Entrevista coletiva do governador Mário Covas após reunião com o prefeito Celso Pitta



Parte III

Entrevista coletiva do governador Mário Covas concedida após a reunião com o prefeito Celso Pitta no Palácio dos Bandeirantes Banespa REPÓRTER - Estão sendo apontados ilicitudes no processo de venda do banco.... COVAS - O Suplicy fala nisso há bastante tempo, mas não há nenhuma ilicitude. REPÓRTER - São onze procuradores que estão fazendo... COVAS - É; eles receberam a procuração do Suplicy, eu sei. REPÓRTER - O senhor acha que é infundado, isso? COVAS - Se eu acho? Não, eu tenho certeza. Mas, a mim, nunca foi dada muita chance, no Banespa. Ao contrário. A intervenção foi feita para sanear o banco... Mas você sabe que eles não tinham acertado as contas com a prefeitura? Não tinham, em cinco anos, acertado as contas com a prefeitura. REPÓRTER - E acertaram, agora? COVAS - Acertaram porque senão não podiam acertar as coisas com a gente. REPÓRTER - O senhor conversou com o Piunti depois das denúncias? COVAS - Não, não conversei. Nem teria porquê conversar com ele depois das denúncias. REPÓRTER - O senhor vai entrar com alguma medida, em relação a guerra fiscal? COVAS - Eu vou entrar com várias medidas. REPÓRTER - Quais? COVAS - Mas não anuncio para vocês. Não vou dizer. Espião não escreve na testa: 'Espião'. Você vai fazer uma briga e enuncia primeiro a estratégia? Parece o Wanderley Luxemburgo. REPÓRTER - E se a reforma tributária não passar? COVAS - Não sei se depois dessa discussão, não sei se ela não consolida a guerra fiscal. Como ela foi aprovada na Câmara, excluía a guerra fiscal. Mas as alterações são capazes de perenizar a guerra fiscal. REPÓRTER - Qual alteração específica? COVAS - A que eu tenho conhecimento é que vão pagar as empresas que receberam benefício. Quem paga é o fundo criado entre os próprios estados. Bom, mas se eles receberem isso fica perenizado. A empresa fica com essa vantagem para o resto da vida. REPÓRTER - E aí o governo de São Paulo vai chiar? COVAS - Vai, sim. Vivem dizendo que eu sou chorão, chia até demais. Por isso que eu fui a Brasília, ontem. REPÓRTER - O senhor volta para Brasília hoje? COVAS - Volto. REPÓRTER - O que o senhor vai falar sobre guerra fiscal? COVAS - Ah, eu vou fazer um discurso comprido, dizendo que é desvantajoso para o País. É absolutamente proibido, por lei. Na realidade, o que existe é quem cumpre a lei e que não cumpre. São Paulo tem cumprido. REPÓRTER - É isso que o senhor vai expor, hoje? COVAS - É, mas isso não é uma exposição tão rápida quanto a que eu acabei de fazer. REPÓRTER - Ainda com relação ao Banespa, os procuradores dizem que ele só poderia ser federalizado com uma lei federal. COVAS - Mas eles fizeram uma lei federal. REPÓRTER - Sim, mas isso foi posterior. COVAS - Do quê? Não, filha, eles estão enganados. REPÓRTER - Eles estão alegando isso, que podem anular o processo de federalização... COVAS - Pois então que anulem, e voltem com o banco para o Estado de São Paulo. Eu não vou achar ruim, não. REPÓRTER - O senhor aceita o banco de volta? COVAS - Claro. Eu acho que o banco deveria estar aqui. E estaria consertado como a Caixa, que estava na mesma situação que o Banespa. REPÓRTER - E por que o senhor abriu mão? COVAS - Mas que mão, que eu abri? A intervenção no Banespa foi feita no dia 30 de dezembro de 1994, e eu ainda não era governador. Vocês correram atrás de mim seis meses, me enchendo, perguntando para mim por que eu estava brigando para o Banespa ficar em São Paulo. Cansei de ler editorial dizendo 'esse governador é um teimoso, quer que o Banespa fique em São Paulo..' Moral da história: ficaram cinco anos com o Banespa e tomaram uma multa de R$ 2, 8 bilhões, dada em cima da administração do Banco Central e do Ministério da Fazenda. E vocês perguntam por que eu não resolvi. Eu podia pagar a dívida, de R$ 9 bilhões. Mas me deixaram somente R$ 36 milhões e aí fica difícil. A Caixa, que é uma empresa muito menor que o Banespa, mas que hoje é o sétimo banco do Brasil. A Caixa já é o sétimo banco do Brasil! Minha idéia é vender 49% das ações para o povo. Eu te aconselho a comprar, por que vai crescer muito, o valor da Caixa. Você ou qualquer outro, Por isso que eu quero vender para povo, não quero vender para empresa nenhuma. REPÓRTER - Nem banco nacional? COVAS - Não para pessoa jurídica, é para pessoa física. Vender para o povo. O Estado continua com maioria, 51%, mas dispensa 49% das ações. Não precisa disso. REPÓRTER - É um projeto ainda para este ano, governador? COVAS - Não sei se pra esse ano vai dar. Se não der pra esse ano, será no ano que vem. Mas até o final do ano que vem estará feito. E foi possível consertar a Caixa. A Caixa recorria diariamente a 500 milhões de reais pra fechar o seu caixa no Banco Central. Está dando dividendos bem razoáveis ao Estado. REPÓRTER - Voltando à reunião que o Sr. deve ter hoje, o que o Sr. espera do Senado? COVAS - Não sei. O presidente da Comissão me ligou na quinta-feira, quando viajava. Estava no interior e recebi a notícia. Do interior fui a Curitiba. Quando cheguei na sexta, no final da tarde, telefonei e não o encontrei. Na segunda nos falamos e ele me convidou pra depor sobre Guerra Fiscal. Ele está interessado em que a Comissão de Assuntos Econômicos tente formular alguma coisa a esse respeito. Aliás, pelas declarações que eu li, ele dizia que até não tem nenhuma regra a respeito. A regra tem ,sim. A regra não é seguida, mas ela existe. REPÓRTER - O Sr. não tem nenhuma expectativa que São Paulo seja apoiado? COVAS - Eles devem ouvir vários governadores, presumo... REPÓRTER - E a reunião de ontem, parece que o Sr. ficou um pouco frustrado? COVAS - Não, não fiquei frustrado, não! Eu até sai de lá com a certeza de que aquilo que eu falei durante cinco anos é verdadeiro. Ou seja, que a Lei Kandir não foi feita pra

02/09/2000


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