Entrevista coletiva do governador Mário Covas após reunião com prefeitos do Vale do Paraíba



Última parte

Privatização do Banespa Repórter – Saiu o edital do leilão de privatização do Banespa. Qual a sua expectativa em relação a esse leilão? Covas – Eu não tenho mais nenhuma expectativa em relação ao Banespa. A minha expectativa era que isso tivesse acontecido antes, sem que tivesse criado os problemas que criaram para São Paulo, e criam. Eles ficaram cinco anos consertando o Banespa e depois, na hora de privatizar, resolveram encontrar uma multa feita no período em que eles ficaram para consertar o banco. E agora vão fazer a privatização porque tem compromisso disso. Para nós, isso não nos afeta, o que temos de receber já recebemos. Repórter – O senhor acha que o Estado então foi prejudicado por esse atraso na privatização? Covas – Lógico que foi prejudicado por esse atraso, lógico. O leilão deveria ter sido feito em dezembro do ano retrasado, se isso fosse feito não teria acontecido nada do que aconteceu. Mesmo naquela data eles não tendo acertado com a Prefeitura a dívida que ela tinha, que agora acertaram. Ou as ações que tinham da Cesp, que agora acertaram. Então, agora vão ter uma boa venda. Aliás, naquele tempo eles também teriam uma boa venda. A venda do Banespa iria ter um excelente ágio, porque qualquer um dos bancos brasileiros grandes sabe que, se comprar o Banespa, vai se tornar o maior dos bancos. Repórter – A quem interessou essa confusão toda em torno do Banespa? Covas – Eu sei que a nós não interessou. A quem interessou não sei dizer. Eu que acompanhei a distância sei que várias figuras daquelas, que inclusive comandaram o banco durante muito tempo, tentaram dissuadir o cidadão lá ... porque afinal, você dar uma multa numa empresa que equivale a um determinado período, aqueles que estavam no comando durante esse tempo se sentem culpados e que estava no comando do banco nesse período era o Ministério da Fazenda e o Banco Central. Portanto, tentaram dissuadí-lo a não fazer isso, mas ele achou melhor fazer. Deu uma multa de R$ 2,8 milhões, isso deu uma reviravolta na coisa, estão fazendo isso e nesse intervalo nós acabamos tendo que aceitar a solução intermediária, que não foi má, foi até bem razoável, mas não passamos pelo processo de privatização que é aquilo que eu gostaria de passar, que acho que seria muito mais rentável. Repórter – O presidente Fernando Henrique está chegando hoje a São Paulo, o senhor vai ter algum encontro com ele? Covas – Encontro com o presidente quem determina é ele. Repórter – O senhor vai ter encontro com ele ou não? Covas – Que eu saiba não. Repórter – Não tem nada agendado, então? Covas – Não, ele vem aqui amanhã para a abertura da Couro Modas no Anhembi, da qual eu estarei também. Eu não sei se ele terá tempo para conversas ou outras coisas. Repórter – O ex-prefeito Paulo Maluf vai entrar na Justiça contra o Governo do Estado, entre outros, por causa daquela questão da paternidade... Covas – Contra o Governo do Estado? Quem é o pai? É o Governo do Estado? Só falta essa agora. Vai ser difícil fazer exame no Governo Estadual. Esse Maluf não existe não? É engraçado que ele vira notícia, isso é que me surpreende, a importância que se dá ao Maluf nesse país. No mínimo esse cara já deveria estar aposentado. Ele vai entrar na Justiça então? Repórter – Pelo menos anunciou. Covas – Ele anunciou que iria entrar na Justiça umas seis vezes. Outro dia ele anunciou que iria entrar na Justiça em cima de mim. No dia seguinte o advogado disse que não. Agora, eu entrei na Justiça contra ele. Não nesse caso, que eu não tenho nada com isso, mas com relação a uma afirmação que ele fez na campanha, eu entrei. É isso aí. CDHU Covas - Vocês são muito fracos como jornalistas, eu que tenho de contar a vocês uma novidade. Estou mudando a direção da CDHU. Repórter – A partir de já? Covas – A partir de já. Repórter – E quem vai assumir? Covas – Quem assume eu não sei ainda, mas eu recebi hoje uma carta de pedido de demissão do presidente e do vice-presidente. Ele me pediu demissão para me deixar a vontade em função dessas circunstâncias todas. Eu quero até dizer que foi a contragosto que atendi esse pedido, porque acho que o se tem feito contra o Goro Hama é uma coisa impensável, impensável. Chegam a publicar, diariamente, que tem 184 processos no Tribunal de Contas, que não foram aprovados. Todos esses processos são projetos cuja concorrência foi feita no governo anterior, é coisa impressionante. Repórter – O senhor acha então que foi uma perseguição do Tribunal de Contas contra ele? Covas – Não sei se foi uma perseguição do TC, sei que o Tribunal vetou esses 184 projetos. O que é perseguição é publicar que ele que fez isso. Repórter – Mas muito desses projetos foram renovados durante a gestão dele? Covas – Foram renovados não, foram assinados contratos. Grande parte desses projetos foram assinados por ele, mas todas as concorrências foram feitas na gestão anterior e é na concorrência que se faz safadeza. Agora, alguns contratos foram assinados no governo anterior. Sabe o que se trata? Se trata do que se chama Plano Empresário, que é um processo do qual você põe em concorrência da seguinte forma: “eu quero construir na Zona Norte de São Paulo mil apartamentos, então eu quero propostas. Quem me der tem de compreender o terreno, esgoto, água, iluminação, pavimentação, compra do terreno etc. Quem der o menor preço, leva. Repórter – Mas então isso está errado? Porque foi a Justiça que ... Covas – Não, não foi a Justiça não. Isso é outra coisa, é uma questão da Codesp, é uma discussão sobre seguro. Repórter – Por que o senhor está aceitando a demissão se acha que é injusta ... Covas – Porque eu acho que, de alguma maneira, evito que isso aconteça, aceitando. Acho que, na medida em que eu aceito, eu o poupo disso. Porque é incrível o que se marca isso. Todo mundo que não entende isso dá palpite. Até o Maluf dá palpite sobre isso. Repórter – O pedido de demissão foi agora durante a reunião? Covas – Não foi antes da reunião. Repórter – Ele já tinha pedido demissão antes. Porque não é a primeira vez que ele é objeto de .. Covas – Não, demissão nunca tinha pedido não. Porque afinal, em todas as oportunidades eu muito claramente coloquei qual era meu ponto de vista, como agora estou colocando. Repórter – Seria um ônus numa futura campanha política à prefeitura de São Paulo ter o Goro Hama à frente da CDHU, ele poderia ser alvo de ataques? Covas – Para um governador canalha pode ser, mas para um governador sério não. Para mim não. Ele está pedindo demissão, eu estou repetindo dele as coisas que repeti a vida inteira, não tenho medo dessas coisas. Tenho medo quando falam nas minhas costas, porque de frente não tem nenhum problema. De frente enfrento qualquer discussão, até gosto. Repórter – E que assume interinamente? Covas – Ninguém assumiu. Isso aconteceu hoje e ele está respondendo interinamente. Ele pediu demissão, mas não precisa de sair correndo. Repórter – O senhor não tem nenhum no

01/10/2000


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