora e, por outro lado, a polarização entre Serra e Garotinho na disputa pelo segundo lugar.
O salto do tucano na esteira da crise com o PFL e após intensa exposição televisiva chega a preocupar alguns em seu partido.
— Não precisava ter crescido tanto...
Quem diz é um de seus escudeiros, o deputado Alberto Goldman, analisando os números da pesquisa Datafolha: Serra, que antes tinha apenas 10%, alcançou 17%, ultrapassando Roseana, que caiu de 23% para 15%. Empatou tecnicamente com Garotinho, que também subiu de 13% para 15%. As pesquisas do Ibope e do GPP seguiram a mesma tendência. Razões de Goldman:
— Ele (Serra) cresceu com recursos eleitorais próprios e também com as perdas de Roseana. Mas, a tanto tempo da eleição, o contingente de indefinidos continuará grande, impedindo a manutenção desse ritmo de crescimento. A qualquer recuo de um ou dois pontos dirão que Serra caiu.
José Aníbal, presidente do partido, não externa esses receios.
— Serra cresceu porque se apresentou bem ao eleitorado, identificou-se com o presidente e o governo, angariando o apoio dos que desejam a mudança sem ruptura. Liquidou com essa conversa de plano B ou C.
Conversa, vale dizer, de pefelistas e mesmo de tucanos a favor de um terceiro nome que possibilitasse uma recomposição, agora praticamente impossível, entre os dois partidos. Mas há certamente um fermento de crise no crescimento de Serra, que justifica a preocupação dos seus e alimenta a ira do PFL. E esse é outro ponto da segunda onda produzida pela ação da Polícia Federal na empresa do casal Murad-Roseana.
Pois soa a canto de guerra a declaração do presidente do PFL, Jorge Bornhausen, de que o partido não terá limites na busca de esclarecimentos sobre a “ação desestabilizadora” contra Roseana. As pegadas, como disse, de gente do governo na operação policial, se encontradas podem resultar em perdas para Serra. Em que extensão, impossível saber hoje, exatamente porque ainda é incerto o grau de sua consolidação. Mas isso não mudará em nada a situação do PFL, que manterá Roseana candidata até encontrar seu novo rumo.
Enquanto Lula volta a liderar sozinho a disputa, temos agora Garotinho e Serra embolados no segundo lugar. Disputa em que o tucano entra com vantagens, salvo a hipótese de ser atingido por um tiro pefelista. Garotinho ainda terá um programa de televisão em abril, mas o embate com Serra é decisivo para sua candidatura. Se não resistir, as pressões para que desista em favor de Lula voltarão. Vindas de seu próprio pa rtido, o PSB.FH levará em sua viagem ao Chile, no dia 18, os governadores Dante de Oliveira (PSDB-MT), Esperidião Amin (PPB-SC) e Zeca do PT (MS). Nenhum do PFL.
Para que pressa? pergunta o PMDB
Agora que o PFL deixou de ser rival e de ameaçar o PMDB na busca de um lugar na chapa de José Serra, o partido não tem pressa de fechar aliança com os tucanos. Quanto mais demorar, mais valorizado será.
Estaria tudo bem não fosse o TSE, que, entre muitos desarranjos, praticamente inviabilizou a chapa desejada por Serra, que teria como vice o governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos. É quase certo agora que ele disputará a reeleição, evitando deixar o governo para seu vice, que é do PFL. Embora tenha com Mendonça Filho uma relação tão boa quanto a de Fernando Henrique com Marco Maciel, a regra do TSE (e o rompimento nacional) impedirá a coligação com o PFL, se este prosseguir com uma candidatura própria.
O fechamento da aliança com o PMDB passará, pois, pela escolha de um vice. Depois de Jarbas, um nome bem recebido pelos serristas seria o de Pedro Simon. Mas isso desagradaria aos governistas do PMDB e ao próprio presidente Fernando Henrique, de quem é um crítico acre.
RICARDO Murad, irmão de Jorge, já declarou que não deseja ser o Pedro Collor do Maranhão. Mas é apontado como o autor do dossiê contra Roseana Sarney que foi oferecido ao governador Garotinho. Que, por sua vez, o entregou ao senador José Sarney e se recusa a identificar o intermediário, que teria usado o nome do deputado Márcio Fortes.
AGORA o PFL anuncia uma ação contra Fortes. Mas no jornal “O Estado de S. Paulo” do dia 6 foram publicadas declarações de Ricardo Murad afirmando ter contribuído para a campanha de Garotinho ao oferecer-lhe o dossiê.
LULA não quer discursar, e se pudesse nem votaria nas prévias de domingo. Continua achando um absurdo ter que disputar a indicação de candidato com Eduardo Suplicy. Mas está animado e de alto astral, garante o governador Jorge Viana, que almoçou com ele anteontem.
CIRO Gomes até pode gostar da idéia. Mas será mais fácil o PPS apoiar o PT, com toda a bronca que Roberto Freire tem de Lula, do que aliar-se ao PFL. O deputado João Hermann foi à tribuna ontem garantir que isso jamais acontecerá.
Editorial
MATÉRIA OPCIONAL
Despertou polêmicas o anúncio de que o governo do estado autorizou concurso para contratar professores que darão aulas de religião de acordo com a crença do aluno (fala-se em até três mil contratações). A polêmica é natural, e o assunto é certamente complexo. Em outros tempos, conflitos sérios poderiam surgir daí. Nos Estados Unidos, periodicamente, vêm à tona discussões referentes ao ensino de religião nas escolas. Em outros países — como a Índia — a questão religiosa continua a provocar derramamentos de sangue.
O Brasil, neste sentido, tem uma preciosa tradição de tolerância. A Constituição fala em ensino religioso, “de matrícula facultativa, nos horários normais de escolas públicas do ensino fundamental”. Não procede, portanto, a alegação de que, sendo o estado laico, o ensino religioso não teria nada a ver com a rede oficial de ensino.
A verdade é que a religião continua a ser um dado fundamental na vida de vasta parcela da população — e, nesse contexto, merece tanta atenção quanto outras disciplinas. Resguardado o caráter facultativo deste ensino, não se vê em que ele possa causar constrangimentos, sobretudo se for abordado pelo ângulo do esclarecimento e da informação, e não da catequese — esta, sim, função precípua das escolas religiosas.
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03/14/2002
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