Famílias carentes possuem melhores hábitos alimentares



Estudo foi realizado pela Unesp em Presidente Prudente

As famílias com menores rendas per capita alimentam-se melhor do que àquelas de classe média e alta em Presidente Prudente, SP. Esse foi o resultado da dissertação de mestrado, Consumo alimentar em Presidente Prudente: Subsídios para políticas públicas, apresentada por Fabiana Caldeira, na Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT), câmpus Presidente Prudente, em março de 2008.

O objetivo do estudo foi identificar e detalhar os elementos que explicam a estrutura do perfil do consumo alimentar entre as diferentes classes sociais, em uma cidade de médio porte como Presidente Prudente. “Analisei alguns pontos como a relação entre a renda per capita familiar e os tipos de alimentos consumidos, os estabelecimentos utilizados para aquisição dos produtos por parte das famílias e o percentual da renda familiar comprometido com a aquisição de alimentos”, explica Fabiana.

Segundo a pesquisadora, as classes sociais financeiramente elevadas estão mais expostas aos apelos da mídia em relação ao consumo de alimentos industrializados e à freqüência de fast foods, pois possuem renda para saciarem prazeres proporcionados pela globalização. Porém, estes tipos de alimentos apresentam excessos de gordura saturada e podem levar a diversos tipos de doenças como diabetes e hipertensão.

“Famílias com menor poder aquisitivo possuem melhores hábitos, em alguns casos sem querer, pois não dispõem de renda para freqüentar fast foods, restaurantes e consomem mais alimentos essenciais que constam em cestas básicas como arroz e feijão, os quais propiciam uma alimentação mais saudável”, diz a mestre.

A pesquisa mostrou que apenas 14% das famílias de baixa renda disseram freqüentar fast food, porém, somente duas vezes ao ano, enquanto 51% das famílias de renda elevada freqüentam estes locais ao menos uma vez por semana.

Realizada em um período de três anos, a pesquisa surgiu, devido o interesse de Fabiana pela segurança alimentar e a falta de informações sobre o assunto no País. Atualmente, as referencias provêm do Endef (Estudo Nacional da Despesa Familiar), realizado pela FIBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e pela POF (Pesquisa de Orçamento Familiar).

“No Brasil, as informações sobre este tema são extremamente escassas. Os inquéritos são realizados apenas nas regiões metropolitanas, desta forma, o padrão alimentar do interior do País é praticamente desconhecido”, acrescenta a pesquisadora.

O orientador do estudo, Raul Borges Guimarães, do Departamento de Geografia da FCT, câmpus Presidente Prudente e coordenador do Cemespp (Centro de Estudos e de Mapeamento da Exclusão Social para Políticas Públicas) ligado à FCT, disse que o estudo pode subsidiar a formulação de políticas públicas de segurança alimentar, o que ainda é incipiente no município e na maioria das cidades de porte médio do interior paulista.

“Avalio que a contribuição da dissertação extrapola a realidade local porque permite uma reflexão da segurança alimentar em cidades que não são consideradas metropolitanas”, explica o orientador.

Administração Pública – O estudo aponta, que não existe nenhum caso de fome aguda ou extrema pobreza na população do município, porém, também não existe conscientização na adoção de hábitos alimentares saudáveis por parte das autoridades locais.

“Atualmente, cerca de sete mil famílias prudentinas são beneficiadas com a bolsa família, mas, cito algumas recomendações para melhorar a situação como a criação de um Comsea (Conselho Municipal de Segurança Alimentar), ampliação da alimentação escolar, hortas comunitárias, intensificação da reforma agrária na região e orientação alimentar”, finaliza.

O Cemespp – O Cemespp (Centro de Estudos de Mapeamento da Exclusão Social para Políticas Públicas) é um grupo interdepartamental da FCT, coordenador por Raul Borges Guimarães, na interface da Geografia, Planejamento Urbano, Saúde Pública e Coletiva, Educação e Estatística Espacial, que trata de assuntos ligados a exclusão e inclusão social.

O grupo iniciou em 1997, em Presidente Prudente após a elaboração de um mapa da exclusão/inclusão social do município, que subsidiou a formulação de diferentes políticas sociais por parte do poder público local, tais como: Programa de Garantia de Renda Mínima, Criança Cidadã, Programa de Gerenciamento da Merenda Escolar e Programa de Saúde da Família, dentre outros.

 Da Unesp

C.M.



07/15/2008


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