Ex-sócia de Diógenes reafirma acusações
Ex-sócia de Diógenes reafirma acusações
Maria Angela criticou atuação de agentes do Ministério Público
A agente de viagens Maria Angela Fachini, 43 anos, confirmou ontem, a uma subcomissão de deputados da Assembléia, todas as denúncias que fez ao Ministério Público em junho contra Diógenes de Oliveira, ex-presidente do Clube de Seguros da Cidadania.
Maria Angela confessou ter forjado declaração de empréstimo ao Clube da Cidadania e acusou Diógenes, seu ex-sócio, de traficar influência dentro do governo gaúcho e de ser favorecido em licitações viciadas.
Incluída no programa federal de proteção a testemunhas, Maria Angela chegou à Assembléia Legislativa escondida por um capuz escuro. Ao falar à subcomissão que investiga o caso já havia retirado a máscara, mas exigiu não ser fotografada.
Ao iniciar o depoimento, Maria Angela disse estar se sentindo ameaçada por Diógenes, porque sua mãe tem recebido telefonemas anônimos com conselhos para cuidar bem de sua família.
Maria Angela respondeu a todas as perguntas dos oito deputados da oposição que estavam na reunião da subcomissão, incriminando Diógenes, o Clube de Seguros da Cidadania e a Secretaria Estadual da Saúde. Mas se recusou a responder aos questionamentos do único deputado governista, Flávio Koutzii, que tentava esclarecer a responsabilidade que ela teria sobre as dívidas da Pangea Viagens e Turismo.
– Eu me nego a responder qualquer coisa sem um advogado.
A agente é acusada judicialmente por Diógenes de haver causado um desfalque na agência de turismo. Ontem, ao final da sessão de cerca de três horas de duração, o relator da subcomissão, Vieira da Cunha (PDT), foi questionado por Koutzii sobre a credibilidade das afirmações da testemunha.
– Quero saber se não há uma relação entre o fato de que desapareceu dinheiro da Pangea, das queixas apresentadas pelos outros sócios e a mudança do depoimento de Maria Angela. Faz parte de uma inquirição como essa levantar essa hipótese – disse Flávio Koutzii.
– A tática de tentar desqualificar o acusador é muito antiga. Eu quero saber dos fatos. Ela apresentou fatos e documentos comprobatórios. Isso dá credibilidade ao seu testemunho, na minha ótica – respondeu Vieira.
Maria Angela confirmou ter participado de uma licitação da Secretaria da Saúde que teria sido fraudada. Sua antiga empresa, a ASM Turismo e Viagens, já desativada, apresentou proposta para o fornecimento de passagens para um evento em Brasília, em dezembro do ano passado, já sabendo, segundo Maria Angela, que seria a vencedora. Sem tempo hábil para abrir conta no Banrisul para receber o pagamento, foi substituída pela segunda colocada, a Pangea.
Em troca da conquista do negócio, Diógenes teria usado sua influência no governo gaúcho para conseguir que o responsável pela licitação, Pedro Bessa, fosse transferido, como era seu desejo, da Secretaria da Saúde para a Metroplan.
Maria Angela criticou o Ministério Público Estadual (MPE) e ganhou a simpatia dos deputados de oposição. Sem citar nomes, ela acusou dois promotores da instituição de não se interessar por tomar seu depoimento em junho, quando decidiu revelar que havia prestado falso testemunho. Outro promotor, identificado como “um tal de Cláudio”, foi apontado como responsável pelo repasse do teor do depoimento a Diógenes.
Contraponto
O que disse Mauro Renner, subprocurador-geral de Justiça:
O subprocurador destacou ontem que Maria Angela Fachini foi ouvida no Ministério Público Estadual por dois promotores, na presença de um terceiro e do presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH), Jair Krischke.
– Há uma inverdade nas colocações dela. Sempre mantivemos as portas abertas para a inquirição e procuramos dar total transparência a nossa atividade. Houve todo o interesse do Ministério Público em tomar o depoimento – afirmou Renner
Tarso Genro: 'Com oito anos, eu fazia campanha política'
O depoimento do candidato da Frente Popular (PT-PCB-PC do B-PMN) ao governo do Estado, Tarso Genro, dá seqüência à série de perfis dos nomes que disputam o Palácio Piratini. A ordem de publicação odedece ao critério da posição do candidato na mais recente pesquisa do Ibope.
Tarso Genro, 55 anos, foi vereador em Santa Maria (1968), vice-prefeito de Porto Alegre na administração de Olívio Dutra (1989-1992), deputado federal (1988-1989) e prefeito de Porto Alegre (1993-1996 e de janeiro de 2000 a março de 2002). A seguir, os principais trechos do depoimento sobre sua trajetória.
O guri cabo eleitoral
Nasci em São Borja em 6 de março de 1947. Meu pai, Adelmo, era professor, e minha mãe, Elly, dona de casa. Estudei no jardim de infância e no 1º ano primário em colégio de freiras. Morávamos num apartamento do ginásio em que meu pai era diretor. Lembro-me do pátio enorme, dos jogos de futebol e vôlei e das paradas de 7 de Setembro. Aos seis anos, em 1953, fomos para Santa Maria, onde estudei o curso primário no grupo Escolar João Belém e no Colégio Olavo Bilac. Freqüentei o ginásio no Colégio Estadual Manoel Ribas, o Maneco, e a partir dos 14 anos comecei a militar na política estudantil no grêmio da escola.
Terminei o ginásio e entrei na Escola Agrotécnica de Santa Maria, com aulas teóricas pela manhã. À tarde, trabalhava no campo ou na roça em aulas práticas. Aquilo me tirava da rotina de casa. Fui para a escola por causa de uma certa hiperatividade de adolescente. Até hoje me interesso por questões agrárias. A escola me deu um senso de organização muito grande. Em Santa Maria, também acompanhava meu pai, desde os oito anos, nas campanhas políticas. Ele era prócer do PTB, foi vereador por duas vezes e vice-prefeito. Lembro que distribuíamos cédulas nas esquinas. Fazia aquilo com prazer. Fui vice-presidente da ala moça do PTB. Meu pai foi o estímulo para a relação pública, como político. O núcleo agregador familiar, afetivo, dos seis filhos, sempre foi a minha mãe.
O poeta e a pobreza
O maior choque moral que tive na vida foi quando conheci a miséria do Nordeste. Como dirigente do grêmio estudantil, aos 15 anos, em 1962, fui ao primeiro encontro nacional de estudantes de escolas agrotécnicas em Bananeiras, na Paraíba. Na minha cidade havia poucos mendigos. Sentamos numa mesa e pedimos salsicha e pão para comer. Umas 15 pessoas ficaram em volta olhando. Isso me chocou muito. Meu livro Vento Norte, de poesia social e romântica, tem um poema que se chama Transnordestina e que se refere a este fato. Decidi participar da política de uma maneira muito intensa e descobri minha vocação para participar, discutir, elaborar. Comecei a ler muito e a escrever poesias, a partir dos 16 anos. Lia Augusto dos Anjos, Castro Alves, Álvares de Azevedo. Inpirava-me em García Lorca (poeta espanhol) e Pablo Neruda (poeta chileno). Publiquei mais três livros de poesia. Concluí que a poesia era uma forma de me relacionar com o mundo. Ainda escrevo poesia eventualmente, muito mais como exercício afetivo do que para publicar.
Terminei a Escola Agrotécnica e resolvi fazer Direito, em 1966, quando também freqüentei o curso de artilharia do Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR). Passei a escrever sobre teoria política. Lecionava, estudava e trabalhava no escritório de advocacia de meu pai. Me sustento desde os 15 anos. Na faculdade, militei um ano no movimento estudantil e depois, com 20 anos, fui ajudar os ferroviários de Santa Maria a reorganizar o movimento sindical na clandestinidade. A partir daí, militei praticamente na clandestinidade.
O mergulho nos livros
Em Santa Maria, durante a faculdade, formamos um grupo literário, a Vanguarda Cultural, de boemia literária. Uns escreviam contos, outros, poesia, ensaios. Um livro que me marcou profundamente e que li aos 15 anos foi A História da Riqueza do Homem, de Leo Huberman, que mostra a humanidade da escravidão até o capitalismo. Aos 17 anos, li Náufragos, de Erich Remarque. Fala do exílio dos judeus e de alguma forma de todas as pessoas que se inconformam com o autoritarismo e não aceitam a guerra. E um livro que teve importância na minha maturidade, quando rompi com a visão simplista do marxismo soviético, burocrático e anti-humanista, chama-se Memórias de um Revolucionário, de Victor Serge, que faz a crítica do sovietismo stalinista.
Até então, eu lia 80% de livros marxistas e 20% de livros não-marxistas. No fim da década de 70, comecei a ver um horizonte muito mais amplo de estudo e de leitura que me ajudou muito a formular as visões políticas que desenvolvo hoje. Militava na Ala Vermelha, uma dissidência do PC do B. Depois, até meados dos anos 80, organizei o PRC (Partido Revolucionário Comunista). Até ali, entendíamos que a Assembléia Nacional Constituinte (1986) não sairia e que o país teria uma ditadura mais forte do que a anterior. Apostávamos nas organizações clandestinas para poder resistir. Essa visão se mostrou equivocada, porque a partir de 1986 começou o movimento de composição política nacional e a consolidação da democracia.
A traição do companheiro
Fui eleito vereador em Santa Maria pelo MDB em 1968. Em fins de 1972, vim para Porto Alegre. Minha mulher (a médica Sandra Genro) veio fazer residência no Hospital de Clínicas. Como advogado, passei a me relacionar com entidades sindicais e a ajudá-las na luta pela formação da CUT (Central Única dos Trabalhadores), depois de ter ficado fora do país entre 1971 e 1972. Havia uma ordem de prisão contra mim por causa do trabalho clandestino em Santa Maria. Fui denunciado por um companheiro, de quem não vou citar o nome. Numa acareação, ele me apontou como responsável pelo trabalho clandestino com os sindicatos. Fui morar em Rivera, no Uruguai, onde lecionava 12 horas por dia. Convivi com Jango (ex-presidente João Goulart) no exílio.
Só retornei quando o processo saiu do Dops (Departamento de Ordem Política e Social) e foi para a auditoria militar, onde havia menos possibilidade de tortura. Mas não padeci nenhum suplício de natureza física. Em Porto Alegre, continuei escrevendo livros de Direito, críticas literárias, atuando como advogado e militando na organização do movimento sindical. O período no PRC, de 1978 a 1987, foi rico. Estudava com pessoas como José Genoino e meu irmão Adelmo Genro Filho. Fazíamos a crítica radical do stalinismo e da visão simplista da ditadura do proletariado e do marxismo da Academia de Ciências da União Soviética. Em 1982, entrei no PT e em 1986 fui candidato à Assembléia Nacional Constituinte. Fui o terceiro mais votado do partido no Estado. Não me elegi porque o PT tinha pouca legenda. Em 1988, me elegi vice-prefeito na chapa de Olívio Dutra à prefeitura de Porto Alegre.
Candidatos discutem a Uergs
O papel da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs) e a manutenção do Fórum Social Mundial (FSM) no Estado foram debatidos na tarde de ontem por seis dos 12 candidatos ao Palácio Piratini durante painel realizado em conjunto pela universidade e pelo comitê gaúcho de organização do FSM.
Cada candidato teve a oportunidade de expor suas propostas, individualmente, durante cerca de 20 minutos, e respondeu a perguntas elaboradas pelos organizadores e universitários de 12 núcleos da Uergs.
Embora convidados, Celso Bernardi (PPB), Antônio Britto (PPS), Júlio Flores (PSTU), Luiz Carlos Martins (Prona), Oscar Jorge de Souza (PCO) e Luiz Carlos Prates (PTN) não compareceram ao evento.
O candidato do PMDB, Germano Rigotto, abriu o painel, por volta das 15h20min. Ele destacou a importância de manter a articulação dos movimentos sociais e o debate na sociedade gaúcha.
– O nosso plano de governo vai ter aquilo que o Fórum deseja: um desenvolvimento acompanhado de políticas públicas para enfrentar as desigualdades – afirmou Rigotto, que também propõe desenvolver a Uergs de maneira regionalizada.
Caleb de Oliveira (PSB) destacou que trabalhará para aprimorar a Uergs, um projeto de seu partido. José Vilhena (PV) e Carlos Schneider (PSC) trouxeram propostas para valorizar a reforma psiquiátrica do Estado, a família e a educação. Aroldo Medina (PL) sugeriu o controle da natalidade como forma de prevenir a exclusão social e chegou a ser vaiado ao criticar a falta de aulas no magistério estadual.
Tarso Genro (PT), que encerrou o debate por volta das 18h, foi ovacionado desde a sua chegada à sede da Uergs e o único a ser privilegiado com um tempo maior de exposição. Ele reforçou que o Fórum é um dos espaços democráticos mais importantes desde o pós-guerra e ressaltou a necessidade de transformar a Uergs, “um dos grandes feitos do governo”, e a TVE em “instrumentos da pluralidade”. O candidato demonstrou ainda preocupação com a tendência de se “partidarizar” o Fórum Social Mundial.
AS PRINCIPAIS PROPOSTAS
TARSO GENRO (PT)
• Manter a realização do Fórum Social Mundial no Estado
• Fazer com que TVE e Uergs tenham dever com a pluralidade de idéias
GERMANO RIGOTTO (PMDB)
• Incluir a Uergs nos projetos de desenvolvimento do Estado e investir em regionalização
• Disponibilizar a estrutura para realização do Fórum Social Mundial
JOSÉ VILHENA (PV)
• Reestruturar o sitema psiquiátrico
• Manter a universidade pública e gratuita
• Fazer com que o Fórum Social Mundial seja itinerante
AROLDO MEDINA (PL)
• Qualificar a mão-de-obra e as escolas rurais
• Remodelar o projeto da Uergs para diminuir o custo
• Instalar restaurantes populares no Estado
• Manter o Fórum Social Mundial
CALEB DE OLIVEIRA (PSB)
• Manter o Fórum Social Mundial
• Utilizar o sistema de cotas nas universidades e no serviço público
• Utilizar a Uergs para desenvolver o Estado
CARLOS SCHNEIDER (PSC)
• Reforçar e valorizar a importância da família
• Resgatar a motivação dos professores
• Manter o Fórum Social Mundial
AGENDA DOS CANDIDATOS
O que eles farão hoje
Candidatos a governador
• ANTÔNIO BRITTO (PPS)
Visitas a Capão da Canoa, Montenegro e Novo Hamburgo.
• AROLDO MEDINA (PL)
Gravação de programas eleitorais, debate na Escola Técnica Ernesto Dorneles, na Capital, e comício em São Leopoldo.
• CALEB DE OLIVEIRA (PSB)
Caminhada e lançamento do plano de governo em Pelotas.
• CELSO BERNARDI (PPB)
Palestra na Associação Comercial e Industrial de Arroio do Meio, reunião com presidentes dos diretórios municipais, inauguração de comitê eleitoral e jantar do deputado João Augusto Nardes, em Porto Alegre.
• GERMANO RIGOTTO (PMDB)
Caminhadas nos centros de Viamão e de Alvorada, entrevista para emissora de rádio e comício em São Sebastião do Caí.
• JÚLIO FLORES (PSTU)
Panfletagem em frente à Metalúrgica Still, em São Leopoldo.
• TARSO GENRO (PT)
Visitas a Teotônia, Nova Prata, Nova Bassano, Nova Araçá, Casca, Vila Maria e Marau.
Candidatos a presidente
• ANTHONY GAROTINHO (PSB)
Entrevista ao jornal O Globo, no Rio, e caminhadas em Ribeirão Preto e Franca.
• CIRO GOMES (PPS)
Gravação de programa eleitoral em São Paulo.
• JOSÉ MARIA DE ALMEIDA (PSTU)
Visita a Recife (PE).
• JOSÉ SERRA (PSDB)
Gravação de programa eleitoral em São Paulo.
• LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA (PT)
Encontro com Zilda Arns, na Pastoral da Criança, e comício com participação de Zezé di Camargo e Luciano em Curitiba (PR).
• RUI COSTA PIMENTA (PCO)
Gravação de programa eleitoral e reunião da executiva nacional do part ido, em São Paulo.
Coligação de Britto faz acusação a Tarso
Alvo é atuação de petista como advogado
O espaço dos candidatos a deputado federal da coligação O Rio Grande em 1º Lugar, que apóia a candidatura do ex-governador Antônio Britto (PPS) a governador, foi parcialmente dedicado ontem à tarde a atacar o candidato do PT, Tarso Genro.
Segundo o narrador do programa, o candidato petista se propõe a defender o governo do Estado, mas quando advogava teria recebido mais de R$ 1 milhão em 16 ações contra o Estado.
Enquanto a voz do narrador apresentava as acusações contra o candidato petista, a tela mostrava duas mãos folheando as páginas de um processo com as inscrições “R$ 1.028.863,65”. O narrador acrescentou ainda que foram centenas de processos contra o Estado. A tela mostrou os dizeres “272 processos”.
– Ele vai defender o Rio Grande? Ou o escritório? – questionou o narrador.
CONTRAPONTO
O que disse o candidato do PT ao governo do Estado, Tarso Genro:
“Sinto que bateu o desespero na campanha Britto. Fui sócio majoritário de um escritório com mais de 20 advogados e 30 funcionários. Advoguei milhares de causas para trabalhadores do setor público e privado. Posso dizer o que fiz: ações, recursos, sustentações orais, dissídios coletivos. Declaro publicamente quais eram minhas tarefas como advogado.”
Jogral
Novidade no horário eleitoral gratuito. Para criticar o candidato do PPS ao governo do Estado, o PT recorreu ontem a seus candidatos a deputado federal e a uma espécie de jogral. Maria do Rosário foi a primeira a falar, seguida por outros companheiros, como Marcos Rolim. Cada um dizia uma frase ou duas, uma puxando a outra e todas fazendo referência às relações de Antônio Britto com o Banco Opportunity.
Mão única
Café da manhã promovido ontem pelo Sindilojas e pela CDL. Antônio Britto (PPS) é o convidado. Na hora em que o mediador pergunta se alguém ainda tem algum comentário, uma senhora, lojista, quer saber quais providências o candidato tomaria a propósito da Avenida Independência, “um perigo de atravessar”, com aquela pista destinada a lotações e ônibus. À medida em que a cidadã fala, o burburinho na sala aumenta. Alguns maldosos chegam a rir.
Britto diz que se solidariza com a lojista, pois também atravessa a Independência diariamente. Lembra, porém, que esse é um assunto exclusivo da administração municipal, que regula o trânsito nas ruas.
– O Estado faz o mesmo papel, mas nas estradas estaduais – ensinou.
Em São Paulo, o Tribunal Regional Eleitoral condenou o candidato a deputado estadual Valdir Pereira da Silva (PL) a pagar uma multa de R$ 5,3 mil.
Ele havia colado cartazes de propaganda política em postes de iluminação pública e sinalização, ao longo de toda a Rua Lino Coutinho.
Além da multa, a sentença determina que Silva remova todos os cartazes, sob pena de incidir no artigo 347 do Código Eleitoral, que prevê pena de detenção de três meses a um ano e pagamento de multa. Cabe recurso ao TRE.
Tabajara
O PPS gaúcho abriu ontem seu programa de TV com um quadro intitulado Organizações Tá na Cara. Atores caracterizados como Olívio Dutra e Tarso Genro confabulavam:
– E se eu prometer uma teta pra todo mundo? – pergunta “Tarso”.
– Não dá – respondia “Olívio”. – O nosso pessoal já está agarrado nela.
Curiosamente, em Pernambuco, é o PT quem faz uma sátira inspirada no quadro Organizações Tabajara, do programa Casseta & Planeta. Lá, eles apresentam o Organizações TabaJarbas, em que ironizam o programa de segurança do governador Jarbas Vasconcelos (PMDB), candidato à reeleição.
Faoro
O jurista gaúcho Raymundo Faoro confirmou ontem que vai votar em Lula nas eleições de 6 de outubro. O autor do clássico Os Donos do Poder, que deve tomar posse na semana que vem na Academia Brasileira de Letras, ainda arriscou previsões para o segundo turno:
– Acho que, se o Lula foi para o segundo turno com esse rapaz do Norte (Ciro Gomes), ele não terá risco nenhum, vai ganhar fácil. Se disputar com Serra, vai ser muito difícil, não pelo que ele é, mas porque atrás dele vai desabar o governo federal e todas as grandes fortunas. O poder econômico aliado ao poder do Estado vai querer impingir o presidente.
Em entrevista ao jornal O Globo, Faoro ofereceu até mesmo um conselho para o candidato petista:
– Lula não ganhará nada sendo agressivo, nem no primeiro, nem no segundo turno. Ele tem que deixar a impressão de que é um homem sereno, capaz de afrontar as provocações.
Autran
Nova adesão ao time de artistas brasileiros que abriram o voto. Segunda-feira, à noite, no programa Roda Viva, perguntaram ao ator Paulo Autran se ele já tinha candidato para presidente. O artista, que acaba de completar 80 anos e foi visto recentemente em Porto Alegre na peça Variações Enigmáticas, pediu licença ao apresentador Paulo Markum e anunciou seu candidato:
– José Serra.
O ator Matheus Nachtergaele, um dos entrevistadores, quis saber por quê. Autran elogiou o preparo intelectual e a experiência administrativa do ex-ministro.
Mate
Candidato a deputado federal pelo PSC gaúcho, Jaires Maciel repete no horário eleitoral gratuito o mesmo slogan de 1998, quando também concorria à Câmara. De cuia na mão, ele brada:
– Aqui tem água pro chimarrão.
Entre os projetos defendidos por Maciel e seu partido, está a construção de um presídio de segurança máxima em plena Floresta Amazônica.
PT quer investigar privatização
O PT, por intermédio do deputado estadual Ronaldo Zülke, pediu ontem a criação de uma subcomissão pela Assembléia Legislativa para investigar o processo de privatizações no governo Antônio Britto (PPS).
O pedido foi encaminhado à presidente da Comissão de Finanças e Planejamento da Assembléia, Cecilia Hypolito (PT), que determinou sua votação na próxima semana.
A subcomissão examinaria a denúncia de suposto envolvimento de cinco empresas prestadoras de serviços de telefonia com sonegação fraudulenta. O ex-secretário de Minas, Energia e Comunicações do Estado no governo Britto, Assis Roberto de Souza, é sócio de três das cinco empresas denunciadas.
Conforme o jornal Folha de S.Paulo, as empresas foram alvo de busca e apreensão no dia 29 de agosto em investigação do Ministério Público Federal (MPF), da Polícia Federal, Receita Federal e do INSS. É apurada também pela Delegacia Regional do Trabalho (DRT) suspeita de irregularidade no pagamento de salários pelas empresas. O MPF confirma a investigação. A operação em Porto Alegre, Novo Hamburgo e Tramandaí apreendeu computadores, disquetes e documentos. Segundo Cecilia, há suspeita de que Assis tenha tido privilégios no processo de privatização.
Contraponto
O que dizem as empresas Pampa e Telsul em nota:
“ (...) A investigação a que se referem as notícias examina tão somente a fórmula de premiação de funcionários por qualidade e produtividade, modelo largamente utilizado pelas maiores empresas do país. Agora o Ministério Público Federal, a pedido da Delegacia Regional do Trabalho, questiona se essas premiações constituiriam ‘salário’. Discordamos dessa interpretação, e a seu tempo vamos juridicamente contestá-la, se houver processo judicial. Por enquanto somente há investigação. Nada mais (...)”
Palanque eletrônico
Veja as estratégias dos candidatos ao Palácio do Planalto utilizadas no programa eleitoral:
LULA VIRA ALVO DE SERRA
O programa de José Serra (PSDB) iniciou-se com a apresentadora dizendo que começou o grande debate eleitoral entre Serra e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para definir quem é o mais preparado para governar o país. Depois, a atriz Vida Alves discorreu sobre as medidas adotadas por Serra, quando ministro da Saúde, para beneficiar idosos. Alternaram-se ela e o candidato na apresentação das providências e dos resultados obtidos. Serra também definiu suas propostas para as pessoas da terceira idade.
Planos
• Realizar cursos
• Criar o passaporte da terceira idade
• Criar o banco de talentos
• Melhorar a Previdência
DISPUTA EMBOLADA
As pesquisas eleitorais foram utilizadas no programa de Anthony Garotinho (PSB) para dizer que ele está “embolado com Serra e Ciro”. O candidato voltou a destacar a reabertura de diversos estaleiros na época em que governou o Rio, afirmando ter criado 40 mil empregos diretos e indiretos. Se eleito, Garotinho pretende reabrir as fábricas fechadas que existem em todo o país.
Anthony Garotinho: "Se alguém pode prometer empregos, este alguém é o Garotinho"
UMA HISTÓRIA DE AMOR
O rap com o bordão “depois de oito anos no governo/não vem com esta de prometer emprego” abriu o programa de Ciro Gomes (PPS). Depois, ele e sua mulher, Patrícia Pillar, deram depoimentos sobre seu relacionamento, chamado de “uma história de amor” pelo apresentador. O restante do programa foi centrado nos problemas de inclusão social enfrentados pela comunidade negra no Brasil e a proposta do candidato de se reunir com o segmento para definir medidas que solucionem o problema.
Ciro Gomes: "Ela para mim é um presente que Deus me deu"
DE OLHO NA VIOLÊNCIA
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) centrou seu programa na questão da violência e em como combatê-la. Disse que a violência surge do uso de drogas e álcool, da miséria e do desemprego e é agravada pelo despreparo e a corrupção policial e pela omissão das autoridades federais.
Propostas
• Exonerar os maus policiais
• Preparar, equipar e melhor remunerar os policiais
• Criar projetos de primeiro emprego e investir em educação, lazer e cultura
• Criar a Agência Nacional de Segurança Pública
“Não vou vender a alma para ser presidente”
Entrevista: Ciro Gomes, candidato à Presidência pelo PPS
Ciro Gomes, candidato do PPS à Presidência, não poupou críticas aos seus adversários durante a sabatina com jornalistas, colunistas e leitores convidados pelo jornal O Globo, ontem pela manhã, no auditório do veículo, no Rio. Ele criticou Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por não ter apoiado o governo Itamar Franco, após ter lutado junto ao PSDB pelo impeachment de Fernando Collor de Mello. Sobre José Serra (PSDB), Ciro disse que o tucano teria atrapalhado a implantação do Plano Real. Na época, segundo o candidato sabatinado, Serra era líder do PSDB na Câmara.
Luis Fernando Veríssimo, Elio Gaspari, João Ubaldo Ribeiro, Mirian Leitão, Artur Xexéo, Chico Caruso, Tereza Cruvinel, Paulo Coelho, Miguel Falabella, Ancelmo Góis, Cora Rónai, Fernando Calazans e Jorge Bastos Moreno fizeram perguntas ao candidato, assim como leitores sorteados pelo jornal.
Tereza Cruvinel – Como o senhor governará se tem o apoio de pessoas heterogêneas, como o ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL) e o ex-governador Leonel Brizola (PDT)?
Ciro Gomes – Não assumi compromissos de cargos com ningúem. Estou convencido de que o Brasil tem um modelo econômico errado e não adianta apenas falar mal. É preciso propor soluções práticas. Defendi uma ampla coalizão de apoio para sustentar meu governo, caso seja eleito, mas não haverá fisiologismo para garantir a governabilidade.
João Ubaldo Ribeiro – Por que o senhor se acha o melhor candidato?
Ciro – O povo brasileiro é que vai julgar quem é o melhor candidato à Presidência. Acredito que eu possa ser a melhor opção, mas não vou aqui dizer que sou o mais indicado, por que só aceitei ser candidato depois de acumular experiência suficiente para poder ter condições de comandar o país.
Miriam Leitão – O senhor sempre cita países parlamentaristas, mas o Brasil é presidencialista.
Ciro – Sou parlamentarista por convicção, mas acredito que o povo votou certo contra o regime no último plebiscito. Na época, o parlamentarismo foi imposto como solução, mas na verdade era um golpe das elites para que as frentes populares não pudessem tomar o Brasil. Não quero ser como o “presidencialista” Fernando Henrique Cardoso, que prometeu mais empregos nos primeiros quatro anos de governo, e sai agora com 11 milhões de desempregados. Quero preparar o país para o parlamentarismo.
Paulo Coelho – O que fazer para melhorar a imagem do país no Exterior, com os atuais índices de violência?
Ciro – Não adianta apenas o Brasil ter uma imagem forte no Exterior se o país enfrenta várias dificuldades, como a violência e a pobreza. Imagem não é tudo. É preciso combater a criminalidade e colocar a criança na escola. Imagem tem que ser reflexo da realidade.
Miguel Falabella – Quais são seus planos para a cultura e a educação?
Ciro – É fundamental mudar a identidade cultural do Brasil. Hoje, a felicidade não é mais fazer um poema ou uma serenata, mas sim consumir o que a renda permite. Tudo o que vem de fora é bem aceito e o que é nosso não tem valor. Quanto à educação, é preciso qualificar os professores, melhorar seus salários e ajudar os pobres a conseguir chegar à universidade.
Luis Fernando Verissimo – Qual seria o seu primeiro ato de governo?
Ciro – Quando assumi a prefeitura de Fortaleza, disse que qualquer ato teria de ser motivado e repeti isto ao tomar posse como governador do Ceará. No meu governo, só valerão atos que forem motivados.
Zuenir Ventura – Estou surpreso com suas propostas, que contrariam as impressões que eu tinha a seu respeito.
Ciro – Entrei na política porque gosto e não vou mudar. O Ciro que está hoje aqui com vocês é o verdadeiro. O outro, chamado de intempestivo, foi produzido por Nizan Guanaes, o publicitário do candidato do governo. Eu não sou um estadista nórdico e sempre fui como a música dos Titãs que diz “O acaso vai me proteger enquanto eu andar distraído”.
Márcio Moreira Alves – O que o senhor acha de ser acusado de machista?
Ciro – Fiz apenas uma brincadeira com minha mulher, mas minhas palavras foram manipuladas. Machismo é supor que uma mulher “extraordinária” como ela não tem crítica. Quando governei o Ceará, tive quatro mulheres como secretárias de Estado. A melhor homenagem às mulheres é repartir com elas o poder.
Ancelmo Góis – Como o senhor pretende reverter a longa trajetória de derrotas do poder público para a violência, se for eleito?
Ciro – O jogo da questão da violência no Brasil foi perdido pelo atual governo. Caso seja eleito, vou mudar a legislação. Também é necessário mudar as instituições para que o jovem não se renda à delinqüência. O crime organizado tem poder financeiro e irradia sua influência nas estruturas, subordinando juízes e parlamentares. Pretendo levar para o governo federal a responsabilidade pela segurança.
Artur Xexéo – Como está a sua alma diante da queda nas pesquisas? O senhor acredita em uma virada?
Ciro – Sou um lutador e isso, para mim, é vocação e não um meio de vida. As pesquisas mostram que os eleitores têm suas intenções de voto, mas não vemos as pessoas estarem apaixonadas por nenhum candidato. Então, acho que tenho chance.
Leitor – Qual será sua relação com o Congresso e a base parlamentar para que medidas de governo sejam aprovadas em tempo hábil?
Ciro – Não importa o tempo que demore para que reformas no país sejam colocadas em prática, desde que se tenha uma perspectiva de melhoria. Hoje o congresso é que decide o futuro do Brasil e o presidente tem mínima participação. Minha base parlamentar pode demorar o tempo que for para ajustar as reformas desde que deixe uma transição preparada para as mu danças. Nem que seja em 2008.
Leitor – Quais as propostas de melhoria das condições de vida do povo?
Ciro – Defendo uma política de aumento de salário mínimo mais agressiva. O peso sempre cai sobre os mais pobres, e a solução seria reduzir a informalidade do mercado de trabalho. Assim a Previdência melhoraria e poderia permitir o aumento do mínimo.
Leitor – Que motivos levariam o senhor a não votar em Lula, Serra ou Garotinho?
Ciro – Acredito que o PT tenha boa gente, mas eu não confiaria meu voto a um partido experimentalista e que nunca governou. Faltam projetos ao PT e experiência ao Lula. E quanto ao candidato do governo, não votaria nele por saber que nele os requisitos ético e moral estão desatendidos. Já Anthony Garotinho é um novato para assumir a Presidência, mas tem potencial.
Leitora – Por que disse que preferia cortar o braço a firmar acordo com banqueiros?
Ciro – O que é lucro para os banqueiros internacionais é a desgraça para as empresas daqui. Você pede 10 e paga 30. Não tem condições de pagar o que deve e pede mais. No fim, a sua empresa quebra porque não tem como acabar com as dívidas. Não vou vender a alma para ser presidente do Brasil e não serei domesticado pelo capital estrangeiro.
Serra tem novo alvo
O governo Olívio Dutra será a principal vidraça do PT nos ataques do candidato presidencial José Serra (PSDB) ao adversário Luiz Inácio Lula da Silva.
Concentrar a artilharia em Lula é a principal tática de Serra a partir de agora, depois de ter se distanciado de Ciro Gomes (PPS) nas pesquisas de intenção de voto.
O comando de campanha de Serra enviou para o Rio Grande do Sul e outros Estados emissários encarregados de coletar material contra as administrações petistas que possam ser usados contra Lula.
– Se for para fazer avaliação de governos, vamos ter de lembrar Santo André, o governo de Marta Suplicy em São Paulo e o do Rio Grande do Sul – afirmou Rui Rodrigues, que com Nizan Guanaes e Nelson Biondi forma o trio de marqueteiros de Serra.
O presidente do PSDB, José Aníbal, afirma que Serra precisa derrubar o muro que o separa de Lula.
– Vamos acabar com isso. Afinal, estamos disputando a Presidência do Brasil – disse Aníbal, que alega ser necessário chamar o candidato do PT para o campo dos debates.
Os tucanos querem forçar a discussão imediata dos projetos de governo porque entendem que isso desgastaria o petista, considerado inexperiente, para uma eventual disputa no segundo turno.
No horário eleitoral da TV na noite de ontem, Serra usou pela primeira vez a nova tática ao dizer que a proposta de criar 8 milhões de empregos em quatro anos “não é uma promessa”:
– Se quisesse tirar proveito eleitoral, falava 11 milhões, porque o PT prometeu 10. Eu estou dizendo como.
Em Cuiabá (MT), o tucano afirmou que Lula terá de esclarecer ligações com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e suas posições sobre reforma agrária.
O candidato do PT ao Senado em São Paulo Aloizio Mercadante, criticou a tática tucana:
– A estratégia de Serra é de duvidosa eficácia.
Procurada na noite de ontem por Zero Hora para se posicionar sobre os ataques de Serra, a Coordenação de Jornalismo do gabinete do governador Olívio Dutra não havia sido localizada até a meia-noite.
Cai a diferença entre Maluf e Alckmin
Caiu para quatro pontos a diferença entre Paulo Maluf (PPB) e Geraldo Alckmin (PSDB) na corrida ao Palácio dos Bandeirantes, segundo pesquisa divulgada pelo Ibope/TV Globo ontem à noite.
Maluf aparece com 30%, e Alckmin subiu de 26%. A margem de erro é de 2,5 pontos percentuais. Foram ouvidas 1,6 mil pessoas entre os dias 4 e 7, em 81 municípios. Na simulação de segundo turno, Alckmin vence Maluf por 46% a 38%. Já o Datafolha apontou uma queda de cinco pontos de Maluf em relação ao levantamento anterior. A vantagem de Maluf nesse levantamento é de 10 pontos percentuais. A margem de erro é de 3 pontos para mais ou para menos.
Datafolha indica Rosinha com 50%
A mais recente pesquisa do instituto Datafolha para o governo do Rio mostra que a candidata do PSB, Rosinha Garotinho, com 50% das intenções de voto.
Os números confirmam a vitória da candidata no primeiro turno.
O novo crescimento de Rosinha foi acompanhado de queda de seu principal adversário, Jorge Roberto Silveira (PDT). O candidato tem agora 14% das intenções de voto. O pedetista está empatado tecnicamente com Benedita da Silva (PT), com 12%, e com Solange Amaral (PFL-PMDB-PSDB), que subiu de 6% para 11%.
Rosinha lidera entre os menos escolarizados (57%), entre os mais pobres (56%), entre os que criticam o governo de Benedita (59%) e entre os eleitores de Garotinho para presidente (80%).
Uma folga de 15 anos nas urnas
Depois de chegar ao Catete pelo instrumento das armas, o gaúcho de São Borja Getúlio Vargas permanece no comando do país por 15 anos ininterruptos. A primeira fase desse período, que vai de 1930 a 1945, é apresentada hoje, na 11ª reportagem da série A História das Eleições
Dez presidentes eleitos e 41 anos de vida democrática separam a proclamação da República da queda de Washington Luís. Esse período não foi suficiente para instaurar uma tradição democrática sólida. Nos 15 anos seguintes, Getúlio Vargas dominaria com mão de ferro para uns e flexibilidade para outros, mas em todo caso distante das urnas.
Entre os trabalhadores, ele é lembrado até hoje como o homem que decretou a nacionalização do trabalho e que, em 1932, criou a jornada de oito horas e regulamentou o trabalho feminino. Que instituiu o salário mínimo (1940), criou a Justiça do Trabalho (1941) e criou a Consolidação das Leis do Trabalho (1943).
Entre os políticos, Vargas nunca foi uma unanimidade. Era odiado sobretudo por aqueles que foram formados no espírito liberal facultado pelas oligarquias que dominaram o cenário nas primeiras três décadas do século 20.
Convicto de que essas oligarquias tampouco eram populares, Vargas justificou que reivindicava a legimitidade do uso das armas para “restituir a liberdade ao povo brasileiro e sanear o ambiente moral da pátria, livrando-o da camarilha que a explorava e arrancando a máscara de legalidade com que se rotulavam os maiores atentados à Lei e à Justiça”.
Sinais de revolta
Em nome da restituição da liberdade, a primeira providência de Getúlio Vargas foi dissolver o Congresso e destituir todos os governadores de Estado, exceto o de Minas Gerais. No ano seguinte, proibiu os sindicatos de propagarem “ideologias sectárias”, o que, em 1935, alicerçou a Lei de Segurança Nacional, que dava ao governo carta branca para reprimir e prender qualquer cidadão que se dedicasse a atividades consideradas “subversivas”, bastando para isso ser contra o governo.
Uma vítima dessa lei foi o escritor Graciliano Ramos, preso sob acusações vagas e libertado um ano depois. Num só dia de outubro de 1936 foram condenadas 75 pessoas no Rio. Cinco anos mais tarde, Monteiro Lobato era preso por defender a existência de petróleo no Brasil.
Os primeiros a se decepcionar com o ditador foram os remanescentes da Coluna Prestes que haviam apoiado o golpe em 1930. O tenente João Cabanas, herói da Coluna, desabafou em 1931: “Faz um ano que a revolução venceu. Não foi uma revolução comunista, nem social. Não foi coisa alguma”.
Na verdade, era a revolução de Vargas, através da qual ele construiria seu projeto de fixação e de permanência no poder.
A resistência paulista
Mas as primeiras manifestações de descontentamento vieram de São Paulo, onde em janeiro de 1932 um comício de 100 mil pessoas reivindicou a convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte e a volta da autonomia dos Estados. Vargas fez ouvidos surdos. Insatisfeitos e empurrados pela oligarquia cafeeira, os generais Isidoro Dias Lopes e Bertoldo Klinger rebelaram-se em 9 de julho desse ano. No começo de outubro, termina a Revolução Constitucionalista, com a derrota de São Paulo.
Vitorioso, Vargas toma emprestada dos paulistas a bandeira da Constituinte e usa-a para se eleger indiretamente em 1934, ungido por um Congresso no qual tinha maioria. Promulgada a Constituição, realizam-se eleições populares para os legislativos estaduais, que escolheram indiretamente os novos governadores.
O clima de revolta se acentuou, e focos de oposição começaram a se organizar sobretudo em São Paulo, Rio e Rio Grande do Sul. Em janeiro de 1935, um grupo de descontentes ligados ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), ao qual pertencia o jornalista Carlos Lacerda, funda a Aliança Nacional Libertadora (ANL), que queria reunir correntes antifascistas e de oposição ao governo.
Sete meses depois a ANL é colocada na ilegalidade e suas sedes fechadas. Em conseqüência, explodiram revoltas armadas em Natal e Recife, logo dominadas. Em 25 de novembro de 1935 Vargas declarou o estado de sítio em todo o país.
Senado autoriza Estado a usar fundo para renegociar débitos
Projeto é da senadora Emília
O plenário do Senado aprovou projeto de resolução que permite ao governo do Estado dispor de recursos do Fundo de Compensação sobre Variação Salarial (FCVS) inclusive para renegociar débitos junto à Caixa Econômica Federal (CEF).
O projeto foi apresentado pela senadora Emília Fernandes (PT).
O projeto facilita a amortização da dívida do Instituto de Previdência do Estado (IPE), já autorizada pelo Senado.
O senador José Fogaça (PPS) lembrou que a legislação determina prioridade no uso dos créditos do FCVS para quitar débitos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Fogaça acredita que o Estado conseguirá amortizar a dívida do IPE em cinco anos.
Artigos
Um ano, e ainda não entendemos
Gonzaga Adolfo
O dia 11 de setembro de 2001 certamente vai ficar por muito tempo na mente de todas as pessoas. Assistimos ao vivo, naquela manhã primaveril, atordoados, aos acontecimentos até então inimagináveis, em Nova York. Logo no início, após o primeiro avião atingir a torre norte, até parecia, aos mais incautos, que passava um filme na televisão. Não era ficção.
Aquele foi um dia agitado. As pessoas conversavam muito, todas preocupadíssimas. Alguns até falavam em terceira guerra mundial. As emissoras de rádio e televisão se ocuparam do atentado, muitas com transmissões instantâneas, a partir de Nova York.
Restou um vazio enorme na paisagem de Nova York. Outro em nossas almas
Noam Chomsky diz que foi a segunda vez que o território norte-americano foi agredido por forças externas, a primeira após a Guerra de 1812, contra a Inglaterra, também denominada de Segunda Guerra da Independência dos EUA (11 de Setembro, Bertrand do Brasil, 2001, p. 11).
Os americanos logo reagiram, como era de se esperar. Seguiram-se os ataques ao Afeganistão, que foi arrasado em menos de um mês. Lá estariam os mentores dos atentados. A realidade política internacional, entretanto, era outra: pela primeira vez não havia guerra entre Estados, mas a “guerra” declarada era contra organizações terroristas. O inimigo era desconhecido. Diversos ingredientes extras estavam neste imbróglio, a começar por forte influência de princípios religiosos, com clara intolerância de ambos os lados. Permitia-se aos Estados Unidos o legítimo interesse de reagir. A forma como o Afeganistão foi arrasado até hoje nos deixa perplexos.
O presidente Bush, antes enfraquecido por uma eleição que foi decidida em última instância na Corte Suprema, teve no infortúnio a possibilidade de se tornar o grande líder da nação americana. Reagiu, mesmo com inúmeros excessos e sofrendo críticas, inclusive na esfera interna, com a supressão de vários direitos civis, dos quais os americanos tanto se orgulhavam.
O mundo passou a ter mais medo, pois pensava-se viver em era de paz após superada a Guerra Fria. Ao contrário, uma simples viagem de avião passou a ter incontáveis procedimentos de segurança, e o temor de guerra acentuou-se, ao mesmo tempo que se agravou o conflito entre palestinos e judeus nestes últimos 365 dias. A esperança de que a queda das torres pudesse conduzir à paz não se efetivou.
Um ano depois, o mundo tem mais medo.
Possivelmente não se tenha entendido ainda o que ocorreu naquela manhã em Nova York. Na verdade, ainda não se entendeu. Talvez o século 21 tenha efetivamente começado naquele dia, infelizmente projetando tantos conflitos como o anterior, que, segundo alguns historiadores, destacando-se Eric Hobsbawn, iniciou na Primeira Guerra e terminou na queda do muro de Berlim.
Hoje, vê-se a ameaça reiterada de guerra ao Iraque pelos Estados Unidos, com possibilidade de aumentar o medo, além de todas as decorrências comerciais em torno do preço do petróleo, facilmente previsíveis. Ou seja, agravamento da crise econômica.
O mais triste é que a paz está mais longe ainda.
Restou um vazio enorme na paisagem de Nova York. Outro em nossas almas.
Colunistas
ANA AMÉLIA LEMOS
Anistia e indenização
Quase mil ex-presos políticos de Santa Catarina aguardam as indenizações previstas na Medida Provisória 2.151 editada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso com objetivo de encerrar o processo de indenizações devidas a milhares de brasileiros beneficiados com a lei de anistia. A categoria está mobilizada porque, até agora, no caso de Santa Catarina, nenhum ex-preso político foi ainda indenizado como prevê a MP. O ex-ministro José Gregori, que agora é o embaixador do Brasil em Portugal, deu atenção especial ao importante tema, limitando-se porém a honrar as indenizações de anistiados com renome nacional. Recentemente o presidente do PT, deputado José Dirceu, recebeu a indenização prevista em lei. Antes dele, outro deputado e ex-ministro Aloísio Nunes Ferreira (PSDB-SP) também fez jus à indenização.
A mobilização dos ex-presos políticos catarinenses ganhou força com a criação da Associação Catarinense de Anistiados Políticos – Acap, presidida por Carlos Fernando Priess. A diretoria da entidade já enviou à bancada catarinense no Congresso e à mídia nacional um apelo para que as indenizações sejam pagas e o processo de anistia concluído. Também estão enviando às assessorias dos candidatos à sucessão presidencial apelo para que essa questão seja incluída na pauta das prioridades de governo, para quem sair eleito das urnas, em outubro. No Ministério da Justiça, a comissão provisória encarregada de examinar os processos informa que até agora dos 9,9 mil processos em exame apenas 52 anistiados receberam indenização com pagamento único. Existem ainda mais de 3 mil processos que continuam no protocolo. A comissão, através de três câmaras, examina os casos de anistia na administração pública direta, indireta e militar.
As desconfianças dos anistiados políticos catarinenses e de outros Estados, de que está sendo dada prioridade às figuras proeminentes, em detrimento ao direito de outros até mais necessitados, é contestada pelo Ministério da Justiça que alega estar examinando os processos pela ordem do protocolo. Com as limitações orçamentárias, os anistiados com direito a indenização já sabem que terão que se manter mobilizados por muito mais tempo.
JOSÉ BARRIONUEVO
Alimento para todos
Respaldado por dois ex-secretários da Agricultura (Cézar Schirmer, no governo Britto, e Odacir Klein, no governo Simon), Germano Rigotto visitou ontem a Ceasa, di sposto a estabelecer um projeto avançado no abastecimento de produtos agrícolas, especialmente para as populações mais carentes. Começa pela definição dos horários de comercialização e pelo funcionamento aos domingos, o que será definido em parceria com a Associação de Produtores de Hortigranjeiros, que reúne 496 associados. Schirmer concorre a deputado federal e Klein disputa uma vaga no Senado.
Bom para o Estado
Mesmo sendo de um partido de oposição ao governo Olívio, o senador José Fogaça (PPS) foi o que mais se empenhou para a aprovação ontem no Senado do projeto de resolução que possibilitará ao Estado lançar mão dos créditos do Fundo de Compensação das Variações Salariais (FCVS) para amortizar a dívida a carteira imobiliária do IPE junto à União. Foi à tribuna para agradecer em nome do Rio Grande a presença de 41 senadores na sessão. Além de Fogaça, o projeto, apresentado pela senadora Emília Fernandes, também foi assinado por Pedro Simon.
Rita chega amanhã ao RS
Candidata a vice de José Serra (PSDB), a deputada federal Rita Camata (PMDB) vem ao Estado amanhã para reforçar a campanha de Germano Rigotto. Não precisará ir a Santa Cruz do Sul, cumprir a agenda de visita anterior, cancelada, onde tentaria apaziguar os produtores de fumo. Como dependente do vício do cigarro, não seria politicamente correto.
Rita desembarca em Santo Ângelo às 11h, vai a Santa Rosa, Ijuí e Três Passos com os candidatos da chapa majoritária (Rigotto, Hohlfeldt, Klein e Bogo) e os representantes da região na Câmara, Osmar Terra e Darcisio Perondi.
Há um esforço da coordenação da campanha para que Rita permaneça sexta-feira pela manhã para reuniões em Alegrete e Livramento. José Serra e sua vice farão mais uma visita conjunta ao Estado duas semanas antes da eleição.
Intolerância em debate na PUC
O Instituto Teotônio Vilela e a PUCRS promovem a partir de segunda-feira o seminário internacional Cultura, Poder e Tolerância em um Mundo Complexo. O seminário acontece a partir do exemplo mais dramático da intolerância, o 11 de Setembro, buscando caminhos a complexidade mundial. O objetivo é realizar um amplo debate sobre os principais dilemas da atualidade, concentrados nos temas da tolerância e das novas formas de fazer política que surgem nas sociedades contemporâneas. Nos dias 16 e 17, com a presença dos pensadores Edgar Morin (França), Michel Maffesoli (França), J. B. Thompson (Cambridge, Inglaterra), Melvin Sharpe (EUA), Roberto Janini Ribeiro e Arlindo Machado. O seminário conta com apoio da Copesul, tendo a participação do filósofo gaúcho Carlos Roberto Cirne Lima. Informações pelos telefones 3320-3658, 3320-3680, na Livraria Terceiro Mundo no campus da UFRGS, na Editora Vozes (Riachuelo) ou na Pró-Reitoria de Extensão (prédio 40 da PUC).
Pichações sem aval do PT
O vereador Ary Thessing (PT), de Santa Cruz do Sul, que concorre a deputado federal, assegura que a pichação do Fritz e da Frida não é obra do seu partido (tudo indica que tem razão, pela caligrafia igual a outras pichações em outdoors do PT). Garante que, em meio à guerra entre o prefeito do PTB e o deputado do PPB, faz uma campanha em defesa da paz. Ontem, funcionários da prefeitura repintaram os bonecos, símbolos da Oktoberfest.
Articulador assegurou vitória de Tarso
O vereador Ary Thessing recebeu segunda-feira a visita de Tarso Genro, de quem foi o cabo eleitoral mais importante na prévia do PT . A presença do candidato reuniu um grande público no auditório da Unisc. Foi sua a iniciativa da pesquisa encomendada ao instituto Labors, que apontava Olívio sem qualquer chance de vitória a partir de altos índices de desaprovação. Nenhuma outra pesquisa – aquelas “manipuladas pela grande imprensa” – apresentou números tão negativos em relação ao governo do PT. A pesquisa, publicada na Página 10, foi interpretada pelo grupo palaciano como determinante da derrota de Olívio.
Vereador reassume
A juíza Patrícia Thomé, da 3ª Vara Cível, concedeu ontem liminar anulando a cassação do vereador Adão Santos (PSDB), que reassume seu mandato em Canoas. Advogado Bráulio Marques explica a decisão: para haver a cassação seriam necessários 14 votos e não apenas 11; o vereador Nedy Marques (PFL), procurador da Câmara, é o beneficiado direto pela ação, o que coloca em dúvida a legalidade do processo (quem acusa não pode julgar); teria sido constatada a existência de seis votos marcados. Prossegue a polêmica.
Baderna do relógio
A condenação por unanimidade, ontem, estimula o debate sobre a participação efetiva de oficiais da Brigada (leia-se Secretaria da Segurança) na baderna do relógio. O promotor de Justiça Marcelo Pedrotti teve uma atuação vigorosa e eficaz. A condenação se iniciou pelo voto da juíza auditora, Karina do Nascimento.
O alto escalão da secretaria permaneceu na sessão durante as 10 horas do julgamento, o que demonstra o interesse do governo no resultado. O julgamento se firmou na investigação procedida pelo coronel Monteiro, que está sendo submetido a um conselho de justificação, cautelarmente afastado do cargo, o que permite interpretar como retaliação de exacerbado autoritarismo.
Mirante
• A entrada de Rossetto na campanha e o crescimento de Lula deram novo ritmo à campanha do PT no Estado. Agora só falta Tarso assumir uma postura menos imperial.
• Em entrevista a O Globo, Raymundo Faoro, que recebeu o fardão da Academia Brasileira de Letras, disse que gostaria de ver Lula como colega na casa de Machado de Assis. Deve ser pelo conjunto de artigos que escreveu para ZH.
• O governador Olívio Dutra entrega pessoalmente hoje, às 10h30min, o projeto que cria o Programa de Apoio à Inclusão e Promoção Social, valorizando e viabilizando uma importante contribuição das bancadas da Assembléia. Evita vício de origem e viabiliza um incentivo fiscal que representará R$ 50 milhões por ano para a assistência social.
• O Sindicato dos Servidores do Instituto-Geral de Perícias, presidido por Adriana Wolffenbüttel, está preocupado com o atraso na aprovação da lei que renova a contratação emergencial até a realização de concurso público para o IGP.
• Simultaneamente com a nomeação para a Uergs, o Diário Oficial de ontem libera um professor para um curso em Cochabamba, na Bolívia. Participa de 8 a 14 de Congresso de Engenharia. E ainda tem gente que acusa o governo de não prestigiar o professor.
• É pouco provável que os ilustres deputados que festejaram o 11 de setembro vão repetir hoje as mesmas manifestações de entusiasmo.
ROSANE DE OLIVEIRA
Petardos eleitorais
Como em todas as eleições, ao se aproximar a data do pleito os partidos vasculham seus baús para encontrar guardados que desabonem os adversários. Se têm possibilidade, criam fatos, seja protocolando denúncias no Ministério Público, seja ouvindo testemunhas em comissões da Assembléia Legislativa. Se há uma investigação em curso, melhor ainda. Mesmo que os acusados não tenham sido indiciados, potencializa-se a investigação no horário eleitoral. Passada a eleição, tudo volta para o esquecimento – ou vai ao freezer, para ser descongelado na eleição seguinte.
Não é outra coisa o que está acontecendo no Rio Grande do Sul. Com as pesquisas indicando polarização entre Antônio Britto e Tarso Genro, seus partidos começam a desovar a munição estocada nos últimos meses.
Um dia depois de o PT usar seu espaço no horário eleitoral para fazer acusações contra Assis Roberto de Souza, secretário de Energia, Minas e Comunicações no governo Britto, o PPS foi à forra ontem à noite. O espaço destinado aos deputados federais foi usado com trechos do depoimento dado horas antes na Assembléia Legislativa pela agente de viagens Maria Angela Facchini, que denunciou seu ex-sócio, Diógenes de Oliveir a, e está sob proteção policial. As denúncias de Maria Angela foram feitas ao Ministério Público no início de junho, mas a oposição deixou o depoimento para a fase mais quente da eleição.
A mesma preocupação com o tempo rege as ações do PT. Somente agora, às vésperas da eleição, foi concluída a sindicância – iniciada no ano passado – para apurar supostas irregularidades no Departamento de Desporto do Estado à época em que Britto era governador.
O programa de Britto ressuscitou ações milionárias impetradas contra o governo do Estado por clientes do escritório do qual Tarso era sócio até o início da campanha. Da forma como a denúncia foi apresentada, ninguém que um dia pretenda ser candidato a governador pode advogar contra o Estado.
No caso das empresas de Assis, houve busca e apreensão de documentos e computadores, mas a investigação ainda não foi concluída. Em outros tempos, seria apenas a apuração de denúncias de irregularidades, como existem milhares em andamento em empresas de diferentes setores. Em tempo de campanha, é o pretexto para o PT mostrar que Assis comandou o processo de privatização das estatais e ao sair do governo foi trabalhar no ramo.
Editorial
REFORÇO AO MULTILATERALISMO
A coincidência entre os atos que marcam um ano dos atentados terroristas de 11 de setembro, a iminência de um ataque dos Estados Unidos ao Iraque e a realização da Assembléia Geral das Nações Unidas em Nova York ampliam os temores sobre a insistência do governo norte-americano numa visão cada vez mais unilateral de mundo. Mesmo tendo atingido em cheio a maior potência mundial, a tragédia que os norte-americanos relembram hoje alterou radicalmente os rumos da economia mundial, os direitos civis e a política externa dos Estados Unidos. Nesse cenário de incertezas, é oportuno que se amplie a corrente em defesa do reforço ao multilateralismo, que privilegie o poder de mediação de organismos como a ONU frente a temas de interesse mundial. É o caso de questões que envolvem a globalização do terrorismo e os riscos de um governo como o do ditador iraquiano Saddam Hussein.
A defesa de uma certa ordem, de princípios mínimos e da prevalência da negociação em fóruns internacionais reforça-se na véspera do discurso do presidente George W. Bush nas Nações Unidas. Essa convicção levou o presidente da França, Jacques Chirac, a anunciar que defende um novo governo no Iraque, mas rechaça qualquer hipótese de unilateralismo, com um argumento instigante: “Se formos por este caminho, onde vamos parar?” O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, responde à indagação com outro questionamento: “Com que Iraque despertaremos depois de um bombardeio e o que acontecerá na região?” Defensor da solidariedade entre os países contra o terrorismo, o chanceler alemão Gerhard Schroeder é mais categórico, advertindo que seria “um grande erro destruir esse sentimento com ações excessivamente unilaterais”.
É bem mais razoável buscar as condições para a paz, com o fim do terrorismo, nas organizações internacionais
A ênfase numa estratégia de autodefesa preventiva, em contraste com a doutrina que prevaleceu ao longo de quatro décadas de Guerra Fria, porém, começa a enfrentar restrições até mesmo no Congresso e em parcela da opinião pública interna. Esse sentimento demonstra que, um ano depois, o mundo continua sob a mesma sensação de insegurança e, pior que isso, com a consciência de que aquele dia terrível não produziu lições eficazes. Ao contrário, parece ter levado o planeta a um nível de confronto que não favorece uma harmonia permanente.
É mais do que hora, portanto, de se investir na busca de condições para o fim das tensões. E elas certamente não estão hoje nem nos preparativos bélicos feitos em Washington, nem nos ódios alimentados no Oriente Médio. É bem mais razoável buscar as condições para a paz, com o fim do terrorismo, nas organizações internacionais que, por sua universalidade, podem ver adequadamente as causas do problema. Não estará na hora de se retomar a célebre frase de Paulo VI de que o desenvolvimento é o novo nome da paz? Desenvolvimento, como os fóruns mundiais têm apontado, é um processo que elimina a miséria, a violência, o atraso, a agressão ambiental e que reconhece os direitos dos povos à sua cultura.
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09/11/2002
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