Educação: Tempo Integral - oito horas na escola, e ensinamentos para toda a vida



Alunos do ensino fundamental do estado freqüentam curso regular de manhã e participam de atividades artísticas e culturais à tarde

“A professora ensinou coisas legais e falou sobre a vida do astronauta Marcos Pontes. Disse que ele enfrentou e venceu muitos problemas para chegar aonde chegou”, conta Luzanira Maria da Silva, 13 anos, aluna da 7ª série da EE Professor Ênio Vilas Boas, na Cidade Náutica, em São Vicente, litoral paulista. Na oficina de saúde e qualidade de vida, a garota conta que aprendeu a meditar e a ficar mais calma. “A professora explicou que se a gente tem um sonho não pode desistir”, afirma Luzanira. O desejo da menina é tornar-se policial ou pediatra, “para dar um futuro melhor” à sua família.

De segunda a sexta-feira, às 7 horas, quando Luzanira chega à escola para o curso de ensino fundamental, toma café da manhã. Às 12h20, as merendeiras servem o almoço. O cardápio é composto de arroz, feijão, carne ou frango, legumes ou salada e suco. De sobremesa, é oferecido doce ou fruta. Depois do almoço, começa a segunda jornada. Nessa hora, a menina é integrada às atividades artísticas e culturais, como dança, música, teatro e artes plásticas. Há também modalidades esportivas, entre as quais atletismo, ginástica, xadrez e jogos.

A programação abrange orientação à pesquisa e aos estudos, resolução de problemas de Matemática, hora da leitura, informática, práticas em salas ambiente de ciências físicas e biológicas, práticas de educação ambiental e qualidade de vida, que inclui lien ch’i – arte de tradição chinesa empregada no alongamento do corpo e meditação.

Bolacha e cereal 

No período da tarde, Luzanira tem aulas de espanhol, filosofia e atividades que estimulam o empreendedorismo e protagonismo juvenil. Às 15 horas, há mais uma pausa para reforço alimentar. Luzanira recebe bebida láctea com bolacha, cachorro-quente ou cereal. A jornada de oito horas na escola (descontada a hora de almoço) termina às 16 horas.

A rotina da garota é a mesma de milhares de alunos da 1ª à 8ª séries do ensino fundamental da rede estadual que participam do Projeto Escolas de Tempo Integral. A orientação didático-pedagógica se diferencia de uma unidade de ensino para outra, de acordo com a realidade cultural e econômica de cada escola e as necessidades da comunidade. Na Diretoria de Ensino de São Vicente, que compreende as cidades de Praia Grande, São Vicente, Peruíbe, Itanhaém e Mongaguá, 12 escolas estaduais desenvolvem a iniciativa desde o início do ano letivo de 2006.

A dirigente regional de ensino da região de São Vicente, Serli Carvalho Rodrigues, explica que o diferencial nas oficinas é a utilização das disciplinas curriculares de forma agradável e diferente: “Quanto mais tempo os estudantes ficarem na escola, mais aprendem e recebem embasamento para a vida. Muitos são carentes e não teriam outra oportunidade como essa”.

Espaço adequado 

No ano passado o projeto foi aprovado por conselhos de cada escola, professores e comunidade. Para participar da iniciativa é necessário que a unidade de ensino tenha condições de atender aos escolares. Deve, entre outras coisas, dispor de espaço físico adequado. Para subsidiar os professores na realização das atividades, a Diretoria de Ensino de São Vicente promoveu a Oficina Vai à Escola em Tempo Integral. Os professores dos 12 estabelecimentos de ensino que aderiram ao projeto foram capacitados entre os meses de março e maio.

Acompanhados da supervisora de ensino Iracema Reis Sarmento Martinez, os assistentes técnicos pedagógicos (ATPs) das disciplinas Matemática, Geografia, Ciências, Português, Filosofia, Espanhol, Arte, História e Educação Física foram a cada uma das escolas e dedicaram um dia inteiro de qualificação. O objetivo foi mostrar estratégias diferenciadas de ensino aos educadores. No treinamento realizado na EE Oswaldo Luiz Sanches Toschi, no Jardim Guaramar, cidade de Praia Grande, a ATP de educação física Rosa Maria Del Salvador Beatone ensinou a arte de tradição chinesa lien ch’i. As técnicas apresentadas incluíram exercícios de alongamento do corpo que atuam no combate à cólica menstrual e flatulência, asma e doenças pulmonares, estresse e falta de memória, além de estimular a sabedoria e o controle de emoções.

Menos agressividade 

“Os cursos não necessitam de material especial como retroprojetor ou datashow”, informa a supervisora Iracema. Houve oficinas sobre jogos matemáticos, estratégias de leitura e radionovela. Outros temas foram abordagem de cores e substantivos em inglês e espanhol, o lixo e a sobrevivência do homem no planeta, canto e criação (iniciação à música com exercícios de técnica vocal e canto).

Iracema diz que na oficina de técnicas de leitura, por exemplo, os ATPs mostram aos educadores que esse hábito pode ser estimulado por meio de brincadeiras. Uma das participantes foi Silvana Souza Silva Diana, professora de arte no período da  manhã e, à tarde, dá aulas de teatro no Projeto Escolas de Tempo Integral: “O treinamento é interessante porque me faz refletir sobre como realizar atividades que mantenham a atenção de todos os alunos. Nada de rotina, e sim aulas diferenciadas”.

Aprendizado é gratificante 

A professora observa que já há resultados positivos: “Os estudantes modificaram suas atitudes: alguns eram agressivos nas palavras e atitudes. Agora, um olha para o outro e o respeita”. Silvana diz que os educadores estão à vontade para fazer o que quiser, usando os laboratórios, as salas de aula, pátio e jardim. A escola tem mais de 3 mil metros quadrados de área.

Sua colega Rosemeire Conceição da Silva, que ensina geografia, é da mesma opinião: “Se oferecermos aulas dinâmicas, instigamos o aluno a pensar, e o resultado é melhor rendimento”. No projeto, ela multiplica seus conhecimentos em culinária. Aprendem a preparar pães de calabresa, queijo e presunto. “Vários deles estão desempregados e vendem o produto para ajudar em casa. É gratificante”, afirma.

A diretora da escola, Tânia Vieira Dias, relaciona outras novidades que ocupam as oito horas que a garotada fica na instituição de ensino. Pelo projeto Química no Dia-a-dia, os jovens tornam-se mestres na arte de fazer sabonete, desinfetante, perfumes, detergente e sabão em pó.

No setor de higiene e saúde, os educadores incentivam a escovação dos dentes. “Quando a ação começou, notamos que somente duas ou três crianças faziam a higiene bucal. Com recursos da associação de pais e mestres (APM), compramos escovas para os que não têm condições financeiras”, lembra a diretora. Agora, a participação é grande. Na EE Oswaldo Luiz Sanches Toschi, 280 crianças de 5ª à 8ª séries do ensino fundamental e 40 professores atuam nas atividades da Escolas de Tempo In

05/30/2006


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