Especialistas defendem mudança na Lei de Biossegurança para autorizar comércio de plantas usadas em medicamentos
Quatro professores e pesquisadores presentes em audiência pública conjunta das Comissões de Agricultura e Reforma Agrária do Senado e de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara, nesta terça-feira (8), concordaram com a aprovação do patenteamento e da comercialização de plantas destinadas à produção de substâncias para uso terapêutico ou industrial, como hormônios e vacinas para pessoas ou animais.
Tal iniciativa consta de projeto de lei da Câmara (PLC 268/07) apresentado originalmente pela senadora Kátia Abreu (DEM-TO) quando ainda era deputada federal. Arquivada por não ter sido votada a tempo, a proposta foi reapresentada pelo deputado Eduardo Sciarra (DEM-PR), tendo sido rejeitada, em 2007, pela Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara. Agora, está em análise na Comissão de Agricultura daquela Casa.
É importante destacar que o PLC 268/07 não altera dispositivo da Lei de Biossegurança (Lei nº 11.105/05) que proíbe a comercialização de sementes que contenham tecnologias genéticas de restrição de uso de variedade - conhecidas como sementes terminator, ou seja, sementes de plantas que não germinam.
Durante o debate, o senador Sibá Machado (PT-AC) pediu ao Congresso que também ouça representantes de Organizações Não-Governamentais (ONGs) contrários à manipulação de sementes modificadas geneticamente, entre elas a Via Campesina. O parlamentar vê as sementes terminator como uma ameaça aos pequenos agricultores, que não têm dinheiro para comprá-las a cada plantio.
Diante desse pleito, o presidente da Comissão de Agricultura do Senado, Neuto de Conto (PMDB-SC), prometeu colocar em votação, na próxima reunião, requerimento de Sibá solicitando que sejam ouvidas, em audiência pública, entidades que discordam dessas pesquisas genéticas.
Embora tenha reiterado que o projeto não abre a possibilidade de venda de sementes terminator, Kátia Abreu disse não entender o motivo de elas serem tão combatidas por ONGs de defesa do meio ambiente. Segundo argumentou, tais plantas teriam a garantia tecnológica de que não iriam afetar as demais espécies a sua volta, pois, ou não têm sementes, ou suas sementes não germinam.
- É inaceitável não permitir a patente ou a comercialização de sementes de milho modificadas geneticamente para que produzam o hormônio do crescimento para pessoas - protestou a senadora.
Já o senador Gilberto Goellner (DEM-MT) observou que soja, milho e outros alimentos existentes no mundo foram modificados geneticamente. E assinalou que as mudanças genéticas obtidas pelos cientistas da Embrapa permitiram que a soja fosse adaptada a ponto de ser plantada em quase todo o Brasil, e não apenas no Rio Grande do Sul, como ocorria há 30 anos.
Os parlamentares ouviram em audiência pública Elíbio Leopoldo Rech Filho, engenheiro-agrônomo da Embrapa e doutor em genética molecular; Robson Pitele, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp); Francisco José Lima Aragão, membro da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio); e Jesus Aparecido Ferro, diretor-fundador da empresa Alellyx.
08/04/2008
Agência Senado
Artigos Relacionados
Especialistas defendem mudança do modelo agrícola para reduzir o uso de agrotóxicos
Especialistas defendem maior fiscalização de medicamentos
Lei de Biossegurança proíbe uso de tecnologia para produzir plantas estéreis
Anvisa define regras para inspeção de plantas de indústrias de medicamentos
Especialistas discutem flexibilização da Lei de Biossegurança
CAS vai discutir com especialistas projeto sobre biossegurança