Embraer diz que crise permanece em 2010 e sustenta que demissões foram inevitáveis
A indústria aeronáutica mundial não terá em 2010 um ano melhor do que o atual, quando enfrenta forte retração em suas atividades em decorrência da crise financeira global. A afirmação foi feita pelo vice-presidente-executivo da Embraer, Horácio Aragonês Forjaz, em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), nesta terça-feira (4), proposta pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP).O objetivo do debate foi examinar os impactos da crise sobre a empresa, a única brasileira em seu setor e uma das cinco maiores do mercado mundial.
Antes de novembro de 2008, informou o executivo, a Embraer previa para 2009 entregas entre 315 a 350 aeronaves. Seriam de 195 a 200 aviões de maior porte e entre 120 a 150 pequenas aeronaves. Porém, já em fevereiro desse ano, na última informação ao mercado, a empresa anunciou que as entregas de aviões de grande porte (jatos executivos e comerciais) cairiam para 132 unidades, com previsão de apenas 110 pequenas aeronaves. Como disse, isso ocasionou uma redução de 32% na atividade industrial da empresa.
- As receitas da Embraer vêm principalmente do exterior. Assim, apesar de o mercado brasileiro constituir uma ilha de resistência aos efeitos da crise global, essa situação não beneficia a empresa, que está imersa no olho do ciclone - afirmou.
Demissões
Diante do quadro de crise, conforme Horácio Forjaz, a empresa não teve outra opção senão redimensionar seu quadro de empregados. Desse modo, decidiu pelo corte de 20% dos mais de 21 mil postos mantidos até o início do ano, anunciando em fevereiro, de uma só vez, a demissão de 4.270 trabalhadores. Segundo ele, a medida representou "a face mais dolorosa e visível da crise", mas não foi iniciativa apenas da Embraer, tendo recorrido a forte enxugamento todas as grandes do setor.
Para o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região, Vivaldo Moreira, no entanto, as demissões não eram inevitáveis. Mesmo concordando que a crise é mesmo intensa, ele lembrou que, como outros setores, a Embraer poderia ter feito a opção por férias coletivas e conceder licenças remuneradas. Segundo ele, alternativa ainda melhor seria a redução da jornada dos empregados, já que a empresa seria uma das poucas que ainda adotam a jornada de 43 horas semanais.
- O sindicato teve a preocupação de procurar a empresa imediatamente, para buscar alternativas que não fosse o afastamento de empregados. Não havia razão - afirmou.
Segundo o sindicalista, a empresa negou que faria demissões até o último momento, tendo anunciado a decisão subitamente, sem transparência. Ele informou que o Tribunal Regional do Trabalho, em Campinas, chegou a multar a Embraer, sem obrigar a empresa a voltar atrás na decisão, já que não há lei para impedir "demissões imotivadas".
- Precisamos pensar em como fazer uma legislação para isso. A Embraer não pode servir de exemplo negativo - disse Moreira, solicitando apoio para a normatização desta matéria.
Embora justificando falta de caixa para manter os empregos, conforme o sindicalista, a Embraer estaria distribuindo em bônus R$ 50 milhões a seus executivos esse ano, informação contestada com veemência por Horácio Forjaz. Segundo ele, os números referem-se ao total de salários, pagamento de plano de saúde e da complementação da aposentadoria. Salientou que esses e outros dados sobre a empresa são de conhecimento público, já que a Embraer tem uma política de total transparência, pois está enquadrada no chamado novo mercado, entre as empresas compromissadas em fornecer amplas informações aos investidores em bolsas.
Horácio Forjaz refutou ainda a declaração de Moreira de que a Embraer também especulou no mercado de derivativos e perdeu mais de US$ 180 milhões, dinheiro que faltou para manter os empregos. De acordo com o executivo, a empresa tem mais de 90% de suas receitas em dólares, já que suas vendas estão concentradas no exterior. Por isso, é obrigada a realizar operações para se proteger das variações do câmbio (hedge).
O sindicalista chegou a propor que a Embraer volte a ser estatizada, por entender que o apoio dado pelo setor público à empresa deveria ter maior retorno para os trabalhadores e a sociedade brasileira. Apesar do compromisso, na privatização, de que até 40% do capital votante da empresa deveria permanecer em mãos de nacionais, ele garantiu que esse limite já não estaria sendo respeitado. O executivo mostrou números para demonstrar que a empresa está muito melhor do que antes, inclusive gerando mais empregos e receitas para o país. Mesmo com a reforma dos estatutos, ele também garantiu que ainda agora o capital externo não pode formar mais de 40% dos votos nas decisões da empresa.
- Para que não reste dúvida sobre essas regras, a União pode exercer poder de veto em eventuais alterações estatutárias - disse.
Apoio do BNDES
A audiência contou ainda com a participação de Luiz Antônio Dantas, superintendente da Área de Exportação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Segundo ele, o apoio da instituição à Embraer ocorre de forma indireta, por meio de financiamento a quem compra suas aeronaves, sobretudo empresas do exterior. Ele salientou que essa forma de atuação segue o padrão adotado das instituições oficiais de fomento de outros países. Os recursos fornecidos representariam cerca de 28% do total dos financiamento às exportações da empresa.
Segundo o expositor, a atuação da estatal em favor da empresa tornou-se mais incisiva depois da crise, em substituição a financiadores externos que se retraíram. Ele informou ainda que o BNDES detém 5% das ações da companhia, havendo atualmente o interesse do banco em estimular a cadeia produtiva aeronáutica, adensando o conjunto de empresas fornecedorasde peças e equipamentos para o setor.
04/08/2009
Agência Senado
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