Especialistas discutem potencial da clonagem



Os especialistas convidados como debatedores da manhã do primeiro dia do Seminário sobre Clonagem Humana falaram sobre os potenciais usos das técnicas de clonagem e sobre a importância de que toda a sociedade, principalmente os diretamente beneficiados, seja envolvida na discussão sobre os limites que a ciência deve ter.

A jornalista especializada em ciência Luisa Massarani, do Centro de Estudos do Museu da Vida, da Fundação Oswaldo Cruz, destacou a necessidade de se integrar a população na discussão acerca do uso dos avanços da ciência. Ela disse que, em seu dia-a- dia, enfrenta as dificuldades de fazer com que os leigos compreendam questões complexas.

Na opinião da jornalista, apesar de abordar a questão de maneira superficial, simplista e fictícia, a novela O Clone teve o importante papel de chamar a atenção da sociedade para o tema, a fim de que esta busque e tenha acesso a informações consistentes, que traduzam a produção científica de forma palatável.

Ésper Cavalheiro, presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Comissão Nacional Técnica de Biossegurança (CNTBio), relatou que, após o surgimento da ovelha Dolly, a CNTBio publicou a Instrução Normativa nº 8, que quis ser a mais ampla possível, com a intenção de proibir e dificultar a clonagem humana. Porém, disse, a norma acabou sendo muito restritiva, limitando as pesquisas com células embrionárias.

- A norma está sendo rediscutida na CNTBio, mas a decisão acerca do uso ou não da célula embrionária não cabe à organização, mas à sociedade. A discussão com cientistas da área de agropecuária, portadores de síndromes genéticas e seus familiares, por exemplo, é fundamental. Afinal, milhões de brasileiros podem se beneficiar com esse tipo de conhecimento e sabemos que a pesquisa científica e tecnológica tem o apoio da população - declarou.

O pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Rodolfo Rumpf, um dos responsáveis pela clonagem que resultou na vaca Vitória e que pôs o país em posição de destaque nessa linha de pesquisa, enfocou a clonagem do ponto de vista dos benefícios que a técnica pode trazer para o incremento e a melhoria de qualidade da produção pecuária.

- A possibilidade da clonagem de melhorar a produção agropecuária e garantir resultados mais eficientes, melhor adaptando as espécies aos trópicos, é muito interessante para quem trabalha com melhoramento animal. Temos que nos esforçar para identificar os genes com potencial de uso para a produção de animais mais resistentes e menos susceptíveis contra a aftosa, por exemplo - disse.

Para o pesquisador, o Brasil, que é detentor da maior biodiversidade do planeta, tem dois desafios pela frente: formar um banco genético e ter a competência para regenerá-lo. O pesquisador lembrou que se dizia que os genes seriam a moeda forte do futuro, mas, na sua opinião, esse futuro já chegou.



11/06/2002

Agência Senado


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