Educação: USP e Universidade Federal de São Paulo padronizam formação de médicos



Parceria inédita no País pretende oferecer melhor assistência ao paciente e formar profissionais habilitados

Parceria inédita no País pretende oferecer melhor assistência ao paciente e formar profissionais habilitados

 Aprimorar a qualidade de ensino das faculdades de medicina, oferecer melhor assistência ao paciente internado e formar profissionais habilitados são alguns pontos de acordo inédito assinado entre a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

“A idéia da padronização dos cursos surgiu durante visita que fiz à Unifesp no ano passado”, diz o diretor da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), Giovanni Guido Cerri. “Os professores debatiam a situação crítica do ensino médico no País. O excesso de faculdades particulares, que lançam no mercado de trabalho quase 500 médicos por ano, torna esse profissional pouco qualificado, comprometendo o atendimento à população”, explica Cerri.

O reitor da Unifesp, Ulisses Fagundes Neto, concorda com a opinião de seu colega: “Não há critério de qualidade na maioria das escolas de medicina que surgiram. Temos necessidade urgente de credenciamento de avaliações e o convênio firmado entre a Unifesp e a FMUSP é um passo para a melhoria do ensino médico em todo o território nacional. A intenção é que seja referência, parâmetro para que surjam cursos com mais qualidade e profissionais mais gabaritados”. Todos os anos, a Unifesp abre 110 vagas em seu vestibular para medicina, das quais 11 são sob o sistema de cotas. O exame é um dos mais concorridos do País.

Promovendo interação

 O protocolo de intenções firmado no mês passado pretende definir, no campo do ensino, conteúdo programático e de habilidades, que será adotado nas duas escolas. Os alunos de ambas as instituições terão de passar pelo teste de progresso. Será uma prova que analisará o desempenho do universitário de uma fase a outra de sua formação – e com o estabelecimento de avaliação formal no término do curso. Na área de especialização, a proposta é promover a interação entre os programas de residência médica e cursos de especialização e aperfeiçoamento.

Outro problema apontado por Fagundes Neto é que “a maioria das faculdades de medicina surgidas recentemente não tem hospital-escola, dificultando a residência médica”. Essa fase da formação dura de dois a cinco anos, dependendo da especialidade. Segundo o reitor da Unifesp, a falta do hospital-escola compromete o atendimento ao paciente: “O profissional recém-formado é inexperiente, não passou por um hospital e não conhece a realidade do serviço de emergência, por exemplo”.

Excelência e referência

 Entre as propostas previstas no trabalho parceiro, a que pode ter maior impacto social é a que prevê atuação próxima e articulada na assistência direta à saúde da população paulista. O Hospital das Clínicas (HC) da FMUSP e o Hospital São Paulo respondem por mais de 50% dos atendimentos especializados na capital, além de terem importante atuação nos prontos-socorros. Por meio de convênio, as duas instituições gerenciam, simultaneamente, várias unidades na cidade de São Paulo e no interior.

Em termos de assistência médica, a Unifesp comanda o Hospital São Paulo – referência para região que congrega 29% da população paulistana, realizando cerca de 6 mil consultas e 5 mil exames por dia – e gerencia, por convênios, o Hospital-Geral de Pirajussara (Taboão da Serra), Hospital Estadual de Diadema, HC Luzia de Pinho Mello (Mogi das Cruzes), Hospital Municipal Vereador José Storopolli (Vila Maria, na capital) e o Núcleo Geral de Especialidades Maria Zélia (Belenzinho, também na capital). Até o início de 2007, entrarão em operação dois novos câmpus, nas cidades de Diadema e Guarulhos.

O HC da FMUSP é classificado como serviço de saúde terciário e quaternário, de ponta, onde doenças complexas são investigadas e tratadas por corpo clínico de alto nível. O hospital é reconhecido pelos ministérios da Educação e da Saúde como centro de excelência e referência nas áreas de ensino, pesquisa e assistência integral à saúde. Os atendimentos são realizados por cerca de 2 mil médicos, das mais variadas especialidades, e por 840 residentes, com o auxílio de 8 mil enfermeiros e auxiliares de enfermagem. A cada mês, são contabilizados 96 mil consultas, 3 mil cirurgias, 29 mil atendimentos de pronto-socorro e 200 mil exames de laboratório e de diagnóstico por imagem.

O protocolo prevê, ainda, a colaboração entre as fundações de apoio das duas instituições e na divulgação de programas e projetos de educação em saúde.

A Unifesp está entre as cinco instituições brasileiras com maior produção de trabalhos científicos por docente e atua em diversos segmentos de ponta da pesquisa. A produção científica da FMUSP é uma das mais expressivas do País. Em 2004, publicou 361 artigos em revistas de circulação internacional indexadas e 386 em revistas não-indexadas, 29 livros, 152 capítulos de livros, 2.148 resumos e 56 trabalhos de divulgação. A biblioteca central da faculdade tem o maior acervo médico da América Latina, com quase 48 mil títulos, 42 mil teses, 215 mil periódicos e 6,7 mil multimeios. Além da biblioteca central, há mais quatro setoriais. Juntas, registraram 134 mil consultas em 2004, das quais 12 mil referentes a usuários sem vínculos com a FMUSP.Maria Lúcia Zanelli

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03/03/2006


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