Fogaça deixa o PMDB e oficializa ingresso no PPS



Fogaça deixa o PMDB e oficializa ingresso no PPS Adesão do senador gaúcho foi comemorada ontem pelos deputados aliados a Ciro Gomes Depois de vários dias de indefinição, o senador José Fogaça oficializa amanhã seu ingresso no PPS. Os procedimentos burocráticos de sua saída do PMDB foram encaminhados ontem, mas Fogaça prefere não falar sobre sua nova opção partidária. Somente amanhã o senador dará uma entrevista coletiva para falar de sua decisão. Ontem mesmo, a bancada do PPS na Assembléia já comemorava sua adesão ao partido. O candidato do PPS à Presidência, Ciro Gomes, e o presidente do partido, senador Roberto Freire, foram informados da decisão pelos deputados. Como ainda não conversou com o senador, Ciro preferiu tratar a filiação como hipótese, mas não escondeu a euforia: – Se ele vier mesmo será uma grande conquista. Fogaça é um dos melhores políticos brasileiros, tem todo o nosso respeito e todas as qualidades para ser candidato, mas isso quem vai decidir é a seção local do partido. Um ex-companheiro de Fogaça no PMDB classificou como “um parto difícil” a decisão do senador. – Nossa euforia é proporcional às dificuldades que enfrentamos para convencê-lo – contou o deputado. O grupo do ex-governador Antônio Britto comemorou a adesão porque Fogaça é um peemedebista histórico e sua saída, segundo as primeiras avaliações, abala as estruturas do PMDB. Na semana passada, Fogaça dizia que sua intenção era permanecer no PMDB, mas que não concorreria à reeleição. O senador passou o fim de semana em Porto Alegre e acabou fazendo a opção, mas não assinará ficha junto com o ex-governador e os deputados. A filiação deve ocorrer na quinta-feira, em solenidade discreta. Ibope revela preferências dos gaúchos Britto lidera pesquisa de intenção de voto para o Piratini, e Lula segue na frente para a Presidência A mais recente pesquisa Ibope sobre a intenção de voto dos gaúchos para o governo do Rio Grande do Sul indica a liderança do ex-governador Antônio Britto (PPS), com 21%. O instituto também ouviu eleitores sobre candidaturas ao Senado e à Presidência da República. O presidente da Assembléia, deputado Sérgio Zambiasi (PTB), e o senador José Fogaça (PMDB) têm a preferência dos eleitores para o Senado, com 38% e 32%, respectivamente. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lidera a intenção de voto no Rio Grande do Sul para presidente, com 30%. O Ibope fez mil entrevistas entre os dias 25 e 29 de setembro. A margem de erro do levantamento é de 3,1 pontos percentuais para mais ou para menos. Na pesquisa para a sucessão estadual, Antônio Britto lidera tanto na estimulada (21%) – em que é apresentado ao eleitor um cartão com os nomes de possíveis candidatos – quanto na espontânea (13%). O prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro (PT), está em segundo lugar nas intenções de voto para o governo na estimulada, com 14%, seguido do atual governador Olívio Dutra (PT) e de Sérgio Zambiasi, ambos com 12%. Na espontânea, a segunda colocação se inverte: Olívio aparece com 9% e Tarso com 8%. Na consulta espontânea para o Senado, Fogaça, que lidera a pesquisa, com 7% das intenções de voto. No segundo lugar estão empatados com 3% a senadora Emília Fernandes (PT), o deputado federal Paulo Paim (PT) e Zambiasi. Na estimulada, Zambiasi assume a liderança, 38%, seguido de Fogaça, 32%. Dos 11 possíveis candidatos à Presidência da República apresentados pelo Ibope, Lula aparece na liderança (30%), seguido do senador Pedro Simon (PMDB), com 15%, da governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), 11%, de Ciro Gomes (PPS), 10% e do ministro José Serra (PSDB), com 5%. Lula também lidera na espontânea (19%). Brizola suspende negociações com o PPS Interrupção se deve à presença de Ciro Gomes na filiação do ex-governador Antônio Britto e de seis deputados Os entendimentos para uma aliança nacional entre o PPS do candidato à Presidência da República Ciro Gomes e o PDT de Leonel Brizola estão suspensos. A interrupção do diálogo, anunciada ontem à noite por Brizola, se deve à presença de Ciro, hoje, no ato de filiação do ex-governador Antônio Britto e de mais seis deputados no PPS. Na avaliação do PDT, ao prestigiar a entrada do grupo de dissidentes do PMDB no PPS, Ciro estaria incorporando um perfil conservador a sua candidatura. – O PDT vai ser coerente com os seus princípios trabalhistas. Ninguém pode deixar de considerar que, a partir dessa aliança com Britto, haverá um deslocamento do PPS para o campo conservador, neoliberal – afirmou Brizola. Nos últimos meses Brizola vinha acenando com a possibilidade de o seu partido apoiar o nome de Ciro à Presidência. Com a filiação de Britto e uma provável candidatura sua ao governo do Estado em 2002, o PDT passou a descartar qualquer tipo de aliança com o PPS no Rio Grande do Sul. Os trabalhistas dizem que não aceitam se coligar com uma sigla que aceitou abrigar em seus quadros um ex-governador que foi o responsável pelas privatizações da CEEE e da CRT e a extinção da Caixa Econômica Estadual. Nas análises feitas por pedetistas, até o momento Ciro não encampou nenhum projeto trabalhista em seu programa de governo. Brizola lamentou o fato de o PPS não ter procurado o PDT para falar sobre as mudanças no quadro partidário no Estado. – O senador Roberto Freire (presidente do PPS) me telefonou há três semanas para marcar uma conversa e até agora não veio – disse. Ontem, Brizola recebeu uma carta de Ciro, classificada por ele de “atenciosa e cordial”, relatando os acontecimentos envolvendo o ingresso do grupo de dissidentes do PMDB no PPS. O líder trabalhista vai submetê-la à direção do partido. Apesar de caminhar para uma candidatura própria ao governo do Estado, o PDT aceita discutir um eventual apoio ao nome do deputado Sérgio Zambiasi (PTB) para a disputa. Segundo Brizola, o PDT poderá reavaliar suas posições em nome de uma frente trabalhista no Rio Grande do Sul. Para que essa aliança com o PTB ocorra, no entanto, Zambiasi terá de se afastar das negociações com Britto. O PDT gaúcho se manifestou ontem oficialmente contrário a qualquer aliança com o PPS no Estado. A posição, anunciada pelo presidente regional do partido, Airton Dipp, pelo vice-presidente, Pedro Ruas, e pelos deputados Adroaldo Loureiro – líder partidário na Assembléia – e Giovani Cherini, foi remetida ao comando nacional do PDT. – Não há por parte de Ciro uma manifestação ostensiva e clara do que o PDT defende. A sua presença no ato de filiação representa uma opção clara pelo modelo neoliberal implantado por Britto – disse Ruas. Ciro minimiza rejeição do PDT Alianças serão discutidas pelas direções Anunciada no momento em que o candidato do PPS à Presidência da República, Ciro Gomes, desembarcava no aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, a rejeição do PDT estadual à aliança com o PPS, nova sigla do ex-governador Antônio Britto, marcou ontem o início da visita de quatro dias do candidato ao Estado. Informado da posição dos pedetistas gaúchos, Ciro disse que as questões relativas a alianças são resolvidas entre as direções nacionais das siglas. Ainda sem saber das declarações do presidente nacional do PDT, Leonel Brizola, que afirmou considerar suspensas as negociações com o PPS para a formação de uma aliança, Ciro disse aguardar a reunião com o líder trabalhista, marcada para o dia 8, para tratar do assunto. As declarações do presidente estadual do partido, deputado Airton Dipp, que disse ser o ingresso de Britto no PPS um reforço ao viés de continuísmo da candidatura de Ciro, provocaram uma reação de desdém: – Não responderei e não vou comentar qualquer declaração do PDT local. Eles devem fazer suas justas, ou injustas, considerações ao seu chefe. Recebido no aeroporto por deputados dissidentes do PMDB, que assinam ficha no PPS hoje de manhã, Ciro não acredita que a filiação de Britto seja empecilho para uma aliança entre o PPS, o PTB e o PDT. O ex-ministro disse ter ouvido de Britto que o ex-governador gaúcho não tem pretensão de ser candidato. Para ele, a posição do PDT estadual reflete desavenças regionais antigas que podem ser superadas. A contrariedade provocada pela notícia da posição assumida pelos pedetistas gaúchos foi compensada pela recepção calorosa dos ex-integrantes do PMDB e do PTB. Do aeroporto, Ciro foi fazer uma visita ao presidente da Assembléia, Sérgio Zambiasi (PTB). Na ausência de Zambiasi, foi recebido pelo diretor-geral da Casa, Cláudio Manfrói, em uma reunião de uma hora, a portas fechadas, com a presença dos deputados Paulo Odone, Iara Wortmann, Berfran Rosado, Cézar Busatto, Mário Bernd e Bernardo de Souza. Zambiasi chegou no final da reunião, a tempo de cumprimentar Ciro, que esteve em sua festa de aniversário há duas semanas. Em uma rápida passagem pela Câmara Municipal, o candidato do PPS foi recepcionado na porta do edifício por vereadores e filiados do PTB e pela vereadora Clênia Maranhão, que saiu do PMDB e passa a ser a única representante do PPS na Casa. A sessão plenária foi interrompida por alguns minutos para um rápido discurso de Ciro. O roteiro do ex-ministro da Fazenda pela Serra Gaúcha começou ontem à noite com a participação em um encontro regional do PTB, em Garibaldi, e se encerra hoje com um café da manhã com empresários na Câmara da Indústria e Comércio (CIC) de Caxias do Sul. Ainda pela manhã, Ciro retorna a Porto Alegre para o ato de filiação de Britto e dos outros ex-integrantes do PMDB. Depois, segue para Lajeado. Ex-deputado ataca o governo Em depoimento na CPI da Segurança Pública, o delegado aposentado e ex-deputado federal Wilson Müller disse ontem que não aceitou o convite para se filiar ao PT por causa das denúncias de que o dinheiro das apostas do jogo do bicho teria como destino o Palácio Piratini. Segundo Müller, “o vice-governador sabia, o presidente do PT sabia o secretário da Segurança sabia e toda a executiva sabia”. Müller declarou não saber se até hoje a denúncia foi investigada. O deputado Ronaldo Zülke (PT) reagiu afirmando que o depoimento de Müller foi “carregado de ressentimento pessoal por causa do afastamento do delegado Hilton Müller das suas funções, por determinação da Justiça” . Zülke se referia ao inquérito que o irmão do depoente responde por coação de testemunha. Jader tem dinheiro em paraíso fiscal BC deve ajudar a rastrear a movimentação financeira O senador Jader Barbalho (PMDB-PA), que deve renunciar ao mandato até amanhã, enfrenta mais um escândalo. O Ministério Público encontrou mais um elo entre Jader e o empresário goiano José Osmar Borges, apontado como o maior fraudador da extinta Sudam, uma conta bancária em Liechtenstein, paraíso fiscal vizinho à Suíça. Segundo o Jornal do Brasil, o senador abriu a conta, e Borges depositou US$ 120 mil dólares. A transação teria começado em uma agência do falido Banco Nacional, em Foz do Iguaçu (PR), por meio de uma CC-5, uma espécie de conta autorizada pelo Banco Central (BC) para operações em moeda estrangeira para brasileiros que vivem no Exterior. Os procuradores da República vão pedir a ajuda de técnicos do BC para rastrear a movimentação financeira de Jader, que após a renúncia será tratado pela Justiça como cidadão comum. Ontem à noite, o senador usou um programa em sua emissora de TV para justificar ao povo paraense que sua eventual renúncia ao mandato foi conseqüência de uma “vingança das elites brasileiras, que não admitem a presença de um nortista na presidência do Senado”. Justiça nega afastamento de prefeito O pedido de afastamento do prefeito Valmir Martins (PMDB) foi negado ontem pelo juiz Roberto Ludwig, da 1ª Vara do Fórum de Sapucaia do Sul. Há cerca de duas semanas, foi determinado o bloqueio dos bens e das contas do prefeito devido a irregularidades na concessão de linhas para o transporte público. O pedido de afastamento havia sido feito pelo promotor José Giacomuzzi em razão de irregularidades na na instalação e exploração de lombadas eletrônicas. Já haviam sido determinadas a indisponibilidade dos bens do prefeito e o bloqueio das suas contas no Brasil e Exterior. Também estão indisponíveis os bens do ex-procurador do município Milton dos Santos, da esposa dele, da advogada e funcionária pública Maria Salete dos Santos e do proprietário da empresa que venceu a concorrência, Eliseu Kopp. Artigos Exportações agrícolas MÁRIO HAMILTON VILLELA Convido os leitores para refletirem sobre um dos problemas cruciais que muito afetam o desenvolvimento de nossas atividades agropecuárias. Refiro-me, especialmente, àqueles que estão ligados a nossa balança comercial de exportação. Todos nós, técnicos e produtores rurais, sabemos com muita clareza o quanto difícil é produzir e sobretudo competir com os nossos produtos no mercado internacional. Duas, em tese, são as grandes razões que nos levam a essas dificuldades: a falta de estímulos governamentais ao setor e o alto índice de tributação que recai em cima dos produtos agrícolas. Esses dois aspectos somados, na maioria das vezes, inviabilizam quase que totalmente as nossas exportações. Isso tudo, sem se falar no enfrentamento desigual do protecionismo comercial praticado com muita intensidade pelos países ricos. O governo brasileiro tem que se aperceber logo dessa desigual e desleal concorrência Muito diferente é a situação dos países de Primeiro Mundo ou chamados industrializados, como os Estados Unidos, Japão e os europeus. Nesses, os governos adotam uma política prioritária e permanente de subsídios, além de todas as isenções tributárias possíveis, para proteger (o propalado protecionismo) os seus produtos agrícolas nas transações no mercado internacional. O governo brasileiro tem que se aperceber logo dessa desigual e desleal concorrência. Por outro lado, apesar de todas essas dificuldades, o setor resiste e contribui para o desenvolvimento nacional. Por exemplo, o segmento agropecuário gaúcho colabora para o PIB do Estado, no tocante ao valor total das exportações, com 40%, representado pelo complexo soja (grão, farelo e óleo), por fumo, frango e carne bovina. Apenas à guisa de informação, em termos de país, o agronegócio representa ao redor de 40% do PIB brasileiro. Para que as distorções acima sejam coibidas, o governo tem que implantar logo uma política agrícola séria, forte e duradoura, que financie o setor, provoque a fixação do homem no seu ambiente, gere mais empregos e renda no campo. No bojo dessa política, é necessário que a mesma venha acompanhada de uma reforma tributária eficiente, que também contemple o campo. O contexto atual é um dos mais significativos para o acionamento de um movimento da classe muito bem organizado, pacífico e ordeiro, junto ao Congresso Nacional, na busca de soluções para essa questão. Lá está tramitando, já há um bom tempo, uma proposta sobre a reforma tributária. É, sem dúvida, o grande momento para se trabalhar junto aos parlamentares, mostrando a necessidade da urgente reforma tributária, alertando que não se pode mais cobrar, por exemplo, ICMS sobre as exportações dos produtos primários. Urge que os nossos congressistas sejam sensibilizados e conscientizados de que na atual conjuntura nacional nenhum outro segmento da economia poderá soerguer o nosso desenvolvimento social e econômico a não ser a agricultura. Tem que se ter a coragem, com urgência, de derrubar essa gama enorme de indesejáveis tributos que pesam sobre o setor, e nos posicionarmos contrários, radicalmente contrários, às políticas protecionistas contra os produtos agrícolas brasileiros, infelizmente, mantidas pela maioria dos grandes países produtores de alimentos. Só assim se poderá ajudar na retomada da agricultura e na redução do grave e sério desequilíbrio em nossa balança comercial. No engajamento em prol dessa luta, deve-se integrar, ainda, coesa, toda a cadeia produtiva, representada pelos seus variados segmentos. A hora, repito, especialmente pelos pontos aqui salientados, é indiscutivelmente a mais importante. Chega, neste país, como já disse alguém, com muita propriedade, “de exportamos impostos e importarmos subsídios”. Ficção e realidade VITOR HUGO STEPANSKY Estamos ficando alarmados com a quantidade de sugestões e procedimentos, divulgados pela mídia, para aumentar a segurança de vôo, nos casos de interferência ilícita (hijack). É claro que o cinema, comercialmente, fez filmes incompatíveis com a realidade. Pilotos que passam em pleno vôo de jatos para jatos, com cabines parcialmente destruídas. Aviões em que equipes de resgate passam através de tubos de avião para avião e, naquele emaranhado de fios, num porão escuro, sabem exatamente que fio cortar. Meninas de 12 anos que, sem nunca terem pilotado, pousam sem piloto automático um Boeing 707, à noite, com chuva em Los Angeles. O reloginho contando os últimos segundos, a força aérea americana pronta para abater o avião e plic, um artista, quase sempre ferido, com um alicate na mão corta o fio certo. Todos nós ficamos impactados com o atentado, mas daí a querer transformar tripulantes em rambos vai uma grande distância Vários seqüestros de aviões ocorreram nos últimos anos, alguns mais violentos que outros, mas todos com objetivos diferentes do que presenciamos em Nova York, em que o próprio avião foi usado como arma. Na maioria dos casos, grupos radicais querendo libertar seus pares, grupos querendo asilo, fugindo de perseguições políticas, gente querendo chamar atenção para alguma causa, até alguns malucos querendo chamar atenção. No final queriam atingir o objetivo e salvar a própria pele. O atentado ao World Trade Center mudou completamente a ótica do enfrentamento. Grupos radicais que treinam para matar e morrer por mais de dois anos, metodicamente, com objetivo fixo, sem questionar e sem deixar transparecer, são um tipo diferenciado de pessoas. Levados pela idéia de glória e paraíso, com suas virgens, em que a morte é a passagem, podem ser parados como, quando dentro de um avião há uma bomba a bordo? Cabines blindadas? O seqüestrador explode tudo. Talvez não consiga um alvo definido, mas um avião de grande porte que explode em cima de uma cidade vai causar estragos com certeza. Treinar tripulações para com armas imobilizar e prender seqüestradores dispostos a tudo é utópico. Pilotos e comissários armados, mesmo com curso de defesa pessoal, como ouvimos falar, iniciando um enfrentamento, a 12 mil metros, em um avião pressurizado com 300 pessoas a bordo, seria catastrófico. Um tiroteio nestas condições seria inimaginável. Com certeza não gostaríamos de viver esta realidade. Confronto deste tipo evidentemente não evitaria um desastre. Todos nós ficamos impactados com o atentado, a realidade imitando a ficção, mas daí a querer transformar tripulantes em rambos vai uma grande distância. O único meio de evitar esta situação é tentar impedir que seqüestradores subam a bordo. Colunistas ANA AMÉLIA LEMOS O Natal e os consumidores Os lojistas que estão reunidos em mais uma convenção nacional em Porto Alegre deverão aproveitar a oportunidade para fazer uma projeção sobre o comportamento das vendas no Natal 2001. A primeira constatação, segundo os próprios empresários do setor, é que o consumidor, desta vez, dará preferência aos produtos nacionais. Com a alta do dólar, os produtos importados terão preços bem salgados. Ganhará, com isso, a indústria nacional de brinquedos, vestuário, bebidas e setor alimentício. Essa é a conseqüência positiva resultante da desvalorização do real frente ao dólar. Outra conseqüência positiva está nas exportações, que ganham mais competitividade e podem, no geral, compensar o desaquecimento que será registrado em outros setores da economia. Economistas estão estimando que os primeiros sinais da crise externa, pós atentados terroristas nos Estados Unidos, começarão a ser percebidos a partir deste mês, com as anunciadas demissões na indústria automobilística, de aviação e das companhias aéreas. Todos esses setores foram diretamente afetados pela situação recessiva internacional, agravada por causa dos atentados de 11 de setembro nos Estados Unidos. A queda do número de passageiros nos vôos internacionais é grande, não só por causa do terrorismo, mas também por causa do valor do dólar. Isso deverá beneficiar o turismo interno. Não só pela opção dos consumidores brasileiros em tirar férias nas diversas regiões turísticas do país, mas deverá atrair número maior de turistas do Mercosul para todo o litoral brasileiro no próximo verão. O problema, já detectado no Nordeste, é que os empresários do setor hoteleiro, em vez de conquistarem a clientela com bom serviço e preço, estão aumentando o valor das diárias nos hotéis em todas as categorias. Perdem duplamente com essa estratégia suicida. Deixam de aumentar a parcela de turistas que poderia, pela primeira vez, visitar a região e ficar cliente cativo e ainda irritam o turista que nas férias tem preferido o belíssimo litoral nordestino. A Embratur pretende reunir os empresários do setor para debater esse assunto antes do início da alta estação. JOSÉ BARRIONUEVO – PÁGINA 10 Anulada promoção de oito coronéis Por 23 votos a 1, o Pleno do TJE anulou todas as promoções de oito tenentes-coronéis a coronel da Brigada Militar assinadas pelo governador Olívio Dutra no dia 18 de novembro de 2000, por ter sido usado apenas o critério de merecimento, desprezando a lista por antigüidade. O ato foi anulado e caberá ao governador publicar nova lista, mantendo quatro nomes por merecimento e escolhendo outros quatro por antigüidade. O mandado de segurança foi impetrado por Luis Freddi Rodrigues Aguirre, que é tenente-coronel e primeiro da lista por antigüidade, tendo sido preterido pelo governador. Antigüidade foi desconhecida Com a publicação do acórdão em duas semanas, fica completamente alterado o quadro de comando da corporação, cabendo ao governador providenciar nova lista para reduzir os efeitos, com quatro nomes seguindo o critério político, subjetivo, do merecimento e quatro seguindo a lista por antigüidade. Outro mandado de segurança – a ser julgado – foi impetrado pelo tenente-coronel Carlos Roberto da Cunha Amador, segundo da lista por antigüidade, também preterido nas promoções de 21 de abril deste ano, quando mais oito coronéis foram promovidos apenas por merecimento. A decisão de ontem forma jurisprudência para a segunda ação, com provável rebaixamento de mais quatro coronéis. O voto do relator, Osvaldo Stefanello, foi acompanhado por mais 22 desembargadores. As promoções devem ser refeitas. Comandante na lista Entre os coronéis que terão a promoção anulada com a publicação do acórdão, estão o comandante e o chefe do Estado-Maior da corporação. Os nomes: Vanderlei de Souza José, Ubirajara Azevedo Dias, Luis Antônio Brenner Guimarães (chefe do Estado-Maior), Marco Aurélio Osório Bandeira, Gerson Nunes Pereira (comandante-geral), Tarso Antônio Marcadella (comandante do Policiamento da Capital), Cláudio Núncio (comandante dos Bombeiros) e Algemiro Machado Itaqui. Do grupo, apenas Vanderlei de Souza está na lista dos que deveriam ser promovidos por antigüidade. Assessor pirotécnico – Capitão Araken foi escalado pela Secretaria da Segurança como ajudante-de-ordens do embaixador da Áustria, Daniel Krumholz, que ontem visitou a Assembléia. É aquele mesmo que participou da baderna do relógio dos 500 anos. Briga na Câmara O líder do governo, vereador Estilac Xavier, do PT, cobrou ontem isenção do presidente da CPI do Demhab, Nereu D’Ávila, do PDT. Virou bate-boca. Por solicitação de Estilac, os depoimentos de hoje serão feitos a portas fechadas. O sigilo foi solicitado diante de denúncia que envolve a própria CPI. Novo PPS recebe Ciro com festa O momento foi de apresentação, na véspera do ingresso no PPS, que ocorre hoje ao meio-dia. Um a um, os deputados egressos do PMDB se apresentaram ao presidenciável Ciro Gomes, que veio ao Estado para fazer grande estrago no PMDB, conquistando um ex-governador, um deputado federal, cinco estaduais, um senador e uma vereadora da Capital. Também chegou o senador Roberto Freire, presidente nacional do partido, que à noite jantou com o grupo de Britto. O primeiro encontro na Assembléia ocorreu no gabinete do diretor-geral da Casa, Cláudio Manfrói , oportunidade em que os representantes do PPS e Sérgio Zambiasi ensaiaram uma provável aliança. Fogaça com 32%, Simon com 6% A pesquisa do Ibope foi um balde de água fria no senador Simon, que na semana passada anunciou disposição de concorrer a governador, dizendo que preferia votar no PT a acompanhar Britto no segundo turno. No dia em que decidiu largar o PMDB, Fogaça obteve 32% de preferência como candidato à reeleição (próximo de Sérgio Zambiasi). Simon ficou em apenas 6% como candidato ao Piratini, um sexto lugar. Para presidente, Simon é segundo. Obteve em seu Estado 15% contra 30% de Lula. • Tarso – Pesquisa do Ibope não é boa para Tarso, que está com apenas dois pontos acima de Olívio. • Jader – Fogaça não acompanhou voto de Simon na eleição de Jader para presidente do Senado. Mirante • O que vai dizer a cúpula do PMDB gaúcho contra José Fogaça? Será acusado de traidor por Simon? • A saída de Fogaça do PMDB, rumando para o PPS, acrescenta um ingrediente muito forte na nova correlação de forças da política gaúcha. • Qual é o partido com a cara de Simon? De um lado: Padilha, Schirmer, Biolchi, Perondi, Sartori, Postal, Schneider, Foscarini, João Osório, Melo e Záchia. Do outro: Britto, Fogaça, Proença, Busatto, Odone, Berfran, Bernd, Iara e Clênia (e Bernardo de Souza, que foi secretário da Educação no governo Simon). • Zambiasi decidiu se dobrar à voz do povo. Entende que o resultado das pesquisas indicam o desejo do eleitor para que concorra ao Senado. • Brizola joga com inteligência. Se não reagisse, Fortunati viraria apêndice de Britto e do PPS. ROSANE DE OLIVEIRA Novas ondas O PMDB gaúcho sofreu mais um baque em seus alicerces com a saída do senador José Fogaça, que nesta quarta-feira anuncia o ingresso no PPS. Fogaça segue o grupo que hoje assina ficha no partido de Ciro Gomes, mas não estará presente ao ato festivo. O processo de desligamento do PMDB foi tão sofrido que Fogaça optou por uma espécie de repouso de 48 horas. Filiado desde 1974, o senador é a perda de mais difícil assimilação pelo PMDB. No PPS, Fogaça deverá concorrer à reeleição. Os resultados das pesquisas do Cepa e do Ibope estimulam o senador a concorrer. Nas duas ele aparece em segundo lugar, atrás de Sérgio Zambiasi. A diferença de percentuais se explica pela metodologia: o Cepa pediu aos entrevistados que indicassem um nome para o Senado. O Ibope, dois (um para cada vaga). Na essência, os resultados das pesquisas do Cepa e do Ibope são coincidentes. Pequenas alterações de posição estão situadas na margem de erro. O Ibope confirma o crescimento de Roseana Sarney, que no Rio Grande do Sul já aparece com um ponto percentual à frente de Ciro Gomes. Empolgado com as novas conquistas do PPS, Ciro avaliou o resultado da pesquisa do Cepa como muito bom, levando-se em conta a presença do senador Pedro Simon na pesquisa. Nem o barulho feito pelo PDT, que afasta a possibilidade de uma aliança por conta da proximidade com o ex-governador Antônio Britto abalou o candidato do PPS. Seus novos aliados fizeram uma leitura otimista dos movimentos de Brizola e do PDT. Na avaliação do deputado Cézar Busatto, o PDT está querendo marcar posição, para afirmar o vereador José Fortunati, mas lá na frente os projetos são convergentes. Apesar da veemência de Brizola, o PPS está convencido de que o PDT não quer quebrar os pratos. Editorial Ação exportadora O Rio Grande passa a ser um interlocutor privilegiado de Brasília na área do comércio exterior, tanto por se haver transformado em um exportador de produtos que integram a pauta prioritária da nação quanto por haver atingido a posição de segunda maior força brasileira no campo das vendas externas. Um importante reflexo desse novo status foi a visita de dois dias que fez a Porto Alegre o ministro do Desenvolvimento, que aqui veio manter contatos diretos com o governador do Estado e com o empresariado gaúcho. Na primeira visita que realizou a um Estado depois da instituição da Câmara Executiva de Comércio Exterior, que agirá com poderes similares à criada na área da energia, o senhor Sérgio Amaral destacou o crescimento de 32% no saldo de nossos embarques e ressaltou o fato de que, dentre os 10 bens que merecem primazia do Executivo federal na política de trocas, cinco são oriundos de nosso parque produtivo: calçados, carne, autopeças, máquinas e móveis. Especificamente no que concerne aos sapatos, apresentou ele na Fiergs um programa destinado a ampliar o valor agregado desse produto, com recursos do Ministério da Ciência e Tecnologia. Haverá ainda possivelmente verbas da própria pasta do Desenvolvimento, via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. O esforço oficial parece bem norteado como o atesta a preocupação com o aumento do valor agregado Um outro fato relevante é o direcionamento de nossas vendas, em uma primeira fase, para os sete mercados que deverão ser alvo de um esforço especial de conquista ou expansão. São eles os EUA, o Reino Unido, a Alemanha, o Japão, a Índia, a China e o México. No fronte interno, Brasília estimulará o que vem chamando de Natal Verde e Amarelo, ou seja, uma campanha informal para motivar o consumidor a adquirir, nas festas, bens brasileiros. Mesmo essa iniciativa demonstra de maneira exemplar as dimensões da aposta governamental no incremento das vendas externas. Finalmente percebeu-se que, com a redução dos investimentos estrangeiros diretos, a única forma de o país autofinanciar-se, ou ao menos reduzir o rombo das contas públicas, é uma vigorosa ação exportadora, que anule a desastrosa sucessão de déficits dos últimos anos. Cumpre lembrar a esse respeito que o câmbio nos favorece neste momento, apesar da conjuntura mundial recessiva. É imprescindível no entanto que esse empenho tenha conseqüências efetivas na redução dos entraves de uma burocracia irracional e dispendiosa e, muito especialmente, no abatimento de tributos e contribuições, dentre os quais o Pis e a Cofins, mencionados ontem pelo ministro. Mais do que isso, é indispensável pensar grande em termos de promoção comercial lá fora e, aqui dentro, incentivar concretamente a pequena e a média empresas para que se integrem à linha de frente do comércio exterior. De qualquer forma, a ação do Planalto parece bem orientada e nada o atesta melhor do que a preocupação com o valor agregado. O Brasil necessita de uma pauta comercial que, sem qualquer menosprezo ao setor primário, componha-se crescentemente de bens tecnologicamente avançados e aptos a gerar maior soma de divisas. O resgate da ONU Um dos subprodutos elogiáveis do conjunto de ações relativas ao combate mundial contra o terrorismo é o da revalorização do papel das Nações Unidas. Além dos debates que começaram ontem e se estenderão por toda a semana na Assembléia Geral, o Conselho de Segurança já havia se antecipado e aprovado sexta-feira, por unanimidade, uma resolução com medidas objetivas. Entre estas, estão o congelamento das finanças dos suspeitos, numa tentativa de cortar as fontes financeiras e os apoios logísticos que permitem a existência das redes clandestinas de terrorismo. As duas iniciativas – a da Assembléia Geral e a do Conselho de Segurança – têm, no entanto, um significado político mais amplo, que não pode deixar de ser mencionado. A ONU, fundada ao final da II Guerra como um instrumento dos povos para garantir a paz mundial, tem tido sua trajetória recente conturbada por ações que a esvaziaram, somando-se a um processo interno de desgaste, especialmente por causa da burocratização de serviços e perda de rumo. Durante os últimos anos cresceu nos Estados Unidos, por exemplo, a oposição à organização mundial a ponto de terem sido bloqueados importantes recursos com os quais o governo de Washington participa de sua manutenção. Esse bloqueio equivaleu em muitos casos a um boicote, eis que sem a colaboração norte-americana muitos dos programas acabam por se inviabilizarem. O gesto de fortalecer a ONU é indicativo de que há reservas de bom senso Essa desvalorização tendia a criar um espaço de desestímulo na comunidade mundial e de incentivo às ações unilaterais por parte de países ou blocos. Sem uma ação disciplinadora da ONU, a guerra contra um fenômeno global como o terrorismo, que tem ramificações em mais de 40 países dos cinco continentes, poderia sepultar de vez o prestígio e desafiar o próprio papel das organizações transnacionais. Neste sentido, cabe esperar que as nações envolvidas na guerra à teia do terror estimulem o debate e submetam suas iniciativas às resoluções emanadas do Conselho de Segurança. Pelos tratados que deram origem à ONU e a seus conselhos, uma resolução como a adotada sexta-feira deve ser obedecida não apenas pelos 15 integrantes do Conselho de Segurança, mas por todos os 189 países membros da ONU. Outro aspecto positivo do que vem ocorrendo nos últimos dias é que pela primeira vez no governo George W. Bush os Estados Unidos parecem dispostos a atuar com mais vigor por meio da ONU. O primeiro sinal concreto havia sido a nomeação do embaixador norte-americano para as Nações Unidas, John Negroponte, cargo que se encontrava vago há sete meses. Esse gesto parece indicar que, mesmo determinado a empreender uma ofensiva militar punitiva contra o terrorismo e contra seus patrocinadores, o governo de Washington abre-se para um espaço de debate capaz de ter influência importante no curso dos acontecimentos das próximas semanas e meses. O gesto de fortalecer uma instituição como a ONU é indicativo de que há reservas de bom senso que podem ser necessárias diante das tensões internacionais que se aproximam no cenário da primeira guerra do século 21. Topo da página

10/02/2001


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