Estudo mostra redução de mortes no trânsito









Estudo mostra redução de mortes no trânsito
Melhora se deve, principalmente, à queda dos acidentes fatais no Sudeste. Mesmo assim, o trânsito ainda é responsável pela segunda causa de óbitos de jovens no Brasil, atrás apenas dos homicídios

BRASÍLIA – A redução do número de mortes por acidentes de transporte, no Brasil, é a prova de que quando se mobiliza a sociedade em torno de um problema é possível solucioná-lo. Essa é a conclusão que o autor do Mapa da Violência 3, Jacobo Waiselfsz, tira dos números levantados num estudo divulgado na última sexta-feira. O trabalho, que resultou de uma parceria entre a Unesco (agência das Nações Unidas para a educação, ciência e cultura), Instituto Ayrton Senna e Ministério da Justiça, faz um diagnóstico dos efeitos da violência.

Na década de 90, o aumento do número de mortes no trânsito, entre a população em geral, foi de 3,7%, chegando a 29.421 óbitos em 2000 – uma taxa bem inferior ao crescimento populacional no período (17,8%). Entre os jovens o aumento foi maior (6,7%), totalizando 6.414 mortes, mas ainda assim ficou abaixo do crescimento da população. Esses dados colocam as mortes no trânsito como a segunda causa de óbitos de jovens no Brasil, atrás dos homicídios. Entre 1991 e 2000, o número de jovens mortos por homicídio aumentou 77%, chegando a 17.762 óbitos.

QUEDA – A melhora da situação nacional na área do trânsito se deve, principalmente à queda de 13,9% nas mortes ocorridas no Sudeste, sobretudo em São Paulo – o Estado teve 6.010 óbitos em acidentes de transporte em 2000, 23,7% a menos que em 1991. Na faixa etária de 15 a 24 anos, houve 1.327 mortes em 2000, em São Paulo, uma redução de 28,2% em relação ao início da década.

Também houve queda no Distrito Federal e Mato Grosso do Sul. “É uma questão de se adotar as políticas corretas e de destinar recursos para isso”, diz Waiselfsz.


Classe média se engaja na luta popular
Quarenta e duas mil pessoas que moram ou trabalham no Recife, o equivalente a 2,8% da população de 1,5 milhão de habitantes, ajudaram a definir obras e ações da Prefeitura que vão custar este ano pouco mais de R$ 450 milhões. Elas freqüentaram , em 2001, as reuniões do Orçamento Participativo (OP). Esse modelo de administração, que aproxima governantes do povo e começou a ser vivenciado com outro formato na cidade, na década de 80, passou por mudanças e atrai agora parte da classe média, pouco simpatizante de fóruns mais simples, como reuniões de condomínios. A participação já rende conquistas. Na Iputinga, integrantes da Associação Comunitária Amigos do Cavouco (foto) comemoram as obras de revestimento do canal do bairro e a pavimentação de ruas do seu entorno. Da entidade, fazem parte professores e funcionários públicos, profissionais autônomos, artistas plásticos e donas de casa. As obras eram um sonho de 50 anos, mas só realizado agora, depois que os moradores formaram o grupo, entraram para o Orçamento Participativo e permanecem fiscalizando os passos da Prefeitura. Veja outras experiências e entenda o funcionamento do OP na reportagem é de Veronica Almeida.

As reuniões do Orçamento Participativo (OP), fóruns de moradores que decidem onde a prefeitura deve investir os recursos arrecadados dos cidadãos e de outras fontes, estão atraindo, no Recife, pessoas e grupos de classe média. O Governo municipal ainda não sabe quantificar o crescimento dos novos participantes, mas já identificou em áreas de melhor infra-estrutura da cidade, inclusive nas de classe média alta, como Espinheiro e Casa Forte, moradores participando das plenárias. A classe média de menor poder aquisitivo, de localidades como Boa Vista, Campo Grande, Madalena, Torre e bairros ao longo da Caxangá, também vêm dando sua contribuição nas discussões e decisões. Todas juntas, no entanto, são minoria comparadas ao universo de comunidades pobres, carentes de serviços básicos, que comparecem às reuniões.

“É natural que a participação da classe média seja pequena ainda. Ela mora em bairros com ruas pavimentadas, não precisa usar escolas nem postos de saúde municipais”, considera o secretário municipal de Orçamento Participativo e Gestão Cidadã, João Costa. Além do mais, segundo o secretário, ela sempre usou outros instrumentos de pressão política, seja espaço na mídia ou a ida direta aos poderes Legislativo e Executivo. Mas o que estaria mobilizando a classe média? Novas demandas que dependem do poder público, como limitação quanto ao uso do solo, questões ambientais, construção de parques e obras do sistema viário?

Até agora, a participação dos grupos de classe média tem sido para requer melhorias no bairro, como abertura de ruas, limite de construções novas, pavimentação, obras para evitar alagamentos e benefício de comunidades pobres vizinhas. Seja qual for o motivo ou o pleito, o envolvimento no Orçamento Participativo é bem-vindo. Para João Costa, a presença da classe média, principalmente a média alta, promove um ótimo debate entre incluídos e excluídos. “Não queremos gerar um conflito de classes, mas um espaço para pensar a cidade”, esclarece.

De uma maneira geral, a prefeitura acredita que as mudanças feitas no ano passado na forma de participação popular nas discussões do orçamento estão fazendo o público crescer. Os números de 2001 superaram, conforme a PCR, a veterana Porto Alegre, capital gaúcha onde o Orçamento Participativo funciona desde 1989. No ano passado, as plenárias do Orçamento Participativo do Recife reuniram 42 mil pessoas. Reuniões realizadas este ano apontam crescimento de 70% e até mesmo acima de 100%, embora parte das obras decididas em 2001 sequer tenha começado. Num dos encontros, realizados mês passado na Macaxeira, morro da Zona Norte, nada menos que 2.300 pessoas se reuniram para debater os problemas da área.

O novo modelo, implantado no Recife pela administração da frente de esquerdas comandada pelo Partido dos Trabalhadores, descentralizou as reuniões, abriu a participação e o direito de voto a qualquer cidadão, sendo ou não líder comunitário, e passou por um processo de informatização mais avançado que o de Porto Alegre.

Moradores que nunca participaram de entidades comunitárias estão se agrupando para
lutar por obras comuns. O número de reuniões foi ampliado de pouco mais de 30 para 52 ,facilitando a participação das pessoas nas plenárias, que são noturnas ou nas tardes dos fins de semana. A experiência do recifense com a discussão das ações do poder municipal vem da década de 80, com o programa Prefeitura nos Bairros, implantado pelo então prefeito, hoje governador, Jarbas Vasconcelos. No País, as primeiras experiências teriam sido ainda na década de 70, em Santa Catarina.


Comerciantes da Rua da Imperatriz estrearam no OP do ano passado
Marcus Gallo, presidente da Associação de Comerciantes e Empresários da Imperatriz e Adjacências, tornou-se, no ano passado, delegado do Orçamento Participativo do Recife. Aliás, a entidade que comanda elegeu ainda outros sete delegados para acompanhar a programação financeira da prefeitura e propor as ações que devem ter prioridade na área central da cidade.

“Somos o primeiro grupo de empresários a se engajar no Orçamento Participativo”, orgulha-se Gallo, que defende mais assistência social para os moradores de rua, oferta de cursos para geração de emprego e renda e atuação de agentes comunitários de saúde no comércio.

Ele avalia que a participação nas discussões é muito interessante. Preocupa-se, entretanto, com o cumprimento das ações eleitas como prioridade pelas sociedade para realização do Governo municipal. “Não vimos resultados ainda na nossa área. Mas reconheço que não é simples administrar u ma cidade que tem muitos problemas”, considera.


Ciro perde espaço. Lula se reforça
Decisão do ex-deputado Fernando Lyra de apoiar Lula diminui o palanque do PPS no Estado, que ainda pode sofrer outras baixas importantes

Enquanto o palanque do presidenciável do PPS, ex-ministro Ciro Gomes, vem perdendo terreno nas últimas semanas, inclusive com a ameaça de desmonte da Frente Trabalhista (PPS/PDT/PTB), a candidatura do petista Luiz Inácio Lula da Silva ganha cada vez mais reforços. No final da semana passada, a linha de frente de Ciro em Pernambuco sofreu a primeira grande defecção, com o anúncio de que o ex-deputado federal Fernando Lyra (PPS), que vinha atuando na coordenação da campanha do pós-comunista, havia decidido trocar de palanque e apoiar Lula. Há a expectativa de outras baixas, como a do senador Carlos Wilson, que comanda o PTB no Estado.

Na última sexta-feira, em entrevista à Rádio Jornal, Wilson fez rasgados elogios a Lula. O senador sonha em ser candidato à reeleição na chapa de Humberto Costa, candidato a governador do PT, e tem demonstrado preocupação com a fragilidade da Frente Trabalhista, da qual ainda faz parte, que pode comprometer sua reeleição.

Fernando Lyra, por sua vez, ao justificar a decisão de apoiar Lula, disse estar “altamente preocupado” com a possibilidade de repetir-se no Brasil o cenário que ocorreu na França, 15 dias atrás, quando os principais partidos de esquerda, por causa da pulverização de candidaturas, foram excluídos do segundo turno da eleição presidencial. “Estou sinceramente convencido de que é hora de a maioria do povo brasileiro definir o quadro sucessório presidencial logo no primeiro turno, cerrando fileiras em torno de Lula, porque a grande arma dos conservadores contra uma candidatura popular é a soma dos interesses não legítimos com o intuito de manter o status quo”, disse.

Lyra desligou-se do PSB em abril de 99, após a derrota de Miguel Arraes para Jarbas Vasconcelos, filiando-se ao PPS para apoiar Ciro Gomes, juntamente com Fernando Bezerra Coelho, os deputados federais Clementino Coelho e Pedro Eugênio e os prefeitos do Cabo e de Caruaru – Elias Gomes e João Lyra Neto, respectivamente.

Naquela época, imaginava que o ex-governador do Ceará poderia ser “a grande alternativa de centro-esquerda de que o Brasil necessita para barrar a continuidade do Governo Fernando Henrique”. Infelizmente, reconheceu, Ciro enfrenta dificuldades para “institucionalizar” a Frente Trabalhista porque os “interesses regionais” estão se sobrepondo aos nacionais.

“Em que pese o idealismo de Roberto Freire, a candidatura de Ciro tem sido incapaz de traduzir para o povo a ruptura com que ele (povo) sonha. Brizola, que é uma referência nacional, jamais conseguiu fazer uma aliança em que o consenso de todos fosse superior à sua vontade. É um personalista por formação. E ao PTB o que interessa é a conquista do Governo e não o poder para se fazer mudanças. Fica Roberto Freire à margem, apesar de todo o seu idealismo, por causa da postura oportunista dos seus dois parceiros na aliança”, acrescentou Lyra.

Na opinião do ex-deputado, o melhor exemplo de que a Frente Trabalhista não dará certo está acontecendo no Rio Grande do Sul, onde o ex-governador Antônio Britto (PPS) é o primeiro colocado nas pesquisas para voltar ao Palácio Piratini, mas Brizola impôs a candidatura do vereador José Fortunatti (PDT) e não admite discussão em torno de um terceiro nome. Lyra deixou bem claro que não é mais líder político em Pernambuco, nem planeja retornar à vida pública. “Tenho consciência de que não tenho votos para transferir, nem em minha terra natal, Caruaru, cujo líder do nosso grupo é o ex-prefeito João Lyra Neto (PT). O meu objetivo é contribuir para romper o atual sistema, com uma candidatura popular. Por isso defendo a unidade das oposições. Se temos condições de derrotar o Governo no primeiro turno com Lula, por que dispersar nossas forças?”, questiona.

Lyra contou que há cerca de um ano tentou criar um movimento nacional
suprapartidário, em torno de Ciro Gomes, para abrigar dissidentes dos diversos partidos interessados no rompimento com o atual sistema, mas não obteve êxito.

“Refletindo sobre o quadro de hoje, em que as forças conservadoras se mobilizam para
que Serra vença a eleição de qualquer jeito, cheguei humildemente à conclusão de que não tinha mais o que fazer. Por menor que seja a minha importância, minha consciência não permite que eu seja instrumento de divisão, o que vai de encontro ao desejo de mudança da maioria do povo”.

Ele diz que começou a amadurecer a decisão de apoiar Lula depois do resultado da eleição da França no 1º turno, em que o candidato da direita, Jacques Chirac, passou para o segundo turno com o ultradireitista Jean-Marie Le Pen, devido à pulverização das candidaturas esquerdistas. “Aquilo deve servir de alerta às nossas esquerdas.

Lionel Jospin (candidato do Partido Socialista) fez uma campanha despolitizada e sem
entusiasmo e não satisfez sequer ao PS. Surgiram duas candidaturas à esquerda dele, além de uma profunda desesperança do eleitorado, o que foi traduzido na abstenção”. Para Lyra, a França assiste a uma campanha político-eleitoral quase impossível de ser concebida no estágio em que se encontra a democracia no mundo: a direita versus a extrema-direita.

“É esse triste quadro em que a França se encontra que eu não gostaria de ver em nosso País. Um segundo turno com um candidato conservador e outro da direita enrustida, já que ninguém se assume como tal”, disse Lyra, que comunicou sua decisão sexta-feira a Roberto Freire. Segundo afirmou, a responsabilidade pela vitória de Lula no primeiro turno não deve ser apenas do PT, mas de todas as forças políticas que tiveram a coragem de combater a ditadura.


Novo escândalo ronda o Governo
Ex-diretor do BB é acusado de cobrar propina durante o processo de privatização de estatal

SÃO PAULO - Um novo escândalo ronda o Governo FHC. O economista Ricardo Sérgio de Oliveira é acusado, em reportagem da revista Veja deste fim de semana, de pedir propina para montar o consórcio que, em 1997, comprou a estatal Vale do Rio Doce.

Então diretor da área internacional do Banco do Brasil, ele teria pedido R$ 15 milhões ao empresário Benjamin Steinbruch, que liderou o grupo de empresas e fundos de pensão vencedor do leilão da mineradora.

Através da sua assessoria, Ricardo Sérgio negou a acusação e disse que não falará mais sobre o assunto. Steinbruch não confirma nem desmente a suspeita, apenas garante que não pagou propina. Mas dois integrantes do Governo, o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros e o ministro Paulo Renato Souza, confirmam ter ouvido o empresário se queixar do assédio de Ricardo Sérgio. O presidente Fernando Henrique Cardoso e os demais integrantes do Governo não se manifestaram sobre a acusação.

A reportagem levanta outras suspeitas contra Ricardo Sérgio, que atuou na década de 90 como arrecadador de dinheiro para o financiamento de campanhas eleitorais do pré-candidato do PSDB à Presidência, José Serra, e do próprio FHC. O empresário Carlos Jereissati confirmou à Veja ter doado R$ 2 milhões para a campanha, mas, na prestação de contas à Justiça Eleitoral, só aparecem R$ 95 mil. Serra não comentou o assunto ontem. Em conversas com tucanos, porém, ele garantia não haver motivos para preocupação.

O presidente do PSDB, José Aníbal, classificou a reportagem como uma tentativa de atingir os tucanos e Serra: “Cabe a Ricardo Sérgio esclarecer. O Governo e o partido não têm o que temer. Não pesa sobre o presidente nenhuma suspeita de atos ilícitos ou que desabonem sua conduta em relação aos princípios éticos e morais”, disse.

CPI – O presidente do PT, José Dirceu, disse que as denúncias são “caso de polícia” e defendeu a abertura de uma CPI para apurar. “O Brasil tem dois instrumentos: um procedimento investigatório do Ministério Público e o Congresso, que deve fazer uma CPI. É gravíssimo porque envolve ministros e ex-ministros”, disse Dirceu. Lula não comentou o assunto.

O PT prepara uma série de ações para apurar as atividades de Ricardo Sérgio. A principal é a retomada na coleta de assinaturas para instalação da CPI das Privatizações, desta vez com novo foco. Em vez de apurar o tema de forma genérica, propõe que a investigação se restrinja à atuação da área internacional do BB e do papel dos fundos de pensão nas privatizações.


PT quer criar novas frentes no interior
A idéia é buscar apoio para Humberto entre dissidentes da aliança governista, da oposição e da sociedade civil

O PT está estimulando a formação de frentes suprapartidárias no interior do Estado, para superar as dificuldades de estrutura da campanha de Humberto Costa (PT) ao Governo do Estado. O projeto consiste em provocar os diretórios municipais - organizados hoje em 150 cidades - a buscar os dissidentes da aliança governista (PMDB/PFL/PSDB/PPB) que sustenta o palanque de Jarbas Vasconcelos, atrair descontentes dos partidos de oposição e mobilizar a sociedade civil, organizando um movimento que o PT define como “maior que os partidos”.

O pontapé inicial foi dado na maratona de encontros regionais que o PT promoveu, no final de semana, no Sertão. O coordenador eleitoral, vereador Dilson Peixoto (PT),
explicou aos dirigentes petistas da região que essa é a fórmula para ganhar a eleição.

“Estamos impedidos de estruturar um palanque amplo devido à decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de verticalizar as coligações. Por isso é importante a formação dessas frentes suprapartidárias”, afirmou Dilson, ontem, durante o encontro do PT em Ouricuri (Sertão do Araripe).

Para superar as dificuldades de fazer alianças oficiais, o PT propõe um pacto político com os partidos de esquerda que deverão lançar candidato ao Governo, para não atrapalhar a campanha de Humberto. A proposta é semelhante à adotada nas eleições de 2000, quando o PT elegeu João Paulo prefeito do Recife. Segundo Dilson, a estratégia já está sendo montada com as legendas.

APATIA - Na passagem por Ouricuri, onde o PT é formado por agricultores e tem dificuldades de penetrar em outras classes, como relatou um dos dirigentes do partido na região, Humberto Costa fugiu ao roteiro, estimulado pela militância, e arriscou uma volta pela feira da cidade. A experiência revelou que o candidato petista ainda é desconhecido no interior e que há uma apatia da população diante das eleições de outubro. “Vamos regaçar (sic) as mangas. O negócio é esse”, convidou um comerciante. “Se o senhor me arrumar dez mirréis (sic) a gente se ajeita. Sabe como é, o Sertão é assim, carente”, afirmou outro, como se não importasse qual candidato estava ali na sua frente.


Artigos

Chegou Madame Rangel
Francisco Bandeira de Mello

O tempo é tríbio, lembrava Gilberto Freyre (presente, passado e futuro congeminados). Portanto, trago hoje um antigo texto sobre um tema sempre presente: o trato do futuro. (Naturalmente que de forma um tanto caricatural).

1955. Atenção! Chegou a vossa oportunidade. A legião dos desiludidos deste mundo, e até do outro, é muito maior do que se pensa. O homem é um animal que sofre.

Sempre são guerras, morticínios, ciúmes. São assassínios, golpes e contra-golpes, ambições, tensões, iras interiores ou ostensivas, invejas, paixões submissas ou insubmissas, nostalgias, espumas de raiva, indiferença, o diabo. O mundo até hoje era uma agitação de ódios. Mas atenção, chegou a vossa oportunidade. Ou seja, chegou a oportunidade de todos nós. E não é outra coisa que, pobres mortais, buscamos durante toda a nossa vida: uma oportunidade. E, desta vez, chegou. Pelo menos é o que diz o folhetim que recebi (apesar de vir carimbado como de “distribuição interna”) dos amigos de Madame Rangel, que “aliás não faz propaganda, pois seus trabalhos já o fazem”. Afirma o folhetim ser a supradita “a mais completa quiromante dos últimos tempos”. É, na verdade, a panacéia universal em figura de gente.

“Necessitais descobrir alguma coisa que vos preocupa?” (Deve, ela, estar se referindo aos maridos ciumentos e/ou econômicos, esses dos quais as esposas vivem constantemente saindo, pelas tardes claras e amenas, muito decotadas, para cabeleireiros, manicures, butiques, ou às mulheres desconfiadas, cujos maridos vivem viajando e chegando tarde em casa à custa de serões e outros compromissos, alguns deles alcoólicos). “Quereis fazer regressar à vossa companhia alguém que se tenha separado?” (Ó esposos e esposas, noivas e noivos, namorados e namoradas no ostracismo, este é o vosso momento).Mas não é só. Não somente essas são as suas habilidades. “Quereis prosperidade, felicitar algum casamento infeliz, quereis tirar a embriaguez de alguém?” - procurai Madame Rangel. Enfim, em tudo que estiver ao alcance da Ciência Oriental, de que se intitula doutora, ela garante seus trabalhos em qualquer circunstância. Não há vacilação possível: ó poderosos da Rússia, dos Estados Unidos, ó Teixeira Lott, Kubitschek, ó exilado Carlos Lacerda, aqui está Madame Rangel (quiromante, espírita, vidente) para vos socorrer. “A resolução de vossos problemas virá facilmente” (grifo nosso) “se fores consultar essa tão extraordinária vidente”. Podeis acreditar piamente no que a vidente (espírita, quiromante) vos oferece: ela não é candidata a nada.

A famosa Madame Rangel (informa ainda o folheto) após ter se ausentado, “para maiores estudos e concentração”, durante os seus prolongados períodos meditativos (ó homens públicos nossos, segui tão primoroso exemplo - meditai, ainda que por brevíssimos momentos) “teve a oportunidade de manusear os manuscritos de Nostradamus, Papus, Borgeath, Harbub, Vahara, Mihira” (apenas faltou o nosso Mário Melo) além de “outros tantos sábios das ciências herméticas”. Depois afirma com muita dose de razão que a coisa que mais nos preocupa é o futuro e diz que a ciência oriental está apta, agora mais do que nunca, a desvendá-lo/consertá-lo por intermédio de tal famosa (e)vidente. E “garante o seu trabalho com o sigilo que lhe é peculiar”. (E aí está a maior vantagem, maridos, ao fazer as vossas maridadas - vossas esposas nada saberão. E vice-versa). Termina, a “distribuição interna”, nos dizendo para procurá-la: “os que dela desejarem algo”, sem constrangimento, porém sem excitação, pois atende prontamente a todos. É bastante entrar na fila. (Na fila da felicidade).

Consulta especial: Cr$ 50,00 (casos de amor incorrespondido, de doenças graves, eleições etc). Consultas simples (coisas de viagens, pequenas intrigas, arrufos etc): Cr$ 30,00. E, finalmente, consulta pelas linhas da mão: vinte cruzeiros. Que, se diga de passagem, mas se diga, é uma verdadeira pechincha para quem vai solucionar o mais importante e o mais angustiante problema: o futuro. Que, aliás, a Deus pertence.

(O meu e o de todas as pessoas). A Deus e, agora, a Madame Rangel - que arranjou um jeito de descobrir o caminho das pedras preciosas, graças à sua famosa/misteriosa Ciência Oriental e que, assim, nos oferece (arranje-se com Rangel) a felicidade por apenas 50 cruzeiros. (Embora alguns digam que “a felicidade não se compra”, para outros ela se vende nas belas vitrines e até nas prateleiras dos supermercados ou nas cartas de baralho e na palma da mão).


Colunistas

PINGA FOGO – Inaldo Sampaio

Fiel às origens
Como Lula reside em São Paulo desde 1952, poucos nordestinos se dão conta de que ele é pernambucano, e que se for eleito presidente da República terá sido o primeiro filho desta terra a alcançar por seus próprios méritos a suprema magistratura do país.

Diferentemente de Ciro Gomes, por exemplo, que está filiado ao PPS por circunstâncias do quadro partidário nacional mas não carrega consigo a responsabilidade política de ter combatido a ditadura, o pré-candidato do PT continua fiel às suas origens.

iás, a última pesquisa do instituto GPP encomendada pelo PFL retrata bem esse compromisso. Se a eleição para presidente fosse hoje ele teria no Norte sua melhor performance: (56,6% dos votos válidos), seguindo-se o Nordeste (50,8%), o Centro-Oeste (49,4%), o Sul (48,7%) e o Sudeste (43,8%). Já o segundo colocado, José Serra, teria no Sul o seu melhor desempenho: (23,4%), seguindo-se Sudeste (21,3%), Centro-Oeste (19,9%), Norte (13,2%) e Nordeste (10,2%).

Em 113 anos de história republicana, Pernambuco conseguiu emplacar apenas três vice-presidentes da República - Rosa e Silva, Estácio Coimbra e Marco Maciel. A chance de eleger um presidente é esta, caso o cenário político sucessório não sofra muitas alterações.

Por larga maioria
Pela contabilidade de João Negromonte, deputado estadual pelo PMDB e 1º secretário da Assembléia Legislativa, Jarbas será reeleito governador em 6/10 com a mesma diferença do pleito passado: 1 milhão de votos. Já o deputado Pedro Eurico (PSDB) está um pouco mais otimista. Prevê uma vitória do governador com 1,3 milhão de votos de diferença, sobre Humberto Costa (PT), arrastando consigo para o Senado Marco Maciel (PFL) e Sérgio Guerra (PSDB).

Prazo definido
Para Joaquim Francisco (PFL), político não gosta de suicidar-se. Se até o dia 20 Serra (PSDB) não subir nas pesquisas de opinião os quatro maiores partidos da aliança deverão reunir-se com FHC para propor-lhe outra alternativa: Tasso ou Aécio. Apostar indefinidamente numa “mala sem alça”, disse ele, é o que nenhum pefelista quer.

Sem obrigação
Em resposta a uma consulta de Aécio Neves (PSDB) sobre se ele, Marco Maciel (PFL) e Ramez Tebet (PMDB) precisam ausentar-se do país durante as viagens internacionais do presidente FHC, para não ficarem inelegíveis, o TSE decidiu: “não”. O voto do ministro Barros Monteiro, relator do processo de consulta, foi acompanhado por unanimidade.

Prefeitura recebe comenda de um órgão federal
A prefeitura de Itapissuma foi uma das poucas do Brasil selecionadas pelo Ministério do Meio-ambiente para receber em Porto Seguro (BA), no dia 17, a Medalha do Mérito Ambiental. O prefeito Paulo Volia (PSDB) estará lá.

Ser o “campeão de votos” não interessa a Dudu
Eduardo Campos tranquilizou todos os candidatos a deputado estadual pelo PSB. “Não vou invandir área de ninguém e nem quero ser o mais votado. Desejo, se a gente perder, fazer uma oposição cerrada ao doutor Jarbas”.

Gestão fiscal 1
Hoje é o 2º aniversário da Lei de Responsabilidade Fiscal. Segundo o BNDES, 90% das prefeituras do Brasil já se enquadraram, menos essas de PE: Agrestina, Bodocó, Bonito, Ibupi, Itacuruba, Pesqueira, Palmeirina, Passira e Santa Cruz do Capibaribe.

Todas gastam mais de 54% de suas receitas com pessoal.

Gestão fiscal 2
Gastam menos de 40% de suas receitas com a folha de pagamento 14 prefeituras pernambucanas, a saber : Belém de Maria, Betânia, Camaragibe, Cedro, Itapetim, Jataúba, Panelas, Frei Miguelinho, Santa Maria da Boa Vista, Tamandaré, Sanharó, Vicência e Recife. A mais enxuta é Tamandaré: apenas 25,12%.

Jorge Gomes já se definiu: considera “honroso” o convite do PSB para ser candidato a governador mas suas bases de Caruaru querem-no candidato à reeleição. Continuam no páreo para exame de Miguel Arraes - o físico Sérgio Rezende, o vereador João Arraes e o ex-presidente da Celpe Dílton da Conti.

Para Joaquim Francisco (PFL), a versão de que a Lei de Responsabilidade Fiscal foi imposta ao Brasil pelo FMI “não passa de conversa para boi dormir”. O que ela fez, segundo o deputado, que participou ativamente da sua elaboração, “foi abrir um debate pedagógico no país para se discutir a moralidade na gestão da coisa pública”.

É visível o dedo de Duda Mendonça na campanha do PT. Em Salvador, ao ter o seu grau de instrução (curso primário) questionado, Lula respondeu: “Não sou candidato a escritor e sim a governar pessoas. Machado de Assis nunca frequentou uma escola e foi fundador e 1º presidente da Academia Brasileira de Letras”.

O líder tucano Antonio Moraes é o deputado estadual que mais assiste às suas bases interioranas. Só no mês de abril ele rodou 20 mil quilômetros, metade dos quais na zona da mata, onde disputa espaços com João Negromonte (PMDB), Ricardo Teobaldo (PMDB), Carlos Lapa (PSB), Gílson Muniz (PSL) e Maviael Cavalcanti (PFL).


Editorial

ASSALTOS NO SERTÃO

Um fato que aconteceu no dia 28 de abril passado deve servir de alerta total para a Secretaria de Defesa Social (SDS), pois tem toda a aparência de um desafio ao aparelho de segurança do Estado. Numa única manhã, três caminhões de transporte de carga foram assaltados no trevo do Ibó, no município de Belém do São Francisco, isto é, no coração do considerado extinto Polígono da Maconha.

Foi uma típica ação diversificada e sucedânea do narcotráfico, na área. Por isso, é preciso correr, é preciso mudar a política de segurança pública, substituindo o sistema de operações tópicas por atividades permanentes, reocupando os espaços conquistados pelos criminosos durante a ausência do Estado.

Mas, como já dissemos antes, não basta apelar para as funções da Polícia. Os governos federal e estadual têm que investir cada vez mais, estimulando o trabalho, a educação, a saúde, a cidadania, além de pensar com seriedade no transporte ferroviário, de que quase não se fala mais. A geografia pernambucana é longitudinal.
Depois que perdeu parte do seu território para a Bahia, o Estado é uma espécie de língua de terra que começa no litoral e acaba no Sertão também desassistido do Piauí. Vamos voltar a pensar na Ferrovia Transnordestina, como opção futura do transporte de cargas.

Enquanto as coisas necessárias a uma mudança radical não são feitas, pelo menos na medida das nossas necessidades, é preciso ao menos descentralizar a política de segurança pública. A criminalidade no Submédio São Francisco deixou, há alguns anos atrás, uma vítima que se tornou um ícone, um mártir que por muito tempo será lembrado no Sertão: o líder camponês Fulgêncio Manoel da Silva, poeta-repentista, que foi assassinado pelo fato de denunciar, reiteradamente, que o narcotráfico estava inibindo os agricultores a produzirem culturas agrícolas lícitas. Todos ali sabem que existem camponeses dedicados ao plantio de maconha por medo. Mas havia (e há) aqueles que a cultivam por uma questão de mercado, porque a droga dá mais dinheiro do que o feijão, o milho, a mandioca, a fava e outros cultivos regionais.

A Operação Mandacaru reuniu equipes e recursos dos governos federal e estadual, aqui em Pernambuco, durante um certo período de tempo, para desarticular a grande máfia que controlava desde a cadeia produtiva e beneficiadora da “canabis sativa”, até a lavagem de dinheiro e o suborno da máquina policial. No entanto, esse tipo de operação, mesmo quando bem executado, apenas representa um hiato no tempo da criminalidade, não atinge suas raízes. A única providência que restou, na luta contra a criminalidade sertaneja, parece ter sido a criação de uma Delegacia Especial da Polícia Federal, na área. Foi um fato positivo, há muito reclamado, mas o que pode uma única Delegacia fazer, naquelas vastidões?

Mesmo nos tempos anteriores à Operação, os criminosos que se instalaram no Sertão pernambucano alternavam a produção e tráfico de maconha, de acordo com as pressões do aparelho de segurança, com assalto a ônibus e caminhões nas estradas.

Em função das providências tomadas, houve uma redução de 50% da área de plantio da erva no Sertão do São Francisco (entre os anos de 1999 e 2000), mas consta que a plantação começou de novo a ampliar-se. E, enquanto não volta a dar o lucro que proporcionava antes, ressurgem os assaltos nas estradas.

As quadrilhas que operam no Sertão pernambucano não são formadas por camponeses da região, mas por criminosos que procuram a área rural nordestina, onde são menos conhecidos pelo aparelho policial. Até mesmo gente vinda do Rio de Janeiro e de São Paulo, fugindo às investigações dos policiais cariocas e paulistas, compõem esses grupos.


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05/05/2002


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