Nepotismo e caixa dois fazem parte da realidade da Federação Mineira de Futebol, constata CPI
Apesar de considerar a situação "não ética", o presidente da FMF afirmou que não há nada nos estatutos da entidade que proíba a contratação de parentes. Segundo afirmou, a sua família é ligada ao futebol e ele buscou o assessoramento de pessoas de sua total confiança. "Nós não consideramos isso ético e nos preocupa se isso for verdade em todas as outras federações do Brasil", afirmou Althoff.
Além de empregar parentes, Elmer, conforme demonstrou o relator, contrata uma empresa de assessoria contábil e uma gráfica que são de propriedade de seus filhos, um dos quais superintendente financeiro da FMF. "Isso não é justo e é imoral. Vou tomar as providências necessárias", anunciou o presidente da FMF, que disse que irá demitir seu filho imediatamente. Os senadores da CPI também identificaram duplicidade de balanços financeiros dos últimos cinco anos.
- Temos que saber agora qual dos dois se refere ao caixa dois. A ausência de documentação demonstra que não há fiscalização nem prestação de contas - afirmou o presidente da CPI, senador Álvaro Dias (PSDB-PR).
SONEGADOR CONTUMAZ
O relator também revelou que o dirigente é servidor da Secretaria de Esporte, Lazer e Turismo de Minas Gerais, onde ganha R$ 1,2 mil mensais, e recebe R$ 4 mil, a título de ajuda de custo, da FMF, apesar de o estatuto da entidade proibir a remuneração de diretores. Porém, Althoff declarou que Elmer não declarou suas rendas à Receita Federal, revelando-se um "sonegador contumaz".
- Administra-se uma federação como se fosse uma brincadeira. Esse depoimento mostra bem a situação do futebol brasileiro - afirmou Álvaro Dias.
Segundo o depoente, o fato de as despesas administrativas crescerem a cada ano e serem superiores às receitas, que vêm declinando, deve-se aos prejuízos decorrentes da Copa Centenário, realizada pela FMF em agosto de 1997, a pedido do governo de Minas Gerais e da prefeitura de Belo Horizonte, em comemoração aos 100 anos da cidade. O Milan, da Itália, e o Benfica, de Portugal, participaram do torneio, mas, continuou Elmer, o governo e a prefeitura não cumpriram sua parte no acordo, que não passou de um compromisso verbal.
O fracasso da Copa Centenário levou o dirigente a pedir empréstimos de empresas e a encerrar contas bancárias. Porém, o relator identificou cheques lançados no período em que Elmer disse não estar movimentando contas a empresas, uma das quais suspeita de ter sido usada como "laranja" para negócios irregulares.
Na mesma época, os senadores da CPI identificaram que a FMF deu integral apoio à campanha de Ivens Mendes, envolvido em escândalos na Comissão de Arbitragem da CBF, então candidato a deputado federal por Belo Horizonte. Doações para a campanha podem ter sido a causa, na avaliação dos membros da CPI, para os déficits da FMF.
O senador Geraldo Cândido (PT-RJ), que apresentou documentos sobre as rendas de jogos, levantou ainda a possibilidade de desvios das receitas de jogos. Já o senador Antero de Barros (PSDB-MT) afirmou que irá apresentar, entre as conclusões da CPI, sugestões que definam critérios transparentes para as eleições das federações de futebol. Diante da informação de que a FMF tem entre seus bens uma fazenda em Barra do Garças (MT), Antero sugeriu a Elmer que abandone a federação.
- Não sabemos como ainda não acabaram com o futebol brasileiro com tantos desmandos praticados. Estamos olhando para o retrocesso. Um clã governa o futebol mineiro há cerca de 35 anos, administra a Federação Mineira de Futebol como se fosse uma propriedade familiar. Esses clãs agem na impunidade, sem qualquer fiscalização. O futebol como atividade econômica está na marginalidade - afirmou Álvaro Dias, ao final do depoimento.
09/05/2001
Agência Senado
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