Espadas e armaduras seculares despertam a atenção do visitante
Pela primeira vez, o público brasileiro poderá apreciar duas espadas nunca expostas na América Latina: uma confeccionada por Bungo-no Kuni Yukihira no século 13, obra considerada “Importante Propriedade Cultural” do Japão. E outra feita por Masatsume, no século 12, considerada “Tesouro Nacional do Japão”.
Além disso, duas armaduras completas e selas de montaria são o destaque do terceiro módulo dos samurais, que mostra as transformações e os aperfeiçoamentos das vestimentas dos guerreiros do Japão feudal.
O último núcleo (artefatos de laca) traz uma coleção de pequenos objetos chamados inrô, usados para carregar remédios, acompanhados de netsuke (pequenos ornamentos colocados na corda do inrô, que lhe serviam de contrapeso). A técnica makie, que utiliza pó de ouro no processo de envernizamento, está presente em diversos objetos criados para o enxoval de noivas da elite social, como móveis para toaletes femininos, objetos de papelaria e artigos para incenso.
Outra peça interessante é um tabuleiro de nô – jogo de estratégia de uso exclusivo das classes sociais mais altas.
Erica Naomy, estudante de Edificações da Fatec, não perdeu tempo e visitou a exposição logo no primeiro dia. “Estou observando um pouco da cultura de meus antepassados. Ao visitar essa mostra e conversar com os monitores, descobri o significado das peças que estão com minha família há muitos anos”, afirmou.
André Bueno, engenheiro agrônomo, também foi ao evento no primeiro dia e gostou muito das espadas e das armaduras. “Vou trazer minha mulher, ela ficará encantada com os quimonos expostos aqui”.
As comemorações do Centenário da Imigração Japonesa na Pinacoteca não param por aí. “Em maio (a partir do dia 31), abriremos a exposição Nipo-Brasileiros no Acervo da Pinacoteca, que mostrará as obras dos descendentes de imigrantes japoneses em terras brasileiras”, antecipa Araújo.
Séculos 8 e 19 - O período Edo (1603-1867) foi dominado pela família guerreira dos tokugawas, que escolheu a cidade de Edo (mais tarde Tóquio) como capital e impôs seu domínio ao país por mais de 250 anos. No início da década de 1630, os cristãos foram perseguidos e expulsos, e o Japão cerrou as portas a todos os estrangeiros.
A mais importante manifestação artística do período foi o estilo ukiyo-e, cujo nome tem origem num provérbio japonês do século 18 (o mundo inspira desgosto). Criado por Iwasa Matabei no final do século 17 e imortalizado sobretudo por meio da estampa, o ukiyo-e tornou-se muito popular no Ocidente e exerceu profunda influência sobre os impressionistas franceses, como Toulouse-Lautrec.
Estudos recentes indicam que nessa era, considerada pré-moderna, foram realizados experimentos em diversas áreas – política, econômica e cultural (religião, pensamento e artes).
Os samurais existiram entre os séculos 8 e 19, ocupando o mais alto status social durante a ditadura militar do xogunato. Inicialmente, eram apenas coletores de impostos e servidores civis do império. Posteriormente, por volta do século 10, foi oficializado o termo samurai, que ganhou novas funções, como a militar. Nessa época, qualquer cidadão podia tornar-se um samurai, bastando para isso adestrar-se no kobudo (artes marciais-samurais), manter uma reputação e ser habilidoso o suficiente para ser contratado por um senhor feudal. Assim foi até o xogunato dos Tokugawa, iniciado em 1603, quando os samurais se tornaram uma casta e o termo começou a ser passado de pai para filho.
Miyamoto Musashi foi um lendário samurai de origem camponesa. Participou da batalha de Sekigahara e iniciou um longo caminho de aperfeiçoamento. Ele derrotou os Yoshioka em Kyoto e venceu Sasaki Kojiro, outro grande samurai.
No final da era Tokugawa, os samurais eram burocratas aristocráticos ao serviço dos daimyo, com as suas espadas servindo para fins cerimoniais. Com as reformas da era Meiji, final do século 19, a casta foi abolida e criou-se um exército nacional ao estilo ocidental. O rígido código samurai, chamado bushido, ainda sobrevive. Seu legado continua até os nossos dias, influenciando não apenas a sociedade japonesa, mas também o Ocidente.
Conheça os termos
Daimyo – Senhores feudais mais poderosos do período entre os séculos 12 e 19. Literalmente, em japonês, o termo significa grande nome.
Furisode – Quimono de mangas longas.
Gueixas – Mulheres que estudam a tradição milenar da arte da sedução, canto e dança, e se caracterizam distintamente pelos trajes e maquiagem tradicionais. No Japão, a condição de gueixa é cultural, simbólica, repleta de status, delicadeza e tradição.
Jinbaori – Colete usado pelos guerreiros (de alta-hierarquia) por cima da armadura
Katabira (quimono sem forro, confeccionado de cânhamo).
Katana – Espada.
Kosode – Quimono de mangas pequenas.
Samurai – Servia como soldado da aristocracia entre 1100 e 1867. Com a restauração meiji já em declínio, a casta chegou ao fim. Suas principais características eram a grande disciplina, lealdade e habilidade com a katana.
Teatro nô – Combina elementos de dança, drama, música, poesia e máscaras em uma apresentação no palco. O teatro nô é apresentado em todo o Japão por artistas profissionais (em sua maioria homens) que receberam os ensinamentos transmitidos por seus antepassados de geração em geração. Incorporam o papel e o desempenham como se fossem os verdadeiros personagens.
Teatro kabuki – Forma de teatro conhecida pela estilização do drama e pela elaborada maquiagem usada pelos atores. O significado individual de cada ideograma é canto (ka), dança (bu) e habilidade (ki). Por isso a palavra kabuki é às vezes traduzida como “a arte de cantar e dançar”. Sua origem remonta ao início do século 17, quando se parodiavam temas religiosos, com danças de ousada sensualidade. Em 1629 esse tipo de teatro foi proibido pelo governo. O espetáculo passou a ser encenado, então, por rapazes que se vestiam de mulher.
Xogum – Governantes durante a maior parte do tempo, de 1192 até a era Meiji. Acumulava os poderes de governante e líder militar.
SERVIÇO
O Florescer das Cores: A Arte do Período Edo
Pinacoteca do Estado
Praça da Luz, 2 – Tel. (11) 3324-1000
De terça-feira a domingo, das 10 às 18 horas
Ingressos: R$ 4 e R$ 2 (meia-entrada)
Grátis aos sábados
Maria Lúcia Zanelli
Da Agência Imprensa Oficial
04/24/2008
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