Entrevista coletiva do governador Mário Covas após reunião do PED no Palácio dos Bandeirantes
Parte Única
Pergunta – Quantos acordos o senhor vai assinar na Câmara em São Bernardo? Covas – Eu nem sei qual é o número. São cerca de 18. São termos de compromisso envolvendo responsabilidades seja dos municípios do ABC, seja do Estado, sejam comuns em várias áreas como Recursos Hídricos, Habitação, de Saneamento Básico, enfim, vários setores. São solicitações formalizadas pelo Fórum, através dos prefeitos municipais. Pergunta – A criação dessas Câmaras Setoriais. Os resultados têm sido positivos em todo o Estado de São Paulo, governador? Covas – Nem todo o Estado de São Paulo tem Câmara Setoriais. Tem no ABC que foi muito inteligente na articulação do seu mecanismo para mudar totalmente a relação capital/trabalho existente lá. Lá houve uma negociação da qual participam, através do Fórum, não apenas lideranças políticas mas, mais do que isso, lideranças sindicais, empresariais, todas as chamadas forças vivas da região. E este núcleo passou a criar um pólo de nova forma do crescimento sustentado do ABC. Me pareceu muito inteligente e, sobretudo, muito significativo que uma região, por sinal no mais das vezes até um pouco conflituosa nos seus interesses, na suas disputas tenha se articulado tão bem e tenha tomado consciência com muita rapidez de que precisava reestudar a situação e que, portanto, ao invés de ficar reclamando das coisas achou melhor procurar alternativas e soluções e está achando. Pergunta – Só perguntei sobre o Estado todo porque na região de Americana falou-se também, em certa época, na criação de uma Câmara Setorial que ali seria especificamente para o setor têxtil. Covas – Isso existe mas é ligada à Secretaria de Emprego. Você tem várias câmaras setoriais. A têxtil, a dos calçados, uma de cana do setor sucroalcooleiro, uma câmara do Porto... São sete ou oito câmaras que se reúnem mensalmente e, com a participação dos trabalhadores, dos empresários e do Governo busca soluções para o setor. Discutem soluções para o setor. Eu acho que foi a partir disso que surgiu aquela solução para o automóvel, por exemplo. Portanto, isso já existe mas tem outro objetivo. As câmaras do têxtil funcionam também. Americana é especialmente interessada nisso. Mas, o Fórum do ABC é uma coisa um pouco diferente. Ele pensa a região do ponto de vista de uma nova forma de desenvolvimento sustentado que até agora num crescimento industrial muito forte e que evidentemente hoje não pode mais se basear isso. Primeiro, porque há um deslocamento dessas indústrias não propriamente para os outros Estados mas até para o Interior do Estado. Em segundo lugar, porque a região vai ter que pensar em novas modalidades de investimentos. É muito importante, por exemplo, um pólo tecnológico porque aponta para outros pressupostos. Isso implica em infra-estrutura educacional e uma série de coisas que caminham em paralelo com isso. Uma experiência não exatamente igual a essa já se fez em vários lugares do Estado. Por exemplo, em Tupã. Foi feito um Fórum, sobre as expectativas de crescimento da Região. Agora, no dia 19 vai ser feito no Vale do Ribeira. Pergunta – Governador, a Nossa Caixa está preparada para concorrer com a privatização do Banespa? Com o próprio Banespa, com os bancos privados? Covas – A Caixa é o sétimo banco do Brasil. Funciona completamente azeitada, até porque não sai pedido aqui do Palácio do Governo para emprestar dinheiro para quem quer que seja. Isso permite que a administração opere rigorosamente dentro dos padrões de eficiência , etc. É o sétimo banco brasileiro, não o sétimo banco que trabalha aqui no Estado de São Paulo. Pergunta – E a abertura de capital da Nossa Caixa, a presença de investidores, como está esse processo? Covas – Não é para já não mas nós temos pensado num limite de até 49%, vender, pulverizar ações entre tomadores. A idéia não é vender para um sócio privilegiado como se pensou em certo instante para a Sabesp. É pulverizar entre a população mesmo o número de ações que mantenha controle com o Estado mas que, por outro lado, não há nenhuma necessidade de que o Estado mantenha mais do que 51% da ações. Ele ( o Estado) fica majoritário até com menos do que isso se a pulverização for bem feita. Pergunta – Mas, há um debate em relação ao Banespa a presença de capital estrangeiro. O Edital prevê a entrada de capital estrangeiro. O senhor tem alguma restrição ao capital estrangeiro? Covas – Em relação ao Banespa? Pergunta – É. Covas – Não. Só tenho restrição ao fato de que o Banespa foi tomado de São Paulo. Fora isso, não há restrição nenhuma. Não sou dono dele. Quem vende é que sabe o que vai fazer com ele. Pergunta – No caso da Nossa Caixa. Esses 49% podem ser vendidos para o capital estrangeiro, ou o senhor tem alguma restrição? Covas – Acabei de dizer que no caso de vender nos limitamos a vender uma parte do capital que nos mantenha como majoritários e pulverizar o restante. Não vamos vender para empresa ou um sócio apenas. Vamos colocar em Bolsa de Valores para o povo adquirir. Pergunta – Mas, mesmo sendo pulverizadas, pode ter capital estrangeiro em parte dessas ações? Covas – É muito difícil que o capital estrangeiro venha querer ações pulverizadas. O capital estrangeiro vem para obter o controle ou, pelo menos para obter uma parcela substancial do contrato condição em que ele entra como sócio privilegiado, tem lugar na direção, você tem certos compromissos com a Empresa, etc. Isso aconteceu em Minas e, depois, o governador atual modificou. Pergunta – Quer dizer que o modelo do senhor é pulverização em relação à Nossa Caixa. Em relação ao Banespa, o senhor não quer se pronunciar porque tem um debate sobre se vai participar ou não o capital estrangeiro. Covas – Não adianta eu dar palpite nisso porque não me deixaram dar palpite nem quando eu assumi por que vou dar agora? Para melhorar a posição de quem está a favor do capital estrangeiro ou de quem está contra? Eu não tenho nada com isso. Façam o que quiserem e assumam a responsabilidade do que fizerem. A história do Banespa é uma história triste que no final pesava nas minhas costas. Pergunta – Mas, o Governo do Estado já vendeu toda a participação que tinha. Como está isso? Covas – Meio na marra mas vendeu. Pergunta – Ficou sem nenhuma ação? Covas – Sem nenhuma ação. Só está dando aos pequenos poupadores e aos funcionários, como manda a lei, aqueles 7,5% adicionais. Nós tínhamos 65% das ações ordinárias, o que representa 37,5% do capital. Nós vendemos 30% e os 7,5% adicionais nós somos obrigados a oferecer prioritariamente aos funcionários, aos pequenos poupadores, pequenos agricultores. De forma que está sendo oferecido isso pelo mesmo preço que o Governo Federal pagou. Eu aconselho a comprar. Vão melhorar muito as ações do Banespa. Agora o Governo Federal tirou todas as dívidas. Para nós não tirou nenhuma, agora, para vender, estão tirando. Quem sabe quem comprar vai ter essa vantagem. Não tem mais dívida. Conseguiram até acertar a dívida com a prefeitura, o que me surpreendeu porque levaram cinco anos com o banco na mão para sanear e não tinham conseguido acertar nem as contas com a prefeitura. Agora, se quiserem vender e colocar capital estrangeiro é problema deles. Não tenho nenhum interesse em me pronunciar sobre isso, não tenho nenhuma responsabilidade nisso. Se o problema fosse geral, a gente poderia dar palpite, mas sendo só no Banespa não vou dar palpite até porque, de repente o01/28/2000
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