Estudiosos veem na exumação de Jango a chance para esclarecer um episódio obscuro de nossa história



Em 2006, o ex-agente do serviço de inteligência do governo uruguaio Mario Neira Barreiro revelou que havia espionado o ex-presidente João Goulart em seu exílio no Uruguai e que tinha participado de um complô para trocar os remédios de Jango por uma substância mortal.  O relato foi passado a João Vicente Goulart, filho do ex-presidente. Um ano depois, a família de João Goulart solicitou ao Ministério Público Federal (MPF) o pedido de novas investigações.

É para esclarecer essa controvérsia sobre a morte de Jango que peritos estrangeiros e da Polícia Federal vão examinar os restos mortais do ex-presidente, que estava enterrado em São Borja, na fronteira oeste do Rio Grande do Sul. Jango morreu em 6 de dezembro de 1976 em sua fazenda em Mercedes, na Argentina. Ele sofria de problemas cardíacos e teria tido um infarto. No entanto, a causa nunca foi confirmada e nenhuma autópsia foi realizada na época.

“As circunstâncias que ele foi enterrado são muito complexas e cheias de mistérios. Na época, a ordem dos militares foi de não abrir o caixão e enterrar rapidamente. Eu coloco sob suspeita esse comportamento da ditadura de não ter feito exame para diagnosticar o motivo da morte”, diz o cineasta Silvio Tendler que lançou o filme “Jango”, ainda ditadura militar, em 1984.

Para Tendler, todo esse processo de descoberta da verdade é um marco na história do País. Segundo ele, muitas coisas ainda são obscuras e precisam de uma explicação.

Em suas pesquisas para a elaboração do documentário, o cineasta entrevistou a família e funcionários de Jango no período em que ele esteve exilado. Segundo ele, o ex-presidente estava sendo ameaçado de morte diariamente.

 “Um dos funcionários de Jango da fazenda em Mercedes, na Argentina me relatou que, cada vez que Jango dava partida na ignição do carro para sair, todos na casa saiam de perto e se abaixavam com medo de uma bomba explodir”.

Um dos vários biógrafos de Jango, o historiador Jorge Ferreira lembra que João Goulart foi o único ex-presidente do País a morrer no exílio e sem reconhecimento.

“A homenagem é a reafirmação do processo democrático no Brasil”, afirma Ferreira.

“Sua história tem que ser respeitada e valorizada. Goulart tinha como características fundamentais o nacionalismo, o estatismo, o desenvolvimentismo, a intervenção do estado na economia e nas relações entre patrões e assalariados, a manutenção e a ampliação dos benefícios sociais aos trabalhadores, a reforma agrária e a liderança política partidária de grande expressão. Creio que muitas dessas tradições inventadas pelos trabalhistas ainda estão presentes entre as esquerdas brasileiras”, analisa o historiador. 

Fonte:
Portal Brasil 



14/11/2013 12:44


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