FH determinou sanções contra talibãs



FH determinou sanções contra talibãs Desde 1999, trânsito de aeronaves está proibido e possíveis bens, bloqueados; este ano, bin Laden é citado em decreto Decreto assinado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso e pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer, em 19 de fevereiro deste ano, determinou sanções contra o regime talibã e o saudita Osama bin Laden, que vive no Afeganistão e é acusado dos atentados contra os Estados Unidos na semana passada. O decreto proíbe a venda ou o envio de armas e munição ''ao território do Afeganistão sob o controle do talibã'', veda a consultoria e permanência de militares brasileiros no país e bloqueia ''todos os fundos e demais recursos financeiros em nome de Osama bin Laden e de pessoas e empresas a ele associados''. Publicado no Diário Oficial da União de 20 de fevereiro, o decreto tem como base a Resolução 1.333 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que impôs sanções aos talibãs. Em novembro de 1999, seguindo outra resolução da ONU (1.267), o presidente Fernando Henrique já havia proibido o trânsito de aeronaves talibãs e determinado o boqueio de bens do regime. Vôos - O decreto de fevereiro, de n° 3.755, também proíbe a abertura ou o funcionamento de escritórios do talibã e da Ariana Afghan Airlines no Brasil, ''decolagens, pousos e sobrevôos de aeronaves vindas ou com destino ao território do Afeganistão sob o controle do talibã'' e a entrada ou passagem de altos funcionários do regime ou pessoal armado sob controle do talibã. A ''disponibilização'' de recursos financeiros a Osama Bin Laden e associados também é vedada, por parte de brasileiros ou pessoas de outras nacionalidades residentes no Brasil. Além de armamentos, está proibida, desde fevereiro, a venda de veículos militares, equipamentos paramilitares e peças de reposição para esses equipamentos. O treinamento militar ''do pessoal armado sob o controle do Talibã'' também é vedado, numa determinação que leva à proibição da permanência, no Afeganistão, de oficiais, agentes, consultores ou militares brasileiros em atividades relacionadas aos equipamentos. Religião - Pelo decreto, a proibição do trânsito de aeronaves pode ser revogada por razões humanitárias ou ''de obrigação religiosa''. Já recursos financeiros eventualmente bloqueados poderão ser liberados apenas por razões humanitárias. Do texto de novembro de 1999 já constava o bloqueio de fundos e recursos financeiros ''produzidos ou gerados por bens de propriedade talibã''. O nome de Osama bin Laden, contudo, ainda não aparecia. Em relação aos vôos, também não era citado o nome da empresa, apenas ''aeronaves que sejam de propriedade de talibãs, ou por eles arrendadas ou utilizadas, ou a serviço deles''. Partidos: eleição será decidida pelo social BRASÍLIA - Independentemente de partido e corrente ideológica, o próximo presidente da República terá a obrigação de priorizar os investimentos na área social. Essa é a avaliação de parlamentares do PFL, PT, PPS e PSDB sobre pesquisa de opinião, publicada ontem pelo Jornal do Brasil. Os eleitores, revela a pesquisa, esperam do governante prioridade na área social (36% dos entrevistados), no combate ao crime e à violência (25%) e à corrupção no setor público (21%). ''A era Fernando Henrique, com prioridade para a estabilidade econômica e monetária, tem de ceder espaço à questão social'', comentou o senador José Agripino Maia, primeiro vice-presidente do PFL e ex-governador do Piauí. Para ele, a pesquisa reflete o anseio da população por mudanças que melhorem sua qualidade de vida. ''Essa pesquisa é importante porque pode nortear o programa de qualquer candidato que queira disputar as eleições'', disse o líder do PT, deputado Walter Pinheiro (BA). As questões apontadas pelos eleitores coincidem com as avaliações do PT sobre a situação política, econômica e social do país, segundo o deputado Aloísio Mercadante (PT-SP). O Brasil é o quarto país mais desigual do planeta, com 50 milhões de pessoas sobrevivendo com menos de R$ 2 por dia, ressaltou. ''A inclusão social é o maior desafio do próximo governo'', afirmou Mercadante. Esses anseios da população, na avaliação do senador Roberto Freire (PE), presidente do PPS, mostram a necessidade de buscar um novo modelo de política econômica para o país, voltada para a redução da desigualdade social. Ao diminuir a pobreza, explicou, automaticamente o governo estará combatendo a criminalidade. A violência deixou um rastro de 47 mil brasileiros mortos no ano passado, nas contas de Mercadante. Os gastos em UTI (unidades de terapia intensiva) no tratamento a vítimas da violência consomem um terço dos recursos da área de saúde. ''A saúde não tem saída se não resolvermos o problemas da violência'', afirmou. O resultado da pesquisa, na opinião de Mercadante, explicam o crescimento do PT nas últimas eleições e a liderança de Luiz Inácio Lula da Silva nas intenções de voto para a Presidência da República. Isso porque, disse ele, o PT vem denunciando a política econômica do governo, que aumenta a miséria no país, e a falta de apuração das denúncias de corrupção. José Agripino discorda: ''Quem foi que criou o Fundo de Combate à Pobreza? Quem foi que lutou pelo salário mínimo maior? Foi o PFL''. Resolver os problemas sociais, afirmou, é obrigação de qualquer governo, porque é ''a grande aspiração do eleitor''. Agripino acredita que o eleitor vota na expectativa de que o candidato vá resolver seus problemas: ''Ele continua a desejar que o político seja um grande gerente de sua vida''. Já a falta de segurança e a corrupção, segundo o senador, foram incluídas entre as prioridades dos eleitores, porque são assuntos do momento. No combate à corrupção, o Brasil tem avançado muito, principalmente pela ação firme do Ministério Público, afirmou Roberto Freire. Essa atuação, comentou, está permitindo a apuração de crimes cometidos há mais de 10 anos, como os do senador Jader Barbalho (PMDB-PA). Lula diz que eleitor quer PT light Dirceu fala que partido é ''vermelho'', mas critica não-pagamento da dívida externa e diz que não pode ''fechar o Brasil'' SÃO PAULO - As lideranças do Partido dos Trabalhadores acreditam que a hora do PT é agora. Mais maduro e menos temido, o partido se lança como uma alternativa mais aceitável para o eleitor, uma alternativa light. ''Neste momento de apagão o Brasil precisa de algo light e o PT se apresenta como uma alternativa light na medida que tem um apagão causado pela incompetência do governo federal'', disse ontem o presidente de honra do partido, Luiz Inácio Lula da Silva, antes de votar no atual presidente licenciado do PT, José Dirceu. Ontem, o PT realizou as primeiras eleições diretas - realizadas por um partido no Brasil - para a escolha de suas lideranças. Seis candidatos concorreram à presidência. Dirceu deve ter vencido as eleições em primeiro turno. A dúvida é de qual será a margem desta vitória. Ontem, em conversas com correligionários, apostava em 60% ou até 70%. Dirceu precisa de 50% mais um. Se vencer estará à frente do PT pela quarta vez. Lula foi recebido como ''nosso futuro presidente'' por uma multidão de petistas. Alguns deles, ainda anacronicamente trajados de barba desalinhada e boina no estilo Che Guevara. Lula votou no berço do PT, a cidade de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, e declarou sua admiração por Dirceu. ''Ele não é só um homem de esquerda, mas um ponto de equilíbrio e integridade moral com capacidade para negociar com qualquer força política do país. Esquerda - Estou torcendo para que ele seja o condutor da maior vitória do PT nas eleições de 2002''. Lula usou a palavra light, mas não quis dissociar da esquerda o perfil de Dirceu, que concorria com candidatos de tendências mais radicais. ''Nenhum companheiro que concorre com o Dirceu é mais esquerda do que ele''. Dirceu procurou focar o discurso para o público interno: ''O PT não mudou de lado. Sempre será vermelho, não vejo porque tenha ficado light ou cor de rosa.'' Dirceu acredita que o partido está mais maduro e preparado para disputar e vencer as eleições presidenciais. ''Um partido que quer governar o Brasil, derrotar a coalizão conservadora e mudar a política econômica, precisa de firmeza, responsabilidade. Mas, além disso, temos também audácia. Pretender governar o Brasil sendo um partido popular e não empresarial é um grande desafio'', disse. O PT continua o mesmo, segundo Dirceu. ''O PT é um partido popular de esquerda e socialista''. O discurso de Dirceu é menos radical do que os de seus concorrentes. Julio Quadros, presidente do PT no Rio Grande do Sul, e Raul Pont, que foi prefeito de Porto Alegre, defendem, por exemplo, a anulação das privatizações e suspensão do pagamento da dívida externa. Dirceu é mais brando, procura não assusta o empresariado e até condena estas idéias. ''Não consigo entender como se propõem programas irrealizáveis no mundo atual, como não pagar a dívida externa. Isso não existe. Tem que renegociar. Não podemos fechar o Brasil nem criar uma autarquia''. Para Lula, o PT vai ganhar uma nova cara com as eleições diretas. ''A cara que o PT vai sair destas eleições é a de um partido preparado para ganhar as eleições 2002''. As eleições de ontem foram realizadas em 2.834 municípios, sendo que em 184 foram usadas urnas eletrônicas cedidas pelos Supremos Tribunal Eleitoral (TSE). A previsão do partido é que o resultado final saia até quarta-feira. Renan favorito para presidir Senado BRASÍLIA - O líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), é o escolhido pela cúpula governista do partido para suceder Jader Barbalho ( PA) na presidência do Senado. A direção peemedebista descartou ontem o nome do senador José Sarney (AP) para o cargo devido aos vetos impostos pelo presidente Fernando Henrique e pelo PT. A legenda também não pretende trocar de posição o ministro da Integração Nacional, Ramez Tebet. Nesse cenário, Renan credenciou-se como o candidato mais viável por enfrentar menos resistências no PMDB e nos demais partidos. Renan vem trabalhando para se viabilizar desde o afastamento de Jader da presidência há 60 dias. A direção do partido avalia que as relações do senador com o ex-presidente Fernando Collor de Mello e a proximidade com Jader Barbalho não vão prejudicá-lo. A mágoa no Palácio do Planalto criada com a saída turbulenta do senador do Ministério da Justiça, em julho de 1999, também já foi resolvida. Ele tem bom trânsito nos partidos, inclusive da oposição. Havia fortes desentendimentos dele com Mário Covas, governador de São Paulo que morreu no início deste ano. Os articulações para indicar o sucessor de Jader foram o cardápio principal do almoço de aniversário de Renan, comemorado em sua casa no Lago Sul, bairro nobre de Brasília. Aos 46 anos, o senador alagoano pode ganhar de presente a presidência do Senado. Em meio às festividades, ele, o presidente do partido, Michel Temer (SP), o assessor especial da Presidência, Moreira Franco, e o líder do PSDB no Senado, Sérgio Machado (CE), dispararam telefonemas a todos os senadores envolvidos na escolha. A idéia é buscar um consenso em torno do nome de Renan até terça-feira à tarde, quando a bancada do PMDB no Senado se reúne para escolher o nome do partido. Os vetos ao senador José Sarney, nome mais cotado, foram o ingrediente que faltava para que Renan disparasse na corrida. Temer ouviu, por telefone, do líder da bancada de oposição no Senado, José Eduardo Dutra (SE), o veto do PT a Sarney. ''Ele foi estigmatizado por ACM, quando foi apontado para disputar com Jader Barbalho. Seria uma vitória de ACM'', justificou Dutra. A resposta seria repassada ainda ontem ao presidente interino do Senado, Edison Lobão (PFL-MA), que torce por Sarney, de quem é afilhado político. Apesar das esperanças de Lobão, Temer já descartou o nome de Sarney. O ex-presidente da República não tem disposição para concorrer o cargo. ''Ele quer ser um nome institucional, mas as circunstâncias políticas impedem sua escolha'', raciocina Temer. Também o nome do ministro Ramez Tebet foi afastado pelo presidente do PMDB. A preocupação do partido é impedir que a saída de Tebet abra espaço para a extinção do Ministério da Integração Nacional. Tebet ainda tem problemas com o PFL, que vê nele um dos carrascos da renúncia do ex-senador Antonio Carlos Magalhães. ''Seria uma solução de fora para dentro do Senado, vinda do Palácio do Planalto, não soaria bem'', completou um importante peemedebista. A direção do partido avalia que não vai haver dificuldade na desistência do senador José de Alencar (PMDB-MG), que se empolgou com a possibilidade de presidir o Senado. Alencar trancafiou-se em um quarto do Hotel Nacional, onde mora em Brasília, e passou o final de semana bombardeando os senadores com telefonemas. O problema da direção partirá do senador José Fogaça (PMDB-RS). Fogaça confirmou que vai disputar a indicação na bancada, se o escolhido não for Sarney. ''Só não consigo ver o apoio na cúpula do PMDB, eles movem uma guerra santa contra mim'', afirmou. Acareação no Grupo OK BRASÍLIA - A acareação promovida pelo Ministério Público Federal entre contadores do Grupo OK reforça a tese de que o senador cassado Luiz Estevão (PMDB-DF) teria falsificado documentos para camuflar dinheiro recebido do Grupo Monteiro de Barros, responsável pelas obras superfaturadas do Fórum Trabalhista de São Paulo. A acareação foi realizada na sexta-feira e envolveu a ex-contadora do Grupo OK Jesuína Varandas Ferreira e Pedro Ramos Neto, responsável pela contabilidade da Saenco, empresa do ex-senador. Jesuína mostrou documentos que derrubaram a versão do contador de que não houve fraude na reimpressão de documentos com a diminuição de valores transferidos ao Grupo OK. ''Está mais do que provado que Estevão falsificou documentos para enganar a CPI do Judiciário'', afirmou o procurador da República Luiz Francisco Souza. No início da acareação, Ramos havia dito desconhecer qualquer alteração nos livros contábeis das empresas de Luiz Estevão. Mas Jesuína, que trabalhou para o ex-senador durante 18 anos, apresentou documentos assinados pelo próprio contador. Ramos então recuou e reconheceu anotações suas feitas à mão, contendo a numeração das páginas do livro diário onde estavam registrados depósitos do Grupo Monteiro de Barros a favor do Grupo OK. ''Não tenho envolvimento nos procedimentos contábeis da empresa'', disse Luiz Estevão. Ao confirmar as declarações de Jesuína, Pedro revelou ter presenciado a reimpressão de livros diários inteiros, depois de alterados, referentes aos exercícios de 1996, 1997 e 1998. ''Só não eram trocadas a capa, a primeira e a última página carimbadas pela Junta Comercial'', comentou Luiz Francisco. ''Reimpressão é diferente de falsificação. Está havendo uma tentativa de transformar fatos rotineiros e banais em algo ilegal'', rebateu Luiz Estevão. Ranário chega ao Senado BRASÍLIA - O presidente do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA), utilizava a conta bancária da empresa Centeno & Moreira, de sua mulher, Márcia Centeno, para receber doações eleitorais de empresários beneficiados com projetos fraudulentos da extinta Sudam. Também participava do suposto esquema de desvio de verbas públicas o deputado federal José Priante (PMDB-PA), primo de Jader. Essa denúncia foi encaminhada ao Senado e à Câmara, na sexta-feira, pelo delegado da Polícia Federal Hélbio Dias Leite, responsável pelo ''inquérito-mãe'' sobre fraudes cometidas na Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia. O material, com 12 depoimentos e cinco cheques, foi também usado em pedido de quebra de sigilo bancário e fiscal dos parlamentares apresentado ao Supremo Tribunal Federal no mesmo dia. O envolvimento da empresa da empresa da mulher de Jader é mencionado em depoimento prestado à PF no último dia 8 pelo empresário Danny Gutzeit. As acusações foram igualmente mencionadas em pedido de abertura de inquérito policial no STF encaminhado pelo procurador da República Mário Lúcio de Avelar, do Tocantins. No depoimento, Gutzeit afirmou ter depositado, em 1998, cheque, no valor de R$ 70 mil, na conta bancária da Centeno & Moreira, empresa responsável por um ranário financiado pela Sudam na periferia de Belém. Na época, a Sudam era dirigida por José Arthur Tourinho, apadrinhado político de Jader. ''Em contrapartida, a empresa (Centeno & Moreira) teria emitido nota fiscal de venda de rã a Danny Gutzeit'', afirma o delegado da PF no relatório entregue no Congresso. Gutzeit disse também que ele e os empresários José Soares Sobrinho e Délio Fernandes pagaram R$ 120 mil, ''a título de propina'', para o dentista Leonel Barbalho, irmão do senador. O pagamento foi feito, segundo o depoimento sigiloso obtido pelo Jornal do Brasil, ''para facilitar a liberação dos projetos'' da Sudam, ''sendo que tal pagamento foi feito em espécie e pessoalmente a Leonel''. Jader vai renunciar na próxima terça-feira ao cargo de presidente do Senado. Na ocasião, vai responder às acusações. Em nota à imprensa, Priante afirmou que ''não teve qualquer participação em qualquer episódio relacionado a possíveis irregularidades na Sudam''. Artigos Quem cria lobos... Fritz Utzeri ''Mamãezinha, minhas mãozinhas vão crescer de novo?'' Jamais esquecerei a cena que vi, na TV francesa, de uma menina da Costa do Marfim falando com a enfermeira que trocava os curativos de seus dois cotos de braços. Era uma criança linda, de quatro anos, a face da inocência martirizada e que em seu sofrimento não conseguia imaginar a extensão do mal que lhe haviam feito. Não entendia e ainda tinha esperanças. E não era caso isolado. Milhares de crianças daquele país foram selvagemente mutiladas por... (como qualificar quem faz isso?) ...em conseqüência de mais uma guerra, resultado tardio do colonialismo, ao criar na África países inviáveis abrigando etnias rivais, exacerbadas pelos colonizadores e massacrando-se com armas que sua gente não produz, vendidas por americanos, russos, europeus, israelenses e outros ''civilizados'' de boa consciência e que avaliam seus lucros em lugares como o World Trade Center. Isso para não falar do Pentágono. Justifica-se um atentado terrorista como o de Nova Iorque? Jamais! Temos visto, dia após dia, pela TV, cenas de destruição, tristeza e desespero. Os aviões continuam entrando nas torres provocando uma espécie de anestesia e de vidogueimezação muito comuns à nossa era eletrônica e voyerista. Fala-se em ''ataque à civilização'' e dá frio na espinha ouvir o semitonto presidente Bush falar em ''eliminar'' nações. Estamos todos tristes, mas tristeza e indignação são grandes porque os atentados ocorreram em Nova Iorque. Já estive várias vezes naquelas torres como turista ou a trabalho. Não gostava delas, mas eram uma referência. É estranho imaginar que não estão mais lá. Dói. Mas veja uma foto de Cabul, a capital desse Afeganistão mártir de guerras que não são suas e vítima do mais terrível fanatismo religioso. É uma ruína só. Parece aquelas cidades arrasadas na Segunda Guerra, para não falar de Hiroshima e Nagasaki. Mas como em Cabul não há Quinta Avenida nem Central Parque, e como ninguém vai lá comprar tênis, videogames ou dar uma esticada depois de passear na Disney, ninguém se lixa para os milhões de mortos que quase 30 anos de guerras infringiram àquele triste lugar. A verdade verdadeira é que não somos todos iguais. Uma bomba em Nova Iorque, em Londres ou em Paris desperta a dor do mundo. Mas quando tutsis e utus se trucidam em Ruanda, e morrem 1 milhão de africanos numa guerra, o assunto é pé de página dos jornais e os negócios das industrias de armas continuam de vento em popa. Que tal fazer cadeia mundial da CNN para mostrar freiras e padres negros mandando homens, mulheres e crianças entrarem em igrejas e depois darem gasolina para que soldados de etnia inimiga toquem fogo e assem todos vivos? Quem sabe aí o sangue de um negro, de um afegão ou de palestino possa se aproximar um pouco do valor do sangue ''civilizado''? A grande verdade é que o mundo em que vivemos foi largamente forjado por essa ''civilização'' que agora se diz atacada e clama contra a barbárie. Quem cria lobos não espere viver com ovelhas. Bin Laden é made in USA, treinado e financiado pela CIA. O mesmo vale para o Talibã, milícia perversa e ginecófoba. E quem criou Saddam Hussein, hoje inimigo mortal dos americanos? Quando geraram esses lobos, durante a Guerra Fria, para lutar contra uma ideologia política, os alquimistas da inteligência (?) americana alimentaram uma ideologia religiosa e soltaram o diabo da garrafa. E agora? Ao longo da história, o homem ''civilizado'' globalizou todas as suas mazelas. A Europa nos explorou vergonhosamente. Ouro do Brasil e prata da Bolívia financiaram a revolução industrial a custo zero. Exterminaram povos que aqui viviam, escravizaram milhões de africanos e chegaram a fazer guerra aos chineses para obrigá-los a fumar ópio. O século 20 foi uma seqüência de genocídios. Em nosso continente uma sucessão de ditaduras sangrentas, sustentados pelo Big Stick, só geraram morte, fome, injustiça social, atraso e dependência. No Oriente, essa política arrogante e predatória transformou o islã, uma religião de paz e tolerância, dando origem a um fanatismo doentio e letal que não encontra guarida ou justificação no Corão, envolvendo parte dos muçulmanos numa ''guerra santa'' (Jihad) de pobres contra ricos, pessoas dispostas a imolar-se e que acreditam numa recompensa eterna por seus atos. Eles têm uma fé, por mais doentia que seja, e dão a vida por ela. O que temos nós a contrapor a gente assim? Nós, hedonistas, materialistas, cínicos e poderosos. Cristãos de nome, mas incapazes de aprender ou de seguir um só versículo do que disse Jesus. O que nos tornamos? Que mundo construímos? Na era da globalização, em que o neoliberalismo institui o deus mercado que tudo resolve, surgem os efeitos demonstração. Primeiro: o Estado é fraco, impotente. É possível hoje a um grupo de indivíduos determinados pôr de joelhos o maior poder sobre a Terra. Basta saber pilotar, arranjar alguns estiletes, armas vulgares, de revolta de cadeia e dar início ao apocalipse. Quem é o inimigo? O que vai fazer Bush? Arrasar o Afeganistão? Matar centenas de milhares de inocentes? Invadir o Indo Kush, onde se refugia Bin Laden e levar à morte milhares de jovens americanos? Indo Kush quer dizer matador de indianos. Ali, ao longo dos séculos, desapareceram impérios inteiros. Foi nessas terras quase lunares que Alexandre enlouqueceu e morreu acreditando-se um deus. O segundo efeito é a globalização da guerra. Desde a batalha de Gettysburg, na Guerra Civil, que os Estados Unidos, não sabem o que é ter conflito em casa. Para eles a guerra só chegava pelo cinema, pela TV, como no Vietnam, ou ainda pelas bandeiras envolvendo os caixões dos jovens soldados mortos além mar. Cresci com minha mãe contando como corria para salvar-se de 1.500 bombardeiros americanos e ingleses que vinham despejar sua carga assassina contra Berlim em 1944. Três vezes por dia! Era horror puro. O mundo estava em guerra, o nazismo era o mal absoluto e tinha de ser erradicado, mas os aviões não queriam aniquilar chefões nazistas, tropas ou objetivos militares. Queriam era matar a minha mãe e os milhões de cidadãos de Berlim que nada tinham com os crimes do nazismo e que só podiam correr e rezar. Talvez estejamos apenas assistindo ao começo de um ciclo que poderá nos levar de volta à barbárie. Hoje o terror usa aviões, amanhã poderá usar bombas atômicas ''esquecidas'' em contâineres. Não há limites para a irracionalidade humana. Mas entrando no caminho do ''olho por olho'' vamos todos acabar cegos, segundo dizia Gandhi. E não nos iludamos. A história da humanidade não é uma linha ascensional contínua em direção à luz ou à razão. Podemos muito bem caminhar para trás, apesar (ou talvez por causa) de nossa imensa tecnologia e nosso poder. Roma e o mundo romano em seu auge eram muito melhores do que a Europa em grande parte da Idade Média. Como manter a paz num planeta onde boa parte da humanidade não tem acesso às necessidade básicas mais elementares? Como impedir que os que vivem um cotidiano de guerra e destruição, de sangue e ódio, sentindo-se oprimidos e injustiçados, não comemorem? Como reduzir o abismo entre o camponês afegão, a criança faminta do Sudão, o Severino da cesta básica e o corretor de Wall Street? Como explicar ao menino de Bagdá que morre por falta de remédios, bloqueados pelo Ocidente, que o mal se abateu sobre Manhattan? Como dizer aos chechenos que o que aconteceu nos Estados Unidos é um absurdo? Vejam Grozny, a capital da Chechênia, arrasada pelos russos. Alguém se incomodou com o sofrimentos e as milhares de vítimas civis, inocentes, desse massacre? Ou como explicar à menina da Costa do Marfim o sentido da palavra ''civilização'' quando ela descobrir que suas mãos não crescerão jamais? A escolha americana Antônio Carlos Pôrto Gonçalves A barbaridade cometida pelos terroristas em Nova Iorque ilustra de forma gritante a selvageria do nosso mundo moderno: inocentes incinerados em nome de uma revolta contra as políticas e atitudes do governo dos Estados Unidos, passadas e presentes. Qualquer que seja a ''culpa'' do governo americano, ao adotar políticas que talvez tenham sido inadequadas ou injustas, a retaliação através da morte de inocentes não é justificável de forma alguma. Um princípio básico de moralidade e convivência humana é de que a responsabilidade de qualquer ato é atribuível apenas aos indivíduos que o perpetraram. Filhos, mães, parentes, amigos, compatriotas etc. dos responsáveis não são culpados nem devem ser punidos. Claro está que, no século 20, nazistas, comunistas, os totalitaristas em geral, não respeitaram isso. Mataram vizinhos, seqüestraram parentes, incendiaram vilarejos, tudo para punir os supostos ''culpados''. É a barbárie moderna, infelizmente. No entanto, se foram vítimas da barbárie, não quer dizer que os americanos devam responder com mais barbárie. Se bombardearem os árabes indiscriminadamente, matando inocentes, estarão se nivelando aos criminosos que os vitimaram. Embora num momento de grande comoção popular seja difícil manter a cabeça fria, a reação dos EUA deveria se concentrar no combate ao terrorismo. É um trabalho possivelmente penoso, sem grande visibilidade imediata - ou pelo menos muito menos do que invasões e bombardeios pirotécnicos. Mas é muito mais efetivo contra o terrorismo em si, e também em dois outros sentidos importantes. Em primeiro lugar, a posição de liderança exercida pelos EUA no mundo não deveria ser manchada pela percepção de que é líder apenas por ser o mais forte. O mundo não pode ser regido pela força bruta, mas por leis, regras, as quais, inclusive, ajudam a estabilizar os investimentos, as ações dos governos e a economia em geral. Aliás, a outra importante vantagem de uma atitude reativa racional se liga à economia mesma. As instabilidades provocadas pelas ações guerreiras indiscriminadas vão prejudicar o comércio mundial e os fluxos financeiros internacionais, e tornarão imprevisíveis os preços de algumas commodities básicas, como o petróleo, e assim por diante. Enfim, o Brasil, que precisa exportar e muito, mas que até chegar lá necessita da entrada de capital externo, está bem vulnerável às possíveis atitudes guerreiras indiscriminadas por parte dos EUA. Nossa posição é difícil, daí os últimos fortes aumentos da taxa de câmbio R$/US$. Certamente os juros subiriam mais ainda e o crescimento do PIB brasileiro diminuiria, caso o cenário seja de reação excessiva e descontrolada por parte dos EUA. No entanto, todas essas conseqüências são perfeitamente reversíveis se os americanos conseguirem conter a comoção e as demandas populares por ação rápida e espetacular, justificando assim sua liderança mundial. Se não conseguirem, paradoxalmente estaremos diante de uma vitória do terror. O, momento, portanto, é de teste, um teste importante para os EUA: barbárie ou civilização? É a escolha americana. Colunistas Coisas da Política – Dora Kramer Pensamentos sem rumo Por toda parte, em todas as conversas, a única certeza que as pessoas conseguem expressar desde os atentados terroristas que ainda nos deixam a todos desconcertados é a de que o mundo vai mudar. Mas até agora ninguém é capaz de produzir, com chance de acerto, um único pensamento a respeito do rumo que a humanidade irá tomar: será o da guerra total ou, afinal, o da paz? Dada a comprovação da inutilidade dos artefatos tecnológicos e de que para a destruição do ser humano basta o próprio homem e sua circunstância de inversão do valor da vida que dá à morte o sentido da salvação, é possível que o caminho seja o do diálogo. Do reconhecimento das diferenças sem que isso represente ofensa à existência do outro, do abandono da prepotência e da lógica do extermínio que, ao fim e ao cabo, é a lógica do terror. Mas para que não fiquemos apenas no campo da abstração e possamos devagar voltar a discutir assuntos mais próximos a nós sem perder de vista a lição de Nova Iorque sobre a relatividade da correlação entre fracos e fortes, cabe uma reflexão a respeito do que se altera aqui nesse Brasil no que tange às relações entre nossas forças políticas. Falamos, evidentemente, no campo do embate das idéias, que é o que temos em jogo. A gravidade do ambiente internacional conseguiu, há quatro dias, reunir, ainda que por breve momento, governo e oposição para lidar com uma questão que estava acima das concepções políticas de cada um. Ambos os lados - o governo ao chamar e a oposição ao aceitar - mostraram que já se compreendem algumas coisas por aqui para além das simplificações de sempre. Tratava-se de conferir respaldo a uma posição do Estado brasileiro que inclusive será defendida na assembléia geral da ONU - cuja abertura é prerrogativa nossa - daqui a alguns dias. Ninguém falou em cooptação, ninguém suspeitou disso, a confiança mútua permeou a reunião. Se isso terá um significado mais adiante, só o tempo dirá. O líder do PT na Câmara, Walter Pinheiro, acha que é possível haver. No encontro de quinta-feira, o petista sugeriu ao presidente Fernando Henrique Cardoso que desse a dura resposta que, logo depois, o governo divulgaria em nota de repúdio às críticas do ministro Domingo Cavallo à política cambial brasileira. ''O governo precisa aprender que algumas questões que dizem respeito à nação necessitam do diálogo com as forças divergentes'', pondera Walter Pinheiro. Conexão eleitoral A reunião entre líderes de oposição e situação nada teve a ver com a intenção de obter apoio à política econômica, nem poderia, muito menos sua realização deve autorizar interpretações que guardem qualquer relação com movimentos eleitorais. Talvez por isso haja quem - como o ex-deputado Fernando Lyra, coordenador da campanha de Ciro Gomes - não acredite em desdobramentos. ''Aquele encontro encerra-se em si mesmo.'' Ainda que seja assim, não é ajuizado pensar que aquela reunião tenha sido o único fato político produzido aqui à luz dos acontecimentos dos Estados Unidos. Nenhum dos candidatos - ainda bem - ousou fazer ainda publicamente conexões a respeito dos reflexos sobre a disputa presidencial. Soaria mesquinho, além de parecer um debate desproporcional. Mas, afinal, em algum momento as interpretações começarão a vir a público. Nos bastidores já se iniciaram, ainda de forma muito preliminar. Gente ligada ao marketing político, por exemplo, acha que o impacto do terror tende a favorecer candidatos conservadores e sepultar de vez candidaturas de caráter mais voluntaristas. Embora a tese favoreça o seu campo de atuação, o senador Jorge Bornhausen considera qualquer avaliação precipitada. Mas aponta: ''Foi aberta uma porta para a reflexão de que o eleitor não aceitará qualquer condescendência com ilícitos.'' Referência óbvia às relações do PT com o MST, o que, diga-se, deixa o deputado Walter Pinheiro bastante indignado: ''É evidente que o eleitor não fará a mais longínqua conexão entre terrorismo e a ação do MST. Além disso, o PT foi o primeiro partido a reagir conjunta e veementemente aos atentados.'' Já Fernando Lyra, que acha inevitável uma alteração de rumo no debate nacional - ''será que alguém vai se interessar em discutir o FMI ou a crise da Argentina?'' -, não considera que o eleitorado tenderá necessariamente a escolhas mais conservadoras. ''Fará, sim, opções mais qualificadas.'' O coordenador da campanha de Ciro Gomes cita a eleição americana: ''Ninguém tinha dúvida de que o Bush não estava à altura de cargo. Ele foi eleito por um defeito da democracia americana que não leva em consideração o conceito de maioria. No entanto, aceitou-se o arranjo da legislação que permitiu a posse, e comprovou-se, agora nesse episódio, que ele realmente não estava à altura do cargo.'' Editorial Percepção Confusa O governo custou a acertar o passo na questão da crise de energia. Só conseguiu transmitir segurança à opinião pública depois que reconheceu que foi pego de surpresa e decidiu centralizar as ações do plano de racionamento. A partir da criação da Câmara de Gestão da Crise de Energia (GCE), sob o comando do ministro-chefe da Casa Civil, Pedro Parente, a máquina estatal começou a funcionar, corrigindo erros daqueles que deveriam ter tomado as medidas que evitassem a escassez. Parente fez o que se esperava dele. Nos últimos dias, porém, a percepção do problema voltou a ficar confusa. Surgiram novamente informações desencontradas e contraditórias. A reação da opinião pública não poderia ser diferente: o nível de redução do consumo deixou de corresponder às metas oficiais. As famílias começaram a relaxar e a retomar o padrão anterior de consumo. Não se sabe ao certo se o racionamento prosseguirá em 2002. Comenta-se que, como presente de Natal, o presidente Fernando Henrique anunciará o fim da crise, a tempo ainda de se iluminarem as fachadas, as árvores e os presépios. Outros rumores indicam que a boa nova será dada ainda no mês de novembro. Ao mesmo tempo, o governo informa que a situação do Nordeste continua crítica e, por isso, a região será incorporada ao horário de verão, que deve começar no próximo dia 14 de outubro. Este ano, o Nordeste não será exceção, com a concordância dos governadores. Se a situação é mesmo crítica, de onde saem as informações sobre fim do racionamento? Se os reservatórios das hidrelétricas ainda preocupam, por que o horário de verão não é antecipado? As peças não estão se encaixando. E muitas definições continuam no ar. Qual é, por exemplo, a estratégia do governo em relação à distribuição do gás natural? Muitas empresas interessadas em investir aguardam uma decisão firme para implementar seus projetos. Desejam saber o papel que caberá à Petrobrás. Por acaso, pretende-se reservar à empresa estatal o monopólio do gás? Enquanto não houver uma posição clara a respeito, os empresários dificilmente vão desembolsar os recursos necessários à construção de usinas termelétricas. Mais uma pergunta: o governo acredita de fato na alternativa das termelétricas, ou só faz de conta à espera de chuvas salvadoras? Na ausência de respostas objetivas, o racionamento vai se esgarçando, pois as famílias deixam de ver sentido no esforço de contenção do consumo. A continuar assim, o futuro da energia no Brasil ficará mesmo nas mãos de São Pedro. 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09/17/2001


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