Estudo inibe reprodução de vírus da dengue



Trabalho integra tese de doutorado de aluna da USP

Pesquisa do Laboratório de Virologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP traz perspectivas para a criação de um medicamento capaz de controlar a infecção pelo vírus da dengue. O estudo conseguiu inibir a replicação do vírus, protegendo as células contra a infecção, aplicando o chamado RNA de Interferência (RNAi).

O RNAi funciona como um mecanismo evolucionariamente conservado para o silenciamento da expressão gênica e defesa do genoma de organismos primitivos contra vírus e outros elementos genéticos. Quando uma célula entra em contato com uma molécula de RNA dupla-fita, ela imediatamente é reconhecida e clivada por proteínas em pequenos fragmentos de RNA dupla-fita.

Esses fragmentos são conhecidos como pequenos fragmentos interferentes que são agrupados dentro de um complexo de proteínas que media a destruição da mensagem protéica, impedindo a produção da proteína alvo. No caso dos vírus, impedindo a produção das proteínas virais, essenciais para a sua replicação na célula, resultando no silenciamento gênico.

O estudo de doutorado Inibição da replicação do vírus dengue tipo 2 por RNA de interferência em células humanas, da bióloga Alessandra Cristina Gomes Ruiz, orientado pelo professor Benedito Lopes da Fonseca, da FMRP, teve o objetivo avaliar o impacto do mecanismo de silenciamento gênico mediado pelo RNAi na replicação do vírus dengue-2 em células humanas.

Células hepáticas

A primeira etapa da pesquisa de Alessandra foi desenhar, baseado em parâmetros químicos, moléculas interferentes alvo para os vírus dengue. As moléculas foram desenhadas para três diferentes regiões do genoma viral e clonadas em um vetor, para que pudessem ser expressas dentro das células.

“As células que nós trabalhamos foram células hepáticas, pois vários trabalhos já relataram a importância do fígado na patogênese da doença, e células monocíticas, células alvo da infecção pelos vírus dengue. Nossos resultados mostraram em ambas as células estudadas que as diferentes moléculas interferentes desenhadas e testadas tendo como alvo o genoma dos vírus dengue foram capazes de inibir a replicação do vírus, protegendo as células contra a infecção. Essa metodologia não previne a doença, mas pode vir a ser utilizada para controlá-la impedindo a progressão para as formas mais graves”, diz Alessandra.

Ainda, segundo Alessandra, já foi observado em plantas que quando moléculas interferentes entraram em contato com o gene responsável pela pigmentação floral (RNA mensageiro), as plantas nasciam brancas, pois a mensagem foi degradada e impediu a produção da proteína de pigmentação floral.

Muitos estudos ainda precisam ser realizados para que essa metodologia possa ser utilizada em humanos. “Em 2004 houve o primeiro estudo dessa metodologia em humanos para uma doença chamada degeneração macular relacionada à idade (AMD) e os resultados foram promissores. Para doenças virais, alguns estudos estão sendo realizados em pacientes com hepatite aguda e também em pacientes com HIV. Para os vírus da dengue, existem pouquíssimos estudos ainda, e a maioria deles trabalhou com mosquitos. Assim, nossos resultados são bastante promissores e inéditos no Brasil”, comemora Alessandra.

O próximo passo será avaliar as moléculas interferentes para os sorotipos 1, 3 e 4 do vírus dengue e definir qual será o alvo potencial para o controle da infecção causada pelos vírus dengue. “Na seqüência esse alvo potencial será testado em macacos”, conclui.

Da USP Online



05/30/2008


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