Especial do D.O.: Universidades públicas do Estado buscam integração com a comunidade



Coralusp, Projeto Coral da Unesp e Coral da Unicamp - Zíper na Boca são alguns dos destaques do canto coral das universidades

Espaço normalmente associado a estudo e pesquisa, a universidade proporciona também momentos de descontração. E a música contribui para isso - exemplo é o canto coral. Os objetivos desse tipo de atividade, porém, transcendem a mera intenção de lazer. Na USP, Unesp e Unicamp, são vários os grupos de corais. Vão dos recém-criados aos com longa trajetória artística, dos direcionados a crianças e jovens aos específicos para graduandos e profissionais de música, dos que apresentam repertórios mais simples aos que executam concertos como a Missa da Coroação, de Mozart. Em todos, por mais que as propostas sejam variadas, há um ponto em comum: desenvolver, por meio da música, a expressão artística e a cultura, promovendo a integração da comunidade universitária consigo mesma e com o mundo ao redor.

Coros da Unesp valorizam a música local

Soltar a voz em tom melódico. Essência do ato de cantar, esse processo se dá de dentro para fora do corpo. E é nessa mesma direção, do interior para o exterior, numa atividade artístico-cultural que busca um diálogo com o mundo de fora, que se desenvolve o Projeto Coral da Unesp, ligado à Pró-Reitoria de Extensão Universitária. A proposta é integrar não apenas alunos, professores e funcionários, mas a universidade com a comunidade externa. Principal iniciativa em termos de canto-coral da Unesp, a ação abrange 15 grupos, que reúnem em média 40 coralistas cada. Esses coros estão vinculados a 14 câmpus (dos 23 da universidade), entre os quais os de Araçatuba, Franca e Rio Claro. Os regentes são profissionais contratados por concurso público. Cada um dirige duas equipes, viajando semanalmente de um câmpus a outro. As exceções são os corais da Reitoria e do Instituto de Artes (IA) - ambos na capital - e o do câmpus de São Vicente, dirigidos por alunos-bolsistas.

Alguns desses coros - como os de Araraquara, Bauru e Botucatu - são compostos principalmente por universitários. Outros reúnem, em sua maioria, pessoas da comunidade, caso do grupo de Ilha Solteira. É um segmento bastante abrangente. "Nos encontros anuais que promovemos, há desde jovens de 16 até pessoas de 85 anos", observa Sandra Mendes Sampaio, supervisora artística do projeto e regente nos câmpus de São José dos Campos e Guaratinguetá. Os mais jovens, no caso, são alunos das Escolas Técnicas Estaduais (ETEs), e os participantes do outro extremo etário pertencem à Universidade da Terceira Idade, ambas da Unesp.Encontros anuais - Os grupos estão integrados às suas comunidades. Apresentam-se em datas tradicionais, como nos aniversários das cidades e outros eventos locais. "Cumprem o papel de desenvolver a expressão artística e integrar universidade e comunidade", explica Sandra. Como estão distribuídos pelo Estado - do mesmo modo que a Unesp -, uma de suas características é a valorização da cultura local.

Em 2003, por exemplo, o coral da Faculdade de Odontologia, câmpus de São José dos Campos, incorporou ao seu repertório a composição Congada Passou/Catira pra São Gonçalo. Junção de duas canções típicas do folclore do Vale do Paraíba, com arranjo próprio para a linguagem canto-coral, a música passou a fazer parte das apresentações do grupo pelas cidades da região. "Os coralistas adoram, se identificam, e o público também, porque vêem sua cultura expressa na música", explica a regente do coro.

Ainda em relação aos repertórios dos grupos, outra característica é que não são fechados. "A preferência, nos últimos anos, tem sido a música brasileira, desde a erudita até a folclórica", ressalta a supervisora. Os ensaios ocorrem em média quatro horas por semana. Uma vez ao ano há o encontro de todos os grupos. Foi assim em 1998 (Jaboticabal), 1999 (Presidente Prudente), 2000 (Araraquara), 2001 (São José do Rio Preto), 2002 (Bauru) e 2003 (Guaratinguetá). Os testes para os coros constituídos basicamente por alunos ocorrem no início do ano letivo. Nos formados por integrantes da comunidade, o ingresso se dá em qualquer época. Os interessados devem se informar nas vice-diretorias das unidades ou dos câmpus.

O Projeto Coral da Unesp foi idealizado e iniciado no final da década de 70 pelo maestro Samuel Kerr, docente do IA, e teve grande repercussão nos anos posteriores, inclusive com a realização de encontros anuais. Os grupos eram conduzidos por alunos-bolsistas dos cursos de bacharelado em Música da universidade. Interrompido a partir de 1988, a iniciativa ressurgiu anos depois num novo modelo, com regentes profissionais. Além dos coros mencionados, a universidade tem outras expressões em termos de canto-coral. Exemplos são o Coro de Câmara da Unesp (vinculado ao curso de música do IA) e o CantorIA (grupo infanto-juvenil formado há 15 anos).

Zíper na Boca é o mais tradicional da Unicamp

Em 2005, ao completar 20 anos, o grupo montou o musical Os Saltimbancos, de Chico Buarque de Hollanda. No ano anterior, subiu aos palcos para apresentar a ópera Lo Schiavo, de Carlos Gomes, em parceria com a Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas, o Coral Puccamp e renomados solistas. Esses são alguns dos trabalhos de destaque realizados pelo Coral da Unicamp - Zíper na Boca, que tem como uma de suas características justamente a abertura a novas propostas artísticas, como a montagem desses espetáculos cênico-musicais.

Mais tradicional grupo de canto-coral da Unicamp, o Zíper na Boca, vinculado ao Núcleo de Integração e Difusão Cultural (Nidic) da universidade, ganhou esse nome em 1986. O surgimento ocorreu um ano antes, com a proposta de reiniciar as atividades do Coral Unicamp, paralisadas desde 1984. A partir de então, participou de encontros de coros no País e no exterior, realizando sua estréia internacional em 1997, na Argentina.

A maioria de seus 60 integrantes (professores, ex-alunos e funcionários aposentados da Unicamp) é composta por jovens de 18 a 30 anos. O grupo, sob a regência de Vívian Nogueira, tem repertório diversificado. Na sua lista de trabalhos, constam também peças coral-sinfônicas, como a Missa em Sol Maior, de Franz Schubert. As inscrições para ingresso no coro ocorrem no início de cada semestre. Informações, pelo e-mail [email protected].

O Departamento de Música, do Instituto de Artes (IA) da universidade, tem também seus grupos. Um deles, com 50 integrantes, é o Madrigal do Curso de Música, formado por alunos de regência e demais interessados do curso de Música. No seu repertório constam obras eruditas, tanto sacras como seculares, do Renascimento ao período contemporâneo. Outro grupo é o Coro do Curso de Música, com 110 componentes. Dele fazem parte alunos do curso de Música e de outras unidades da Unicamp, mas com experiência musical. No seu repertório estão obras sinfônicas, desde o período barroco, ou a cappella (somente vozes), desde o século 19. As inscrições para participar de ambos os coros ocorrem no período regular de matrícula dos cursos de graduação.

Um terceiro é a Camerata Anima Antiqua. Com 14 integrantes, é especializada na execução de música renascentista e no estudo das línguas e cultura desse período. Trata-se de um coro profissional, limitado a cantores convidados. A regência desse e dos dois grupos anteriores cabe ao maestro Carlos Fiorini.Educação musical - Em atividade desde 1999, o Coral FCM - Unicamp, vinculado à Faculdade de Ciências Médicas (FCM), venceu, em 2001, o 1o Festival de Artes do Funcionário do Serviço Público - modalidade coro, promovido pela Secretaria de Estado da Cultura. Com regência de Carlos Rosa, tem composições musicais variadas e está aberto a pessoas de fora da universidade. O telefone para informações é o (19) 3788-8565. Criado há cerca de um ano, o Coral Oficina do Canto realiza seus ensaios na Diretoria de Administração Geral (DGA). Sob a regência de Rodrigo Falson, está aberto a interessados em geral. Informações, pelo e-mail [email protected].

Afora esses grupos, outro destaque é o Projeto Coral-Escola Canarinhos da Terra - Unicamp. Trata-se de parceria entre o IA da Unicamp e a ONG Instituto Cultural Canarinhos da Terra. O financiamento, desde 2005, fica por conta da Petrobras. Criado em 2002, seis anos após a fundação do coro Canarinhos da Terra, o projeto, com cerca de 200 alunos, tem como um de seus objetivos promover a educação musical. Destina-se a crianças e jovens de 6 a 18 anos, muitos dos quais pertencentes a famílias carentes. No caso desse segmento, a finalidade é integrá-los socialmente e minimizar a convivência com fatores de risco. Para alcançar seus objetivos, desenvolveu a Escola de Formação Musical em Canto Coral. Os alunos participam dos ensaios e apresentações dos coros (infantil, juvenil e avançado) e recebem aulas teóricas e práticas da área musical. A iniciativa é administrada por voluntários, incluindo o diretor-presidente Luiz Pedro Simoni. A parte musical fica a cargo de sete profissionais. Interessados em participar da iniciativa devem procurar o IA às sextas-feiras, das 18 às 21h30; aos sábados, das 9 às 12 horas.

Coralusp tem quatro turnês internacionais no currículo

Com cerca de 600 integrantes (afora outros 250 em suas seis oficinas), o Coralusp é o maior e mais conhecido grupo de canto coral da USP, e um dos mais importantes do País. Em seu currículo, há quatro extensas turnês pelo exterior (EUA, Europa, África e Argentina) e cinco premiações da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), como melhor coral do Estado de São Paulo. Inclui também um LP e dois CDs gravados, além de apresentações em festivais, teatros, parques e programas de rádio e TV. Fundado em 1967 por Benito Juarez e José Luiz Visconti, o coro reunia na época estudantes das escolas Politécnica (Poli) e de Enfermagem. Atualmente, acolhe alunos, professores, funcionários e pessoas sem vínculo com a universidade em seus 13 grupos e oficinas preparatórias (cada um dos quais com regente próprio).

Além das atividades comuns a qualquer coro, como ensaios e apresentações, uma das preocupações do Coralusp é formar cantores. Por isso, os integrantes recebem preparação musical básica, que inclui orientação em termos de técnica vocal e percepção musical. Direcionadas para iniciantes, as oficinas têm caráter estritamente didático, não compreendem participação em concertos.

Sacra e profana - Antes com nomes específicos (grupos Beijo, Tainá, entre outros), os coros hoje não têm essa distinção, com exceção dos que ensaiam fora do câmpus da capital, que levam o nome da unidade - por exemplo, Coralusp Escola de Enfermagem e Estação Ciência. O repertório engloba a música erudita e popular, renascentista e contemporânea, sacra e profana. Além das atividades próprias de cada grupo, o Coralusp se reúne, normalmente, uma vez por ano sob a regência do maestro Benito Juarez - à sua frente desde que foi fundado - para a execução de obras corais sinfônicas. Nos seus quase 40 anos, o coro protagonizou, por exemplo, a Nona Sinfonia, de Beethoven, e Mandu-Çarará, de Villa-Lobos, bem como montagens cênicas de O Guarani e A Noite do Castelo, de Carlos Gomes.

As inscrições para participar do coro ocorrem duas vezes ao ano. A partir de 7 de agosto, estarão abertas para novos integrantes, com ou sem experiência em canto-coral. Interessados devem comparecer pessoalmente ao Prédio da Antiga Reitoria, 4o andar, na Cidade Universitária, para preencher ficha de inscrição, escolher o grupo que mais lhes interessa e agendar teste vocal. Informações, pelo telefone (11) 3091-3930.

Outros grupos

A USP tem ainda outros coros em seus câmpus do interior e, até mesmo, nas várias unidades de ensino na capital. Em Piracicaba, o Coral Luiz de Queiroz, com cerca de 90 integrantes - alunos, funcionário e pessoas de fora da universidade. Seu repertório abrange música clássica, MPB, canções folclóricas, entre outras. Além dos ensaios e apresentações corais, promove alguns tipos de oficinas e é anfitrião do encontro natalino de corais Luzes e Vozes, que neste ano estará em sua 11a edição. Informações, pelo e-mail [email protected].

Vinculado à Faculdade de Medicina da USP, na capital, encontra-se o Grupo Acordavocal, com 45 integrantes e repertório eclético. Uma das propostas é oferecer outro tipo de atividade para as pessoas da área da Saúde, como forma de amenizar o estresse. Por meio de oficinas de canto e apresentações corais, o grupo tem atuação direcionada a pacientes do HC e a alunos da Universidade Aberta da Terceira Idade. O objetivo é promover a integração social e conscientização sobre os cuidados com a saúde. Aberto a interessados em geral, realiza inscrições no início do ano letivo. Informações, pelo e-mail [email protected].

Paulo Henriq

07/25/2006


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