Fortunati se distancia do PT
Fortunati se distancia do PT
O vereador deve ingressar no PDT
Os últimos elos que ligam o vereador José Fortunati ao PT começaram a se romper ontem.
O grupo que sustenta a candidatura de Fortunati à presidência do PT retirou o apoio para forçar a sua desistência. O vereador deve ingressar no PDT nos próximos dias.
De Recife, onde participou de um debate ontem à noite, o vereador confirmou que deverá desistir da candidatura à presidência do PT, mas negou que já tenha decidido assinar ficha no PDT. Ontem à tarde, a informação corrente no PT era de que Fortunati anunciaria sua saída nesta segunda-feira.
Fortunati identificou no PT um movimento para apressar sua saída, contrariando as declarações oficiais de que o partido deseja mantê-lo em seus quadros. A prova da existência desse movimento seria a divulgação, pelo gabinete do vereador Estilac Xavier, líder da bancada do PT na Câmara, de um e-mail da ex-chefe de Gabinete de Fortunati Elaine Paz, explicando as razões de seu pedido de demissão. Na nota, retransmitida ontem para milhares de petistas, Elaine diz que Fortunati traiu a confiança do PT.
– O PT está virando seita. Não se pode conversar com ninguém que já é considerado traição – reclamou Fortunati.
– Apoiamos Fortunati pelo seu passado, mas esse passado ele acaba de enterrar – disse Francisco Campos, que, junto com os deputados Jilmar Tatto e Ricardo Berzoigni, avalizou a candidatura do vereador e ontem o rejeitou.
Campos, que é membro da direção nacional, contou ter acertado com Fortunati que na segunda-feira ele renuncia à candidatura.
– Achamos que o Fortunati não foi ético com o partido e com os companheiros, porque negociava a ida para o PDT enquanto disputava a presidência do PT – reforçou Campos.
No PDT, a expectativa é de que Fortunati assine ficha nos próximos dias. O vereador vem sendo cortejado pelos principais líderes do PDT, capitaneados pelo ex-governador Leonel Brizola. A possibilidade de Fortunati migrar para o PDT foi levantada pela primeira vez na Página 10 de Zero Hora, em 25 de julho, e antecipada com exclusividade no dia 24 de agosto.
“Estou em busca de ar para respirar”
Apesar da ressalva de que ainda está refletindo sobre seu futuro, o vereador José Fortunati não esconde seu desconforto no PT e admite que está pensando em trocar de partido “em busca de ar para respirar”. De Recife, onde participou ontem de um debate do PT, Fortunati falou sobre a possibilidade de mudar de partido depois de 21 anos. A seguir, a síntese da entrevista:
Zero Hora – O senhor confirma a informação de que anunciará segunda-feira sua saída do PT e assinará ficha no PDT?
José Fortunati – Não, não tem qualquer fundamento esta informação. Durante esta semana eu não conversei com ninguém do PDT sobre este assunto. Encontrei o ex-governador Leonel Brizola no aeroporto por pura casualidade, quando já estava embarcando para Belém, e ele se dirigia para o Rio de Janeiro. Não conversamos mais do que dois minutos e não tratamos sobre troca de partidos.
ZH – O senhor continua candidato à presidência do PT?
Fortunati – Continuo candidato. Estive ontem (quinta-feira) em Belém do Pará, hoje participo de um debate em Recife e amanhã (hoje) vou a Fortaleza. Estou refletindo sobre a possibilidade de retirar a minha candidatura à presidência nacional do PT para não prejudicar os companheiros que ao longo do tempo me apoiaram e estão disputando vagas para direções municipais, estaduais e nacional do PT. Até segunda-feira devo tomar uma decisão sobre esta minha retirada ou não da candidatura.
ZH – E qual é a tendência?
Fortunati – A tendência é de abrir mão. Estou percebendo que os opositores usam essas notícias de que eu estou saindo do PT para fragilizar a votação das nossas chapas. Para não prejudicar esses companheiros, estou pensando seriamente em retirar minha candidatura.
ZH – A informação de que o senhor anunciaria sua saída do PT na segunda-feira foi dada inclusive por pessoas do PT.
Fortunati – Eu estranho que essa informação tenha sido confirmada por pessoas do próprio PT. Se assim o fizeram, fizeram de má-fé, talvez até para apressar a minha saída. Eu sei de pessoas que publicamente dizem para eu continuar no PT, mas internamente fazem um movimento no sentido de aumentar o nível de tensão para me afastar. Eu lastimo que isto esteja acontecendo.
ZH – O senhor poderia identificar esses grupos?
Fortunati – Prefiro não identificar ninguém nesse momento, mas eu lastimo porque esta cultura hipócrita, autoritária e totalitária começa a ficar presente no PT. Na tese que apresentamos nacionalmente nós já detectamos a difícil relação existente entre militantes. Em muitos casos nem sequer conversam entre si, por serem de tendências diferentes. Tratam melhor nossos adversários políticos de outras siglas, inclusive de direita, do que os próprios companheiros de tendências diferentes.
ZH – Há alguns dias, o senhor disse que recebeu convites de cinco partidos. Se sair, o senhor irá para mesmo para o PDT?
Fortunati – Na verdade são seis partidos.
ZH – Mas o PDT tem prioridade?
Fortunati – O PDT é um dos partidos com os quais eu tenho dialogado, mas não é o único. Não poderia afirmar, neste momento, que seja o mais próximo. Eu pretendo fazer essa reflexão com a maior tranqüilidade, coerente com a minha trajetória partidária de mais de 21 anos. Sou anterior à própria fundação do PT. Minha trajetória de lutas sindicais e populares é muito anterior à própria história do PT. A minha opção se dará por esta identidade.
ZH – Se o senhor sair do PT, vai fazer oposição aos governos estadual e municipal?
Fortunati – Independentemente de onde eu esteja, eu tenho critérios para analisar projetos, políticas públicas e práticas levadas a efeito. O que eu tenho dito vai continuar sendo dito, mesmo que saia do PT. Não esperem de José Fortunati, caso venha a mudar de partido, que no dia seguinte ele se tornará um detrator do governo estadual ou do governo municipal. As pessoas que convivem comigo sabem das minhas críticas pontuais ao governo do Estado e ao governo do município. Se em algum momento eu decidir trocar de partido, continuarei com a mesma linha de raciocínio. Não me tornarei, por vingança ou mágoa, um detrator destes governos. Não vou rasgar o meu passado histórico. Estou pensando, sim, na possibilidade de trocar de sigla partidária em busca de ar para que eu possa respirar, para que eu possa exercitar a minha atividade não somente parlamentar, mas a minha atividade política.
ZH – Pela lei o senhor tem até o dia 5 de outubro para decidir o seu futuro, se quiser concorrer as eleições em 2002. Vai gastar todo esse prazo ou definir seu futuro antes?
Fortunati – Honestamente, não sei. Estou numa reflexão muito profunda. É uma reflexão dolorida. Sou fundador do Partido dos Trabalhadores, fiz parte da primeira comissão provisória, em 1979, fiz parte dos núcleos de base do partido na década de 80, no momento em que era muito difícil ser petista. Éramos olhados como elementos estranhos na sociedade, como se tivéssemos uma doença grave, transmissível. Hoje é fácil ser petista. Temos o governo do Estado, somos governos municipais em Porto Alegre, Pelotas, Caxias, Santa Maria, Bagé, Gravataí, tantas outras cidades. Temos a caneta na mão, podemos distribuir cargos. É muito fácil ser petista hoje. Difícil é sairmos do PT.
ZH – Além do PDT, com que outros partidos o senhor se identifica?
Fortunati – Na verdade eu me identifico com uma série de partidos. Isso é conhecido publicamente. Só não vou citar os partidos com os quais estou conversando porque eu tomei a iniciativa de solicitar a cada um deles que não dessem publicidade sobre as nossas reuniões. Infelizmente, vazou o encontro com o PDT. Como os demais encontros não vieram a público, eu prefiro que isso não aconteça. Não quero, de forma alguma, passar para a sociedade que esteja sendo assediado pelo partido X ou Y. Quero preservá-los.
Lula defende a legalização do jogo do bicho
Proposta foi criticada por ex-procurador-geral filiado ao PT
O líder do PT Luiz Inácio Lula da Silva provocou polêmica ontem, no Rio, ao defender a legalização do jogo do bicho. Para Lula – mais forte pré-candidato do partido à Presidência da República –, a medida servirá para combater os esquemas de corrupção e de lavagem de dinheiro que giram em torno dessa atividade clandestina.
– Eu acho que a melhor solução para o jogo do bicho é a legalização, porque as pessoas vão pagar impostos normalmente e acabar com a clandestinidade – afirmou o líder petista pouco antes de deixar o seminário “O Crime Organizado”, promovido pela organização não-governamental (ONG) Instituto Cidadania, no Hotel Glória.
Na opinião de Lula, o jogo do bicho já faz parte dos hábitos do país.
– Em qualquer lugar, você pode ver mulheres de 60 anos que vão comprar pão e que levam um papelzinho para fazer sua fé – declarou, garantindo, porém, que não tem esse hábito.
– Não jogo no bicho. Faço uma fezinha na Mega Sena, mas nunca ganhei – disse o presidenciável.
A proposta de legalização do jogo do bicho não tem apoio unânime no PT. O ex-procurador-geral de Justiça do Rio Antônio Carlos Biscaia atacou duramente a proposta, por achar que a contravenção é comandada por assassinos. Em 1994, quando dirigia o Ministério Público fluminense, Biscaia investigou a lista de propinas do “banqueiro” do bicho Castor de Andrade.
MST comemora 20 anos de Encruzilhada Natalino
Assentamento foi berço do movimento dos sem-terra
Em 1981, Olmir de Souza, então com 24 anos, trocou o acampamento em Ronda Alta pela promessa de fartura em Lucas do Rio Verde (MT), feita pelo major Sebastião Curió.
Sem sucesso, o agricultor voltou ao Estado três anos depois e, até domingo, estará participando das comemorações dos “20 anos de luta pela terra” na Encruzilhada Natalino, em Ronda Alta, organizadas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
No seu retorno, esta semana, à Encruzilhada Natalino, Souza reivindica uma área ao lado de seus companheiros do MST. Além dele, centenas de agricultores estão desde ontem na festa programada para este domingo. Os organizadores esperam cerca de 10 mil pessoas para os festejos, com a presença do governador Olívio Dutra (PT) e do senador Eduardo Suplicy (PT-SP).
Ontem, o dia foi dedicado à montagem das barracas dos colegas que chegavam de todo o Estado e aos últimos ajustes na infra-estrutura do local, que conta com um espaço coberto com lona destinado a shows e apresentações, além de um palco, enfermaria e banheiros. Uma área de três hectares serve de estacionamento. Cerca de 3,4 mil quilos de carne serão consumidos no churrasco de domingo.
Na parte cultural, os convidados puderam conhecer ontem à noite a história da ocupação da Fazenda Annoni, em 1985, com a exibição do filme O Sonho de Rose. Hoje, serão realizados uma missa, às 15h, e um baile, a partir das 20h.
Palco para campanha eleitoral
Os candidatos da esquerda começam a campanha eleitoral do próximo ano neste domingo, no acampamento de sem-terra de Encruzilhada Natalino, à beira da estrada entre Passo Fundo e Ronda Alta, no Planalto Médio. Exatamente no auge dos festejos dos 20 anos de saída do território gaúcho do major Sebastião Curió, especialista do regime militar encarregado de dissolver grupos que lutavam pela reforma agrária.
Encruzilhada Natalino é pedaço de terra sagrado para as esquerdas gaúchas. Nos anos 80, Curió não conseguiu dissolver o acampamento montado no local, o primeiro surgido no Brasil durante a ditadura militar (1964-1985).
Do acampamento da Natalino nasceu o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), uma organização influente e capaz de decidir o futuro de muitos candidatos no meio rural. O apoio do MST foi fundamental para a vitória eleitoral do atual governador do Estado, Olívio Dutra (PT) – que estará nos festejos acompanhado de vários assessores do primeiro escalão. Há um ambiente tenso nas relações do Palácio Piratini com os movimentos sociais rurais (barrageiros, mulheres e pequenos agricultores), resultado do confronto entre o secretário estadual da Agricultura, José Hermeto Hoffmann, e frei Sérgio Görgen.
O confronto se alastrou pelas entranhas governamentais. A tal ponto que houve um rompimento “branco” entre as partes. Em Natalino, será a primeira vez, depois do conflito, que todos as líderes rurais e o grupo olivista se encontrarão frente a frente. Inclusive um personagem que se manteve longe da briga estará presente: João Pedro Stédile, um dos líderes históricos do MST.
O motivo que leva o grupo olivista a Natalino é o mesmo de outras dezenas de candidatos: os movimentos sociais rurais vão atuar pela primeira vez em conjunto em uma eleição. São centenas de militantes que trabalham pela ideologia e só precisam de um pouco de gasolina para fazer campanha nas colônias. Somados, são uma fantástica máquina eleitoral.
Figuras como o padre Arnildo Fritzen, de Ronda Alta, mantêm a mística ao redor da Natalino. Qualquer candidato de esquerda que sair de lá com tarja de “inimigo do povo” dificilmente se elegerá síndico do seu prédio. Todos sabem disso.
Morre o ex-deputado federal Amaury Müller
Trabalhista cumpriu cinco mandatos
O ex-deputado federal pelo PDT Amaury Müller morreu na madrugada de ontem, em Porto Alegre, vítima de câncer, aos 65 anos.
O corpo foi velado na Câmara de Vereadores de Ijuí e o enterro ocorre às 9h de hoje no Cemitério Municipal da cidade.
Amaury nasceu em Cruz Alta e iniciou sua atuação no movimento estudantil ainda secundarista. A intensa militância e a identificação com os avanços que o movimento estudantil vivia no país no final da década de 50 levaram Amaury à filiação ao PTB em 1961. Foi preso pelos militares em 1964, mesmo ano em que decidiu mudar-se para Ijuí. Em 1970, filiou-se ao MDB – um dos dois únicos partidos permitidos pelo regime militar – e se elegeu deputado federal.
Em 1976, cumprindo seu segundo mandato federal, foi cassado pelo AI-5 devido a um discurso considerado “insultuoso” pelo governo do general Ernesto Geisel. Impedido de trabalhar, realizou atividades durante algum tempo para uma entidade mantida pela Câmara usando o nome de sua mulher.
Depois da assinatura da Lei da Anistia, em 1979, e com a volta do pluripartidarismo, Amaury foi um dos fundadores do PDT, ao lado de Leonel Brizola e Sereno Chaise.
– Ele foi sempre um homem mais à esquerda do PDT, ligado às correntes mais progressistas. Foi um dos primeiros parlamentares a defender temas como inclusão social e direitos humanos – lembra o vice-presidente do diretório estadual do partido, Pedro Ruas.
Pelo PDT, foi eleito novamente para a Câmara. Ao todo foram cinco mandatos como deputado federal, nos quais se destacaram atuações para a aprovação de projetos que garantiram aposentadoria para o trabalhador rural, salário mínimo e trabalhos nas comissões do trabalho, reforma agrária, economia e indústria.
Um dos destaques de sua vida parlamentar foi a participação na Assembléia Nacional Constituinte, que elaborou a Constituição Federal. Apesar de toda sua experiência parlamentar e de ser considerado um hábil articulador, nunca ocupou nenhum cargo no partido.
– Foi um parlamentar 24 horas por dia, que se dedicou a vida inteira, sempre que lhe foi permitido, ao parlamento. Nunca ocupou um cargo no Executivo, o Legislativo era a sua paixão, o seu instrumento para realizar as mudanças sociais nas quais acreditava – define o secretário estadual de Turismo, Milton Zuanazzi.
– Combatente e competente, essas são as palavras que definem o ex-deputado Amaury Müller. Uma das maiores expressões do trabalhismo pós-64 – afirma Sereno Chaise.
– Para mim, sempre será lembrado pelo companheirismo e pela fidelidade ao trabalhismo. Foi um político que nunca se dobrou, em uma época em que essa era uma atitude muito difícil – recorda o nativista Bagre Fagundes, amigo de Amaury desde 1970.
Amaury Müller era formado em Economia e Jornalismo pela PUC-RS e irmão do ex-deputado estadual pelo PMDB Erani Müller. Deixa a mulher, Samira, e os filhos Márcio, Alexandre e Fernanda.
O prefeito em exercício de Ijuí, Gerson Burmann (PDT), decretou ontem luto por três dias em decorrência da morte do ex-deputado federal.
Em uma tentativa de autodefinição, Amaury Müller declarou em 1994:
– É a minha coerência, e não mais que a minha coerência, meu grande legado.
Artigos
Segregacionismo e intolerância
CLÊNIA MARANHÃO
A África do Sul, mais especificamente, Durban, cidade sede da Conferência Mundial sobre Racismo, se transformou no olho do furacão. A Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e as Formas Conexas de Intolerância nem mesmo começou e já está causando um grande alvoroço pelo mundo afora.
Várias são as questões levantadas decorrentes de fóruns e debates realizados pelos mais diferentes grupos. Estes debates configuram a real necessidade de colocar aos olhos da humanidade a realidade do racismo que se expressa em vários níveis, em todas as regiões do planeta.
Autoridades governamentais dos quatro cantos do mundo preocupam-se com os polêmicos temas sugeridos para a discussão como: reparações pelos anos de escravidão; sistema de castas instituído pela Índia; estabelecimento de programas nacionais para garantir o acesso de grupos discriminados à educação, assistência médica e outros serviços sociais; licitações e empregos públicos; direito à cultura, à identidade e à livre participação em iguais condições da vida cultural, política, social e econômica, dentre tantos.
Está comprovado que o racismo existe em níveis variados em
todas as regiões do mundo
No Brasil se sucederam muitos debates cujos resultados e reivindicações irão influir na atuação da delegação brasileira. Estes temas foram escolhidos após serem ouvidas as mais diferentes posições de lideranças e entidades da sociedade civil.
Está comprovado que o racismo existe em níveis variados em todas as regiões do mundo. Todos sabemos que em nosso país o racismo é uma questão estrutural. Isto, porém, não pode ser elemento inibidor de nossas ações na busca da superação desta realidade.
A herança histórica do trabalho escravizado e da desigualdade a que foram submetidas as populações de etnias minoritárias carece de práticas efetivas para sua superação. Em nosso país não há como negar que a enorme exclusão socioeconômica em que se encontram os negros e os povos indígenas tem origem no processo de formação histórico e econômico de nossa sociedade.
Dados comprovados por estudos do Ipea apontam para a redução do desnível educacional entre os brancos e descendentes de outras etnias no Brasil. Esta mesma pesquisa nos mostra que em Porto Alegre a exclusão social tem crescido em comparação a outras capitais brasileiras. Aqui, qualquer análise nos demonstra que o processo de exclusão social em nossa capital tem rosto e cor: é negro, índio e feminino.
A Conferência Mundial vai possibilitar que delegações, representantes de diferentes regiões mundiais, discutam as questões levantadas e avaliem a necessidade da elaboração de políticas públicas que venham promover a igualdade, a justiça e o desenvolvimento social.
Os excluídos e a universidade
TARCISIO DE NADAL
Uma gritante forma de racismo seria privilegiar uma minoria com vagas na universidade. A capacitação não importaria. Capaz ou não, faria apenas o vestibular da etnia: por ser da etnia italiana... teria determinadas vagas. Por ser índio... por ser alemão... por ser negro... Que absurdo. Há gente capaz em todas as raças, mas eu não sou qualificado por ser de origem italiana. Dei duro para cursar a universidade gregoriana. Dei duro para conseguir dois mestrados. No meu tempo, 73 nações freqüentavam a universidade gregoriana de Roma. As estrelas brilhavam por serem estrelas e não por serem italianas, francesas, africanas ou indianas. O italiano e o negro faziam os mesmos exames. Enfrentavam as mesmas bancas. Falavam o mesmo latim. Competência e sabedoria nada têm a ver com etnia. O negro africano que morou em minha casa formou-se médico não por ser negro, mas porque lhe foram reconhecidas a cultura médica e a sabedoria. Hoje trabalha em Cabo Verde.
Trata-se do problema da maioria brasileira que não
tem acesso à universidade
Claro que o negro foi tremendamente injustiçado. A escravatura envolveu tanto negros quanto brancos. Negros venderam negros para serem escravos dos brancos. Quando a escravatura foi abolida, o branco ficou com os lucros do trabalho do negro. O negro ficou sem eira nem beira. Livre como o vento, como as estrelas. Livre de qualquer retorno por seu trabalho. Livre sem o mínimo necessário para ser gente. Entretanto, não será com privilégios que vamos libertá-los.
Não se trata do problema das minorias. Trata-se do problema da maioria brasileira que não tem acesso à universidade. Gritante exclusão da maioria! Por que meus alunos da Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas não pagam um mísero tostão, e nós todos pagamos por eles? Por que meus alunos de Direito da PUC também trabalham o dia todo, estudam à noite e enfrentam mensalidades que, muitas vezes, o salário não cobre? Gostaria houvesse democracia no ensino brasileiro: direitos iguais para todos os jovens. Não aceito a exclusão da maioria da juventude. O Brasil precisa de todos os talentos. Se a Alemanha é o que é, tem uma explicação: democracia no ensino e qualidade de ensino.
Colunistas
JOSÉ BARRIONUEVO – PÁGINA 10
Olívio semeia paz no campo
Ao libertar uma pombinha branca de uma pequena caixa de vime, em Esteio, o presidente da Farsul, Carlos Sperotto, sacudiu uma bandeira branca imaginária na direção do governador Olívio Dutra. O gesto pode abrir uma nova fase nas relações do Piratini com os empresários da agricultura. É claro que se o ministro da Agricultura, Pratini de Moraes, estivesse presente a situação teria sido outra. Esses novos tempos poderão trazer bons frutos para o PT na eleição do ano que vem.
Chuva providencial
A presença dos técnicos-científicos diante do palanque quebrou o clima de cordialidade. Cercados por PMs, os servidores aproveitaram a inauguração oficial da Expointer para protestar contra a falta de reajustes da categoria que persiste há seis anos. Mas a gritaria não balançou Olívio, que considerou a manifestação normal e nem falou em reajuste. Veterinários, agrônomos, engenheiros florestais e zootecnistas que trabalham em Esteio protestaram debaixo de chuva fria.
Pândegas e galhofas
Ninguém conseguiu decifrar o assunto que arrancou tantas risadas do secretário estadual dos Transportes, Beto Albuquerque (PSB), e do ministro dos Transportes, Eliseu Padilha (PMDB), no ato de ontem na Assembléia Legislativa. Antes de entregar carteiras de passe-livre a deficientes físicos carentes do Estado, Padilha demonstrou que ainda é possível manter boas relações com o governo de esquerda gaúcho.
Força no discurso
O presidente da Assembléia, Sérgio Zambiasi (PTB), não se fez de rogado ontem e subiu em uma cadeira para falar aos deficientes físicos. Precisará de uma cadeira ainda mais alta para acalmar os servidores da Assembléia, que andam assustados com a possibilidade de corte de parte dos cargos em comissão (CCs) e das funções gratificadas (FGs) para que a direção atenda à Lei de Responsabilidade Fiscal.
As boas idéias de Hoffmann
Quando a Caravana da Agricultura Familiar passou pelo Estado, o secretário José Hermeto Hoffmann acatou a sugestão do líder Luiz Inácio Lula da Silva: repetiu incansavelmente os bons números de sua secretaria em todas as cidades por onde passou. Semanas antes, Lula havia dado um puxão de orelhas no governo gaúcho ensinando que o que é bom precisa ser divulgado, abrindo assim as portas da comunicação do Palácio Piratini.
Ontem na Expointer, Hoffmann deu sinais de que colhe os bons frutos dessa mudança de postura. Afirmou que esta é a feira da superação e que o Estado vive um novo momento na agricultura e na pecuária. Valeu a pena o xingão do presidente de honra do PT.
Escolinha do Brizola
O presidente nacional do PDT está reciclando os prefeitos e vices de seu partido num encontro nacional dos administradores trabalhistas em Niterói (RJ). O gaúcho Alceu Collares, ex-governador do Rio Grande, coordena o encontro. O prefeito de Ijuí, Valdir Heck, apresentou uma proposta que poderá abrir uma polêmica saudável: sugeriu que 20% da CPMF arrecadada possa ficar nos municípios de origem.
Com a palavra, o Leitor
• O bacharel em Física Quântica Ambrósio Pessoa, da Vila IAPI, em Porto Alegre, ficou famoso no bairro depois que parte de sua “modesta missiva” foi publicada na Página 10. Amigos ofereceram um churrasco a Ambrósio para comemorar.
• Sérgio Strelkovsky diz que muitas vezes falta-lhe tempo de ler todo o jornal, mas jamais deixa de ler a coluna Página 10. Conta que lhe marcou a coluna do dia em que o ex-governador Antônio Britto não compareceu ao enterro do colega Synval Guazzelli.
• O professor de Ciência Política Sérgio Borja fará uma conferência hoje, a partir das 12h30min, no plenarinho da Câmara de Porto Alegre, intitulado Constitucionalismo e Globalização.
• Indignado com a greve do corpo docente e dos técnicos administrativos da Universidade Federal de Santa Maria, iniciada em 22 de agosto, Eduardo Barin Facin coordena um movimento contrário à greve. Integram o grupo acadêmicos e a população prejudicada pela suspensão de serviços como a assistência judiciária gratuita.
• Presidente do Sindicato dos Jornalistas, José Carlos Torves, esclarece que a atual direção da entidade não representa um rompimento com a anterior e que a orientação de política sindical continua a mesma.
• Abordando os salários dos servidores, Anderson Bittencourt diz não entender o porquê de ainda não ter sido regulamentada a questão do teto salarial. Anderson também questiona o piso salarial dos servidores, o que já é questão resolvida com a aprovação do mínimo regional de R$ 230 e R$ 250 pela Assembléia, já sancionado pelo governador Olívio Dutra.
• O médico Carlos Alberto Reis Lima acredita que os males de hoje “são as soluções que os partidos de esquerda pensam estar dando ao Brasil”. Chama de Síndrome de Moscou – numa relação à conhecida Síndrome de Estocolmo – uma sinistra campanha patrocinada pela esquerda e o PT para desmoralizar o princípio da autoridade no Brasil.
• Um capitão da Brigada Militar, que prefere não ser identificado, ficou revoltado com texto de Luiz Inácio Lula da Silva no qual o líder de esquerda aborda a alteração do regulamento disciplinar da BM. Para o capitão, Lula escreveu como se os policiais militares fossem robocops, sem família, sem sentimento e meros marionetes nas mãos de políticos.
ROSANE DE OLIVEIRA
Uma opção para o Piratini
Para conquistar o vereador José Fortunati, o PDT ofereceu-lhe a possibilidade de concorrer ao cargo que desejar em 2002. No PT, Fortunati vinha trabalhando para ser candidato ao Senado, com chances remotas de passar pelo funil da disputa interna. No PDT, os planos são outros: Fortunati será convidado a concorrer a governador, a menos que se materialize o sonho dos trabalhistas históricos de convencer Leonel Brizola a transferir o domicílio eleitoral para o Rio Grande do Sul e disputar o Palácio Piratini.
Com Brizola ou com Fortunati, o PDT encabeçaria a chapa que vai sustentar, no Rio Grande do Sul, a candidatura do ex-ministro Ciro Gomes à Presidência da República. As duas vagas de senador e a de vice seriam divididas entre PDT, PTB e PPS, com prioridade para o presidente da Assembléia, Sérgio Zambiasi. Nesse esboço de aliança, o deputado Bernardo de Souza, que já trabalha em um plano de governo como candidato ao Piratini pelo PPS, poderia ficar com uma das vagas para o Senado.
Os defensores da candidatura de Fortunati ao Piratini partem do princípio de que, diante da carência de nomes da oposição para enfrentar o PT, o melhor é apostar em um dissidente. A favor de Fortunati pesa seu bom trânsito nos diferentes partidos – importante em um eventual segundo turno –, a popularidade em Porto Alegre, a ligação com os movimentos sociais e um passado sem mácula, além do conhecimento profundo das mazelas do PT. Contra, a dificuldade dos gaúchos em assimilar trocas de partidos e a marca de ter sido rejeitado pelo PT em diferentes ocasiões.
Além de injetar oxigênio no PDT, a provável conquista de Fortunati terá para Brizola o doce sabor da vingança. Terá tirado do PT o campeão de votos, menos de um ano depois de perder a senadora Emília Fernandes (ex-PTB), os secretários Dilma Rousseff e Milton Zuanazzi, o vice-presidente do Banrisul, Sereno Chaise, e o próprio filho José Vicente.
Editorial
A força da inflação
O Banco Central reconheceu que não será possível ficar dentro da meta de 6% de inflação fixada para este ano. A informação consta de ata da última reunião do Comitê de Política Monetária, a mesma que decidiu manter o juro básico da economia em 19% ao ano. Embora o presidente do BC, Armínio Fraga, e outros porta-vozes da instituição encarregada da guarda da moeda procurem traçar um cenário otimista para o futuro imediato da economia brasileira, é preocupante que a inflação vá estourar a meta mesmo com os juros astronômicos praticados no país. Via de regra, os juros pesados reduzem o consumo e valorizam a moeda, impedindo o avanço da inflação. A regra clássica parece estar surtindo pouco efeito no Brasil provavelmente porque há outras variáveis poderosas em jogo, entre as quais se destaca a profunda e demorada crise argentina.
Também a pressão cambial, que tem cedido pouco apesar dos programas de apoio do Fundo Monetário Internacional e dos juros altos, é indicativo de que o terremoto argentino segue afetando a situação brasileira em proporções nunca vistas. A relativa estabilização alcançada no país vizinho após um novo aporte do FMI tem bases precárias em virtude de uma diferença essencial entre o diagnóstico externo e o ponto de vista interno sobre a natureza da crise. O ponto de discórdia reside na conversibilidade cambial, que o ministro Domingo Cavallo e sua equipe insistem em manter, embora seja quase consenso entre os agentes econômicos internacionais que não haverá solução duradoura sem uma desvalorização do peso. Entendem eles que nem mesmo o déficit zero das contas públicas, se for alcançado – e somente o será com sacrifícios populares ainda maiores –, devolverá a paz e o crescimento ao país se o regime cambial não for alterado.
O Brasil, infelizmente, seguirá por largo tempo dependente
da turbulência argentina
Como os grandes investidores dos países ricos consideram o núcleo principal dos países sul-americanos como uma coisa só do ponto de vista dos riscos, talvez com a única exceção do Chile, o Brasil seguirá por largo tempo dependente da turbulência argentina. O real, que está liberado para oscilar de acordo com as pressões do mercado, continuará apresentando os reflexos brasileiros da guerra argentina. Inflação e desvalorização cambial são dois desses sintomas. Infelizmente, a moeda brasileira, ela própria carente de fundamentos mais sólidos, não está conseguindo passar incólume pelo terremoto que tem seu epicentro em Buenos Aires.
Realismo na Expointer
Maior feira agropecuária da América Latina, a Expointer vem refletindo a cada ano, um século depois de sua criação, a situação sem retoques do setor primário no Estado. Não poderia ser diferente na edição atual, inaugurada oficialmente ontem. Em contraste com previsões mais pessimistas, líderes do governo e do agronegócio conseguiram superar divergências de toda ordem e adversidades como o ressurgimento da aftosa em algumas áreas do Estado. Com isso, permitiram que, mesmo sem a concretização de providências essenciais para assegurar a participação de animais de fora e os negócios com compradores de outros Estados, os resultados financeiros atingissem não o patamar desejável num ano de supersafra, mas o possível.
É positiva, portanto, a constatação de que, mesmo com o abalo provocado por uma doença como a aftosa, com a energia exigida para o seu enfrentamento e o trauma entre produtores de interesses diversos, a edição que se encerra amanhã tenha transcorrido sem maiores problemas. Menos propícia do que em edições anteriores para o segmento de máquinas e implementos agrícolas, a mostra registrou valorização da alta genética nas pistas de remates. Ao mesmo tempo, serviu para que o Estado pudesse exibir o que tem de melhor em inovações tecnológicas voltadas para o setor primário. Nesse ambiente, até mesmo as tensões de caráter político, que se manifestaram com força em anos anteriores, perderam terreno no atual para preocupações de ordem sanitária e técnica. O clima predominante na inauguração oficial demonstrou que eram infundados os temores de que, em razão de divergências ideológicas ou partidárias, a Expointer 2001 seria marcada por tensões. Ao contrário, o que ocorreu foi um ambiente de tolerância e transigência, que não mascara as dificuldades, mas que também não adota a política do quanto pior melhor. A agropecuária não esconde problemas e parece estar disposta a aceitar o desafio de resolvê-los e de crescer.
A agropecuária não omite problemas e parece disposta a aceitar o desafio de resolvê-los e de crescer
Nos debates paralelos à mostra de Esteio, um dos aspectos ressaltados foi justamente o alto potencial de geração de emprego da agropecuária. Dados do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) mostram que, para cada R$ 1 milhão de investimentos no setor primário, há a geração de 202 postos de trabalho. Como a produção de riqueza e a abertura de vagas incluem-se hoje entre as prioridades do país, argumentos como este reforçam a necessidade de investimentos mais consistentes nesta área.
Agora mesmo, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) está confirmando que o Brasil assumiu a liderança mundial na produtividade de soja, que, com um rendimento médio projetado em 2,708 mil quilos por hectare, superou em 5% a dos Estados Unidos. O feito só foi possível porque vem sendo perseguido com insistência, particularmente a partir de meados da década de 90. Seu maior mérito, portanto, é o de comprovar que, no setor primário, os ganhos precisam ser perseguidos com persistência, pois não ocorrem por acaso.
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