Ex-dirigente denuncia clientelismo e nepotismo na Federação Mineira de Futebol



O advogado e jornalista Otacílio Ferreira da Costa apresentou nesta quinta-feira (dia 19) à CPI do Futebol denúncias de clientelismo e nepotismo na Federação Mineira de Futebol (FMF). Segundo o depoente, o coronel José Guilherme, eleito presidente da entidade pela primeira vez em 1966, montou um esquema para manter-se no poder até hoje, por intermédio de seu filho, Elmer Guilherme Ferreira, atual presidente da FMF.

Segundo Otacílio, depois de permanecer 17 anos à frente da entidade por meio de alterações estatutárias irregulares, José Guilherme elegeu Alcir Nogueira para sucedê-lo, em uma chapa na qual Elmer Guilherme já aparecia como vice-presidente. Além do filho, o depoente disse que o coronel empregou diversos outros parentes.

- O futebol mineiro se transformou em clientelismo criminoso e não privilegiou o futebol mineiro coletivamente - afirmou, denunciando que o ex-presidente da FMF cooptava presidentes de ligas "desonestos e muitas vezes simplórios" para garantir votos nas eleições.

Coronel reformado da Polícia Militar de Minas Gerais, José Guilherme, segundo o depoente, tem 88 anos e ainda é diretor de futebol amador do interior da FMF e ganha R$ 2,5 mil por mês pela função, que não deveria ser remunerada.

LARANJAS

Otacílio, que por três vezes foi diretor do departamento de futebol amador e candidatou-se à presidência da entidade em duas oportunidades, denunciou ainda que Elmer Guilherme e seu pai usaram "laranjas" para desviar dinheiro de rendas de jogos.

Em outra denúncia, Otacílio informou que o coronel José Guilherme foi condenado em 1986 por malversação de recursos da FMF, mas não cumpriu a pena por ser réu primário e, assim, não deixou a direção da entidade. Nas prestações de contas, o depoente citou inúmeras irregularidades, como a falsificação de assinaturas de dirigentes. Álvaro Dias determinou que o documento entregue seja encaminhado à Polícia Federal para análise das assinaturas.

O senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), que foi designado relator ad hoc pelo presidente da CPI, senador Álvaro Dias (PSDB-PR), revelou que, na declaração de Imposto de Renda (IR), a FMF não consta como uma das fontes pagadoras de Elmer Guilherme, já que, pelo estatuto da entidade, o cargo de presidente não pode ser remunerado. Em resposta ao relator, o depoente disse que não tem conhecimento de que o dirigente tenha outra ocupação.

Ainda com base em informações da declaração de IR, Antero disse que Elmer Guilherme não informou ter muitos bens, mas Otacílio revelou que o presidente da FMF teria feito uma festa de R$ 100 mil para uma filha e que outro filho possui um BMW, carro alemão dos mais caros, além de uma gráfica sobre a qual pairam acusações de impressão de ingressos falsos.

O presidente da CPI teve que cobrar objetividade do depoente por diversas vezes, mas pôde concluir que o "principal clube de Minas Gerais é o Nepotismo Futebol Clube".

19/04/2001

Agência Senado


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