Nepotismo e caixa dois fazem parte da realidade da Federação Mineira de Futebol, constata CPI



Elmer Guilherme Ferreira, presidente da Federação Mineira de Futebol (FMF) há 14 anos, tem mais de 20 parentes entre os 66 funcionários da entidade, incluindo seu pai, José Guilherme Ferreira, que presidiu a FMF por 16 anos, irmãos e filhos. A informação foi apresentada pelo relator da CPI do Futebol, senador Geraldo Althoff (PFL-SC), nesta quarta-feira (dia 9), durante o depoimento de Elmer.

Apesar de considerar a situação "não ética", o presidente da FMF afirmou que não há nada nos estatutos da entidade que proíba a contratação de parentes. Segundo afirmou, a sua família é ligada ao futebol e ele buscou o assessoramento de pessoas de sua total confiança. "Nós não consideramos isso ético e nos preocupa se isso for verdade em todas as outras federações do Brasil", afirmou Althoff.

Além de empregar parentes, Elmer, conforme demonstrou o relator, contrata uma empresa de assessoria contábil e uma gráfica que são de propriedade de seus filhos, um dos quais superintendente financeiro da FMF. "Isso não é justo e é imoral. Vou tomar as providências necessárias", anunciou o presidente da FMF, que disse que irá demitir seu filho imediatamente. Os senadores da CPI também identificaram duplicidade de balanços financeiros dos últimos cinco anos.

- Temos que saber agora qual dos dois se refere ao caixa dois. A ausência de documentação demonstra que não há fiscalização nem prestação de contas - afirmou o presidente da CPI, senador Álvaro Dias (PSDB-PR).

SONEGADOR CONTUMAZ

O relator também revelou que o dirigente é servidor da Secretaria de Esporte, Lazer e Turismo de Minas Gerais, onde ganha R$ 1,2 mil mensais, e recebe R$ 4 mil, a título de ajuda de custo, da FMF, apesar de o estatuto da entidade proibir a remuneração de diretores. Porém, Althoff declarou que Elmer não declarou suas rendas à Receita Federal, revelando-se um "sonegador contumaz".

- Administra-se uma federação como se fosse uma brincadeira. Esse depoimento mostra bem a situação do futebol brasileiro - afirmou Álvaro Dias.

Segundo o depoente, o fato de as despesas administrativas crescerem a cada ano e serem superiores às receitas, que vêm declinando, deve-se aos prejuízos decorrentes da Copa Centenário, realizada pela FMF em agosto de 1997, a pedido do governo de Minas Gerais e da prefeitura de Belo Horizonte, em comemoração aos 100 anos da cidade. O Milan, da Itália, e o Benfica, de Portugal, participaram do torneio, mas, continuou Elmer, o governo e a prefeitura não cumpriram sua parte no acordo, que não passou de um compromisso verbal.

O fracasso da Copa Centenário levou o dirigente a pedir empréstimos de empresas e a encerrar contas bancárias. Porém, o relator identificou cheques lançados no período em que Elmer disse não estar movimentando contas a empresas, uma das quais suspeita de ter sido usada como "laranja" para negócios irregulares.

Na mesma época, os senadores da CPI identificaram que a FMF deu integral apoio à campanha de Ivens Mendes, envolvido em escândalos na Comissão de Arbitragem da CBF, então candidato a deputado federal por Belo Horizonte. Doações para a campanha podem ter sido a causa, na avaliação dos membros da CPI, para os déficits da FMF.

O senador Geraldo Cândido (PT-RJ), que apresentou documentos sobre as rendas de jogos, levantou ainda a possibilidade de desvios das receitas de jogos. Já o senador Antero de Barros (PSDB-MT) afirmou que irá apresentar, entre as conclusões da CPI, sugestões que definam critérios transparentes para as eleições das federações de futebol. Diante da informação de que a FMF tem entre seus bens uma fazenda em Barra do Garças (MT), Antero sugeriu a Elmer que abandone a federação.

- Não sabemos como ainda não acabaram com o futebol brasileiro com tantos desmandos praticados. Estamos olhando para o retrocesso. Um clã governa o futebol mineiro há cerca de 35 anos, administra a Federação Mineira de Futebol como se fosse uma propriedade familiar. Esses clãs agem na impunidade, sem qualquer fiscalização. O futebol como atividade econômica está na marginalidade - afirmou Álvaro Dias, ao final do depoimento.

09/05/2001

Agência Senado


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